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Aspectos da modernidade em Sorocaba. Experiências urbanas e representações (1890-1914)
200406/04/2024 11:12:49

“Sorocaba deve lembrar-se de que não é mais a Sorocaba dostempos passados; deve bem considerar que, só no seu perímetro,agazalha actualmente talvez mais de dez mil almas, e que, alémdas muitas industrias que progridem e florescem no seu seio, osibilar da locomotiva que a visita diariamente, ha dezoito annos,lhe grita varias vezes ao dia: Avante!” (Diário de Sorocaba – 01/02/1893)I) Rumo à Manchester Paulista – urbanização e industrialização.Na sua edição do dia 5 de janeiro de 1905, o jornal O 15 de Novembro anunciava a inauguração dos trabalhos para a construção de uma grande usina hidroelétrica, junto à cachoeira do salto de Itupararanga. Tal obra seria executada pelaEmpresa Elétrica de Sorocaba, tendo à sua frente Bernardo Lichtenfels Júnior,um dos grandes capitalistas da cidade.1Dias depois o mesmo periódico relata com detalhes as festividades quecercaram o evento, em toda sua magnificência. A cerimônia também se constituiu numa homenagem ao superintendente da Estrada de Ferro Sorocabana,Alfredo Maia. Um nome muito festejado pela elite local, em função de ter revitalizado completamente a companhia, que se encontrava em sérias dificuldadesfinanceiras. A admiração se justificava, afinal a Sorocabana era uma peça vitalpara o sucesso da expansão industrial da cidade, assim como a construção dausina representaria a garantia para futuros investimentos. Então, nada maissalutar do que comemorar numa mesma solenidade o sucesso da Empresa Elétrica e da Sorocabana. Em meio a esse clima de festa e discursos exaltados,surge a comparação entre Sorocaba e a cidade inglesa de Manchester. A relaçãoé feita por ninguém menos do que o próprio Alfredo Maia, que, agradecendoos obséquios recebidos e num “improvisado e eloqüente discurso” sustentavaque dali a não pouco tempo Sorocaba se tornaria a Manchester brasileira.2Tal expressão foi rapidamente encampada pelas lideranças locais, fato decisivo [Página 3 do pdf]

sentações os vestígios, sejam de que tipo forem – discursivos, iconográficos,etc., – que indicam as práticas constitutivas de qualquer objetivação histórica.Estabelecer hipoteticamente uma relação entre séries de representações, construídas e trabalhadas enquanto tais, e as práticas que constituem o seu referenteexterno. (grifo nosso)”10.Uma hipótese a ser trabalhada é pensar a especificidade da história urbanade Sorocaba, num momento em que a cidade – pelo menos no que se refereaos grandes centros –, se problematiza, gerando novas demandas e necessidades. A questão, portanto, é verificar se para além das transformações porque passam as maiores cidades brasileiras (Rio de Janeiro e São Paulo, porexemplo), muitas dessas manifestações da modernidade da Belle Époque jápoderiam se fazer sentir em algumas cidades do interior.Sem dúvida aqueles anos iniciais do século XX foram auspiciosos para ocrescimento econômico da cidade. Com efeito, Sorocaba já se inseria num contexto de industrialização que se adensava desde a década de 1890, caracterizado pela instalação, em especial, de indústrias têxteis. Houve um certo refluxodurante os anos de 1897 e 1904, por conta de instabilidades no cenário internacional, bem como pela crise de superprodução do complexo exportador cafeeiro (significando a baixa nos preços do café), e da difícil situação financeirado Estado brasileiro. Contudo, a partir de 1905, o ritmo de crescimento éretomado.11 Mas, segundo matéria publicada na imprensa sorocabana no iníciode 1903, já no ano anterior o panorama começava a se modificar favoravelmente para a indústria nacional. Assim, em Sorocaba, reabriu-se uma antigae tradicional fábrica de chapéus, sob nova direção; uma nova fábrica de bebidasé inaugurada; a fábrica de tecidos Santa Maria retoma suas atividades, tendoinclusive encomendado novos equipamentos que já se encontravam no portode Santos. Além disso, o Banco União, proprietário da indústria de estampariae chitas Votorantim, firma contrato para a construção de um grande edifício, [Página 6 do pdf]

dante, em decorrência da imigração; e, além disso, com a Estrada de Ferro sesolucionaria as dificuldades de transporte, sem contar que a cidade já se encontrava localizada próxima às grandes praças comerciais, como São Paulo.No entanto, a trajetória para o advento de uma grande manufatura têxtil nacidade foi um tanto quanto tortuosa, ocorreram várias tentativas fracassadas aolongo da década de 1870, isso a despeito de se ter organizado, pelos mesmosdirigentes da Companhia Sorocabana, uma sociedade anônima denominada“Indústria Sorocabana”, visando justamente à criação de uma fábrica de tecidos.22Finalmente, em 1882, é fundada a fábrica têxtil Nossa Senhora da Ponte,por iniciativa de Manoel José da Fonseca, um iminente comerciante de tecidosda cidade. Tal fato se configura como um marco no processo de industrializaçãolocal, uma vez que propicia o incentivo para a instalação de novas fábricas.Trata-se, então, de averiguar no caso de Sorocaba, as relações entre odesenvolvimento urbano da cidade e seu processo de industrialização. Evidentemente não se pode traçar uma relação mecânica entre urbanização e industrialização no contexto brasileiro. Muitas cidades, como São Paulo, por exemplo, tiveram seu crescimento, num primeiro momento, pautado pelo capitalcomercial. Por outro lado, a cidade parece ser o espaço privilegiado para odesenvolvimento industrial, pelas suas condições estruturais e pela concentração de mão de obra, bem como por se constituir num mercado de consumoprivilegiado. Portanto, como escrevem Foot Hardman e Victor Leonardi, “sehistoricamente, as cidades preexistiam às indústrias, ocorreria que, a partir domomento em que o capital financeiro chegou a dominar todas as demais atividades econômicas, ele passou também a determinar toda expansão urbana,desde os aspectos econômicos até sócio-políticos e culturais.”23 [Página 11 do pdf]

do jornal, a algazarra das crianças, uma animada conversa entre italianos,lembrando a imigração e, finalmente, o barulho irritante dos carros de bois, comoum anacronismo naquele cenário. A narrativa é marcada por ambivalências,alguns ícones de modernização, como é o desejo das elites da cidade, e tambémdo cronista, interagindo com os arcaicos meios de transporte, “fantasmas”, quenem os mais recentes atos municipais conseguiam fazer desaparecer das ruas.A cidade efetivamente passa por transformações, mas tal processo é permeado pela forte permanência de paisagens, práticas e características que remetem aépocas passadas. No aspecto arquitetônico, por exemplo, ainda em meados dadécada de 1950, era possível encontrar na região central da cidade janelas derótulas, a despeito, como vimos, de sua proibição pelo código de 1914.44 É o casotambém dos antigos nomes das ruas, algumas delas possuíam denominaçõesdeliciosas, tais como rua da Boa Vista de Cima, rua de Baixo, rua da Bica, rua dosMorros, rua da Olaria, Beco do Inferno, Beco dos Prazeres. Muitos desses nomes,característicos dos tempos coloniais e imperiais, teimavam em persistir, já noperíodo republicano. Aspecto que irritava alguns jornalistas, os quais consideravamesses termos anacronismos de muito mau gosto. Como Oliveira Mesquita, jámencionado na crônica de Gêbê, que escreve em 1913: “Em Sorocaba, como emtodas as cidades, existem ruas cujos nomes são tão esquisitos quanto ridículos.”45Havia ainda certas regiões da cidade que eram conhecidas por expressõespitorescas, em razão de determinadas práticas que ali se realizavam. É o caso deum local conhecido como Pito Aceso, que era, na passagem do século XIX parao XX, um dos arrabaldes da cidade. Nesse lugar, à noite, os escravos tinham ocostume de sentar na soleira das casas para conversar e fumar seus cachimbos debarro. Conforme escreve o memorialista Antônio Francisco Gaspar, “como ali nãohavia lampiões nem luz elétrica, os pitos acesos das velhinhas e velhos de cor,com seus canudos cumpridos, conforme a usança dessa gente, pareciam vagalumesa divagarem na escuridão e foi por isso que esse trecho da atual Praça 9 de Julhoficou batizado com essa alcunha.”46.Essa imbricação entre temporalidades e ritmos é uma característica daurbe, como escreve o historiador Bernard Lepetit, “a cidade nunca é absolu [Página 19 do pdf]

fábricas de tecelagem. A malha urbana começa a se expandir para muito alémde seu histórico núcleo central, ultrapassando as linhas da Estrada de FerroSorocabana, rumo a até então quase totalmente desabitada região norte da cidade, surge, dessa forma, bairros povoados por operários que trabalhavam nasfábricas têxteis da região como Nossa Senhora da Ponte e Santo Antônio, estafundada em 1913, como nas oficinas da Sorocabana.

Não obstante, alguns autores têm apontado, com razão, uma estranha situação acerca da historiografia sorocabana. Em que pese à importância da industrialização para a história da cidade, o que é produzido sobre o tema fica confinado a perspectiva da burguesia local. Quer dizer, trata-se de uma história decaráter quase que exclusivamente apologético. E os operários? Estes pairamnum surpreendente esquecimento. Inclusive, há indícios de que a luta de classesresultante desse processo, desembocou numa autêntica luta de representações,pois além da expressão “Manchester Paulista” – aceita e divulgada de bomgrado pela burguesia local –, a cidade receberia ainda um outro cognome:“Moscou Paulista”.50 No entanto, as referências a esse último termo são muitovagas, não ficando claro a época em que surge – talvez ao longo da década de1920, muito menos se foi cunhado pelos trabalhadores sorocabanos ou pelaprópria burguesia, neste caso, evidentemente, com um sentido pejorativo. Portanto, se o processo de construção da imagem de cidade industrial está bemdocumentado, mas, talvez ainda não tão bem estudado como merece; a históriaoperária, por sua vez, é totalmente fragmentada, dispersa e, em seus momentosiniciais, que, paradoxalmente coincidem com o apogeu do primeiro ciclo industrial na cidade – ou seja, o primeiro quarto do século XX51, se encontra quasecompletamente esquecida.Nessa questão há ainda um complicador que se relaciona com as radicaistransformações ocorridas no âmbito da relação social capitalista, tão intensasquanto aquelas que se deram na virada do século XIX para o XX e que marcaram a chamada modernidade da Belle Époque. Tais modificações trariam a [Página 21 do pdf]
*Aspectos da modernidade em Sorocaba. Experiências urbanas e representações (1890-1914)

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