Augusto Leopoldo de Saxe-Coburgo e Bragança, consulado em Wikipédia
18 de abril de 2023, terça-feira. Há 1 anos
Augusto Leopoldo Filipe Maria Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo e Bragança (Petrópolis, 6 de dezembro de 1867 — Schladming, 11 de outubro de 1922), cognominado "o Príncipe Marinheiro", foi um Príncipe do Brasil e de Saxe-Coburgo-Gota, oficial da Armada Imperial Brasileira e da Marinha Austro-Húngara.[1] Segundo filho da princesa Leopoldina do Brasil e do príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, Duque de Saxe, foi o segundo neto do imperador D. Pedro II, e esteve durante alguns anos entre os herdeiros presuntivos à coroa do Império do Brasil.
Dom Augusto foi o segundo filho da princesa Dona Leopoldina do Brasil, e do príncipe Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota.[2] Seus avós maternos foram o imperador Dom Pedro II do Brasil e DonaTeresa Cristina das Duas Sicílias e seus avós paternos foram o príncipe Augusto de Saxe-Coburgo-Gota e a princesa Clementina de Orléans (filha do rei Luís Filipe I de França) [3][4]A aparente esterilidade da princesa imperial Dona Isabel - que só viria a ter seu primeiro filho após onze anos de casamento - obrigou os pais de Augusto a assinarem um contrato onde se comprometiam a residir parte do ano no Brasil e, caso dona Leopoldina engravidasse antes da irmã, que seus filhos nascessem em território brasileiro.[5][6] Após um aborto espontâneo sofrido em 2 de maio de 1865,[7] Dona Leopoldina dá à luz o primeiro neto de dom Pedro II em 19 de março de 1866, o príncipe Dom Pedro Augusto.[8][9]Poucas semanas após o nascimento do primogênito, o jovem casal parte em viagem para à Europa, onde a princesa engravida novamente.[10] De volta ao Brasil em setembro de 1867, Dona Leopoldina dá à luz a Dom Augusto Leopoldo em 6 de dezembro, em Petrópolis.[11] Seu nascimento foi anunciado pelo imperador à nação na Fala do Trono de 9 de maio de 1868:"Tenho o prazer de annunciar-vos que minha muito amada filha, a princeza D. Leopoldina, havendo regressado da Europa com o duque de Saxe, meu muito prezado genro, deu à luz, a 6 de dezembro do anno passado, um príncipe, que recebeu o nome de Augusto."[12]De volta à Europa, Dona Leopoldina dava notícias de seu caçula à irmã:"O Augustinho já está desmamado e muito gordinho, ele já quer andar, mas por ora não vai bem senão quando se agarra às cadeiras."[13]"O Augustinho tem muito boa cor, já diz mais algumas palavras, mas é muito colérico, herdado dos pais."[14]"Pedro não é raivoso, mas muito teimoso. Augustinho não é teimoso, mas, em revanche, é muitíssimo raivoso.[15]O príncipe, entretanto, pouco conviveu com sua mãe, que morreu em 7 de fevereiro de 1871, quando Augusto contava pouco mais de três anos.[16] Seu pai decide fixar-se definitivamente na Áustria, onde seus filhos ficaram aos cuidados da avó paterna.[17] Dona Isabel ainda não tivera nenhum filho à época da morte da irmã e a falta de herdeiros já causava preocupação entre os brasileiros. Em carta datada de 4 de março de 1871, o embaixador brasileiro em Viena, Francisco Adolfo de Varnhagen (futuro visconde de Porto Seguro), dizia ao imperador:
"Se os augustos netos de V.M.I., Sr, hão de ser um dia príncipes do Império, todos os brasileiros desejarão que eles sejam criados e educados no Brasil; ao passo que nada perderá qualquer deles com essa educação, se a sorte o vier a chamar a outro destino na Europa. E por menos provável que pareça o caso de poder a sucessão vir a recair até no quarto deles, não pode conceber a tal respeito nada de impossível quem se lembre de que (na própria história de Portugal) para chegar a competir o trono ao venturoso Dom Manuel, teve a morte que encarregar-se de levar antes dele, se bem me lembro, uns quatorze que tinham primeiro direito ao trono de Dom João II."[18]
Em sua primeira viagem à Europa, ainda em 1871, dom Pedro II decide trazer os netos ao Brasil, para criá-los como eventuais herdeiros do trono.[19] Um conselho familiar decidiu que os dois filhos mais velhos de dona Leopoldina ficariam aos cuidados dos avós maternos, sendo criados e educados no Brasil.[19] Assim, em 1 de abril de 1872, dom Pedro Augusto e dom Augusto Leopoldo, acompanhados do casal imperial, desembarcaram no Rio de Janeiro, onde foram recebidos com grande entusiasmo.[20]A readaptação à pátria natal foi difícil para os irmãos. Acostumados ao luxo dos palácios de Viena e da Estíria, passaram a viver no modesto e antiquado Palácio de São Cristóvão, onde pouco brincavam devido à rígida rotina de estudos imposta pelo avô.[21] Tiveram como preceptor o então reitor do Externato Dom Pedro II, Manuel Pacheco da Silva (futuro barão de Pacheco),[22] e passavam os dias treinando montaria e estudando clássicos franceses, retórica, história, geografia, línguas e música.[21]Apesar de seu irmão mais velho gozar do status de neto predileto de dom Pedro II, pela afinidade de ambos pelos estudos, outros cronistas registraram que o temperamento de Augusto, completamente oposto ao do avô, é que o tornava o preferido do monarca.[23]Tendo herdado do pai e do avô paterno o gosto pela Marinha de Guerra, ingressa como aspirante na Academia Naval em dezembro de 1882, aos quinze anos de idade.[24] Com um currículo escolar descrito como brilhante, Augusto forma-se guarda-marinha em 1886.[24]
República e exílioNa Armada Imperial Brasileira, dom Augusto chegou ao posto de segundo tenente (equivalente, hoje, a primeiro-tenente), servindo a bordo da Corveta Niterói, do Couraçado Riachuelo e do Cruzador Almirante Barroso, além de exercer o cargo de ajudante de ordens do almirante Eduardo Wandenkolk.
Em 15 de novembro de 1889, o príncipe encontrava-se no oriente, a bordo do Almirante Barroso - que realizava sua primeira viagem de circum-navegação[nota 1] — quando um golpe de Estado pôs fim ao regime monárquico no Brasil.[25] As dificuldades de comunicação impediram que a tripulação tomasse conhecimento do ocorrido antes de dezembro.[25] Telegramas do almirante Wandenkolk — agora Ministro da Marinha do governo provisório - instruíram o comandante do cruzador a substituir as insígnias imperiais das bandeiras e a induzir dom Augusto a pedir demissão.[25] Após consultar seu avô e seu tio, o conde d‘Eu, o príncipe decide não se demitir, mas solicitar uma licença de dois meses.[25][nota 2]
Em telegrama, o ministro responde à solicitação:"Príncipe peça demissão serviço, concedo licença. Wandenkolk."[25]Dom Augusto desembarcou em Colombo, no Ceilão, onde a tripulação lhe ofereceu um jantar de despedida. Emocionado, o príncipe distribuiu seus pertences entre os companheiros.[26]Após alguns meses, uniu-se à família e permaneceu com dom Pedro II até a morte deste, em 5 de dezembro de 1891. Depois disso, fixou-se em Viena, onde conseguiu, por intermédio de seu pai, permissão especial do imperador Francisco José I para incorporar-se à Marinha Austro-Húngara.[27][28] Tendo realizado os exames de ingresso, dom Augusto foi admitido na reserva naval austríaca sem prejuízo de sua condição de cidadão brasileiro, conforme explicou em carta datada de 6 de maio de 1893 ao barão de Estrela, seu procurador no Brasil:"Passei, como já sabe, meus exames brilhantemente. Como escrevi ao Antônio, resolvi entrar ao serviço de Áustria, visto o imperador me receber como príncipe brasileiro, sem que eu tenha de perder os meus direitos de brasileiro..."[27]A serviço da Marinha Austríaca (onde alcançaria a patente de Kapitän zur See, equivalente a capitão-de-mar-e-guerra[29]), dom Augusto teve oportunidade de visitar outros países, onde continuou a ser recebido com a deferência reservada aos membros de casas reinantes. Em 1897, a bordo do encouraçado guarda-costas Wien, visitou Portugal, onde foi recebido pelo rei dom Carlos I, e Inglaterra, onde foi recebido mais de uma vez pela rainha Vitória.[27]Com o agravamento dos problemas psiquiátricos de seu irmão, o príncipe chegou a ser cogitado pelos monarquistas brasileiros para assumir o trono do Brasil durante os planos frustrados de restauração do regime.[30][nota 3]
Durante esta viagem, dom Augusto - juntamente com os outros oficiais de bordo - foi recebido pelo imperador Mutsuhito, conforme registrou o almirante Custódio de Melo:
"Sua Magestade saudou-nos muito amavelmente e por intermedio do mestre de cerimonias, que dirigia-nos a palavra em francez, perguntou-me qual o itinerario da nossa viagem, assim como disse-nos que muito desejava estabelecer com o Brazil relações de comércio e amizade; e como lhe perguntasse eu, sempre pelo orgão do visconde de Hojikata, porque não mandava ao nosso paiz um navio de guerra, respondeu-me que era muito longe, e então redarguindo-lhe que tão longe ficava para os brasileiros o Japão quanto o Brazil para os japonezes, riu-se Sua Magestade ao ouvir do mestre de cerimonias a objeção que lhe vinha de fazer. Ao principe D. Augusto, que era um dos oito officiaes, perguntou o Mikado pela saude do ex-imperador, depois de o haver Sua Alteza cumprimentando da parte deste." (Vinholes, 1995)