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A estranha história de uma tal de “Casa das Armas Brancas”. Fernando JG Landgraf e Luciano Regalado
25 de fevereiro de 2023, sábado. Há 1 anos
Há anos palco para muitas fotos de noivas, e até festas, a “Casa de Armas Brancas” é um grande prédio de pedra na área histórica da Flona Ipanema, terminado de construir em 1887. O prédio tinha desabado, nos anos 1940, foi reconstruído nos anos 1960 e para lá foram levadas várias máquinas das Oficinas antigas, tornos enormes fabricados na Alemanha no século 19. Mas e esse nome, o que quer dizer?

Armas Brancas são facas, machados, punhais. As lendas gostam de imaginar que essas tais armas devem ter sido fabricadas ali para uso na última guerra que o Brasil liderou, a Guerra do Paraguai. Tudo imaginação. A Fábrica de Ferro de Ipanema estava desativada quando a Guerra começou, em 1865, e não há notícia de ter contribuído com armas ou munições, até o fim da guerra, em 1870. Existem relatórios anuais muito completos sobre a Fábrica, nessa época, e nenhuma menciona produtos para a guerra. O prédio, pior, nem estava construído. Uma planta da Fábrica, em 1884, indica que naquele prédio seria instalada uma Oficina de Fabricação de pregos e arames. A Fábrica entrou em decadência após a proclamação da república, e foi fechada em 1895. É nessa época que se lê, por primeira vez, menções a uma ‘fábrica de armas brancas “ que poderia ser instalada em Ipanema. Nunca foi. Em 1928 uma matéria de jornal diz que o Ministério da Guerra pensa em montar em Ipanema “uma fábrica de armas brancas”, ou seja, até ali nada. Em 1937 a área é entregue ao Ministério da Agricultura. De repente, uma matéria de jornal, em 1947, escrita por um certo Carlos Buhr, funcionário do Ministério da Agricultura, mostra uma foto do prédio em ruínas e nos informa: naquele “enorme edifício, inteiramente construído de pedra, funcionava a fábrica de armas brancas, sobre a qual pouco se sabe”. Pronto, está dado o nome. De onde essa pessoa inventou esse nome? Quem lhe terá dito o nome? Não se sabe. Talvez o pessoal do Ministério da Agricultura tivesse que dar um nome, e alguém inventou esse. Ou então os militares que reconstruíram um dos altos fornos (aquele da chaminé cilíndrica), em 1919, deram esse nome ao prédio, pensando em seu futuro uso. Quase nada se sabe desse último período de funcionamento da Fábrica. Resumindo, aquele prédio nunca foi uma “casa de armas brancas”. Mas, pensando bem, chamar aquele prédio tão bonito de “oficina de pregos e arames” é pouco atraente. Pois que continuem a chamá-lo de “casa de armas brancas”. A lenda já tem 75 anos, pelo menos, já pode ser considerada quase verdade.

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