Wildcard SSL Certificates
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Registros (76)



Claudia Panizzolo
200606/04/2024 11:38:02

Em 1875, J. Köpke foi nomeado promotor público em Itapeva da Faxina (SP), onde também trabalhou como advogado. Em seguida, foi removido para as comarcas de Jundiaí, Campinas e, por fim, para a Capital. “Em São Paulo acumulou às atividades na promotoria, o trabalho como advogado (...). Contudo sua carreira foi curta e a magistratura preterida pela opção que o acompanharia por toda a vida: a Educação” (PANIZZOLO, 2006, p. 101). _____________________

Carta de João Kopke dirigida a José Maria Lisboa quando da sua vinda como promotor de justiça para Faxina. "De São Paulo à Faxina Meu caro Lisboa, Há de você ter ainda em lembrança o dia 31 de outubro de 1875. Importou-lhe elle a quebra de alguns belos pratos, e a mim a perda dos deliciosos doces, que enviava a festejar o meu gráo - louvores à tibiesa de pernas d´aquelle celebre Geraldo, hoje tão vantajosamente substituído pelo seu impagável Chico. N’esse, de que guardo como preciosissima lembrança duas fitas, uma verde e outra escarlate, esta com nome de Leonor, aquela com o de Marianna, fui eliminado da esperançosa mocidade acadêmica, e, na bolsa das cotações estudantescas, deixei de ter a mínima parcela de valor. Nasceu-me então um desejo. Distanciado da pasta do ministro que a minha fatuidade de calouro avisinhava à obtenção do pergaminho, lembrei-me de ser promotor. Fiz subir o meu pedido às escalas do palácio, e no dia 7 de novembro os jornaes da capital unisonamente annunciaram aos povos que eu fora nomeado promotor público da comarca de Itapeva da Faxina. Lendo a notícia, confesso-lhe que me pareceu ter um rei na barriga; e, com a maior alegria, comecei de aviar-me para a viajem não sem munir-me no Garraux de um revolver, tal era a descripção, que me faziam dos sertões em que ia viver.

Aos 27 de dezembro, depois de haver dito os últimos adeuses aos amigos, soltei o away, ou antes, soltou o silvo da locomotiva e, dentro de algumas horas achei-me em Sorocaba. Ahi, depois de uma demora de dous dias, tomei um trolly (sem calembourg). Íamos a mulher, uma filha e eu. Deixando a calma feliz da risonha cidade, que se recosta à gentil collina com uma volúpia verdadeiramente poética, seguimos a larga e sinuosa estrada que, qual túrgida serpente rubra, galgando a offegar os moros sem número e arrastando-se indolente ao longo dos campos macegosos, se estende até Tatuhy – pequena agglomeração de casas, cortada de diversas ruas, algumas providas de lampeões, dos quaes um apenas vi espalhar amorável claridade, devida ao cuidado patrótipo do alli popularíssimo Chico Taques, em cuja casa fomos obsequiosamente recebidos. O ajuste de um novo trolly e a moléstia de minha companheirinha de jornada detiveram-nos quatro dias. Ao cabo d´elles, mandei atralar os animaes e puzemo-nos em marcha para Itapetininga. Quando partimos, ainda o sol se não erguera acima do horizonte. As gottas de orvalho nas folhas cubriram-se do matiz rubro das nuvens, que precendem a aurora; o dorso longínquo das serranias começava a desprender nos ares os anileos mantos de tenuíssima neblina; a espaços, se ouvia o pio monótono das perdizes na macega, e, de vez em quando o berrar prolongado dos terneiros nas mangueiras dos sítios que beiram as estrada. O caminho, como o anterior, e na phrase experessiva dos caipiras é muito dobrado. A curtas distâncias retesávamos as parelhas, suarentas e picadas das terríveis butucas, que as perseguiam. Por volta de meio-dia, chegamos à fazenda do Capitão Manoel Theodoro de Camargo. Hospitaleiro e chão, o velho recebeu os desconhecidos com o riso nos lábios, e deleitou-os pela delicadesa do seu tratamento. Fartas tigelas de pingue leite mataram-nos o calor do sol ardente de janeiro, e confesso que me atirei a ellas com uma fúria verdadeiramente bárbara. Jantamos após, fizemos o chylo em molle embalo de frescas alvíssimas redes, e às três tão poucos momentos foram muitos para arraiguar-nos sympathias profundas no coração. Com o cahir das sombras, também nossas frontes se ensombraram. Lembranças dos que atraz ficavam!... Recordações vivas da Paulicéia querida, rolavam grossas lágrimas tumultuosas pelas faces de minha companheira, e, do desfilar das serras – do murmúrio das cascatas longínquas, do farfalhar da folhagem das mattas – e ouvia erguer-se lânguida, perfumada, explendidamente bella, a minha dilecta Petrópolis! Ao cabo de algum tempo, vasta planície. O azul dos céus carregára-se – o verde dos bosques se ennegrecera – as vozes dos pássaros se calaram – levantou-se o grito estridulo do grilo, e o eco repetiu o chio do carro a recolher-se ao descanso. A estrada descia mansamente – aqui uns ranchos, acolá outro; - bestas a espojarem-se – arreios empilhados, ao clarão avermelhado das fogueiras, um vulto de cocoras a mecher um caldeirão suspenso, e, sobre os ligaes, de barriga ao ar, tropeiros que repousavam enquanto um outro sentado sobre os calcanhares e com as costas à parede casava ao som da viola as notas rudes de uma trova sertaneja: Dizem que o cigarro tira As mágoas do coração; Pintado o cigarro acaba; As mágoas nunca se vão. A cidade approxima-se. E’ Itapetininga: já nos Pinheirinhos nos haviam dito: E’ ali, (e, de passagem, registre-se que o ali do interior nunca é para menos de légoa). Luzes disseminadas, como estrellas dispersas, indicaram-nos o termo da viagem do dia. Entramos no povoado. Ruas quase desertas – altas massas perfiladas; muros de taipa ou casas; à porta de uma botica, um grupo; rótulas, que o rolador do trolly despertara, o ruído surdo de um tambaque a festejar os Reis, eis as primeiras impressões. Pela manhã abrimos ansiosos a janella. Uma cidade pequenos se desenrolou a nosso olhos; construção sofrível, ruas descuidadas; matriz vasta, mas não concluída; theatro disforme no exterior, cadeia vergonhosa, alguma animação, devida, talvez, às solenidades da Epiphania, foi o que verificamos ao sahir mais tarde. Três dias depois, prosseguimos. Da cidade fomos ao Constantino, no Porto a pouco mais de légoa de distância. Comemos, refrescamos os animaes e ganhamos caminho. O trolleyro, marujo de primeira viagem, calculou mal a jornada, e só às oito horas e meia chegamos ao Capivaryzinho, depois muitos solvancos e sustos, encontrando de jantar – nada, e por pouco um miserável quarto com um velho catre tecido de Couro – cru – duro e insuportável. Valha, porém a verdade, nesse leito de Procusto dormimos como pedras. Ahi, pela primeira vez entrei no conhecimento do que é uma candeia: -torcida de cera à parece e vae se levantando à proporção que se consome. Do Capivaryzinho fomos ao alto da Pescaria, subida íngreme, escalvada, e aberta por milhares de regos cavados pela chuva, por ande ascende estrada, penosamente, entre despenhadeiros de um lado e fundas bussurocas do outro. Estávamos no ponto culminande dáquellas paragens, onde medra o café ao abrigo das geadas. Os raios perpendiculares do sol esmagavam-nos. Fizemos abrir, à esquerda, uma porteira que rangeu ruídos e descemos por uma picada emmaranhada, que em alguns logares, foi preciso desbastar a golpes de facão. D’ahi a momentos, transpondo milhares immóveis pelo excesso de calma e ausência de brisa, beirando algodoaes extensos, que penduravam suas estrelladas, vimos erguer-se ao longe, n’um baixo, um têlue fio de fumo a desenrolar-se mollemente, e, depois, a palissada de um terreiro, a que se acostavam, aqui e acolá, enormes capados e magras porcas cercadas de uma turba multa de leitões, que, grunhiam ávidos cabeceando as tetas verrugosas. Era a vivenda do Tenente Coronel José Carneiro da Silva Lobo. Alto, moreno, olhos vivos, querendo esconder-se sob um óculos, que os trahem o distincto paranaense, liberal quand même, e partidista extremado acolheu-nos de braços abertos, e, no seu lar passamos dous dias que nos arrastaram a procura-lo sempre que, em viagem houvemos de passar na direcção do seu sítio. O leite sem rival, o pingue queijo, o saboroso carneiro e as gabirobas apanhadas no campo, nada faltou a entremeia a prosa renhida, que se travou entre nosso amphytrião, sua extremosa senhora, seu sobrinho Major Licinio, e nós. Quando nos pozemos outras vez em marcha, íamos pesarosos de deixar a Pescaria. Acompanhados até ao Porto de Paranapanema, transpozemos na balsa a tristonho e negro rio, e, sentado sobre as raízes das árvores da outra margem, depois de breve palestra, dissemo-nos compridos adeuses. Uma hora depois, avistamos, ao longe, as paredes brancas e o telhado pardo-escuro do Paranapitanga. A apparição da casa enorme, que, pelo seu vulto e posição faz-se crer próximas quando remota está, despertou-nos no espírito recordações históricas, e, figurou-se nos ver, com a avizinhação, recostada ao parapeito de uma das janellas, a effigie veneranda do velho Raphael Tobias. Apeamos para sestear, o Major Licínio, actual proprietário, sua senhora e nós: engulimos um virado sumptuoso com um appetite invariável dos caminheiros, dormimos uma boa hora, e estrada novamente. Começou, então, a madonha chapada do Paranapitanga – o horror dos viajantes, a perder de vista – nem numa árvore – nem uma sombra. Das barbas de bode, desprende-se um som metállico, produzido por uma espécie de gafanhotos verdes, semelhantes ao que vulgarmente se chama esperanças. Da terra abrasada levanta-se trêmula uma ondulação enfebrecida. A espaços uma aldeia de cupis, e, ou a rire sobre elles os irrequietos bicos-chanchas, ou a cynicarem silenciosas corujinhas do campo. A monotonia do solo é apenas cortada pela recta imensa de algum vallo, continuado por cerca vedatória, que se atira pela superfície verdeclara do lagoão adentro. Disseminadas, algumas rezes; e, a desfilarem n’um passo desanimado as tropas cansadas, de cabeça pendurada e flancos arquejantes, que os conductores em bica instigam com sua voz stentórica. Não há nem pássaros a trinar, nem arroio a correr melodiosamente, nem folhas a estrugir. Mudez e calor. Duas leguas e meia! Parecia que aquella vastidão não mais se findava; porém, alfim, o Major tomou à direita, em busca de S. Raphel, sua fazenda, e, d’ahi a uma légua, chegamos ao Porto do Apiahy. Desde o Paranapanema que nos achávamos em terras da Faxina. Um esquecimento levou-nos longe. Haviam nos fallado em Theodorinho, como pouso que devíamos tomar; mas olvidando este nome, fomos pelas informações colhidas na estrada, levados à Escaramuça, légua e meia d’elle, e a cinco da Faxina. Plana até logar desde o Rio Apiahy, profundo e cheio d’água, que, o atravessava a ponte, tem de 20 a 25 metros, ahi começa a estrada a subir e a descer por fortes declives, sendo mais notável um de cujo cimo avistamos a vivenda do estimável fazendeiro Capitão José Aleixo Ferreira de Barros com sua capellinha guapa e branca a uma lado. Novos campos a perder de vista; d’ahi a pouco um pequeno bosque que atravessamos de permeio – o Capão do Inferno após o Tocunduva; ao longe, em um alto, a habitação do fallecido Tenente Coronel Honorato Carneiro da Silva Lobo e do actual Tenente Coronel Honorato Carneiro de Camargo; além o Passo da Faxina – feudo de um senhorio nervoso, franzino, feio, mas bom rapaz às deveras, - o senhor Martinho Carneiro de Camargo. Com soffrega por alcançar a cidade, a estrada corre por um chão parado e fácil, até que, chegando-lhe às proximidades, rola por alguns declives, salta por sobre morros suaves, transpõe o Ribeirão Fundo, saúde o Capitão Fructuoso, e, de repente, esbarra, cara a cara, com a Faxina. Doida por abraça-la, atira-se cegamente por uma ladeiras pedregosas abaixo, corre com tanta dificuldade quanto afan, torna a subir, e perder-se no meio das ruas do povoado.

A Faxina está situado do meio para o sopé meridional de um outeiro de mansa inclinação. Cercam–n’a elevações achatadas de uma pedra molle, aqui vulgarmente chamam piçarra, formando como que as ameias de denegridos baluartes. D’ellas procede talvez, o nome de Itapeva, que significa – Pedra Chata. De quatrocentos a quinhentos fogos, mais ou menos, encerra o recinto abrigo de uma população de 2,500 almas. Pequenas casas na maior parte. Notam-se, toda via, entre ellas algumas edificações regulares, prevalecendo a construção de madeira. As ruas, quatorze mais ou menos em número, cortadas quase de N. a S. e de L. a O., são, no geral, estreitas e mal cuidadas. A matriz, vasta, mas excessivamente descurada no exterior, tem uma fachada sem torre e sem a mínima sombra de architectura. A cadeia é um sobrado regular, mas que carece de urgente reparos. Além da matriz existem a egreja de Santo Antonio e as capellas de N. S. das Dores e da Guia. Dois pequenos jazidos são sustentados pelas irmandades do Santíssimo Sacramento e N. S. do Carmo, erradamente collocados justamente na direcção para onde a cidade tem espaço para estender-se. O cemitério municipal é uma lástima; o mercado é rachitico, e de monstruoso tem o portão, maior do que o mais junto. Notam-se ainda o theatro de Sant’Anna, construído por accionistas, o Gabinete de Leitura, numerosas casa de fazendas e ponto pequeno, de secos e molhados, a que os caipiras chamam ladroeirinhas, duas pharmacias, um bilhar, quase sempre applicado ao infame jogo de estrada de ferro, ferrarias, barbeiros e cabellereiros (um de cada um), marceneiros, fogueteiros, ourives, dentistas, sapateiros, alfaiate francez, ferradores e até um productor de medicamentos homeopathicos – o senhor Irineo de Faria Mello. Padarias não há o pão que se consome é feito por famílias que o fabricam conforme podem. A água, excellente, é provida por bons mananciaes: o do Callixto, e o vulgarmente denominado Olho do Padre Miguel. Illuminação não se vê: dizem que outr’ora os particulares a faziam à sua custa e algumas ruas, mas pouco a pouco deixaram esse louvável empenho até morrer de todo. A cidade assim descripta, produz, força é confessa-lo, no viajante, que a avista do Alto do Vieira (ponto de entrada), uma impresão nada agradável. Mal collocada, silenciosa e tristonha, não tem nem a graça selvagem das bellezas do sertão, nem os affectados encantos das formosuras cortesãs.E’m uma burguesa chata, insipda e macambusia, sem passado e sem futura, com quem, entretanto, passei bons annos dos quaes consevo muitas e muitas saudades."
*Claudia Panizzolo

Relacionamentos
-
Cidades (6)
sem imagemtesteApiaí/SP83 registros
sem imagemtesteItapetininga/SP186 registros
sem imagemtesteItapeva/SP93 registros
testeSão Paulo/SP3529 registros
testeSorocaba/SP10973 registros
sem imagemtesteTatuí/SP93 registros
-
Temas (13)
erroc2:testeCaminho Sorocaba-Itapetininga
53 registros
erroc2:testeEscaramuça
6 registros
testeEstradas antigas
1149 registros
testeFerrovias
255 registros
erroc2:testeItapeva (Serra de São Francisco)
134 registros
erroc2:testeLéguas
280 registros
erroc2:testeOdontologia
38 registros
erroc2:testePescaria
6 registros
testePontes
250 registros
erroc2:testePortos
148 registros
erroc2:testeRio Apiay
14 registros
erroc2:testeRio Paranapanema
212 registros
erroc2:testeRio Paranapitanga
20 registros
Você sabia?
Ayrton era uma pessoa normal apesar de ser um super piloto um super um super engenheiro esbravejava sofria O japonês tem preço por pessoas normais que fazem coisas grandiosas.
6009
144
Em 1929 m desse mendigos, falecido, deixou várias propriedade, inclusive uma chácara. Outro que perambula pela cidade empresta dinheiro a juros.
erro
erro registros


Procurar



Hoje na História


Brasilbook.com.br
Desde 27/08/2017
28375 registros (15,54% da meta)
2243 personagens
1070 temas
640 cidades

Agradecemos as duvidas, criticas e sugestoes
Contato: (15) 99706.2000 Sorocaba/SP