Após chegarem na região entre os rios Paraguaçu e Una, os expedicionários enviaram uma carta ao Rio de Janeiro, originando o manuscrito original.
Descobrimos uma cordilheira de montes tão elevados, que pareço chegavam a região eteria, e que serviram de trono aos ventos as mesmas estrelas, o luzimento que, de longe se admirava, principalmente quando o sol fazia impressão ao cristal de que era composta e formando uma vista tão grande e agradável, que ninguém, daqueles reflexos podia afastar os olhos:
Entrou a chover antes de entrarmos a registrar está cristalina maravilha e víamos sobre aquela pedra escalvada precipitando-se dos altos rochedos, parece do-nos como a neve, ferida dos raios do sol, pelas vistas (...)
(...) das aguas e tranquilidade do tempo nos resolvemos a investigar aquele admirável prodígio da natureza, chegando-nos aos pés dos montes, sem embaraço, porém, circulando as montanhas, não achamos passagem para executarmos a resolução de acometermos estes Alpes e Pyrineus Brasílicos, resultando-nos deste engano uma inexplicável tristeza.
Entre estas Furnas vimos uma coberta com uma grande lage, e com as seguintes figuras lavradas na pedra (...)
Afastado da povoação está um edifício, como casa de campo, de duzentos e cinquenta passos de frente; pelo qual se entra por um grande pórtico, e se sobe uma escada de pedras (...)
Passada, e vista a rua de bom cumprimento, demos em uma praça regular, e no meio dela uma coluna de pedra preta de grandeza extraordinária, e sobre ela a estátua extraordinária de um homem, com uma mão ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo Index ao Pólo do Norte e com inscrições indecifráveis em sua base.
Depois destas admirações entramos pelas margens do rio a fazer experiências de descobrir ouro e sem trabalho achamos boa pinta na superfície da terra, prometendo-nos muita grandeza, assim de ouro como de prata: admiramo-nos por ser deixada esta povoação dos que a habitavam. Não tendo achado a nossa exata diligência por estes sertões pessoa alguma, que nos conte dessa deplorável maravilha de quem fosse esta povoação, mostrando bem nas suas ruínas a figura, de grandeza que teria, e como seria populosa, e opulenta nos séculos em que floresceu povoada; estando hoje habitada de andorinhas, morcegos, ratos e raposas que cebadas na muita criação de galinhas, e patos, se fazem maiores que um cão perdigueiro. Os ratos tem pernas tão curtas, que saltam como pulgas, e não andam, nem correm como os de povoado.[0]
O manuscrito 512, ou documento 512, consiste em um dos arquivos manuscritos da época Brasil colonial que está guardado no acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Tal documento, tem caráter expedicionário, e consiste em um relato de um grupo de bandeirantes, embora o nome de seu autor seja desconhecido.
Este manuscrito é a base da maior fábula arqueológica nacional, e um dos mais famosos documentos da Biblioteca Nacional.
O acesso ao relato original é extremamente restrito atualmente, embora uma versão digitalizada dele tenha sido disponibilizada recentemente com a atualização digital da biblioteca nacional.
Descoberta e valorização
Não obstante a datação do anos de 1753, estima-se que a escritura seja realmente setecentista por determinados aspectos relatados.
Seu descobrimento e noção de relevância, contudo, ocorreram apenas em 1839. De forma um tanto irônica para com a importância do documento, e ainda de maneira a reforçar todo o mito que envolve o objeto, o documento 512 foi encontrado ao acaso, esquecido no acervo da biblioteca da corte (então nome da Biblioteca Nacional).
O manuscrito, muito antigo, e já deteriorado pelo tempo, foi descoberto por Manuel Ferreira Lagos, e posteriormente entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB); foi nas mãos de um dos fundadores do instituto que a escritura teve seu real valor reconhecido e divulgado: após leitura o cônego Januário da Cunha Barbosa publicou uma cópia integral do manuscrito na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a adição de um prefácio no qual esboçava uma teoria de ligação entre o assunto do documento e a saga de Roberio Dias (filho de Belchior Dias Moreia), um homem que fora aprisionado pela coroa portuguesa por se negar a fazer revelações a respeito de minas de metais preciosos na Bahia.
Em um contexto de busca da identidade nacional, e valoração dos atributos brasileiros, o documento ganhou um destaque e um enfoque cada vez maiores ao longo dos anos, tanto por parte de aventureiros, como intelectuais, religiosos, e até do próprio imperador Dom Pedro II.
O tão investigado relato que faz o documento, e que foi motivo de sua relevância ao longo da história defendido arduamente por muitos, contestado calorosamente por outros, e obsessivamente buscado por alguns:
o documento 512 traz o relato do encontro de alguns bandeirantes com as ruínas de uma cidade perdida, uma civilização arruinada em meio à selva brasileira com indícios de desenvolvimento cognitivo, além de riquezas, e um fim desconhecido.
A Cidade Perdida
O documento que hoje traz o subtítulo de Relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima sem moradores, que se descobriu no ano de 1753, narra o encontro do grupo de bandeirantes com ruínas de uma cidade perdida e desconhecida até então, no interior da Bahia.
O relato da expedição, em sua parte mais conhecida, conta que houve quem avistasse de uma grande montanha brilhante, em consequência da presença de cristais e que atraiu a atenção do grupo, bem como seu pasmo e admiração.
Tal montanha frustrou o grupo ao tentar escalá-la, e transpô-la foi possível apenas por acaso, pelo fato de um negro que acompanhava a comitiva ter feito caça a um animal e encontrado na perseguição um caminho pavimentado em pedras que passada por dentro da montanha rumo a um destino ignorado.
Após atingir o topo da montanha de cristal os bandeirantes avistaram uma grande cidade, que a princípio confundiram com alguma pole já existente da costa brasileira e devidamente colonizada e civilizada, todavia ao inspecioná-la verificaram uma lista de estranhezas entre ela e o estilo local, além do fato de estar em alguns trechos completamente arruinada, e absoluta e totalmente vazia: seus prédios, muitos deles com mais de um andar jaziam abandonados e sem qualquer vestígio de presença humana, como móveis ou outros artefatos.
A entrada na cidade era possível apenas por meio de somente um caminho, macadamizado, e ornado na entrada com três arcos, o principal e maior ao centro, e dois menores aos lados; o autor do texto expedicionário observa que todos traziam inscrições em uma letra indecifrável no alto, que lhes foi impossível ler dada a altura dos arcos, e menos ainda reconhecer.
O aspecto da cidade narrada no documento 512 mescla caracteres semelhantes aos de civilizações antigas, porém traz ainda outros elementos não identificados ou sem associação; o cronista observa que todas as casas do local semelhavam a apenas uma, por vezes ligadas entre si em uma construção simétrica e uníssona.
Há descrição de diversos ambientes observados pelos bandeirantes, admirados e confusos com seu achado, todos relatados com associações do narrador, tais como: a praça na qual se erguia uma coluna negra e sobre ela uma estátua que apontava o norte, o pórtico da rua que era encimado por uma figura despida da cintura para cima e trazia na cabeça uma coroa de louros, os edifícios imensos que margeavam a praça e traziam em relevo figuras de alguma espécie de corvos e cruzes.
Segundo a narrativa transcrita no documento, próximo a tal praça haveria ainda um rio que foi seguido pela comitiva e que terminaria em uma cachoeira, que aparentemente teria alguma função semelhante a de um cemitério, posto que estava rodeada de tumbas com diversas inscrições, foi neste local que os homens encontraram um curioso objeto que segue descrito a seguir.
Entrementes, quando a expedição seguiu adiante e encontrou os rios Paraguaçu e Una, o manuscrito foi confeccionado em forma de carta, com o respectivo relato, e enviado às autoridades no Rio de Janeiro; a identidade dos bandeirantes do grupo aparentemente foi perdida, restando apenas o manuscrito enviado, e a localização da cidade supostamente visitada tornou-se um mistério que viria atrair atenção de renomadas figuras históricas.[1]
Ficou famoso por suas buscas do Eldorado, que localizava na serra de Itabaiana. Até hoje há quem creia que haveria ali riquezas em metais e que a área ocultaria um "carneiro de ouro". O mito surge a partir das expedições deste aventureiro Belchior Dias Moréia, que alardeou a descoberta de uma grande quantidade de prata na região, no século XVI.