Dom Manuel I nasceu e cresceu neste ambiente de mudança acelerada da sua civilização, em que tradições centenárias eram desafiadas pelas novidades. Tendo subido ao trono de Portugal, inesperadamente, a 25 de Outubro de 1495, o Venturoso tornou-se um dos protagonistas do Renascimento. Monarca apegado à velha ideia de Cruzada, foi, todavia, o primeiro soberano europeu que não comandou a sua hoste num campo de batalha e foi o primeiro rei do mundo a ter homens às suas ordens em quatro continentes e três oceanos. Uma certa tradição literária e historiográfica portuguesa construiu o mito de que Portugal evoluiu ao longo dos séculos virado para o mar e de costas voltadas para a Europa, o que lhe retirava protagonismo nos grandes movimentos europeus da História. É certo que a coroa lusa assumiu uma política de neutralidade no contexto europeu que foi particularmente bem-sucedida nos séculos XV e XVI, mas isso nunca significou um alheamento em relação ao que se passava no seio do Velho Continente.