História e historiografia nas cartas de Capistrano de Abreu, por Rebeca Gontijo
2005. Há 19 anos
Contudo, o estudo da história esbarrava na carência documental. Segundo Capistrano, “a História do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É uma pessoa encostar-se numa parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola”. Achava que, no Brasil, os documentos eram mais necessários do que a escrita da história. Certa vez comentou: “(...) no Brasil nós não precisamos de história, precisamos de documentos, uns oitenta volumes como os da Rev. do Inst. [revista do instituto], porém feitos por gente que saiba aonde tem o nariz”. Julgava prematura a idéia de escrever a história do Brasil apenas com documentos “triviais”. Essa aparente angústia diante da lacuna documental associava-se ao entendimento de que não havia documentos perfeitos ou completos. Pouco antes de receber um catálogo de fontes sobre o Brasil, existentes na Biblioteca Nacional de Lisboa, lamentou: “Espero aprender muito nele, embora nunca tenha encontrado até hoje umdocumento que me satisfaça por completo.”26Ao que parece, um grande nó era construído quandoCapistrano constatava a falta de “apenas mais um documento”,não importando tanto o seu ineditismo. O “preconceito doinédito” era muito forte no século XIX. Baseava-se na valorizaçãodas fontes arquivísticas, compreendidas como indício seguro dainformação correta, fundamento da verdade histórica.27 Mas noinício da década de 1920, ainda que acreditando no poder dosdocumentos como prova, Capistrano já podia afirmar: “(...)dispenso inéditos: jogo com as grandes massas. Inéditos há debojar e rebojar Oliveira Lima. Inéditos podia descobrirDomício...” [Página 11 e 12 do pdf]