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A Revolução de 1932 no Vale do Ribeira, por Elizandra Aparecida Nóbrega, em ovaledoribeira.com.br
8 de julho de 2022, sexta-feira. Há 2 anos
Ao tomar o poder em 1930, Getúlio Vargas destituiu todas as autoridades do país, substituindo-as por pessoas ligadas ao novo regime. Para os estados, foram nomeados interventores federais, que, por sua vez, nomeavam, por decreto, os prefeitos municipais. O Legislativo foi fechado e o prefeito governava o município sem o auxílio dos vereadores. Apenas em 1936 é que seriam realizadas eleições para o primeiro Legislativo após a Revolução de 1930.

Dois anos após Vargas se instalar no Palácio do Catete, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, que tinha por objetivo obrigar o presidente a dar uma nova Constituição ao País, pois a que vigorava, de 1891, não estava sendo respeitada.No dia 23 de maio, um protesto contra o governo federal resultou na morte de quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Com as iniciais desses nomes, dias após, seria formada a sigla MMDC, que virou o logotipo da Revolução Constitucionalista.E, assim, no dia 9 de julho, tinha início em São Paulo o movimento constitucionalista, apoiado amplamente pelo povo paulista. Foram 85 dias muita luta, até 2 de outubro de 1932, quando São Paulo se rendeu. Centenas de jovens paulistas sucumbiram nas trincheiras, motivados pelo ideal da constitucionalização do Brasil. Oficialmente teriam morrido 934 pessoas na chamada “guerra paulista”, embora estimativas não oficiais aumentem esse número para 2.200 mortos.

A REVOLUÇÃO EM IGUAPE

Como todo o efetivo policial das cidades paulistas tinha sido requisitado pelo Governo do Estado, foi criada em cada município uma Guarda Municipal, formada pelos próprios cidadãos locais. Essa corporação era também conhecida pelo nome de Polícia Municipal.

Em Iguape, a Polícia Municipal foi criada no dia 15 de julho de 1932, pouco mais de um mês após a explosão do movimento constitucionalista, e era composta por 222 cidadãos iguapenses, que se apresentaram voluntariamente para o policiamento da cidade.

Assim, essa polícia se encarregava de manter a ordem, guardar a cadeia e edifícios públicos, cumprindo seus integrantes, para o perfeito desempenho da tarefa a que se impuseram, todas as ordens que lhes eram dadas e obedecendo à disciplina a que ficavam sujeitos.

O EMBARQUE DA FORÇA PÚBLICA

Em 16 de julho, embarcava em Iguape, para se incorporar ao seu batalhão, um contingente da Força Pública local (nome que então se dava à Polícia Militar), acompanhando de um contingente vindo de Cananeia. Antes de embarcarem, os soldados deram uma volta pela cidade, sendo acompanhados por grande massa popular que gritava “vivas” a São Paulo, ao Brasil, aos líderes do movimento constitucionalista, aos soldados revolucionários e à polícia.O embarque foi assistido por familiares dos policiais e pelo povo. Em nome da população iguapense, discursou o Dr. Cyrillo Freire, conclamando os soldados ao cumprimento de seu dever cívico, sendo muito aplaudido. Novamente se ergueram “vivas” a São Paulo e ao Brasil. Em seguida, o Dr. Cyrilo Freire voltou a discursar, e ofertou, em nome da família iguapense, efígies e medalhas do Bom Jesus de Iguape, que foram colocados nos peitos dos soldados, sob o aplauso popular. O comandante do contingente de Cananeia agradeceu em nome da Força Pública, destacando o valor do soldado paulista, a gratidão e o estímulo do povo iguapense. Reinava grande entusiasmo na cidade.O semanário “O Iguape” (nº 301, de 19/7/1932), noticiou o embarque dos soldados da Força Pública de Iguape e Cananeia rumo aos campos de combate. O título da manchete era: “O irresistível movimento armado constitucionalista que estalou na lendária e magestosa Paulicéa, para quebrar os grilhões oprobriosos com que a dictadura vem manietando a Nação, está virtualmente victoriso”. Parte do texto dizia:“Nós, iguapenses, paulistas por excellencia, não podemos nem devemos ficar impassíveis diante do grandioso movimento em pról da restauração do império da lei em nossa Patria. O momento é de reivindicações e nunca se obtem reinvindicações sem sacrifícios [...]. Iguapenses!... Sacudamos o torpôr que tolhe os impulsos espontâneos que acabrunha e embota as consciências. Sejamos paulistas...E todo o paulista nesta hora em que periclitam os altos destinos da nossa nacionalidade, não póde titubear. Levantemo-nos como um só homem e vamos tornar mais compactas as fileiras dos nossos irmãos que, de armas em punho, lutam pela lei, pela ordem, pela grandesa de S. Paulo e glória do Brasil.” Emocionante foi a manifestação que o povo iguapense prestou aos bravos soldados da Força Pública que compunham os destacamentos da cidade por ocasião do seu embarque com destino à zona de operações. Grande massa popular acompanhou, vivando delirantemente, os soldados de São Paulo, que garbosamente desfilaram pelas ruas da nossa cidade rumo ao porto de embarque. Lá chegados, usou da palavra o advogado Dr. Cyrillo Freite, que, em frases candentes, saudou aquele grupo de patriotas que seguia para o campo de luta em defesa da causa de São Paulo, “que é o supremo ideal dos brasileiros – a immediata reconstitucionalisação do paiz”. As últimas palavras do orador foram abafadas por estrondosa salva de palmas, sendo erguidos muitos “vivas” a São Paulo, à Constituinte e à tropa da milicia paulista. Senhoritas iguapenses, num gesto que deixou transparecer o patriotismo e a fé religiosa da mulher brasileira, pregaram à túnica dos milicianos medalhas com a efigie do Bom Jesus de Iguape. Os soldados constitucionalistas receberam essa demonstração de carinho da mulher iguapense, com funda emoção e vivo desvanecimento.Externando os sentimentos da tropa que partia, falou o cabo comandante do destacamento de Cananeia, sendo muito aplaudido. Em seguida, procedeu-se o embarque sob delirantes aclamações dos populares e orações, que só terminaram quando o navio que os conduzia, singrando as águas do Valo Grande, desapareceu à distância. UNIÃO POR SÃO PAULO O Partido Democrático de Iguape lançou um manifesto hipotecando apoio ao movimento de São Paulo e concitando aos seus correligionários e demais pessoas a se unirem na “causa santa, que é a causa do Brasil, dentro da lei e da liberdade”.Também foi realizada reunião, no Paço Municipal, entre os líderes do Partido Democrático e Partido Republicano Paulista, quando se decidiu pela criação de uma Frente Única política no município. A ata foi lavrada pelo Dr. Cyrillo Freire. “Dessa forma, a exemplo do que se vem praticando em todo o Estado, os políticos locaes, num gesto nobre e eminentemente patriótico, esquecendo velhas dissenções e quiçá rancores pessoaes, irmanaram-se, estabelecendo a unificação das correntes partidárias aqui existentes, para melhor cooperarem em pról da victoria da causa constitucionalista, que São Paulo pelo seu povo e seus soldados hoje defende de armas na mão.”O prefeito de Iguape, capitão Floramante Regino Giglio, tão logo estourou o movimento constitucionalista, recebeu contínuos protestos de solidariedade, recebendo em seu gabinete uma comissão formada pelos cidadãos José de Sant´Anna Ferreira, Antônio Ribeiro Collaço, Augusto Mesquita de Carvalho, Isdêmolo Manfredi, Bento Pereira da Rocha, Hermelino França Júnior, Waldemiro Athayde, Onofre Sant´Anna Ferreira, Francisco Giani, Dr. Paulo Barreiros, Joaquim Sant´Anna de Moraes e Antônio Plácido Barbosa, que oferecem seus serviços ao município. Esses cidadãos se inscreveram na Guarda Municipal, a cargo da qual ficou todo o serviço de policiamento da cidade.A Prefeitura Municipal, “no louvável intuito de proporcionar facilidades á população”, tomou medidas junto ao comércio para que fossem mantidos os preços dos gêneros de primeira necessidade. Tais providencias também foram adotadas em relação aos distritos iguapenses de Registro, Juquiá, Prainha (Miracatu) e Alecrim (Pedro de Toledo).GRANDE COMÍCIO No dia 17 de julho, domingo, houve um grande comício, em prol do movimento constitucionalista, promovido pelo advogado Dr. Cyrillo Freire. Ele explicou a finalidade do movimento que estava empolgado o Estado de São Paulo e a Nação, tecendo palavras de louvor “aos pioneiros da causa santa que São Paulo, pelos seus filhos, defende galhardamente”. Incentivou o povo a formar um batalhão para entrar na luta, seguindo o exemplo do que se verificava no resto do Estado.Em seguida, discursou o coronel Félix Biallé, que exortou a mocidade iguapense a se unir e, dessa forma, cooperar com “a sua acção decidida na campanha que vem se iniciar-se pela constitucionalisação do paiz”.Na sequência, discursou o sargento José Nogueira, sargento reservista do Exército, dizendo que, se entre os presentes houvesse alguém que o quisesse acompanhar, que se manifestasse imediatamente. Diversos rapazes se alinharam ao lado do sargento. Ouviu-se uma frenética ovação que aplaudiu o gesto corajoso dos jovens. O Dr. Cyrillo Freire usou novamente da palavra dizendo da surpresa que lhe causou a demonstração do “inegável patriotismo da mocidade iguapense ali representada por aquelles bravos rapazes”. Organizou, por fim, uma passeata que percorreu as ruas da cidade, tendo à frente os voluntários e autoridades locais. O CAMPO DE AVIAÇÃO Em meados de julho, foram iniciados os trabalhos para a abertura de um campo de aviação em Iguape. Em 31 de julho, o prefeito Floramante comunicava aos poderes competentes a conclusão desse campo. Além de homens adultos, participaram também da construção, voluntariamente, senhoritas e até crianças.O campo foi construído conforme orientações recebidas. Devido ao terreno escolhido para o campo de aviação ser todo recoberto por mata virgem, foram necessários 12 dias de trabalho para ser ultimado. Seu comprimento era de 480 metros por 50 de largura. O jornal “A Gazeta”, de São Paulo (nº 7.944, de 22/7/1932), destacou o trabalho do povo de Iguape pela causa da constitucionalização do País:“Unido, o povo de Iguape está trabalhando pela causa da constitucionalização do paiz. É grande, naquella cidade, a confiança do povo pela victoria das nossas forças. Alli, nos serviços de construcção de um campo de aviação trabalharam, offerecendo-se para isso, expontaneamente, 150 homens que foram auxiliados por 130 alumnos no Grupo Escolar. O campo mede 600 metros por 50. O batalhão ´Voluntarios Filhos de Iguape´ já conta com bom numero de alistados e está sendo instruido por um sargento reservista. Os funccionarios da policia civil e cidadãos de destaque social policiam a cidade, empenhando-se na manutenção da ordem publica. Senhoras da sociedade de Iguape angariam donativos para as familias dos soldados pobres.” A COMISSÃO MUNICIPAL No dia 23 de julho, foi criada a Comissão da Guarda Paulista do MMDC, ou Comissão Municipal, como era conhecida, constituída pela Frente Única Paulista no Município, cujo propósito era trabalhar pela organização dos batalhões civis que deveriam permanecer de prontidão, aguardando o momento de entrar em combate. Essa comissão era formada por destacados cidadãos da época: o prefeito de Iguape, capitão Floramante Regino Giglio, Luiz Gonzaga Muniz, Paulo Barreiros, Álvaro Martins de Freitas e Hermelino França Júnior. Foram também criadas comissões idênticas nas subprefeituras dos então distritos iguapenses (hoje emancipados): Registro, Juquiá, Miracatu e Pedro de Toledo.Essa comissão, apelando ao patriotismo das mães iguapenses, pedia que elas autorizassem seus filhos a se empenharem na luta “pela honra de São Paulo e do Brasil”. Segundo os inflamados slogans da comissão, o momento era de ação: “São Paulo é um só homem, um só pensamento. Levantou-se o Brasil em armas desde as chapadas do Amazonas às coxilhas do Rio Grande!” Cartazes com os dizeres – “Às armas! Viva Iguape! Viva São Paulo! Viva o Brasil uno e varonil!” – eram afixados por toda a cidade. Iguape fervilhava. A emoção, o amor à Pátria, e em especial ao Estado de São Paulo, eram bradados aos quatro cantos.Foram também nomeadas subcomissões distritais: para Registro, Manoel Honório Fortes e Luiz Pires; Juquiá, Uriel Marques e João Adorno Vassão; Miracatu, coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior e Roldão Constâncio Ferreira; e Pedro de Toledo, Joaquim Fernandes e J. Regino Vasconcelos. Essas subcomissões, de acordo com as instruções da Comissão Municipal de Iguape, teriam a colaboração dos subprefeitos dos respectivos distritos.Também em obediência às instruções oriundas do Governo do Estado, foi organizada na cidade uma Comissão Municipal de Alistamento dos Voluntários para a Guarda Paulista. A comissão foi composta por representantes dos partidos Democrático e Republicano Paulista, entre os quais, Dr. Paulo Barreiros, Álvaro Martins de Freitas, Luiz Gonzaga Muniz e Hermelino França Júnior, e funcionava numa sala do Paço Municipal.Para a defesa do Litoral Sul, o Governo do Estado enviou a Iguape o major Henrique Franzoi, tendo como ajudante de ordem o tenente Gutermayer, que seguiu para Cananeia afim de inspecionar as fronteiras com o Estado do Paraná e, em sendo o caso, preparar as linhas defensivas para salvaguardar o solo paulista de qualquer invasão de tropas federais.Por determinação do Governo do Estado, foi expressamente proibida a saída, do Estado de qualquer quantidade de veículos, materiais, gêneros alimentícios, combustíveis, gasolina e quaisquer outras espécies de produtos ou objetos. No caso de não cumprimento, a Prefeitura procederia à respectiva apreensão.A Prefeitura organizou a Intendência Geral dos Mercados encarregada de levantar a estatística dos gêneros de primeira necessidade na sede e distritos deste município. Foram encarregados os senhores Augusto Mesquita de Carvalho, Francisco Giani e Joaquim Sant´Anna de Moraes para angariarem no município donativos destinados à manutenção das forças constitucionalistas. Doações feitas pelo povo de Iguape eram remetidas ao seu destino. Em fins de julho, foram doados 1 boi, 10 sacos de feijão, 155 sacos de arroz, 10 sacos de farinha, 5 sacos de açúcar, 1 saco de café, 21 camisas de brim cáqui e mais 1:425$000 réis em dinheiro. A CRUZ VERMELHA IGUAPENSEAtendendo a insistentes pedidos de diversas senhoritas pertencentes à sociedade iguapense, o prefeito Floramante Giglio, com o médico Dr. David Coda, resolveu organizar a Cruz Vermelha Iguapense para “em caso de necessidade soccorrer os nossos voluntários que em breves dias partirão para as cumeadas do Itapitanguy, afim de salvaguardar a intangibilidade do sólo bandeirante e pugnar, pela acção decisiva e destruidora das armas, em pról da victoria dos exércitos constitucionalistas.” (“O Iguape”, nº 302, de 26/7/1932).As primeiras voluntárias a se inscreverem para fazerem parte da Cruz Vermelha Iguapense foram as senhoras Joanna Collaço, Nomésia Lopes de Andrade Rebello, Yara Lopes Rebello, Yolanda Lopes Rebello, Maria Isabel de Aguiar, Irene Grossi Fortes, Maria Ignacia Veiga, Anna Coutinho, Benedicta Pereira, Gabriella Saldanha, Bellila de Andrade, Djanira Moraes Manfredi, Ditinha Giglio, Analia Sant´Anna, Marina Isidro Oliveira, Angelina Louzada, Nair Louzada e Maria Vieira.A diretoria da Cruz Vermelha Iguapense ficou assim constituída: Presidente: Ana Cândida Sandoval Trigo; Vice-Presidente: Maria do Carmo Toledo Giglio; Secretária: Maria Sant´Anna; Tesoureira: Nomésia Rebello; Almoxarife: Rita de Oliveira.A cidade foi dividida em quatro quarteirões e designadas comissões para verificar o número de necessitados, sendo apurada a existência de 171 famílias, com um total de 925 pessoas, as quais, mediante cartões, receberam da Cruz Vermelha gêneros comestíveis para uma semana.Muitas senhoras abandonavam os serviços domésticos para se entregarem, por muitos dias, à confecção de fardas para os soldados, não só da cidade como os que chegavam destacados ou a passeio.Até o início de agosto, essa comissão de senhoras já tinha conseguido angariar a importância de 2:055$000 reis. Diversas famílias foram socorridas pela comissão e outros auxílios foram distribuídos aos soldados que já tinham partido. O “BATALHÃO REDENTOR”O Batalhão Patriótico foi organizado em 18 de julho de 1932. Até então tinham se alistado: sargento reservista José Nogueira, Antônio de Campos Collaço, João Santiago de Carvalho, Aristobolo Lima, Manoel Paulino da Silva, Sizenando Carvalho, Oswaldo Freitas, Carlos de Campos Collaço, Lucílio Carneiro, Benedicto Pereira, Celso Veiga, Américo Amâncio, Antônio Andrade, João Rocha, Alcides Cardoso e José Silva de LimaEm 23 de julho, foi recrutado expressivo número de voluntários, que passaram a integrar o Batalhão Patriótico da cidade, que seria chamado de Batalhão Redentor Filhos de Iguape (ou Redemptor, na grafia da época) , nome escolhido em virtude da “grandiosa cruzada da redenção” que os seus componentes empreenderiam para a defesa de São Paulo.Os voluntários inscritos achavam-se aquartelados desde o dia 24 de julho nos prédios da Cadeia pública (Cadeia Velha) e nas dependências do Fórum, que foram cedidas pelo juiz de direito Phydias de Barros Monteiro. O comandante do batalhão, sargento José Nogueira, que tomou a inciativa de inscrição de voluntários, ficou a cargo da instrução dos rapazes.Em fins de julho ou início de agosto, esteve na cidade, acompanhado de seu estado maior, o tenente Moupyr Monteiro, comandante do Exército Nacional em operação no setor Sul da fronteira do Paraná.Em 28 de julho, quinta-feira, às 21h, foi celebrada uma comovente missa votiva pela vitória das forças constitucionalistas e pela restauração da paz “no seio da família brasileira”. O templo ficou completamente lotado, numa demonstração viva que bem demonstrou os anseios do povo iguapense pela paz do Brasil e pela vitória de São Paulo.

Em 31 de julho, à noite, mais um comício era realizado “em favor da magna causa esposada por São Paulo, que é o retorno imediato do paiz ao império da Lei, dentro dos sagrados princípios da Liberdade e do Direito.” Mais uma vez, o povo iguapense compareceu em massa para aclamar os oradores que se sucederam, dando “vivas” aos principais líderes da revolução paulista.

A 1º de agosto, a Comissão do MMDC de São Paulo, Seção do Interior, solicitava o encaminhamento para a Capital dos voluntários já apresentados, para serem devidamente treinados, pedindo ainda que a Comissão Municipal prosseguisse com o alistamento de voluntários. A Comissão decidiu telegrafar ao MMDC comunicando que o serviço de alistamento continuava a ser feito com todo o entusiasmo e que alguns reservistas do município já haviam seguido para a Capital. Resolveu, ainda, telegrafar às subcomissões distritais, por intermédio dos subprefeitos, transmitindo-lhes os dizeres do MMDC da Capital. Foi providenciada a confecção de fardamentos para uniformizar os voluntários alistados.

Em 4 de agosto, o prefeito Floramante comunicava a criação do Correio Militar, nas dependências da Prefeitura Municipal, “para o fim de facilitar a entrega das correspondências e pequenos volumes endereçados aos soldados voluntários.” Os envelopes deveriam ser abertos e isentos de selos, e no endereço era necessário declarar nome, batalhão, companhia e número do soldado ou voluntário.

O Governo do Estado ordenou a construção de uma linha telefônica ligando Registro a Juquiá e a Pariquera-Açu. Os trabalhos foram rapidamente executados, com ligações também para Iguape. COMPANHIA DE SANTO AMARO Em fins de julho, chegava a Iguape oficiais da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro (C.I.E.S.A), que ficaram acantonados em diversos pontos do município, recebendo demonstrações de apreço e simpatia por parte da população.Na noite de 27 de julho, no Paço Municipal, foi realizada homenagem aos oficiais, com o comparecimento de autoridades locais e de pessoas gradas. Discursou o Dr. Cyrillo Freire, que destacou o sentimento do povo iguapense e de suas autoridades diante do movimento armado que vinha sacudindo a alma paulista. O orador exaltou o exército nacional ali representado pelos oficiais, destacando que o povo iguapense acompanhava “com vivo entusiasmo” o desenrolar dos acontecimentos e que lutaria com ardor para a completa vitória “da santa causa de S. Paulo, que é repor o paiz no regime da Ordem e da Lei.” Em nome dos oficiais, agradeceu a homenagem o oficial Oscar Stewenson, que fez um discurso inflamado que empolgou os presentes. Tanto Freire como Stewenson foram calorosamente aplaudidos. Após a homenagem, saiu uma passeata cívica pelas principais ruas da cidade, com a participação da banda musical Santa Cecília, ocasião em que discursaram ainda diversos oradores, entusiasticamente aplaudidos pela imensa massa popular que participou das homenagens “aos destemidos defensores dos elevantados ideaes da nossa nacionalidade.”

A PARTIDA DO BATALHÃO REDENTOR

Às vésperas da partida do Batalhão Patriótico, o prefeito Floramante transmitiu aos prefeitos de Jacupiranga e Cananeia o seguinte telegrama: “Fazendo seguir dia 4 para S. Paulo voluntários Guarda Paulista em numero 40, nos seria agradável que rapazes inscritos na vossa localidade aproveitassem mesma condução afim seguirem juntos formando uma só companhia.”

De Cananeia, veio a resposta: “Agradecendo lembrança comunico que sahindo daqui amanhã dez ou mais voluntários afim seguirem juntos aos dahi. a) Nino Cavagna – Prefeito.”

E de Jacupiranga: “Jacupiranga, 1 – Respondo o vosso aviso de hoje. Por enquanto não se apresentou nesta voluntario ou reservista algum. Publiquei aviso inscrição e assim que alguém se apresente até dia 4 comunicarei. Saudações. (a) Gaspar P. Mayer – Prefeito Municipal.”

Esse primeiro destacamento do Batalhão Redentor Filhos de Iguape partiu para o front no dia 4 de agosto, com destino a Juquiá para combater as forças federais ali instaladas. Para a partida desse batalhão, organizou-se uma grande comemoração, a fim de se homenagear aqueles bravos e destemidos jovens que partiriam rumo aos campos de batalhas, arriscando as próprias vidas para a defesa da honra de São Paulo.

O embarque dos voluntários do Batalhão Redentor Filhos de Iguape ocorreu na manhã do dia 4 de agosto. A partida do vapor “Rio de Una” deu-se às 10h horas com destino à Vila de Santo Antônio do Juquiá. Além do sargento José Nogueira e do professor Bento Pereira da Rocha, diretor do Grupo Escolar, faziam parte desse batalhão os seguintes jovens:

João Rocha, Manoel Paulino da Silva, Américo Amâncio (ou Mâncio), João Santiago Carvalho, Carlos Campos Collaço, Adélio Fortes, Celso Veiga, Antônio Andrade, Lucílio Carneiro, Andrelino Nicolau Slindvain, Aristóbulo Lima, Oswaldo Freitas, José Silva de Lima, Benedicto Pereira, Raphael Gonçalves Archanjo, Antônio Campos Collaço, Sizenando Carvalho, Domingos Júlio de Ramos, Francisco Giglio Júnior, Mário Mendes dos Santos, Henrique Gonçalves, Florivaldo Conceição, Lúcio dos Santos, Theophilo Fortes, Antônio Ribeiro, João Pedro da Cruz, Horácio Gaudêncio Catira, Silvino Silvestre, Lavene França Carneiro, Antônio Torquato, Júlio Neves, João Leandro Souza, Onofre Sant´Anna Ferreira, Oswaldo Rollo, Ary Moraes Giani, Ernestino Rocha, Francisco Souza, Paulo Adarico Brasil e Francisco Ribeiro.

Antes do embarque, foi celebrada missa pelo padre Henrique Harbeck, na Igreja do Bom Jesus, com comunhão geral aos voluntários, sendo-lhes, após, servido, um chocolate oferecido por senhoras iguapenses. Depois de uma marcha triunfal pelas ruas da cidade, o batalhão dirigiu-se ao cais do Porto General Osório, no qual, mesmo debaixo da chuva torrencial que caía sem parar, enorme multidão se comprimia para aclamar de perto os bravos voluntários, nos semblantes dos quais percebia-se o indisfarçável contentamento de que se achavam possuídos em incorporaram-se às forças da lei e da liberdade.

No cais, discursaram os senhores João Bonifácio da Silva, Joaquim de Souza Oliveira e a professora Amância Alves Muniz, que dirigiram palavras de conforto e encorajamento aos que embarcavam para levar a colaboração de Iguape à causa que São Paulo defendia pelas armas. Também discursou o menino Luiz Gonzaga Trigo Muniz, que saudou o professor Bento Pereira da Rocha em nome dos alunos do Grupo Escolar, do qual era diretor. Coroando a cerimônia de despedida, duas moças da sociedade, num gesto que deixou transparecer o patriotismo e a fé da mulher iguapense, pregaram às fardas dos voluntários medalhas com a efígie do Senhor Bom Jesus de Iguape.

Quando o vapor começava a zarpar, de bordo, falaram os voluntários Bento Pereira da Rocha, Francisco Giglio Júnior e o sargento José Nogueira. Juntamente com os voluntários iguapenses, seguiram também 17 jovens de Cananeia, que chegaram à cidade na véspera.

OS REVOLUCIONÁRIOS

Oficialmente, de acordo com o Livro de Inscripção de Voluntários Para o Batalhão de Iguape, foram alistados 76 jovens, no período de 23 de julho a 26 de setembro de 1932, que integraram o Batalhão Redentor Filhos de Iguape. Contudo, muitos outros jovens também arriscaram suas vidas por São Paulo sem terem assinado seus nomes no mencionado livro de alistamento. Dessa maneira, publicamos abaixo a relação dos 76 voluntários que se alistaram oficialmente, discriminando suas idades e profissões.HINO DO BATALHÃO DE IGUAPE O sargento José Nogueira, comandante do Batalhão Redentor Filhos de Iguape, foi o autor do hino do batalhão, cantado a plenos pulmões pelos voluntários rumo aos campos de batalha: De São PauloPartiu o heroico gritoQue reboou no céuCortando os ares.Nós queremos a lei e a justiçaQue na terra é a liberdade. De Iguape Seguiremos irmanadosTendo em miraConquistar a glória.Lutaremos com todo o denodoAté ganharmos os loiros da vitória. (Estribilho) Constituinte...Constituinte...Nós queremos vezes milOu vencermos nesta lutaOu morrer pelo Brasil.” A REVOLUÇÃO MOBILIZA A CIDADE Tão logo eclodiu, a Revolução polarizou as atenções do povo iguapense. Muitas comissões, destinadas a amparar a causa revolucionária, foram criadas na cidade. A Comissão Pró-Donativos às Famílias dos Voluntários Iguapenses, formada por senhoras da sociedade local, tinha por objetivo amparar as famílias dos revolucionários que partiram para o front e que eram arrimo de família. A Prefeitura Municipal organizou a Comissão Para Angariar Donativos, também formada por senhoras iguapenses, cujo propósito era arrecadar dinheiro e mantimentos para o êxito da Revolução. Foi criada a Cruz Vermelha iguapense, composta por senhoras da cidade, para prestar auxílio aos feridos e dar assistência médico-hospitalar aos revolucionários e a seus parentes. A cidade foi dividida em quatro quarteirões, sendo designadas comissões para verificar o número de necessitados. Até o dia 31 de agosto havia sido apurada a existência de 171 famílias, num total de 925 pessoas, as quais receberam gêneros alimentícios e atendimento médico. Deve-se ser destacado o trabalho do Dr. David Coda, que não mediu esforços no sentido de amparar as famílias carentes. A exemplo do que acontecia em outros municípios, em Iguape também foi instituída, pela Prefeitura, a Campanha do Ouro para a Vitória, para arrecadar peças de ouro, prata, cobre e outros metais e pedras preciosas, destinadas à causa revolucionária. Aos doadores, o prefeito fornecia recibos, sendo depois enviados diplomas de São Paulo. A Coletoria Estadual local também angariava metais destinados a essa campanha, sendo que, até 31 de agosto, haviam sido arrecadados donativos efetuados por 61 pessoas em ouro, cobre e outros metais. O doador também recebia como comprovante um anel de ferro, onde se lia a legenda: “Dei ouro para o bem de São Paulo”. Sobre essa campanha, o mesmo jornal escreveu as seguintes linhas: "Se os ricos offerecem o seu dinheiro, os pobres dão-lhe o seu trabalho; os agricultores o fruto do seu labor constante; as mães os seus filhos queridos, que sem hesitar animam-se a seguir para a linha de frente, dando a sua vida em holocausto á santa causa nacional." As mulheres iguapenses – mães, esposas, filhas, noivas e namoradas – reuniam-se diariamente nas dependências do Grupo Escolar ou em seus próprios lares, para confeccionarem fardamentos, agasalhos, meias de lã e, segundo se lê num jornal da época, chapéus de pano (“misto de capuz e capacete de explorador”), produtos que seriam remetidos aos soldados não só da cidade como também aos que eventualmente passassem por Iguape, destacados ou a passeio. Para a realização dessa tarefa, as mulheres da cidade abandonavam seus afazeres domésticos e se entregavam de corpo e alma à causa paulista. Por iniciativa das professoras do Grupo Escolar, foi organizada uma lista para a aquisição de capacetes de aço destinados aos soldados revolucionários. Foram arrecadados 611$400 réis, dos quais 600$000 destinados à compra de 40 capacetes remetidos a São Paulo por intermédio da filial das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, e o restante entregue à diretoria da Cruz Vermelha Iguapense. A REVOLUÇÃO CONTINUA Por esse período, várias lutas sangrentas se desenrolavam em São Paulo. Das duas partes, tombavam centenas de mortos, banhando de sangue o Estado. O mês de agosto chegou ao fim, iniciou-se o mês de setembro e a revolução, já próxima do final, ainda polarizava as atenções de todos. Chegou o dia 7 de setembro e a Comissão Municipal empenhou-se ao máximo para que a data da Independência do Brasil fosse comemorada condignamente. Pela manhã daquele dia, foi celebrada missa pelo padre Pedro Gomes, capelão da Companhia Isolada do Exército de Santo Amaro, companhia à qual estava incorporado o Batalhão Redentor, que contou com a presença da Guarda Municipal e do batalhão comandado pelo tenente Campos. À tarde, sob o olhar atento da população, saiu pelas ruas o desfile escolar realizado pelos alunos e professores do Grupo Escolar, sendo a festividade abrilhantada pela banda musical Santa Cecília, dirigida pelo maestro Paulo Massa. Passou a empolgação do dia 7 de setembro, mas não o fascínio pela Revolução. No dia 9 de setembro, um telegrama expedido pelo sargento José Nogueira comunicava estar suspensa a remessa de voluntários para Registro até segunda ordem, devido ao excesso de legionários aquartelados no distrito, sendo que os voluntários futuramente alistados deveriam permanecer em Iguape aguardando novas instruções. No dia 12 de setembro, em telegrama enviado ao comandante Campos, da praça de Posto de Linha, a Comissão Municipal manifestou o seu contentamento pela vitória alcançada pelo destacamento do comandante na luta que travou contra os federais naquela localidade, expressando, ainda, a sua satisfação pela maneira exemplar como se comportou um dos seus subordinados, o iguapense Antônio de Campos Collaço. No total, até o final da Revolução foram alistados, segundo o Livro de Alistamento da Comissão Municipal, um número de 76 voluntários, inscritos no período de 23 de julho a 26 de setembro de 1932, e que incorporaram o Batalhão Redentor Filhos de Iguape. É preciso levar em conta que muitos revolucionários, cujos nomes não constam do mencionado livro, também participaram da Revolução. Portanto, o número de voluntários iguapenses foi superior aos 76 soldados oficialmente inscritos. Esse número, somado aos 222 cidadãos que formaram a Polícia Municipal, perfazem um total oficial de 298 iguapenses que, direta ou indiretamente, prestaram a sua colaboração à causa de São Paulo. Segundo vários depoimentos, apenas cinco voluntários iguapenses, integrantes do Batalhão Redentor, saíram feridos dos campos de batalha, não havendo, felizmente, qualquer baixa. No total, foram 87 dias de combates – de 9 de julho a 4 de outubro de 1932 –, com um saldo oficial de 934 mortos, embora estimativas, não oficiais, reportem até 2.200 mortos.

A REVOLUÇÃO EM CANANEIA

Cananeia teve participação na Revolução de 1932 quando foi invadida por tropas do Rio Grande do Sul, lideradas pelo tenente Gumercindo Saraiva, que vieram por terra pela trilha do telegrafo (Guaraqueçaba/Batuva/Santa Maria), estrada do Ariri até o Itapitangui, e por mar, pela Barra Grande, com o navio “Itajubá”, auxiliado pelo rebocador “Carioca”, ficando as tropas sulistas em Cananeia por dois meses.

Existia um barracão em Santa Maria, do imigrante Walter Stainer, onde houve o primeiro entrevero, quando o senhor Alcides Marques, sendo interpelado pela tropa inimiga, vendo-os famintos, negociou a busca de mantimentos, o que, na verdade, foi um pretexto para fugir e avisar os seus conterrâneos, que prepararam a primeira resistência na Casa de Pedra do Tabatinguera.

Antes de sua fuga, Alcides Marques preparou armadilha, em sua casa, no cinzel da fornalha, enchendo-a de balas de fuzil, esperando que as tropas sulistas, esfomeadas, acendendo a fornalha, tivessem sérias baixas, dando tempo, com isso, para que a principal defesa se organizasse na Casa de Pedra do capitão do mato do Mandira. Houve violento combate com várias baixas das tropas invasoras na localidade chamada de Banhado do Porto do Meio.

Recebendo reforços, e bem equipadas, as tropas invasoras venceram mais essa defesa, requisitaram quarenta canoas e rumaram, por terra e por mar, para o bairro do Itapitangui. Lá cercaram a casa do telégrafo, administrado pelo senhor Arcendino Fraga que, mesmo sabendo da invasão e recebendo ordem de rendição, recusou-se a abandonar o posto. Pediu e obteve salvo conduto para a sua família, enquanto cavava no chão de terra batida uma pequena cova rasa na qual tentou se proteger.Após a saída de sua família, a casa foi metralhada, ficando gravemente ferido. Fingindo-se de morto, enganou os seus inimigos e, mais tarde, foi resgatado por amigos e vizinhos. (Seu Arcendino trabalhou nos Correios até sua morte. Faleceu em 1965, tendo um funeral de verdadeiro herói.)Logo após esse incidente, as tropas sulistas invadiram Cananeia usando três caminhões da firma Ivo Zanella, de Pariquera-Açu, e as canoas requisitadas no Porto do Meio.Tropas paulistas, lideradas pelo coronel da Força Pública, Pedro Arbues, juntamente com os irmãos tenentes Lobo, da Companhia de Santo Amaro, invadiram Cananeia, vindos por Iguape, chegando pelo caminho da Brocuanha, até o sítio dos Paiva, onde organizaram a retomada da cidade.O padre Joaquim Agra atraiu as tropas inimigas à Igreja para uma missa de confraternização, quando, no meio do ofício religioso, soldados constitucionalistas, escondidos atras do altar-mor, deram voz de prisão aos soldados sulistas, que reagiram, dando início a um tremendo tiroteio, no qual é ferido e preso o tenente Gumercindo Saraiva, logo depois transferido para ser tratado em Iguape.Com reforços vindos do Sul, as tropas federais retomaram Cananeia e, em combate, cercaram as tropas paulistas no Itapitangui, que receberam ordem de rendição. O coronel Pedro Arbues reuniu as tropas e declarou que, apesar de saber que a sua causa era justa, pediu para que seus homens se rendessem, e ao inimigo que seus homens fossem poupados, mas ele mesmo recusou-se a se render. Estando sozinho, entrincheirado, recebeu intimação para se render. Alegou não o poder fazer, pois “um Oficial da Força Pública de São Paulo não se rende jamais”, no que, então, foi fuzilado pelas tropas sulistas.O tenente Gumercindo Saraiva, ao saber da morte de Arbues, ficou consternado, e disse do desperdício da morte de um oficial de tal valor, pois havia sido tratado com dignidade pelo coronel Arbues quando foi ferido no ataque na igreja e removido em segurança para Iguape.O padre Joaquim, pela sua ousadia e lealdade aos paulistas, foi surrado à ponta de baioneta.

Partiu para Juquiá o destacamento do Batalhão Redentor Filhos de Iguape em 4 de agosto para combater as forças getulistas lá instaladas. Embarcaram no vapor “Rio Una”, sob aclamação cívica dos que ficavam em terra. O grupamento era composto por 41 voluntários iguapenses e 17 jovens voluntários da cidade de Cananeia, incorporados à Companhia Isolada de Exército de Santo Amaro (C.I.E.S.A), responsável pelo comando da região.

(Dados extraídos da página do Facebook de “Cananet”. Link acessado em 8/7/1932. Endereço: http://www.cananet.com.br/historia/database/artigo/artigo_23.html) Em meados de agosto foi abandonado na praia da ilha do Bom Abrigo um avião “Savoia Marchetti”, pertencente à flotilha federal. Esse avião sofreu avarias inflingidas pela aviação paulista. Em princípio de setembro, forças paranaenses sob o comando do tenente Pedro Trompowsky, com mais de 500 homens, marcharam na direção da colônia Santa Maria, em Cananeia. Em 9 de setembro, o comandante do Batalhão Patriótico também rumou para Santa Maria, tendo feito a viagem em lancha, canoa e mais 13 km a pé, chegando naquela localidade às 18h. Em 9 de setembro, revolucionários de Iguape, Cananeia, Santo Amaro e da Força Pública, comandados pelo sargento do Exército, Sebastião Rodrigues Campos, travaram combate com tropas getulistas, sob o comando do tenente Pedro Trompowsky, em Itapitangui. As forças revolucionárias, em número muito inferior às tropas federais, conseguiram desbaratar os adversários, que fugiram e foram perseguidos. A população do Paraná recebeu as tropas paulistas debaixo de aclamação popular. Na noite desse mesmo dia, às 23h, o contingente foi dividido em dois grupos, sendo um comandado pelo sargento Nogueira, levando como guia Antônio Mandira, que seguiu pelo caminho velho afim de dar cerco pela retaguarda inimiga. Infelizmente, esse grupo não conseguiu chegar ao seu destino, pois o guia errou o caminho, o que propiciou a fuga do inimigo. O outro grupo foi confiado ao sargento Oscar Stewenson, que marchou na mesma hora pela estrada da linha telegráfica, com 18 homens, número bem inferior às forças adversárias. Às 2h do dia 11 de setembro, o grupo encontrou-se com duas sentinelas inimigas, sendo um preso, e o outro conseguiu fugir, dando alarme aos seus companheiros. Em seguida, foi travado renhido combate, que só terminou às 9h com a fuga dos adversários, que foram perseguidos por mais de 4 km, deixando na fuga duas armas automáticas F. M., muitos fuzis, grande quantidade de munições, barracas de campanha, mantimentos e cozinha. Do lado paulista, houve três feridos levemente, sendo dois saldados da Companhia de Santo Amaro, e outro o iguapense Américo Mâncio, ferido no pé. Na perseguição que se deu, foram presos mais dois inimigos, sendo um soldado e o respectivo comandante, que foi ferido, além de seis mortos. Os prisioneiros confessaram que seus companheiros, apavorados, levaram na fuga quatro feridos, sendo um sargento e um cabo em estado de coma. Dos paulistas, houve ferimentos leves em um soldado e um cabo. A trincheira inimiga foi tomada de assalto pelo comandante Campos, sendo apreendida uma das metralhadoras.

Em 11 de setembro, uma patrulha comandada pelo sargento José Nogueira, a 10 km, chocou-se com uma patrulha inimiga, ocorrendo pequeno combate que terminou com a fuga dos adversários que levaram um soldado gravemente ferido. Os paulistas nada sofreram. Todos os revolucionários estavam entusiasmados com o feito do comandante Campos. O combate deu-se em Porto da Linha (depois Porto Campos), próximo a Guaraqueçaba (PR). O voluntário Nenê Collaço portou-se heroicamente. O batalhão paulista era composto por apenas 13 jovens contra 60 soldados adversários.

Em 29 de setembro, as forças federais do coronel Fidêncio de Melo tomavam Itapitangui. Em 1º de outubro, o destacamento do tenente-coronel Trotta, ocupou Cananeia, libertando o porto de mesmo nome, então em poder dos revolucionários. O tenente-coronel Trotta ocupou, sem resistência, a garganta do Brejo, a dois quilômetros do rio das Minas, tendo os revolucionários paulistas fugido na direção do Itapitangui. A REVOLUÇÃO EM PARIQUERA-AÇU Pariquera-Açu, situada próxima aos estados do Sul, teve também participação em impedir que as tropas inimigas (paranaenses, catarinenses, gaúchas) invadissem o Estado de São Paulo. Para isso, foram intimados caminhões e motoristas de Pariquera-Açu como: Anacleto Zanella, que dirigia o caminhão de seus irmãos Jorge e Cândido Zanella; Alexandre Buckel, Nenê Simonetti e Abílio Prévidi, que dirigiam caminhão de Máximo Zanella, que revisavam; Luiz Kozikoski e João Siedlarczyki (“João Valentim”), cada um com seu caminhão. E os de Jacupiranga: Eduardo Macedo, Francisco Zanella, Shandico e Miguel Abu-Yagui. Muitos soldados paulistas se alojaram em Pariquera-Açu, em diversos locais, como a casa velha na avenida Carlos Botelho (hoje cadeia feminina); e na Procuradoria de Terras, também na avenida Carlos Botelho. Antigos moradores contaram suas recordações sobre a Revolução em Pariquera-Açu. O comandante dos revolucionários era o sargento Campos. Era ele que determinava o lugar onde os motoristas iriam buscar ou levar os soldados (Xiririca, Cananeia, Itapitangui). Em Itapitangui, houve combate onde morreram seis soldados, todos de fora. Os motoristas requisitados não tinham horário de trabalho; geralmente dirigiam durante o dia. Como sumiu uma pasta de um major, entre Pariquera e Itapitangui, denunciaram que foi o carro 17 que perdeu a tal pasta. Como era Abílio Prévidi quem dirigia o carro 17, quando ele, em frente a hoje delegacia feminina, na avenida Carlos Botelho, recebeu ordem de prisão de dois soldados gaúchos, foi a pé entre os soldados até onde hoje é a Escola Getúlio Vargas (onde morou Guilherme Reder). Entregaram Abílio para o chefe que lhe perguntou: “Onde você pôs a basta do major?”. Ao que respondeu Abílio: “Que pasta? Quem me entregou esta pasta? Eu não recebi nada!”. Nesse momento, apareceu um gaúcho negro com a pasta, e Abílio, em seguida, foi dispensado. Os gaúchos faziam emboscadas nos morros e atacavam com fuzil quando os paulistas passavam. Um soldado morreu em cima de um dos caminhões. O comandante sargento Campos mandou Abílio e vários outros caminhões levarem soldados para Xiririca. Na ida, na ponte do rio Canha, em Jacupiranga, os soldados gaúchos atiravam do morro do cemitério em direção à igreja, que era passagem para Xiririca. Neste local, no meio do tiroteio, Abílio passou com o caminhão em alta velocidade, quase capotando, o caminhão cheio de soldados paulistas. Chegando em Xiririca, Abílio recebeu ordem para voltar com alguns soldados para o Lajeado e reparar os fios do telégrafo que os gaúchos haviam danificado. Abílio não veio, deu o caminhão para o Pedro Telegrafista para colocar o telégrafo em funcionamento. Nessa viagem de Pedro, uma emboscada estava acontecendo. Um soldado foi baleado e os outros fugiram para o mato. Pedro Telegrafista ficou prisioneiro, e era ele que estava levando a notícia de que a revolução havia terminado. Os gaúchos se surpreenderam com a notícia do fim da revolução. Em Xiririca, ainda não tinham a confirmação oficial do término do conflito. Através dos telefonemas entre os comandantes de Xiririca e Registro (major Lisandro) houve a confirmação. Em consequência, o comandante gaúcho exigiu que os soldados paulistas ficassem desarmados para que a tropa gaúcha pudesse entrar na cidade. E assim foi feito. Só que os gaúchos não respeitaram a ordem e batiam no capacete de aço dos soldados paulistas e derrubavam no chão. Um soldado negro, corajoso e resoluto, os enfrentou. Levaram ao conhecimento do comandante gaúcho a má atitude de seus soldados e ele imediatamente os repreendeu. Aproveitando a ocasião do desarmamento dos paulistas, o comandante gaúcho prendeu muitos dos soldados revolucionários e caminhões. O mesmo aconteceu em Pariquera-Açu: os caminhões de Máximo Zanella, de Pariquera-Açu, e de Miguel Abu-Ýagui, de Jacupiranga. Abílio Prévidi e Eduardo Macedo estavam na janela, ouviram a conversa do comandante e fugiram pelo mato com a ideia de pegar uma canoa e descer o rio Ribeira. Abílio contou que Aristóbolo ensinou o caminho para chegar no Tashiro, mas se perderam e não encontraram nem canoa. Seguiram a pé, debaixo de chuva. À noite, chegaram no Capinzal e jantaram na casa de Olegário Lima, casado com Santina Gibertoni (pais da Zila, Zélia e outros). Por estarem molhados, dormiram no chão forrado com o ponche de Abílio. No dia seguinte, Eduardo Macedo foi a pé para Jacupiranga. Abílio vinha a pé para Pariquera quando apareceu na estrada um automóvel Ford 29. Era o seu irmão Meraldo, trazendo o tio Carlim e a tia Iride, e Abílio aproveitou a carona no seu próprio carro e dirigiu, porque Meraldo, seu irmão, estava cansado. Chegando em Pariquera-Açu, Abílio foi contar para Guilherme Reder que tinha fugido de Xiririca, e junto estava o chefe gaúcho, e deu ordem de prisão por ser Abílio um fugitivo e desertor. Sendo Guilherme Reder uma autoridade, não houve a prisão. Em Pariquera-Açu, as histórias sobre a revolução eram contadas por Oscar Stewenson, soldado. Fazia comício aonde chegasse, falando alto, com seu português correto. Abílio Prévidi o admirava muito e o considerava um grande orador. O senhor Carlos “Carlim” Martins contou os seguintes episódios: Na revolução, João Valentim foi preso na Procuradoria, que era cadeia, e só foi solto quando acabou a luta. Luiz Kosikoski também tinha caminhão, mas, para não fazer essas viagens, ele procurava desmontar o caminhão e, quando ia, tentava jogar o caminhão na valeta. Carlim contou dos combates em Itapitangui. Os gaúchos chegaram em Cubatão. Pessoas de Pariquera-Açu, com medo, iam se esconder no sítio de Cristiano, seu pai, em Pariquera-Mirim, como Bernardino Lino Vieira. Na estrada que vai para Casa da Pedra tinha trincheira. Paulistas, esperando os gaúchos, ouviram barulho, atiraram e acertaram na égua de Carlos Ribeiro, avô do “Mudinho”. Lico Rossini lembra que, na revolução de 1.932, soldados ficavam acampados na avenida Carlos Botelho, em uma casa desocupada. João Rossini (Lico) fazia a barba dos soldados. Um dia, o capitão quis frango, e Lico levou o galináceo. O capitão mandou buscar carrinho de mão e deu para o Lico um fardo de carne seca de 90 quilos e um saco de batata de 50 quilos. Paranaenses vieram por Cananeia e se encontraram com os paulistas em Itapitangui, onde teve combate, morrendo de seis a oito soldados. Abílio Prévidi estava lá porque era motorista. Zé Barduco lembra que os soldados sentavam na beira da porta da casa que dava para a rua e ele, Zé Barduco, jogava água com caneca através da fresta da porta para molhar a calça dos soldados que ali sentavam. Seu pai ficava bravo. Lembra também que onde hoje é a casa do Valter Zanella havia muita goiabeira e um galpão, onde os soldados ficavam. Carlim, com 4 ou 5 anos, lembra que teve um combate em Itapitangui. Os gaúchos chegaram em Porto Cubatão. Pessoas de Pariquera-Açu, com medo, se esconderam no sítio do Cristiano (pai do Carlim) como: Antônio Bernardino Lino Vieira (pai da Nícea, Mirtes, Cristina, José); a família de Ernesto Ramponi; Guilherme Reder, com a mulher Irma; Horácio Simonetti, com seu filho Irineu, de 2 anos. Na estrada que ia para a casa de Pedra tinha trincheira. Os paulistas, esperando ali pelos gaúchos, ouviram barulho e atiraram. Acertaram na égua de Carlos Ribeiro (avô do “mudinho” Antônio “Toninho” Ribeiro). Antônio “Tonico” Dendeveiz era pequeno (5 anos), os soldados paravam no bairro Braço Magro (na casa velha coberta com guaricana) e tomavam café lá. O pai de Antonio “Tonico” ganhou uma potranca que os soldados também montavam. Kasper Dendeveiz, o pai, não serviu ao governo por não saber ler, sendo dispensado. Abílio Prévidi foi condecorado pela Assembleia Legislativa de São Paulo com uma medalha. (Relato da professora Maria Silene Prévidi de Barros, filha de Abílio Prévidi, empresário e homem público pariquerense). A REVOLUÇÃO EM MIRACATUAntigamente chamada de Prainha, Miracatu participou ativamente do movimento constitucionalista. Por iniciativa do coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior, em 14 de julho, foi organizada uma Junta Cívica composta por homens de destaque da localidade, para incentivar o alistamento de voluntários para a Guarda Paulista. Até 17 de julho, tinham se apresentado os seguintes cidadãos: Antônio Bianchi, Diogo Martins Ribeiro Junior, Marcello Sampaio, Pedro de Lara, Benedicto Ribeiro, Antônio Galdino Leite, João Baptista de Ramos e Antônio Modesto da Costa. Desses, quatro já tinham seguido para a Capital do Estado. A população construiu uma estrada de rodagem na qual trabalharam gratuitamente, todos os dias, cerca de 400 pessoas, estando, em princípios de setembro, abertos mais de 25 quilômetros, por onde podiam transitar automóveis. Entre os voluntários prainhenses, encontravam-se oito netos do coronel Diogo Martins Ribeiro, um filho de Luso de Oliveira e um do falecido João Pires de Oliveira, além de oito rapazes da Capital, proprietários de bananais e residentes naquela localidade. O engenheiro Dr. Oscar Martins Ribeiro também se encontrava nas linhas de frente, com quatro filhos, inclusive duas moças, que prestaram seus serviços na Cruz Vermelha. Até o final de agosto, 32 voluntários alistados, entre os quais, Haroldo Dias Ferreira, João Laragnoit, Celso Eleazar Carneiro, Pedro Carneiro Laragnoit, Augusto Laragnoit e Moacyr de Castro Oliveira (era estudante de Medicina; terminada a Revolução, faleceu tragicamente em Itanhaém, aos 22 anos). Um voluntário prainhense escreveu estes versos que bem demonstravam o ardor cívico local (“O Iguape”, nº 303, de 5/8/1932): Rapaz que não se alistaQue não pega no fuzilNunca pode ser paulistaNão é filho do Brasil. Todo homem nesta horaDeve ser um bom soldado;Se tens medo, vá emboraP´ra lugar bem isolado. Vá de saia ou de saiotePara os fundos dos sertões;És covarde, aqui não volteNão há lugar p´ra poltrões. A REVOLUÇÃO EM JUQUIÁ O subprefeito Diogo Martins Duarte trabalhou ativamente no sentido de conseguir donativos para a manutenção das forças paulistas, tendo conseguido angariar os seguintes: 10 sacos de arroz beneficiado de primeira qualidade, 4 sacos de farinha, 3 sacos de milho, 2 sacos de feijão, 2 cavalos de sela, 33 aves galináceas, 2 patos, 1 marreco, 2 latas de “Pescada”, 1 lata de leite condensando, 2 abóboras, 2 leitões, além da importância de 160$000 réis. Os donativos foram entregues ao oficial-comandante das forças acantonadas em Juquiá, tenente Luiz Martins de Araújo. Antigos líderes contrários ao movimento constitucionalistas fugiram quando da chegada das tropas revolucionárias. “Fugiram!... E como fugiram!... Fugiram cobarde e desgraçadamente da garbosa e valente tropa constitucionalista, que ali ficou acantonada”, noticiou “O Iguape” (nº 303, de 5/8/1932). Mas, em a revolução sendo vitoriosa, chegaria “o instante de o povo juquiaense, fulminando-os com o seu despreso, atiral-os ao barathro tenebroso de um ostracismo merecido.” Até o final de agosto, 3 voluntários haviam sido alistados. Carta de um voluntario – O capitão Diogo Martins Duarte, subprefeito de Juquiá, recebeu de seu filho, Nelson (número 393 da Companhia de Metralhadoras Mistas, 2ª secção, em Cunha), datada de 11 de agosto, dirigida do setor de Cunha, a seguinte carta (em parte):“Graças ao nosso bom Deus, até agora tenho sido feliz e tenho fé que em breve regressarei, depois da victoria, que está por pouco. Sou paulista e bom brasileiro, nada mais me restando senão derramar o meu sangue em holocausto á São Paulo. Bom pae, não tenha cuidado de mim, pois estou honrando a minha farda, a minha dignidade e pessoa a quem devo o meu ser. Espero em breve abraçá-lo, indo conduzindo em meu coração as cores da bandeira de São Paulo.” A REVOLUÇÃO EM PEDRO DE TOLEDO O município de Pedro de Toledo, antigamente chamado de Alecrim, também teve participação na Revolução de 1932. O senhor Albano Marietto, subprefeito de Alecrim, organizou nessa localidade a Guarda Municipal, a exemplo do que ocorreu em outras vilas da região. A comissão de Alecrim foi assim constituída: Presidente: coronel Raymundo Vasconcellos; Vice-Presidente: Joaquim Fernandes; Tesoureiro: Albano Marietto; 1º Secretário: Nélson Benatti; 2º Secretário: Accacio Piedade de Almeida; Membros: J. Regino Vasconcellos e Cyrillo Aranha. Até 11 de agosto, Alecrim tinha fornecido 18 voluntários para o exército constitucionalista. A REVOLUÇÃO EM ELDORADO O prefeito Alcides Mariano Pereira, que exercia o cargo desde outubro de 1930, pediu a exoneração, sendo substituído pelo coronel Antônio Avelino da Cunha, antigo chefe político do município. “A população xiririquense, que venera o seu querido Chefe, recebeu com vivas demonstrações de regozijo a notícia dessa nomeação”, escreveu “O Iguape, nº 303, de 5/8/1932. Em fins de agosto, tropas avançadas revolucionárias combateram nove cavalerianos adversários, que resultou na morte de quatro destes, além da apreensão dos cavalos. Os revolucionários portaram-se com bravura e não sofreram nenhuma baixa. Com a aproximação das forças paulistas em Xiririca, os adversários que se encontravam na cidade retiraram-se com destino ignorado, seguindo os paulistas em seu encalço. Os prisioneiros seguiram escoltados para São Paulo. Depois desse embate, o Batalhão Patriótico foi destacado para Cananeia e Itapitangui, onde permaneceu por vários dias. Em Xiririca, foram angariados 2 cavalos, 45 bois, 10 suínos, 4 carneiros, 52 sacas de arroz beneficiado, 10 sacas de açúcar, 10 de feijão e 1 de café, destinados à manutenção dos soldados revolucionários na região. A REVOLUÇÃO EM JACUPIRANGAA comissão angariadora de donativos era composta pelo prefeito Gaspar Paulo Mayer, Bernardo Ferreira Machado e Fructuoso Moreira de Lima. Também estavam encarregados de receberem donativos nos bairros os senhores Alfredo Muniz Costa, Jose Lúcio Pereira, Vicente de Mattos, Miguel Camargo, Manoel Antunes, João Alves, João Cypriano, Paulo Alves Rodrigues, Joaquim Anago Trigo e João Mariano. Foram também angariados objetos de ouro e prata (alianças, anéis, moedas, pulseiras, pergaminhos, brincos, medalhas, relógios etc), coletados pelo prefeito Mayer e entregues ao coletor estadual Felício Ferreira Machado, para dar o competente destino. Foram arrecadados 405$000 réis, que possibilitaram a compra de 27 capacetes de aço. Também foram angariados: 40 cobertores, 84 metros de brim, 80 metros de algodão, 200 maços de cigarros, 3 quilos de fumo em corda e 6 toalhas de rosto. Entre os voluntários jacupiranguenses encontravam-se: Durvalino Martins, Valdo de Lima, José Vicente, Miguel de Oliveira Muniz e Francisco Collaço. A REVOLUÇÃO EM RIBEIRA Os combates de “Capella da Ribeira”, atualmente município de Ribeira, no Alto Vale do Ribeira, ocorreram entre 17 e 31 de julho de 1932, sendo o último dia a data da queda daquela praça de guerra, por volta das 10 horas da manhã. A localidade, a exemplo de Itararé, já havia sido palco de terríveis combates. Em outubro de 1930, ali se confrontaram os rebeldes comandados por João Alberto Lins de Barros e os soldados da Força Pública de São Paulo comandados pelo tenente-coronel Pedro de Moraes Pinto, que, em julho de 1932, foi comandante da praça de Itararé. Em 10 de julho de 1932, Capela da Ribeira começou a ser guarnecida por uma companhia do 9º B. C. da Força Pública, de efetivo reduzido, dividida em quatro pelotões e sob o comando do 1º tenente Benedicto da Silva Campos. Por volta do dia 17 de julho, a posição recebeu como esforço um esquadrão de cavalaria desmontado da Força Publica sob comando do capitão José de Oliveira França. Também no dia 17, o tenente-coronel Azarias Silva (1884-1970), então comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo, assumiu o comando daquela frente de combate. Montando o seu posto de comando a dois quilômetros das trincheiras. Lá o coronel comandou cerca de 300 homens, o equivalente a uma companhia, com 200 combatentes concentrados somente em Ribeira. Faziam frente às unidades da Força Pública do Paraná e provisórios, que compunham o destacamento do coronel Ayrton Plaisant. Nos primeiros dias de combate, as forças de Plaisant eram cerca de 100 homens, porém, ao longo de duas semanas esse número aumentou em dez vezes. Em Capela da Ribeira, os combates foram diários. O inimigo visava principalmente a ponte limítrofe entre os Estados do Paraná e São Paulo. A exemplo da defesa paulista no Túnel da Mantiqueira, Ribeira possuía grande vantagem do terreno: trincheiras distribuídas de forma inteligente por 15 km ao longo da fronteira, bem fortificadas e localizadas em encostas ou posições superiores nos morros que margeiam o rio Ribeira; terreno ligeiramente mais elevado do que o do lado paranaense e ainda com a proteção natural de um rio de difícil travessia. O valor tático de Ribeira era enorme. Caso preservada a posição, e tivesse sido a tempo reforçado o destacamento atuante em Apiaí e Ribeirão Branco, seria possível atacar o flanco direito das forças ditatoriais, na altura de Faxina (Itapeva). Assim, seria possível cortar a retaguarda do inimigo e obrigá-lo a refluir para a fronteira com o Paraná, de modo a retomar as posições perdidas em Itararé. Essa manobra era tão importante que, no mês de agosto, os paulistas tentariam sucessivas ofensivas nesse sentido, inclusive pelo flanco esquerdo ditatorial, a partir de Caputera (localidade situada 40 km ao norte de Itapeva), mas todas foram frustradas. Foi somente em 31 de julho, justamente a data da queda de Ribeira, que o destacamento do major Luiz Tenório de Brito chegou na região (o atraso se deu por conta do difícil acesso e das chuvas torrenciais ocorridas na véspera). A tropa foi enviada como reforço, com o objetivo de ocupar Apiaí, atacar Ribeirão Branco e conter o avanço do destacamento Boanerges à oeste. Porém, este chegou primeiro a região e as tropas do major Tenório de Brito ainda foram surpreendidas pelo avanço ao sul das tropas de Plaisant, que já haviam tomado Ribeira e rumavam na mesma data para cercar Apiaí, fazendo ligação com o destacamento Boanerges, numa atuação coordenada. Naquela altura, Ribeirão Branco já estava ocupado e Apiaí completamente cercada pelos dois destacamentos governistas. Eram mais de 3.000 soldados governistas: as tropas do coronel Ayrton Plaisant (polícia paranaense e provisórios) somadas às do coronel Boanerges (13º R.I., 7º R.I., 13º B.C., 5º R.A.M., Esquadrão 5º C.D. e Brigada Militar gaúcha), contra apenas 600 soldados paulistas, na maioria voluntários sem efetivo adestramento militar. Cercados em Apiaí, os paulistas foram intimados a rendição, porém, apesar disso, conseguiram, a muito custo, escapar em marcha a pé, rumando pela mata para Xiririca (atual Eldorado), via Iporanga, sob implacável perseguição da cavalaria paranaense. DIÁRIO DO CORONEL AZARIAS SILVA Dia 18 – Às 12 horas, transpuseram a ponte São Paulo-Paraná dois reconhecimentos de oficiais, dirigindo-se ao encontro do adversário em território paranaense, encontrando-o no sítio denominado “Pinhalzinho”. Caindo de surpresa sobre o adversário em descanso, e sem segurança, dispersaram-no após ligeira resistência, apoderando-se de 15 cavalos arreados e aprisionando um soldado. Tivemos apenas um soldado extraviado. Dia 19 – Cerca de 200 adversários inquietaram nossas tropas, das 13 às 13 1/2 horas, com tiroteio ininterrupto de metralhadoras. Foram repelidos sem nada conseguir. Cerca de 40 praças adversárias e um oficial feridos foram transportados para a retaguarda de suas linhas, conforme pudemos observar de nossas posições. Dia 20 – Um reconhecimento mandado para o local onde se feriu o combate de 18, encontrou copioso material bélico, inclusive metralhadoras, fuzis, metralhadoras, fuzis Mauser, mosquetões, etc, além de 6.600 cartuchos Mauser, abandonados pelo adversário que recuou. Sepultamos em Ribeira o cadáver de um soldado adversário ali encontrado, com as honras fúnebres pragmática. Dia 21 – Este comando resolveu transferir o seu P.C. que estava a 2 1/2 quilômetros à retaguarda, para junto das linhas em abrigo subterrâneo, afim de estar em contacto direto com as tropas entrincheiradas. Dia 22 – Às 16 horas e 45 minutos de hoje, o adversário desencadeou formidável ataque às nossas posições utilizando canhão, inúmeras metralhadoras e fuzis metralhadores. Apesar de tudo, foram repelidos com a mesma energia, nada conseguindo. Conservamos integralmente as nossas posições. Não houve perdas de nossa parte. Dia 23 – O adversário atacou hoje as nossas linhas das 11 horas às 11,40 e reiniciou o ataque às 12 horas até às 14 horas e meia. As nossas tropas sempre firmes e entusiasmadas. Às 17 horas e 25 minutos nova tentativa do adversário para se apossar da ponte S. Paulo- Paraná, sem nada conseguir. Retirou-se às 18 horas e 45 minutos. Dia 24 – Às 2 horas e meia da madrugada de hoje, o adversário atacou violentamente com fuzilaria e metralhadora em toda a nossa frente de combate. Às 3 horas e 50 minutos cessou o ataque. Não tivemos baixa nem cedemos um palmo do terreno. Ribeira continua intransponível. Dia 25 – Às 22 horas e 45 minutos o adversário atacou fortemente as nossas posições, suspendendo às 23 horas e 35 minutos. Mais uma vez falhou o golpe. Estamos firmes. Dia 26 – Às 4 horas da madrugada o inimigo iniciou cerrada fuzilaria ás nossas posições, prolongando-se até 1 hora e cinquenta; às duas horas reiniciou o fogo que suspendeu vinte minutos depois. Não correspondemos a esse tiroteio do adversário com o fito de o desmoralizar. Às 6 horas e cinquenta minutos, uma centena de adversários descendo a encosta do monte “Corumbé”, atacou as nossas fortificações próximas à ponte São Paulo-Paraná sendo vigorosamente repelida, retirando-se em debandada, apesar de apoiada por metralhadoras. Falhou mais essa tentativa para a posse da referida ponte e tomada de Ribeira, que só entregaremos quando for detonado o último cartucho. Ribeira, 27/7/1932.” (Extraído do jornal “A Gazeta”, de 16/8/1932, p. 4). TELEGRAMAS O comando da Força Pública recebeu ontem o seguinte telegrama: “Capela Ribeira 20-7-1932 – Comandante Alfieri, Quartel da Luz, São Paulo. – Estou Ribeira assumi comando tropa. Moral elevada. Situação boa. Ontem 260 adversarios aproximadamente inquietaram as nossas tropas das 13 ás 18 horas e meia. Foram repelidos. Nada conseguiram. Tivemos um ferido no pulso. Adversarios cerca 40 praças e um oficial ferido que transportaram para retaguarda suas linhas, em caminhão. Informação de um aprisionado, efetivo adversários 900 homens policia Paraná, Exército, cavalaria, infantaria, metralhadora e duas peças montanha. Nada nos falta, homens, armamento, viveres, sobretudo formidável entusiasmo, que é um dos fatores da vitoria. Pretorianos do Catête murchos e desiludidos. População civil aconselhada retirou-se Apiai. Viva São Paulo! Viva o Brasil! Saudações. Comandante Azarias.’ Saudações – Capitão Heliodoro Tenorio, chefe do Gabinete.” Mais tarde, o sr. comandante Alfieri recebeu o seguinte telegrama, também do comandante Azarias: “Comandante Alfieri – Quartel General da Luz – S. Paulo – Ribeira n. 15 – Urgente. – Mandei reconhecer o local em território paranaense, ocupado pelos adversários, nos combates travados ontem. Os adversários abandonaram as posições, deixando grande numero de cadáveres, inclusive 2 oficias, duas metralhadoras pesadas, 2 fusis metralhadoras, 10 fusis Mauser, 9 mosquetões Mauser, 5 caixa de acessórios de metralhadoras, canos sobresalentes, 12 cofres com carregadores, 10 mochilas, bolsas e outros materiais bélicos, além de 17 cunhetes de munições. Quando nosso reconhecimento procurava recolher os caraveres afim de dar-lhes sepultura com as devidas honras, foi impedido de prosseguir nesse dever de humanidade por ter sido hostilizado pelo adversário, todavia, conseguiu transportar o cadáver de um soldado em poder do qual foi encontrado o seguinte endereço: Ester Costa, rua Dr. Melo, 39, Antonina. – Saudações. Comandante Azarias.” (Extraído do “Correio de S. Paulo”, de 21/7/1932, p. 1). A QUEDA DE RIBEIRA Contudo, a frente de Ribeirão caiu às 10 horas manhã de 31 de julho de 1932, após traição sorrateira encabeçada pelos irmãos Agostinho e Antônio Navarro Munhoz, então tenentes do Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo, que lideraram um grupo de 20 amotinados, composto por praças e oficiais. No dia anterior, 30 de julho, abandonaram suas posições, atravessaram o rio Ribeira rumo a margem paranaense e se entregaram às forças governistas, manifestando o desejo de desertar e de ainda colaborar com o inimigo. Com a ajuda dos irmãos Navarro, entre os dias 30 e 31 de julho, os governistas se dividiram em dois grupos e atravessaram o rio Ribeira em dois pontos estratégicos (pontos cegos para as guarnições paulistas, e previamente indicadas pelos oficiais desertores), a alguns quilômetros rio acima e rio abaixo a partir da ponte fronteiriça, realizando a travessia por meio de cordas e canoas improvisadas. Uma vez transposto o rio, rumaram cerca de 6 quilômetros para a retaguarda paulista em movimento de pinça, até o ponto de encontro combinado entre os dois grupos de governistas. Uma vez cortada a retaguarda paulista, garantiram o cerco e, por fim, intimaram o comandante Azarias Silva a se render. Assim, após 18 dias de luta renhida e encarniçada em terreno acidentado contra as tropas governistas compostas por um destacamento da polícia paranaense comandado pelo coronel. Ayrton Plaisant, cujo efetivo chegou a cerca de 1.500 homens, o tenente-coronel Azarias Silva foi cercado e feito prisioneiro junto do capitão Benedicto da Silva Campos, do capitão José de Oliveira França e do 2º tenente Liberato Vianna, além de 56 praças. O seu genro, Iracy Teixeira, que na ocasião estava integrado ao grupo, também foi preso. Porém, houve alguma resistência e uma tropa remanescente conseguiu fugir rumo a Apiaí. IMPRENSA PARANAENSE O que foi o noticiado pela imprensa paranaense logo após a queda de Ribeira:.“O sr. Interventor Federal recebeu hontem o seguinte telegramma: “Capela Ribeira, 31 – 15,55H – Remeti essa Capital seguintes Oficiais Força Pública aprisionado Ribeira: Tenente Coronel Azarias Silva, cap. José Oliveira França, capitão Benedito Silva Campos, 2os tenentes Liberato Viana, Waldemar S. Braga, João Oliveira Melo e Antonio Navarro Munhoz [este] que se apresentou expontaneamente hontem mais vinte e poucas praças. Peço seja o Tenente Navarro e as praças acima referidas numericamente tratados não como prisioneiros. Eles manifestaram desejo incorporarem-se minha força. (a) Cel. Plaisant.” (Extraído do jornal “O Dia”, de 2/8/1932, p. 1). O 2º tenente Antônio Navarro Munhoz, junto de seu irmão, Agostinho Navarro Munhoz, liderando cerca de duas dezenas de praças e oficiais – apresentadas em lista separada anexa àquele telegrama – aderiram ao Destacamento Plaisant e passaram a combater os próprios paulistas na frente sul, em um grande ato de desonra contra a terra bandeirante e a própria corporação da qual faziam parte. Infelizmente, o episódio lamentável de traição em Ribeira não foi o único no conflito. Em São Paulo, já em liberdade, o capitão da Força Pública Paulista, José Oliveira França, um dos prisioneiros de Ribeira, lamentou o fato ocorrido em Ribeira:.“S. Paulo, 24 (União) – Fallando á imprensa, o capitão José França, da Força Pública Paulista, declarou que as forças governistas apoderaram-se da Capella da Ribeira, logo no inicio do movimento revolucionário, porque houve trahição de vários officiaes rebeldes [paulistas].” (Extraído do jornal “Correio do Paraná”, de 24/10/1932, p. 1). Conforme declarou o então Comandante Geral da Força Pública de São Paulo, o coronel Herculano, sobre a queda de Ribeira: “(...) Não fosse um dos vários atos individuais que macularam a nobreza da causa de São Paulo e a dignidade da farda, dificilmente aquele passo seria transposto.” (in “A Revolução Constitucionalista (1932)”, H. C. Silva, p. 158). Segundo o coronel Azarias Silva, em declaração dada à imprensa em 2 de novembro de 1932: “(...) Ribeira caiu com 3 officiaes e 56 praças apenas. Não passei por Xiririca, da qual estive a 200 kilometros de distancia. O effectivo da minha tropa nunca excedeu de 300 homens, dos quaes 200 na praça de Ribeira. E’ preciso não confundir a minha acção com a de quem se retirou com 900 homens para Xiririca, perseguido apenas por 40 federaes! [o coronel aqui faz referência ao Destacamento do major Luiz Tenório de Brito que precisou recuar de Apiaí para Xiririca, para evitar o cerco da unidade, no início de agosto de 1932]. (...) Á Ribeira não chegou uma única peça de artilharia, apesar de meu ardente desejo de a ter. (...) Sempre escoltado, iniciei a minha ´via crucis´ deixando Ribeira com destino a Curityba, Paranaguá e Rio de Janeiro (Quartel General do Exército, 1ª Região Militar, Ilha Grande e Casa de Correcção).” (Extraído do jornal “Noite”, de 2/11/1932, p. 1). O tenente-coronel Azarias deixou a Casa de Correção do Rio de Janeiro em 28 de outubro de 1932, chegando a São Paulo somente em 3 de novembro e nesta mesma data pediu a sua reforma da Força Pública de São Paulo, por discordar dos termos da rendição bem como a Intervenção da ditadura no Estado e na sua própria corporação. Na reserva, recebeu a patente de coronel. Azarias Silva, em sua carta sobre as razões de sua reforma da Força Pública, – peça que precisou distribuir por conta própria aos amigos e demais pessoas, pois foi imposta censura à imprensa paulista pelo então Interventor Valdomiro Lima –, atribuiu a queda de Ribeira à traição dos irmãos Navarro, embora Ribeira já estivesse condenada a cair nas mãos governistas, uma vez que, no final de julho, as tropas do Destacamento do tenente-coronel Boanerges Lopes de Souza já haviam cercado Apiaí e obrigado o recuo do destacamento do major Luís Tenório de Brito e, assim, fatalmente cortariam a retaguarda das tropas do coronel Azarias Silva e o deixaria cercado, na hipótese dos paulistas ainda resistirem naquela posição à princípio de agosto. A referida carta está disponível entre as páginas 266 a 268 do livro “A Nossa Guerra” (1933), de Alfredo Ellis Jr. (Este material sobre a Revolução em Ribeira foi extraído da página do Facebook de “Guardiões de 1932”. Link acessado em 8/7/2022: https://www.facebook.com/1952696811651969/posts/2149737725281209/). A REVOLUÇÃO EM APIAÍ Telegrama datado de 8 de agosto informava que 37 prisioneiros, dentre os quais 4 capitães, haviam chegado de Iporanga. Os prisioneiros paulistas contaram que grande parte dos fugitivos de Apiaí, não tendo como pagar a condução em canoa para Xiririca e Iguape, aventuraram-se sozinhos pelo rio Ribeira abaixo, tendo muitos deles naufragados nas correntezas ali existentes. Um pelotão de cavalarianos federais prendeu, assim, mais de duzentos revolucionários. Chegou a Faxina (Itapeva) mais um batalhão da polícia catarinense, disciplinado, com entusiasmo de entrar em fogo. Estavam marchando mais cinco pelotões, vindos do Rio Grande do Sul. De Apiaí, chegaram mais três caminhões, que ali foram apreendidos pelo comandante Ayrton Plaisant. Telegrama remetido de Apiaí em 17 de agosto à Interventoria de Santa Catarina, informava que soldados federais, entrando pelo Porto das Mulatas, atingiram Iporanga em 11 de agosto e fizeram reconhecimento nas localidades de Batatal, Itauna, Xiririca e Sete Barras. De 11 para 12 de agosto atingiram Itauna, onde desligaram o telefone, atingindo Xiririca às 4 horas da manhã, de onde, pouco antes, havia partido um vapor conduzindo tropas paulistas, que deixaram em Xiririca um destacamento ocupando o Telégrafo Nacional, composto de um sargento, um anspeçada e cinco praças, que foram aprisionados. O telégrafo local mantinha constante comunicação com as tropas paulistas de Sete Barras e com a colônia japonesa de Registro. Essas comunicações foram interrompidas por um oficial das forças federais, que cortou as linhas telegráficas. Esse mesmo oficial prosseguiu o reconhecimento sobre Sete Barras e Registro. Em Sete Barras, verificou que o número de simpatizantes à causa paulista atingia o montante de 700 homens, mais ou menos, não podendo precisar o número em Registro, mas observou que a colônia estava ocupada por forças paulistas. O trânsito de pessoas para São Paulo estava sendo feito via Xiririca, Sete Barras e Santo Antônio do Juquiá. Os federais desconfiam que as forças paulistas recebiam materiais de Iguape e Cananeia. As tropas federais estavam prontas para partir, estando apenas no aguardo de receberem mais gasolina. A REVOLUÇÃO EM IPORANGA Em 18 de agosto, forças federais comandadas pelo tenente João Doms capturaram em Iporanga quatro praças pertencentes às tropas paulistas: 2º sargento do Batalhão Patriótico 9 de Julho, Antônio Ferreira Gomes; anspençada do 8º Batalhão da Força Pública de São Paulo, Francisco Lavras; e os soldados Lafredo Rosa Pereira e Procópio Alves. Os prisioneiros foram remetidos para Apiaí, onde ficaram aguardando condução para Faxina (Itapeva). Pelo mesmo tenente Doms foram apreendidos seis fuzis sem ferrolhos. Em Xiririca, existiam outros prisioneiros, que também seriam enviados pelo tenente Doms ao destacamento do comandante Ayrton Plaisant. REVOLUÇÃO EM REGISTRO A revolução terminou oficialmente em 2 de outubro, quando São Paulo se rendeu. Aconteceram, porém, conflitos, em várias regiões do Estado. No Vale do Ribeira não foi diferente. Em 7 de outubro, em Registro, houve conflito entre elementos extremistas e soldados voluntários, que resultou em uma morte e em vários feridos. Os causadores dos conflitos foram dois soldados paranaenses, que foram presos. A Santa Casa de Iguape recebeu os soldados Manuel Bernardes, de 42 anos de idade, alagoano, Maximiano Bernardino, de 30 anos, ambos do Batalhão Reserva de Santos, e Oscar Miranda, de 29 anos, do 6º B. C. P. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jornais “A Gazeta”, nº 7.944, de 22/7/1932.“A Gazeta”, de 16/8/1932.“A Noite”, n° 7.438, de 9/8/1932.“A Noite”, de 2/11/1932.“Correio de S. Paulo”, de 21/7/1932.“Correio de S. Paulo”, nº 38, de 29/7/1932.“Correio de S. Paulo”, nº 59, de 23/8/1932.“Correio de S. Paulo”, nº 98, de 7/10/1932).“Correio do Paraná”, de 24/10/1932.“Diário Nacional” (SP), nº 1.518, de 19/7/1932.“Diário Nacional”, n° 1.525, de 27/7/1932.“Diário Nacional”, nº 1.528, de 30/7/1932).“Diário Nacional”, nº 1.533, de 5/8/1932.“Diário Nacional”, nº 17/9/1932).“Jornal do Brasil” (RJ), nº 234, de 1/10/1932).“Notícia” (SC), nº 1.215, de 18/8/1932.“O Dia” (PR), de 2/8/1932.“O Dia” (PR), nº 2.638, de 19/8/1932).“O Iguape”, nº 301, de 19/7/1932.“O Iguape”, nº 302, de 26/7/1932“O Iguape”, nº 303, de 5/8/1932.“O Iguape”, nº 304, de 21/8/1932.“O Iguape”, nº 305, de 31/8/1932.“O Iguape”, nº 306, de 16/9/1932.“O Radical” (RJ), nº 114, de 29/9/1932). Livros COSTA, Emília Viotti da. 1932: Imagens Contraditórias. São Paulo: Edições Arquivo do Estado, 1982. DIVERSOS Autores. Cinquentenário da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação, 1982. DONATO, Hernâni. História da Revolução de 1932. São Paulo: Ibrasa, 2002. FORTES, Roberto. Iguape: Nossa História. 2 volumes. Iguape: Gráfica Soset, 2000. LARAGNOIT, Paulo de Castro. A Vila de Prainha. 2ª edição ampliada. São Carlos: Editora Jabutu, 1984. LIMA, Luiz Octavio de. 1932: São Paulo em Chamas. São Paulo: Planeta, 2018. SILVA, Hélio. A Revolução Paulista 1931-1932. São Paulo: Editora Três, 1998. Revistas A Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Editora Minuano, 2012.Revolução de 1932. São Paulo: Editora Escala, sem data.

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