alguns períodos dessa relação ou gazeta (que supomos haver sido escrita em Lisboa por um estrangeiro e publicada pela primeira vez em 1506”... (Varnhagen, op. cit., II, 4.ª ed., p.98-9). Ora, o mss. da “Gazeta” foi achado, posteriormente, por Konrad Haebler, em 1895, no Arquivo dos Príncipes Fuegger, em Augsburgo, e traz a data de 1514... (cf. Clemente Brandenburger — A nova gazeta da Terra do Brasil, São Paulo — Rio, 1922). Portanto, Empoli, em 1504, e a Gazeta, em 1506,afastados...
|Chamei a atenção para o modo de Ramusio, ainda em1550-63, escrever na sua interpolação “Bresil”, distinguindoeste nome da terra, do nome da madeira, escrito adiante, emitaliano, “verzinio”. É que, aqui, tem cabida a hipótese queaquele nome é de origem francesa... Os nomes lusitanosVera-Cruz, Santa Cruz, não seriam mudados pela piedadeportuguesa: foram os piratas franceses, desde antes de 1504,(quando vieram, ao dizer de Anchieta, pela primeira vez) quedesignaram a terra pela riqueza conhecida, “terre du brésil”,depois daí “le Brésil”, como ainda hoje. Nós tivemos, peladivulgação e aceitação do nome, de traduzi-lo: “Brasil”.Como quer que seja já em 1510 está em Gil Vicente, noAuto da Fama, “terra do Brasil”: mas será mesmo o Auto de1510?(14) De 1511, talvez: “Llyuro da naao bertoa que vaypara a terra do brasyll... que partiu deste porto de Lixª a 22 defevº de 511” é o título de um documento publicado porVarnhagen. A nau partiu em 11, mas o livro teria sido escritonessa data? Tudo leva a crer, mas não é certo.Certa é a carta de Afonso de Albuquerque, de 1 de Abrilde 1512, da Índia, a el-Rei D. Manuel, “a qual (carta de umpiloto) tinha ho cabo de Bôoa Esperança, Portugal e a terra doBrasyll...” (Alguns documentos... do Tombo, cit., p. 261). Porcerto é também de 1512 o mapa de Jerônimo Marini — OrbisTypus Universalis Tabula Hieronimi Marini fecit Venetia MDXII — cujo original possui o nosso Ministério do Exterior,na Biblioteca do Itamarati, onde se lê pela primeira vez, emplanta: “Brasil”. Um ano depois, e é interessantíssimo, é opróprio Dom Manuel que mudara Vera Cruz em Santa Cruz,segundo disse aos reis de Castela Fernando e Isabel e agora aum deles o diz, em 13 de Setembro de 1513: “na teerra... que hepegada com a nossa teerra do Brasyl” (Carta a el-Rei D.Fernando, de Castela, in Alguns documentos, p. 292).Mas é sempre “terra do Brasil”, como se dissesse, porabreviação, “terra do (pau) brasil”: o documento escrito em queprimeiro aparece Brasil só, como no mapa de Marini é o deDom Rodrigo de Acuña, de 15 de Junho de 27, ao bispo deOsma, dando conta da perda da armada que mandara Carlos Vàs Molucas e pedindo interceda junto de D. João III para lheobter a liberdade, preso que está na feitoria de Pernambuco (nosbaixios de D. Rodrigo, onde naufragara, e naufraga, mais tarde,o primeiro Bispo, comido pelos índios). Diz ele: “nos convinoarrybar al Brrasil”; (nesta carta há ainda “tyerra dei Brrasil” e“nao cargada de brrazil” (Alguns documentos... do Tombo, cit.p. 488-9).O nome Brasil vem de longe. Disse Humboldt, vem deSamatra, e levou quatro mil anos para nos chegar... É o nome deuma madeira tintorial, a Cesalpina ecchinata, especiaria trazidado Oriente à Europa, nome variamente escrito — braxile,bresillum, brisilium, bersi, verzi, verzino, como recentemente,há cinco séculos, o chamavam os Venezianos. Já dele falam ogeógrafo árabe Abuzeid El Hacen (IX século), Endrisi eChrestien de Troyes no século XII: este escreve mesmo Braisil,que dá, em francês, a pronúncia do nome atual nesse idioma.Teria vindo à Europa depois dos primeiros Cruzados, por voltade 1140. Tirava-se, do toro, a casca e o líber, e apenas o cernevermelho servia para tingir panos e fazer tinta, para iluminarmanuscritos, dando tons róseos às miniaturas. A madeira, dura ecorada, também aproveitava à marcenaria. [Páginas 40 e 41 do pdf]
A geografia apoderar-se-ia do nome, e terras do Brasilhouve, antes da nossa: Krestchmer encontrou em mapasmedievais as seguintes variantes: Brazi, Bracier, Brasil,Brasiel, Brazil, Brazile, Braziele, Braziel, Bracil, Braçil,Braçill, Bersill, Braxil, Braxili, Braxiel, Braxyili, Brisilge...(15).É uma ou mais ilhas do Ocidente, no grupo dos Açores, ou naaltura da Bretanha, ou não longe da Irlanda. Ainda hoje há umapedra Brazil Rock, na Irlanda, e um monte Brasil, junto à cidadede Angra, na Ilha Terceira, dos Açores. Num mapa de 1351 jáaparece esta “ínsula do Brazil”, nesse Açores. Em 1480partiram de Bristol navios à procura da Ilha Brasil. Em 1497Ayala, legado de Espanha junto à Corte de Inglaterra, dizia quede sete anos àquela parte partiam de Bristol, anualmente, naviosà mesma pesquisa. Lá está, no mapa de Toscanelli, (1474) aonorte e oriente, a ilha Brasil... Até 1875 o Almirantado inglêsmanteve nas suas cartas essa “Brasil Rock”(16).Diz a erudição que os Árabes chamavam ao paubakkam, que traduziram em latim brasilium, procurando aanalogia da raiz semítica bakkham (ardente) com a arianabradsch, em português brasa, italiano brace, francês braise.Como se deu tal nome à geografia, é controvertido: Brasil,indicaria fenômenos vulcânicos notados no arquipélagoaçoreano; ou aí se teria encontrado senão o verdadeiro brasil,pelo menos algum sucedâneo, talvez a urzela. ContudoCapistrano de Abreu, reparando que nas formas gráficas egeográficas de Kretschmer não se vêem formas congêneres doverzi ou verzino, diz poder-se concluir que o Brasil, ilhaocidental, nada tem com o produto oriental. Conclui que naturalé proceda o nome do celta, e há quem o decomponha braza,grande, i: em todo o caso Brasil, ilha, aparece sempre noAtlântico e sempre a W de terras primitivamente habitadas porCeltas. Os índios chamavam à planta arabutan ou ibirapitanga. [Página 43 do pdf]
Os Portugueses conheciam o brasil: a 19 de outubro de 1470 Afonso V proibia aos traficantes da Guiné comerciarem que as tintas do brasil, protegendo talvez o produto das ilhas. Quando se começou o tráfico com os selvagens de Santa Cruz, a primeira matéria de exploração foi o brasil. No Esmeraldo,escrito em 1505, escreveu Duarte Pacheco da terra: “é achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas” — (cap. 2, do I livro).
Terre du brésil lhe chamaram os piratas franceses, e, depois, o menor esforço daria le Brésil, como ainda hoje. Esse menor esforço foi a causa da troca, que tanto indignou João de Barros: os políticos e sacerdotes, que batizam e dão nomes, não advertem que eles prevalecem na ordem da simplicidade. Em alguns anos apenas, a Terra de Vera Cruz já era pois, o Brasil....(17). E era — o que mais admira, na expressão do próprio Dom Manuel: “na teerra... que he pegado com a nossa teerra do Brasyl”. Piedosamente diríamos: nome mudado na crisma...
A palavra teve, no começo, várias acepções, que foiperdendo: Pau-brasil: “Cá ha assuquer e algodão, brasil eambre e resgates” (Cartas avulsas de Jesuítas, Rio, 1931, CartaXLVII). “Pera ali carregarem de brasil”. (Id. Carta XXVII). Aterra: “Todo o Brasil, que assim se pode dizer” (Id. Carta LVI).“Nestas partes do Brasil” (Id. Carta LXIII). A gente: “Paraestudantes — brasil fazem-no muito bem”. (Id. Carta LIV). “Osque tangiam eram meninos brasis” (Id. Carta LV). A língua:“Espera em pouco tempo falar tão bem brasil, como agoraitaliano; às vezes lhe falava homem português e ele respondiabrasil”. (Id. Carta XLVIII).“Brasileiro” foi, a princípio, o traficante ou o ocupadoem tirar o brasil, como de baleia “baleeiro” (Varnhagen). Adesinência “eiro” é profissional: ferreiro, carpinteiro. Aqui, deprofissional, passou a patronímico: os mineiros que trabalhavamnas minas gerais ficaram depois, os filhos de Minas Gerais.Contudo tentou-se “brasiliense”, “brasílico”, brasiliano“, sem [Página 44]
Antônio, Prior do Crato. A todos se adianta, sob a ameaça dainvasão, corrompendo a dinheiro e intimidando à força, aqueleFilipe II (1580).Manuel Telles Barreto (82-87) conclui a conquista daParaíba do Norte. Cristóvão de Barros conquista Sergipe, contraos índios e defende a Bahia. O fanático Filipe II é inimigo deInglaterra e dos hereges: em 85 embarga nos seus portos todosos navios ingleses, holandeses, zeelandeses, alemães ehanseáticos: Lisboa não será mais empório de especiaria. AInglaterra responde, embargando nos seus portos os naviosespanhóis e portugueses. Francis Drake pirateia Cabo Verde, osAçores, finalmente Faro. Será a vez das colônias. Irão às Índiasbuscar as especiarias diretamente e tomarão o gosto deconquistar estas colônias: o fanatismo levou-os até aí, pela mão.Entretanto, o Brasil sofre o assalto dos Ingleses: Edward Fentonveio, em 82, a S. Vicente; Robert Withrington à Bahia; ThomasCavendish escolheu Santos, em 91; James Lancaster, em 95,Pernambuco: desembarcam, pilham, escarnecem, e dão à vela,com algumas perdas. Ainda em vida de Filipe II aparecem nausflamengas nas Índias. Em 98, Olivier van Hood tenta o Rio eSão Vicente; em 99 é a esquadra de Leynssen; em 604 é Paulvan Carden, depois Spilbergen: é agora o sobressalto contínuo...Virá mais. Ganhamos os inimigos de Espanha e sofremosconseqüências do fanatismo dos Filipes. Com a sorte da“Invencível Armada”, destruída nos mares do norte, em 1588,acaba-se o respeito a Espanha e, o que pior, a Portugal, alémdisto conquistado e delapidado.Dom Francisco de Sousa foi governador de 591 a 602;chamam-no “Dom Francisco das Manhas”, pela muitaprudência com que executou o seu programa, que foi ocupar oRio Grande do Norte, fortificar a costa contra os corsários edescobrir as jazidas de ouro.Este século XVI não terá sido estudado, ainda a grandes [Página 123]
de 72, e parte com o título de capitão-mor das minas deesmeraldas: vai às cabeceiras do rio Doce, do rio de SãoFrancisco e, tendo como centro o Serro, faz excursões porquatro anos. Depois de incontáveis tormentos, rebeliões,morticínios, expira o aventureiro, às margens do rio das Velhas.Do genro Manuel Borba Gato e do filho Garcia Rodrigues Pais,fia a continuação do sonho, a descoberta do ouro e dasesmeraldas. As jazidas de Sabará aparecem. Antônio RodriguesArzão, de Taubaté, vai, em 93, ao Rio Doce descendo atéVitória, no Espírito Santo; seu cunhado Bartholomeu Bueno deCerqueira, que em 70 estivera no sertão de Goiaz, vai, em 94, àregião de Vila Rica, ou de Ouro Preto.O sonho do século XVI, com Gabriel Soares, RoberioDias, das minas de prata, realiza-se, passando das esmeraldas aoouro. Fora a previsão dessas minas que separara o Brasil emdois governos. O Governador do Sul, Dom Francisco de Sousa,já trazia o título de Governador e intendente das Minas. UmCódigo Mineiro elaborado em 1603, ficou nas Chancelarias doreino até 1619, quando foi expedido, e publicado no Brasil, em1652. Essas entradas e bandeiras, para descer índios escravos edevassar o sertão em busca de minas, dão endereços ao Brasilcolonial predador, agrário, criador e mineiro. Os objetivossaíram uns dos outros e misturaram-se. Eles trouxeram aconseqüência da integração do país, além do litoral possuído.Entravam as bandeiras para prear e descer índiosescravizados, devassavam o sertão, encontravam minas erecuavam a fronteira sem dificuldades pois que a posse eracomum hispano-portuguesa... diz o povo. O único benefício quenos trouxe a ocupação espanhola foi “abolir” a demarcação deTordesilhas, podendo o colono ir aos limites do Brasil atual,pois que tudo era da mesma coroa... Com a Restauração, o fatoconsumado do uti possidetis tornou portuguesa e brasileira aposse, graças às entradas e bandeiras, responsabilidadeentretanto contestada.(11)As entradas despovoadoras, captando o [Página 156 do pdf]