A Restauração de 1640 na circulação das elites políticas entre São Paulo e Assunção: uma proposta de história conectada Fernando V. Aguiar Ribeiro Doutor em História Econômica (USP), consultado em - 16/02/2023 de ( registros)
A Restauração de 1640 na circulação das elites políticas entre São Paulo e Assunção: uma proposta de história conectada Fernando V. Aguiar Ribeiro Doutor em História Econômica (USP), consultado em
A destruição das missões jesuíticas no Guairá, por “una de las más grandes bandeiras de la historia del Brasil, con 900 soldados y más de tres mil tupíes”8 foi facilitadapela divisão dos guairenhos e jesuítas, o que impossibilitou uma defesa eficaz.
Jensen aponta que “años de disputas y confrontación por la posesión del indígenahacia imposible presentar una defensa en conjunto contra la terrible amenaza que se cerníasobre la Provincia”9.
Nesse contexto de divisão no Guairá entre os jesuítas e as elites locais não seriasurpreendente se os paulistas encontrassem aliados na destruição das missões jesuíticas ena apreensão de indígenas. Carlos Jensen, inclusive, destaca que:
ante la aparente pasividad de los Villenos en la defensa de las reducciones de los Jesuitas, uno de estos, el Padre Pablo de Benavides presenta al Cabildo una carta delPadre Antonio Ruiz de Montoya donde acusa de complicidad con los portugueses alos Villenos y al Gobernador Cespedes Xeria10.
Essa acusação de cumplicidade é corroborada pelas relações econômicas e pessoais, pois Alonso Benítez, morador da Villa Rica,como gobernante, fue un impulsador de las relaciones y comunicaciones con la Villade San Pablo, comunicaciones que habían abierto Don Antonio de Añasco siendoTeniente de Gobernador en 1604 aproximadamente. Al año siguiente siendo, ya como Teniente de Gobernador, mandaba a su hijo Francisco de Benítez a cumplir elpacto de casamiento que había pactado con la hija de Joseph de Camargo, vecino deSan Pablo. A la vuelta Francisco Benítez había traído en su compañía tres portugueses que se asentaron en la Villa Rica11.
Após a destruição das reduções jesuíticas pelos paulistas e diante da definitiva decadência do Guairá, várias famílias migraram dessa região para São Paulo. Jensen descreve que Antonio Gonzáles do Rego, um dos fundadores de Concepción del Bermejo e de San Juan de Vera, “con la llegada de los portugueses a Santiago de Xerez se pasó al bando de estos, sirviendo como guía de los mismos en el saqueo del Itatín, para posteriormente escapar junto con los bandeirantes a San Pablo”12.
Antonio Gonzáles do Rego “estuvo casado con doña María de Zúñiga, a la cual embarcó rumbo a San Pablo junto con su casa y servicio en compañía de sus cunados Gabriel Ponce de León y Sebastián Peralta. Estos estaban casados con las hermanas de doña María de Zúñiga”13.
Após a morte de Gonzáles do Rego, “María de Zúñiga casó con Baltazar Fernández, hermano del famoso corsario de los sertones André Fernández. De este matrimonio nació María de Torales. Esta casó con Gabriel Ponce de León”14.
A interpretação de que o Guairá correspondia a uma região de integração entre oParaguai e a capitania de São Vicente é corroborada pela migração dos vizinhos da regiãoa São Paulo após o conflito com os jesuítas. Inclusive o apoio dado aos bandeirnates demonstra que a relação das elites locais guairenhas estava mais ligada aos paulistas do queaos padres inacianos.Sobre essa questão Carlos Jensen conclui que “estos Guaireños radicados en SanPablo eran miembros de tres familias de Ciudad Real, los Orrego y Mendonza, los Toralesy los Contreras, quienes transmitieron apellidos maternos como ser Zúñiga, Ponce deLeón, Guzmán y Espinosa”15.O Guairá atuou, desde seus primórdios no século XVI até sua destruição e êxodoem meados do XVII, como uma zona de trânsito entre o Paraguai e São Paulo. Uma regiãofluida, marcada pela integração das elites locais através do estabelecimento de contratosmatrimoniais e interesses comuns. Tal panorama afasta, portanto, a interpretação de doisimpérios ibéricos com fronteiras americanas definidas e consolidadas e do isolamento dasempresas de conquista e colonização no Novo Mundo nos primeiros séculos.Aclamação de Amador BuenoA presença de paraguaios na vila de São Paulo teve como ponto de destaque aparticipação desses no episódio da aclamação de Amador Bueno em 1641.De acordo com Taunay, “não querendo ser, de todo, súditos de dom João IV, quereputavam vassalo rebelde a seu soberano resolveram os espanhóis residentes em S. Pauloprovocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-las àscolônias espanholas limítrofes”16.Como reação à ideia da aclamação de Amador Bueno, “recusou o ‘Aclamado’,terminantemente a oferta da coroa a gritar em altos brados: Viva el-rei dom João IV, meurei e senhor! E como se visse ameaçado de desacato pelos seus proclamadores entusiastas,correu a refugiar-se no Mosteiro de S. Bento pedindo a intervenção do Abade e seus monges”17.O episódio representa, não como esboça Taunay, um momento de autonomia deSão Paulo. Trata-se, pois, de um período de incerteza frente à Restauração portuguesa,intensificada por conta dos intensos contatos realizados na Bacia Platina. [Páginas 4 e 5 do pdf]