Os ceramistas pré-históricos que habitaram a região. Por Marival Correa, em diariodaregiao.com.br
8 de julho de 2021, quinta-feira. Há 3 anos
Um povo que dominava técnicas rudimentares da cerâmica, era horticultor e alternava períodos de vivência ribeirinha com incursões às matas nativas. Assim eram os Tupiguaranis que habitaram a região, mais precisamente nas proximidades do rio Paraná, há mais de dois mil anos. Os traços destes ceramistas pré-históricos estão presentes nos achados arqueológicos durante a construção da represa para formação da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira e estão agora, por assim dizer, de volta ao lar após quatro décadas.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acaba de devolver ao Museu Histórico da Colonização de Pereira Barreto todo o acervo obtido daquilo que tecnicamente é chamado de resgate arqueológico, encontrado durante a megaobra que resultou num dos maiores complexos de geração de energia da bacia do rio Paraná.
São aproximadamente duas mil peças em cerâmica - vasos, urnas funerárias e um machado em pedra polida, todos com tradições típicas Tupiguarani - que formam o que é considerado pelo Iphan como uma rara coleção que acaba de ser repatriada ao município. "O material cerâmico, embora fragmentado, oferece preciosas informações sobre os ceramistas pré-históricos que habitavam a região", informou o órgão federal.
Além de raro, o repatriamento deste material tem um significado muito especial para quem o recebe. "Era um sonho recebermos esta coleção de volta. É como um ciclo que se fecha, pois as peças estão agora de volta ao seu local de origem. E a sua chegada acontece no momento em que Pereira Barreto comemora 90 anos de fundação, completados em 11 de agosto", afirma Sergio Issao Masuda, presidente da Associação dos Amigos do Museu, responsável pela gestão do Museu dos Colonizadores.
Localizados nos sítios arqueológicos descobertos durante a criação da represa que deu origem à hidrelétrica de Ilha Solteira e ao Canal de Pereira Barreto, no início da década de 1970, os artefatos estavam, desde então, sob a custódia do Museu de Etnologia e Arqueologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). Os pesquisadores realizaram a curadoria de cerca de duas mil peças, que agora encontram-se numeradas, acondicionadas e ordenadas em planilhas, prontas para pesquisas científicas.
O material teve as datações obtidas por termoluminescência e foi conduzido de volta a Pereira Barreto por arqueólogas da superintendência do Iphan em São Paulo e também do MAE/USP.
Fragmentos da História
Fragmentos de objetos utilizados no passado podem revelar o modo de vida dos ancestrais. E por meio das peças que resistem à ação do tempo, a história vai sendo contada, mostrando em cada detalhe a identidade cultural do povo Tupiguarani. Materiais feitos em cerâmica encontrados na região noroeste do Estado de São Paulo ajudam a traçar o contexto histórico e cultural desses indivíduos que ali habitavam há mais de dois mil anos.
Nos baixos vales dos rios Tietê e São José dos Dourados, até a confluência com o Rio Paraná, abrangendo o município de Pereira Barreto e parte dos municípios vizinhos foram coletadas algumas lâminas de machado em pedra polida de diversos tamanhos, almofariz (um tipo de moedor muito útil para quebrar as sementes que os guaranis coletavam) e mão de pilão, ferramentas típicas para o trabalho de cultivo e preparo de vegetais. Polidores com sulco (abrasadores) utilizados para afiar os instrumentos de corte ou arredondar as varetas utilizadas nos fusos também foram encontrados, além de um fuso em cerâmica indicando que, antes da era cristã, esses grupos cultivavam o algodão e dominavam técnicas de fiação."