“A percepção histórico-geográfica do Rio Paranapanema”
3 de fevereiro de 2023
05/04/2024 00:29:07
Mapa de la America Latina
Data: 01/01/1955
Quanto mais podemos adiantar-nos no emaranhado das fontes, afirmo na certeza de que erros graves, que desfiguraram a "História" de Sorocaba, desconsideram a percepção geográfica dos autores. Ainda em 1955 mapas, como o de la America Latina (imagem 1), que integra o Nuevo Atlas Geografico Metodico Universal, produzido por José Anesi em 1955 e publicado pelo Instituto Geográfico de Agostini-Novara (Itália), sugerem o rio Paranapanema nascer em Sorocaba, ou o Rio Sorocaba afluindo ao Paranapanema. Em setembro de 1940 Luís Castanho de Almeida (1904-1981) comentou o primeiro deles:
O Mapa de América del Sur desde el Ecuador hasta el Estrecho de Magallanes, atribuído a Ruy Diaz de Guzman (1559-1629), autor da "Argentina", e exumado do Arquivo das Índias de Sevilha por Zeballos, parece ter sido feito entre 1606 e 1608, segundo me informa Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), baseado em Paul Groussac.
É uma fonte interessantíssima para o estudo do povoamento do sul do Brasil. Particularmente vêem aí mencionadas três vilas: São Vicente, São Paulo e São Felipe.Esta última é a antiga Itapebussú, para onde se haviam mudado os primitivos povoadores trazidos ao Araçoiaba por D. Francisco de Souza no fim de 1599. Ao lado está a inscrição: "minas de ouro no Brasil".
Uma vista rápida sobre esse mapa nos mostrará as reduções do Guairá em frente a Sorocaba. E o rio Sorocaba incrivelmente afluente do Paranapanema! O fazedor da carta geográfica interrogou viajantes, estes disseram: De São Felipe chega-se ao Paraná, pelo Paranapanema. Mais que depressa, o rio de Sorocaba passou a cair no Paranapanema. [24848]
De fato, não há como duvidar da competência de Ruy Diaz Gusman. Seu avô, Domingo Martínez de Irala foi passou pelo rio Anhemy em 1552. É um mapa tosco na forma, mas muito detalhado e exato na numeração e localização de algumas cidades espanholas e indianas, bem como em seus nomes antigos. A leste, toda a costa é marcada desde o Equador até 56 graus de latitude sul. A oeste e ao sul, parte da costa do atual Chile é marcada. Para o Norte é muito imperfeito.
Em sua Historia argentina del descubrimiento, población y conquista de las provincias del Río de la Plata (1612), Ruy Diaz de Guzman especifíca:
“(...) continuando a subir o Rio Paraná, está seu grande afluente, o rio Paranapanema, um dos principais rios do Guairá. Nasce de uma serra que chamamos de Sobaú, que não fica longe de São Paulo, juntar-se a três torna-se poderoso; e circunda a colina de Nossa Senhora de Monserrate que tem um circuito de cinco léguas, de cuja orla os portugueses tiram daquela costa muito rico ouro de 23 quilates; e em cima dela há muitos veios de prata, perto dos quais D. Francisco de Sosa, fidalgo desta nação, fundou uma vila que ainda subsiste, e continua a fazer efeito e beneficiar das minas de ouro e prata." [26476]
Autores como Pieter Van der Aa (1659-1733) [25326] e Nicolas de Fer [24665], registram, em 1708 e 1719, respectivamente, São Paulo como o local onde o mencionado Rio. O segundo (imagem 4), chama atenção de um "moderno estudioso": "A cidade de São Paulo parece ter sido trocada por uma certa “Philippavilla”, sem explicação."
Consta no Site Parque Nascentes do Tietê (daee.sp.gov.br), que a descoberta da nascente do rio Tietê se deu durante uma expedição da Sociedade Geográfica Brasileira para comemorar do 4º centenário de São Paulo, em 1954.
Qual o primeiro mapa registra o Rio Ipanema? - Qual o primeiro Sorocaba?
“A percepção histórico-geográfica do Rio Paranapanema”
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor. “A origem das idéias”, Olavo de Carvalho, youtu.be/vjO2sixWLgk
1840
“
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.