Desde o século 4, passou a ser costume enterrar os mortos sob igrejas. Assim, estariam mais próximos de Deus e da salvação eterna. O hábito começou a mudar apenas no século 19, com o avanço da medicina.
Médicos sanitaristas passaram a fazer uma campanha contrária, baseados em fatos: os corpos putrefatos sob o chão das igrejas eram perigosos na medida em que transmitiam as doenças pelas quais haviam morrido, como a cólera e a peste bubônica. Segundo os higienistas, os sepultamentos deveriam ocorrer em campos abertos, longe dos vilarejos — era o conceito dos cemitérios.
No Brasil, a ordem chegou após um decreto do príncipe regente dom João, em 1801. Ninguém obedeceu. Vinte e sete anos depois, em outubro de 1828, o governo imperial brasileiro resolveu seguir a lei.
A primeira cidade a construir um cemitério foi Salvador. A população, porém, não gostou nada da ideia. Para os baianos, enterrar seus mortos longe da cidade ia contra a crença religiosa e ainda por cima beneficiava empresários particulares, em detrimento das irmandades religiosas.
Vários movimentos contrários foram organizados até que, em 1836, mais de mil pessoas saíram em passeata do centro da cidade em direção ao campo santo, como era chamado o cemitério. Armados de machados, os furiosos fiéis destruíram completamente o local — o episódio ficou conhecido como Cemiterada.