O texto publicado na Revista de Engenharia, do Rio de Janeiro, em 1886, detalha a visita do imperador D. Pedro II (61 anos) á Sorocaba, em 9 de novembro daquele ano.
SOROCABA EM 1886
O município de Sorocaba tinha 16.000 habitantes e a cidade 6.000; as ruas eram largas e haviam nelas alguns edifícios de boa aparência. As obras de calçamento da Rua São Bento e XV de Novembro haviam sido concluídas.
Frank Speers e seu sogro George Oetterer construíram o primeiro encanamento de água de Sorocaba. Até então não havia uma coleta sistemática de lixo e as águas servidas escorriam pelas ruas do centro urbano [1].
Em fevereiro daquele ano foi realizada a cerimônia de inauguração da primeira tubulação para conduzir água, destinada ao abastecimento da população.
Foi também neste ano que houve a inauguração dos chafarizes, antes a água era comprada em carrocinhas. O riacho que desce da Vila Carvalho serviu para os primeiros chafarizes da cidade.
A comitiva que acompanhava o imperador partiu de São Paulo ás 7 horas da manhã, sendo recebidos na estação Sorocabana pelos Srs. Francisco de Paula Mayrink (47 anos), commendadores João José Pereira Junior e pelo chefe do tráfego Jorge Oetterer (45 anos) que acompanharam Suas Magestades, e bem assim pelos Srs. Condes de Três Rios e Itu.
Antes de Sorocaba parou por momentos o trem nas estações de Barueri, São João e São Roque. Ás 10 horas chegou á estação de Sorocaba, onde foi servido um lauto almoço, oferecido pela diretoria da Companhia Sorocabana, sentando-se á mesa os dois diretores.
Depois do almoço visitaram a igreja matriz, o Gabinete de Leitura, a Câmara Municipal, três escolas e em seguida a fábrica Nossa Senhora da Ponte, propriedade do sr. Manoel José da Fonseca e da qual era gerente o Sr. Alexandre Marchisio.
Estando todos os "maquinismos" no mesmo pavimento, causou a mais agradável impressão os movimentos dos operários e das diversas máquinas naquela grande área. O imperador examinou tudo detidamente.
A fábrica possuía 180 operários, sendo dois terços mulheres, e produzia 3.000 metros de algodão por dia. O gerente tinha 15 réis por metro fabricado e o contramestre 5. Fundada em 1991, era esta fábrica uma das mais importantes do seu gênero, e tinha grande extração os seus algodões. O Imperador assinou o livro dos visitantes.
Depois visitou o mercado municipal, que era "próprio nacional".Visitou em seguida a fábrica a vapor de chapéus de Dr. João Adams, que tinha 30 operários e produzia 80 chapéus por dia, que eram muito procurados no interior da província e na do Paraná. A última visita feita por Sua Magestade foi ao hospital a cargo da irmandade da Misericórdia.
Á 1 1/2 hora entraram no trem Suas Magestades, sendo entusiasticamente saudades pelo povo, que estava apinhado na estação. O Sr. tenente-coronel Joaquim de Souza Mursa, diretor da fábrica de Ypanema, veio encontrar-se com Suas Magestades em Sorocaba, e com eles foi até Ypanema, onde chegou o trem ás 2 horas da tarde.
Em Ypanema foram Suas Magestades recebidos pelo pessoal superior da fábrica, operários e alunos das escolas, tocando duas bandas de música o hino nacional.
S.M. o Imperador visitou a fábrica das 3 ás 6:30 da tarde. A população da fábrica era de 351 indivíduos, sendo maiores 203 homens e 125 mulheres, e menores 94 homens e 109 mulheres, nacionais 399 e estrangeiros 132, assim divididos: Italianos 93, Alemães 6, Austríacos 13, Franceses 3, Portugueses 10, Orientais 2, Espanhóis 1 e Africano 3.
Nos no. 147, 148 e 149 da Revista de Engenharia foi transcrita dos Anais da Escola de Minas uma notícia muito completa desta fábrica escrita pelo engenheiro Leandro Dupré, ajudante do diretor da mesma.
O pessoal da fábrica é de 184, assim divido: 6 mestres, 1 feitor, 2 ajustadores, 2 torneiros, 4 ferreiros, 4 malhadores, 5 moldadores, 2 fundidores, 2 carregadores de boca, 6 refinadores, 2 espingardeiros, 2 foguistas, 1 laminador, 4 carpinteiros, 2 pedreiros, 8 ajudantes, 46 serventes, 31 aprendizes, 1 campeiro, 4 carroceiros, 1 correeiro, 1 enfermeiro e 47 carvoeiros.
O Imperador começou a visita pelo novo forno alto em construção; em seguida foi á antiga oficina da fundição de rodas para a estrada de ferro de Baturité; examinou a Sua Magestade o material fornecido pelo arsenal de marinha da côrte para a preparação dos projetos Whitworh, que ainda não começaram a funcionar.
Depois de examinar um armazém de obras feitas de fundição, seguiu em velocipede, acompanhado pelo Sr. Ministro da agricultura, residente da província e mais pessoas d acomitiva para as novas fociinas de refino de ferro que acabam de ser inauguradas.Nestas oficinas estavam funcionando dois fogos de regino, que produzem uma tonelada de ferro maleável por dia. Ali viu trabalhar um grande martelo a vapor, feito no estabelecimento e cuja cabeça pesa 1,000 kilogramas, mais ou menos; um martinete também a vapor de meia tonelada, e um pequeno trem de laminadores para preparação de ferro em barras para o comércio.Também veio um grande trem de laminadores, remetidos da Europa por encomenda do governo, mas que ainda não funcionava por conta de não haverem remetido com ele os competentes cilindros.
Viu mais uma tesoura para cortar ferro de 6 centímetros de grossura, também remetida na mesma ocasião. Estas máquinas foram compradas nas oficinas do Crusot, na França.
O vento para as forjas do refino era fornecido por um novo ventilador de Hoppe, de Francfort sobre o Meno. Era tocado por uma máquina a vapor de 12 cavalos.
O laminador era movido por uma roda hidráulica. Fizeram-se diversas experiências com ferro de Ypanema e ferro inglês, e Sua Magestade teve ocasião de ver a excelência da produção da fábrica.
Depois desta visita Sua Magestade foi de novo em velocípede e dirigiu-se para a represa feita no Rio Ypanema, com o fim de aproveitar as águas que, já tendo posto em movimento as rodas hidraulicas das antigas oficinas, iriam ser novamente aproveitdas nas novas oficinas de que acabamos de falar.
De volta, D. Pedro II examinou o grande armazém do lado da plataforma de desembarque e foi depois visitar o novo hospital. Ás 7 horas serviu-se um lauto jantar, sentando-se á mesa, ao lado da Imperatriz, o Sr. Dr. Mursa, e ao lado do imperador, a Sra. D. Laura Mursa.
Findo o jantar, dirigiu-se o Imperador á escola de meninas, que existia em uma das salas da casa do diretor, e de que era professora D. Anna Rosa de Carvalho Martins, e dirigiu perguntas a duas alunas, mostrando-se satisfeito com as respostas. Sua Magestade assinou o livro de visitantes.
Na segunda visita que ele fez á oficina de fundição, viu fundir-se uma chapa comemorativa, com a seguinte inscrição "9 de Novembro de 1886. Visita de SS. MM. Imperiais, do Exm. Sr. M. A. C. O. P., conselheiro Antônio Pradio e do presidente da província o Exm. Barão da Parnaíba. Ypanema".
Das 9 para as 10 horas foi o Sr. Minisyro da agricultura ás antigas oficinas, assistindo á corrida do ferro e aos trabalhos dos martinetes a vapor.O Imperador foi acomanhado na visita que fez, pelos Srs. Visconde de Paranaguá, mnistro da Agrigultura, Barãoo de Parnaíba, Dr. Mursa, diretor, e Dr. Dupré, ajudante. Ao sr. ministro acompanhoi, á noite o Dr. Dupré.