O Cerco de Piratininga ou A Guerra de Piratininga são os nomes dados ao ataque realizado em 9 de julho de 1562 à então vila de São Paulo dos Campos de Piratininga, hoje cidade de São Paulo, por índios das tribos guarulhos, guaianás e carijós, que se uniram numa coligação e se rebelaram contra a aliança entre Tibiriçá e os jesuítas. Alguns destes índios eram familiares de Tibiriçá, outros haviam morado na aldeia dos padres e recebido a catequese, mas agora os renegavam.
Antecedentes
A união entre portugueses e os tupis causava desconfiança e antipatia entre os nativos mais radicais que, se procuravam qualquer pretexto para atacarem os europeus, encontraram um bastante importante: a prática da escravidão por parte dos colonizadores. Pressentindo a hostilidade crescente, os portugueses trataram de nomear João Ramalho chefe da defesa militar de São Paulo em 28 de maio de 1562, de acordo com o cargo já exercido anteriormente em Santo André.[3]
Em 3 de julho de 1562 um índio que vivia com aqueles que pretendiam atacar, mas que tinha parentes vivendo entre os homens de Tibiriçá, avisou aos jesuítas prevenindo-os para que se defendessem do ataque iminente. Cinco dias antes do ataque, por ordens de Tibiriçá os índios abandonaram suas casas e lavouras, num costume de guerra indígena, preparando-se para a guerra. Jaguaranho ("cão bravo" em tupi) temendo pela vida de seu tio, Tibiriçá, tentou convencê-lo a abandonar a defesa dos padres, sem conseguir.[4]
O cerco
Incomodados com essa aliança, as tribos rebeldes desferiram o ataque na manhã de 9 de julho de 1562, dois anos após São Paulo ser elevada à condição de vila. O ataque ocorreu no local onde estava estabelecido o colégio dos jesuítas, onde hoje está o Pátio do Colégio. Eram realizados aos gritos de jukaí karaíba (morte aos portugueses). Os invasores estavam todos pintados e emplumados, de acordo com sua tradição militar.
O cerco foi liderado por Jaguaranho, que provavelmente agiu sob ordens de seu pai, Piquerobi, líder da aldeia rebelde de Ururaí, localizada onde hoje fica o bairro de São Miguel Paulista, na zona leste da cidade. Piquerobi era irmão de Tibiriçá e de Caiubi, outro aliado dos europeus. João Ramalho, embora tivesse um relacionamento distante dos jesuítas, chegando mesmo a uma inimizade, tratou de lutar corajosamente contra os índios invasores, levando consigo, na defesa da vila, muitos indígenas e mamelucos.[6]
Além de estar cumprindo seu papel de chefe da defesa militar, João Ramalho era genro de Tibiriçá, e naturalmente não ficaria ausente nesse momento. Brás Cubas enviou reforços de Santos, ajudando na defesa dos jesuítas.[6]
Logo no primeiro dia da batalha, Jaguaranho, após vencer as linhas de defesa, preferiu arrombar as portas da igreja onde as mulheres índias e mamelucas estavam rezando à atacar os padres, que se encontravam vulneráveis. Enquanto procurou arrombar a porta foi flechado na barriga e morreu no local, fato que reverteu a vantagem dos invasores.[7] O combate prosseguiu até o dia seguinte, 10 de julho, com vitória para os portugueses e aliados. Durante o combate o chefe tupiniquim Tibiriçá matou seu irmão Piquerobi.[8]
“ Chegado pois o dia, que foi a oitava de Visitação de Nossa Senhora, investiu pela manhã contra Piratininga a hoste numerosa dos contrários, pintados e empenachados, com enorme alarido.[9] ”A vitória representou a continuidade da existência da Vila de São Paulo, o que se mostraria fundamental para a expansão colonial ocorrida nos séculos seguintes. Mas talvez devido a aglomeração de pessoas, e certamente pela falta de comida, a peste desintérica fez muitas vítimas no planalto, entre eles o próprio Tibiriçá, morto em 25 de dezembro de 1562.