Em 4 de janeiro de 1913, jornalistas do periódico carioca “A Noite”, em um interessante trabalho investigativo, apresentaram os processos do consumo de cocaína na primeira metade da década de 1910 na cidade do Rio de Janeiro. Foi noticiado que sem maiores problemas, sem exigirem uma receita médica, vários jornalistas compraram em meia hora 37 gramas de cocaína.
Consta na reportagem o preço dos frascos variou de 1$000 a 2$500 réis (um mil a dois mil e quinhentos réis).
Para efeitos de comparação, no mesmo exemplar do jornal carioca “A Noite” encontramos o anúncio da “Cervejaria Tolle”, instalada na Rua Riachuelo, 92, onde cada garrafa da cerveja neozelandesa “Bismarck Brown” custava $300 réis (trezentos réis).
Ou seja, pelo preço médio de um frasco com uma grama de cocaína, se comparava de três a cinco garrafas de cerveja importadas da Nova Zelândia (não esqueçam que quase todos os produtos industrializados vendidos no Brasil desta época eram importados). Por isso era tão fácil morrer com cocaína.
Para os jornalistas, do pessoal das farmácias que trabalhavam corretamente, só se salvavam “uns 20 %”. O resto vendia cocaína aos cariocas sem problemas.
Junto aos profissionais dos estabelecimentos farmacêuticos trabalhavam os “rápidos”, que pelo que pude compreender é atualmente o que a crônica policial denomina de “vapor”. Ou seja, a figura que no organograma do tráfico de drogas entrega o produto ao cliente. E tinha que ser entregue rapidamente, daí o nome!
A reportagem escancarou geral. Deu nome das farmácias que venderam a droga e quem não vendeu. Foi publicado os endereços dos estabelecimentos, as quantidades vendidas em cada local e, num verdadeiro escândalo, até uma criança na Rua do Estácio comprou, a pedido dos jornalistas, a droga sem nenhum problema.
Em uma farmácia um atendente afirmou que vendia de setenta a cem gramas da droga por dia.
Propaganda anunciando pastilhas para problemas bucais feitas com cocaína