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As “capitoas” do Brasil Colonial: mulheres no comando de capitanias. Fonte: ensinarhistoria.com.br
16 de maio de 2021, domingo. Há 3 anos
Quando se fala em capitanias hereditárias, duas merecem destaque – São Vicente e Pernambuco – junto com seus capitães donatários Martim Afonso de Sousa e Duarte Coelho, respectivamente. O que pouca gente sabe é que esses fidalgos portugueses não merecem os créditos pelo sucesso das capitanias que receberam, mas sim suas esposas. Foram mulheres que comandaram essas capitanias desde no início de sua administração. Também teve o caso do Espírito Santo, onde uma mulher governou a capitania e repeliu o ataque de corsários ingleses. Ana Pimentel, capitoa de São Vicente.Ana Pimentel Henriques Maldonado, esposa de Martim Afonso de Sousa, era uma fidalga espanhola. Quando seu marido viajou para o Brasil para tomar posse da capitania de São Vicente, em dezembro de 1530, Ana Pimentel permaneceu em Lisboa. Martim Afonso fundou São Vicente em 1532, a primeira vila do Brasil. No ano seguinte, regressou a Lisboa onde ficou poucos meses, pois logo recebeu nova missão, dessa vez para a Índia. Designou Ana Pimentel como sua procuradora para administrar a capitania de São Vicente, através de uma procuração datada de 3 de março de 1534. Ana Pimentel exerceu seu mandato por mais de uma década e com grande competência. Fez cartas de doação de sesmaria, uma das quais para Brás Cubas que fundou a vila de Santos. Enviou mudas de laranjeiras para São Vicente ordenando seu cultivo na capitania para combater o escorbuto – doença provocada pela falta de vitamina C e que atacava os marinheiros durante a travessia no Atlântico. Introduziu, também, o cultivo do arroz, do trigo e da criação de gado na região. Revogou a ordem do marido que proibia os colonos de subirem a serra e entrarem no planalto paulista, onde havia terra mais férteis e um clima mais ameno do que no litoral. A proibição de Martim Afonso visava evitar que os portugueses se instalassem em terras dos índios aliados provocando conflitos que colocassem em perigo a colonização. Em 1546, esse zelo não era mais necessário e Ana Pimentel revogou a proibição. Com isso, ocorreu a capitania se estendeu para o interior.

Brites de Albuqurque, capitoa de Pernambuco

Brites Mendes de Albuquerque (1517-1584), esposa de Duarte Coelho, tinha 18 anos quando chegou ao Brasil, em 1535, acompanhando seu marido para tomar posse da capitania de Pernambuco. O principal engenho da capitania, chamado Nossa Senhora da Ajuda, foi levantado por Duarte Coelho, Brites e seu irmão Jerônimo de Albuquerque. A ocupação produtiva do território foi difícil. Os donatários deviam contar com seus próprios meios para instalar engenhos e conter a resistências dos indígenas. A colonização portuguesa nesses primeiros tempos era um misto de empresa mercantil e militar. Muitos colonos trouxeram mulheres e filhos que constituíram as primeiras famílias portuguesas a ocupar o território. Outros tomaram para si mulheres indígenas, a exemplo de Jerônimo de Albuquerque que se casou com Muira-Ubi, filha do cacique caeté, depois batizada Maria do Espírito Santo Arcoverde, com a qual teve oito filhos. Durante cerca de vinte anos, Brites contribuiu com seu marido, chegando a assumir o comando da capitania quando Duarte Coelho viajava, até que em 1553 ele voltou para Portugal acompanhado dos filhos do casal. Beatriz assumiu interinamente o governo da capitania, assistida por seu irmão, Jerônimo de Albuquerque. Com a morte de seu marido, Duarte Coelho em Portugal, em 1554, Brites assumiu o governo da capitania de Pernambuco com todas as honras e obrigações pertinente ao título, sendo chamada de “capitoa” pela firmeza de sua gestão. É reconhecida como a primeira governante das Américas. Brites manteve-se no posto até a maioridade do seu filho mais velho, Duarte Coelho de Albuquerque que estudava em Portugal, juntamente com seu irmão. Quando ambos chegam ao Brasil, em 1560, o primogênito assumiu o governo de Pernambuco. Isso durou poucos anos, pois, em 1572, os irmãos foram chamados a Portugal para lutarem ao lado do rei D. Sebastião na África. Ambos morreram na célebre batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Assim, uma vez mais, Beatriz ficou no comando das terras pernambucanas, exercendo essa função até o fim de sua vida. Durante seu governo, Pernambuco foi a mais próspera capitania do Brasil. Tinha mais de mil colonos e mais de mil escravos. Em 1570, a capitania possuía 66 engenhos que produziam 200 mil arrobas de açúcar anuais. Brites manteve a ordem e a paz na capitania, combatendo levantes indígenas, legislando e controlando assuntos dos colonos, construindo e urbanizando núcleos, como Olinda, Igarassu e Recife. Faleceu em Olinda em 1584.

Luísa Grimaldi, capitoa do Espírito Santo

Luísa Grimaldi ou Grinalda (1541-1626), esposa de Vasco Fernandes Coutinho Filho, segundo donatário do Espírito Santo, chegou ao Brasil em 1563 ou 1564. O marido vinha assumir o governo da capitania que lhe coubera por herança com o falecimento do pai. Colaborou para a expulsão dos franceses da Guanabara (1570) e a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (1565). A capitania prosperou com o cultivo de cana-de-açúcar e a instalação de engenhos. Em 1581, quando três naus francesas investiram contra a capitania, foram os indígenas das missões jesuíticas que saíram em defesa da terra, matando e ferindo a muitos dos assaltantes. Novamente lutaram ao lado dos colonos quando os ingleses atacaram a capitania em 1583. Com a morte de Vasco Fernandes Coutinho Filho, em 1589, o governo da capitania ficou com a viúva Luísa Grimaldi. Nos quatro anos de seu governo (1589 a 1593), a donatária enfrentou a incursão de corsários ingleses comandados pelo famoso capitão Thomas Cavendish. Com ajuda dos goitacazes, Luísa Grimaldi organizou a defesa da baía de Vitória e conseguiu repelir os invasores. Enquanto isso, em Portugal, Francisco de Aguiar Coutinho – parente mais próximo do capitão donatário falecido, uma vez que este não tivera filhos com Luíza Grimaldi – movia uma ação pelo direito de posse da capitania. O familiar alegava que uma mulher não podia assumir o lugar do marido falecido. Francisco de Aguiar Coutinho teve seu direito à sucessão reconhecido e Luísa Grinalda entregou o governo ao seu adjunto, Miguel de Azeredo, em 1593. Regressou a Portugal e se recolheu no mosteiro dominicano de Évora, onde faleceu em 1626, aos 85 anos de idade. Fonte SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Érico Vital (org.). Dicionário das Mulheres do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Azeredos e Coutinhos, Grinaldas e Maldonados. Instituto Poimênica.

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