TEMPLOS, CASAMENTOS E CEMITÉRIOS DE UM GRUPO OUTSIDER. Luiz Cândido Martins, Luciana Fernandes Volpato
2012. Há 12 anos
de recitar o Credo dos Apóstolos e de fazer o sinal da cruz,qualquer estrangeiro era bem-vindo no Brasil colonial. O frade iaa bordo a fim de investigar a ortodoxia do indivíduo do mesmomodo como hoje a raça e a saúde do imigrante são examinadas.Portanto, desde o regime do padroado passando pelo pacto colonial(COSTA; MELLO, 1996, p. 37)2 até a proclamação da independência do Brasil em1822, constata-se um quadro de dominação da Igreja Católica no campo religiosoinibindo qualquer ameaça ao seu status quo. No campo do desenvolvimentoeconômico, o país esteve mergulhado num processo de atraso, uma vez quetodas as riquezas eram transferidas para as mãos dos conquistadores na Europa.O Brasil, portanto, estava envolvido num processo de fechamento em torno desi, seja pelo viés da religião, seja pela administração política, que não viabilizavao desenvolvimento econômico e industrial do país. Sobre esse aspecto, Freyre(1993, p. 27-28) nos oferece informações que facilitam nosso entendimentodo quadro de fechamento do país ao indicar algumas medidas proibitivas queinviabilizavam o desenvolvimento do país em outras áreas, conforme se podedepreender a partir dos seguintes pontos:Carta régia de 01 de março de 1590, proibindo a plantação ecultura de vinhas; Alvará de 15 de agosto de 1603, obrigando osvassalos a abandonarem as minas descobertas; Alvará de 29 desetembro de 1649 e 21 de fevereiro de 1667, intimação de 19de junho 1578, feita à câmara de São Vicente, proibindo que oferreiro Bartholomeu Fernandes, único no lugar, ensinasse seuoficio aos da terra; Lei de 18 de março de 1606, que estabeleciao isolamento do país ao contato com toda e qualquer nação domundo que não fosse Portugal; O aviso Régio de 5 de janeiro1785, mandando acabar com todas as fábricas de manufaturano Brasil; Carta Régia de 26 de abril de 1730, proibindo correiopor toda terra do Brasil; Alvará de 16 de dezembro de 1794, proibindo o despacho de livros e papéis para o Brasil; e aviso de18 de julho de 1800 ao capitão-general de Minas, repreendendoa Câmara de Tamanduás por ter instituído uma aula de primeirasletras.Todo o quadro de isolamento só começa a dar sinais de abertura paratransformações e contato com o mundo externo a partir de 1810, através doTratado de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação, com a Inglaterra.Accioly (1948, p. 69) aponta que o tratado previa, entre outros aspectos “quea inquisição não seria, para o futuro, estabelecida nos meridionais domíniosamericanos da coroa de Portugal”. Além disso, previa ainda o referido tratadoque não deveria haver perturbações, inquietações, perseguições por razõesreligiosas aos vassalos da sua majestade britânica, aos quais seria asseguradaliberdade de consciência e licença para o serviço religioso tanto no âmbito desuas residências, como nas suas igrejas e capelas, desde que essas, externamente,fossem semelhantes a casas normais de habitação.Segundo Ribeiro (1973, p. 17),Passaram os ingleses, desde então, a celebrar o culto protestantea bordo de seus navios de guerra que ancoravam no Porto doRio de Janeiro ou em residências particulares... Em 3/8/1812desembarca no Rio R.E. Jones, inglês, ministro eclesiástico daInglaterra. Em 1816 desembarca o capelão anglicano, Rev.Robert Grane; em 1817, Jeremiah Flyn, clérigo, de Londres; em1819 inicia-se a construção do templo, sujeita às restrições dotratado. Em 1820 os cultos passam a realizar-se dominicalmente,nesse templo. Reúnem-se ali estrangeiros protestantes de línguainglesa: funcionários de embaixada, comerciantes, marinheiros,viajantes de passagem pela cidade. É uma capelania, e não umacongregação.O referido tratado oportunizou uma “abertura religiosa”, entretanto,não se deve acreditar que tenha sido representativa ao ponto de se poder afirmarque o protestantismo estaria se instalando no Brasil, até porque “quando seproclamou a Independência, contudo, ainda não havia Igreja protestante no País.Não havia culto protestante em língua portuguesa. E não há noticia de existir, [Páginas 8 e 9 do pdf]
1° de fonte(s) [24604]
Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária colonial bra...