Abolicionistas fizeram uma campanha, batendo de porta em porta, para que os senhores libertassem seus escravos
1884. Há 140 anos
Autora: Paula Sperb - De Porto Alegre para a BBC News Brasil
No mesmo ano em que a escravidão foi abolida no Rio Grande do Sul, em 1884, 15 anos depois da alforria das crianças no teatro, o Partenon Literário fez uma nova campanha de libertação. Os integrantes batiam de porta em porta das casas da região central, especialmente na Rua das Andradas, pedindo a liberdade dos escravos.
Com dinheiro arrecadado em ações, compravam alforrias. Os libertos foram reunidos no local que hoje é conhecido como Parque da Redenção, oficialmente chamado de Parque Farroupilha. Próximo dali, montavam barracos na chamada "Colônia Africana".
Com tamanha movimentação abolicionista, no início do ano seguinte, em janeiro de 1885, a Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea em 1888, visitou Porto Alegre. A princesa chegou a lançar a pedra fundamental da construção da sede do Partenon, com projeto inspirado no templo de Atenas, o que não se concretizou.
Se não há registro fotográfico da visita de Isabel ou do espetáculo de 19 de setembro de 1869, o Museu Municipal de Porto Alegre Joaquim José Felizardo guarda um verdadeiro tesouro em forma de retratos. São diversos registros fotográficos, alguns de 1868, de escravos e ex-escravos, em Porto Alegre. Quase nenhum dos retratados, porém, está identificado.
Uma das fotografias encontrada pela reportagem, do final do século 19, mostra dois ex-escravos: são duas crianças, uma aparentemente com três anos e outra por volta de dez anos. Elas estão de pés descalços, vestidas, seguram ramalhetes de flores e olham para a câmera de Virgílio Calegari, um fotógrafo italiano que instalou um estúdio na capital gaúcha.
Calegari fotografou outros escravos e ex-escravos no seu estúdio, mas era conhecido por fotografar também a alta sociedade porto-alegrense. Além de Calegari, os Irmãos Ferrari também fotografaram escravos libertos no seu estúdio montado na rua Voluntários da Pátria.