Proibição do cativeiro de "índios" por Maffeo Barberini, o Papa Urbano VIII, gera reações
13 de maio de 1640
04/04/2024 19:08:22
Maffeo Barberini, Papa Urbano VIII*
Data: 01/01/1624
Créditos: Wikicommons / Domínio público
235° Papa da Igreja Católica
(cg) (papa) .240.
Em 13 de maio de 1640, a bula de Maffeo Barberini, Papa Urbano VIII, 235° Papa da Igreja Católica, que proibia o cativeiro dos índios, também fora publicado em Santos, provocando reações.
Diante de motins contra a Companhia de Jesus que se levantaram na vila, a sua Câmara convocou, como cabeça daquela capitania, todas as demais vilas e povos e ajuntou cortes, por seus precatórios, para nelas determinarem o que se havia de fazer contra a Companhia e contra a mesma bula.
Em dia de São João Batista, concorreram por seus procuradores, as vilas do Conde de Monsanto e dacondessa do Vimieiro, que por todos são dez.
A vila de São Paulo enviou os procuradores Francisco Rodrigues da Guerra e João Fernandes Saavedra Castelhano;
A vila de Mogi Mirim enviou a José Preto; a vila de Parnaíba enviou a Balthazar Fernandes;
A vila de Santos, a Lucas de Freitas e FranciscoPinheiro Pais; as vilas da condessa, a Vasco Mota;
A vila de Iguape enviou seu procurador; enquanto a própria vila de São Vicente nomeou outros dois, chamados Antônio Vieira e outro.
Reunidos na casa do conselho, esses dez procuradores ali permaneceram, em junta, por três dias.
Ao final do terceiro, deliberaram que “se botassem fora de toda a capitania aos padres da Companhia de Jesus, porque se vendo intimidados e oprimidos, com o desejo de restituir-se em suas casas e colégio, conseguiriam de Sua Santidade a suspensão da bula e de Sua Majestade o acordo para o cativeiro indígena”.
Todas as Câmaras da região deviam cumprir o prazo final, escolhido o dia 30 de junhode 1640 para que aquela decisão fosse cumprida.
Ao padre jesuíta Jacinto de Carvalhais notificou-se o despejo da Companhia, por ter constituído dano ao povo, enquanto os agentes propulsores da bula papal.
Proibição do cativeiro de "índios" por Maffeo Barberini, o Papa Urbano VIII, gera reações
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.