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Jornal Diário de Notícias/RJ. Escobar Filho, enviado especial
12 de fevereiro de 1933, domingo. Há 91 anos
Sorocaba, 10 de fevereiro de 1933 - Uma ligeira gripe, menos violenta do que a "hespanhola", ameaçadora, que está devastando a Europa e os Estados Unidos, prendeu-me dois dias em São Paulo e só pude chegar ontem á tarde a Sorocaba, será tempo de iniciar desde logo a minha parte na reportagem das 100 grandes cidades paulistas.

Aproveitei então o domingo para rever a minha cidade natal e para fazer funcionar as minhas antenas de repórter, recolhendo as impressões do caso mais sensacional destes últimos dias que foi o assassínio do prefeito David Athayde.

A cidade está cheia de agentes de polícia. Cerca de oitenta, dizem.

Há um delegado especial superintendendo os trabalhos do inquérito e os "secretas" ficam pesquisando em todos os pontos jogando verde, como se diz na nossa gíria, numa ânsia inútil de descobrir quem deu o tiro mortal no prefeito.

Somos um povo sentimental e o espetáculo da morte nos comove, redimindo a culpa dos indivíduos mais perversos.

Entretanto, se quisermos ter a lealdade de escrever o que no íntimo pensamos, seremos levados a julgar perfeitamente lógico o desfecho dos acontecimentos da noite de 29 de janeiro último, na Praça da Matriz desta cidade.

O caso está descrito em suas linhas gerais no relatório telegráfico que o chefe de polícia de São Paulo enviou ao ministro da Justiça.

O prefeito Athayde, sem dar aviso prévio, mandou diminuir a luz daquela praça, ponto mais movimenta e elegante da cidade, onde estão localizados os dois melhores clubes recreativos locais.

A rapaziada que faz o footing nesse logradouro resolveu lançar o seu protesto de uma maneira original. Em vez de depredações, me meetings os rapazes muniram-se de velas acesas e foram para a Praça da Matriz, realizando uma espécia de procissão.

O prefeito David Athayde, que apenas há três meses estava em Sorocaba e que não tivera ainda um só ato que denunciasse a sua vontade de governar com acerto a linda e operosa Manchester Paulista, resolveu apagar as velas a bengaladas.

Evidentemente, o homem não pensou. E daí a pouco dois tiros surgiram, caindo mortalmente ferido o sr. Athayde.

Quem o matou?

A interrogação é quase irrespondível. A praça estava cheia de gente e quase escura, devido á diminuição das lâmpadas e á sombra das árvores.

Perguntar-se-á: - Quem disparou, de dentro de uma trincheira, o tiro que abateu, na crista de um morro, o mais afoito componente de uma patrulha de reconhecimento?

E esta pergunta ficará sem reposta como aquela outra sobre os tiros na praça da Matriz. Não há dúvida que foi o que podemos chamar de um crime coletivo.

E a fatalidade das velas era tão grande para o prefeito Athayde, que na própria farmácia para onde o levaram, a luz elétrica se apagou devido a um curto circuito, e foi necessário socorrer ás chamas de uma vela para clarear a sala de curativos.

Aqui me perguntam: - "O David Athayde não esteve metido no caso do assassinato de um oficial da Polícia Mineira, numa pensão alegre da Glória, lá no Rio?"

E eu fico a considerar o erro de se enviar qualquer cidadão desconhecido para dirigir coletividades e cidades justamente (elegível) da sua cultura e autonomia, como esta linda Sorocaba.

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12/02/1933
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