Curiosidades da rua Miranda Azevedo. Por Vanderlei Testa
27 de novembro de 2023, segunda-feira. Há 1 anos
Os moradores de Sorocaba que, diariamente, percorrem as ruas do Centro ou dos bairros, muitas vezes, não percebem as curiosidades da paisagem urbana da cidade. Com o propósito de escrever um artigo sobre isso, circulei de carro e, também, a pé por algumas dessas avenidas e ruas, observando o que nunca tinha visto nas andanças rotineiras. A primeira foto que registrei é de uma cerca de madeira - em plena rua Miranda Azevedo -- ao lado do número 600, em um terreno quase no cruzamento com a avenida Afonso Vergueiro. É incomum, ainda, no centro de Sorocaba, repleto de edifícios e construções, encontrar uma “cerquinha de ripas de madeira” como fachada de uma área com seis galinhas. Parece que estamos em uma pequena cidade do interior em suas tradicionais casas de sítio. Olhando para a paisagem, cuja imagem ilustra também este texto, o leitor poderá observar, ao fundo, um luminoso de uma rede internacional de fast food. Uma realidade que, certamente, não existe no exemplo citado das cidades da região com população abaixo de 20 mil habitantes. Sorocaba, com mais de 700 mil pessoas, contrasta a cerca de madeira com a modernidade do “rei do hamburguer”.
Ainda, na mesma rua Miranda Azevedo, um casarão azul, logo acima da rua Sete de Setembro, com linhas arquitetônicas arrojadas para a época da sua construção, chama a atenção dos motoristas atentos que param no semáforo, ao lado de um posto de combustível, na esquina movimentada dessa via pública dedicada à figura ímpar de Augusto César de Miranda Azevedo, que nasceu em Sorocaba em 10 de outubro de 1851. Miranda Azevedo foi deputado federal, médico e diretor do jornal “A República”.
Esse casarão azul, no número 170 da rua Miranda Azevedo, guarda na sua histórica existência, no cenário urbano local, o fato de ter abrigado, por muitos anos, a família Ramires. Foi ali, no porão da casa, que o jovem estudante Floreal Calvo Ramires passou dias e noites estudando para o vestibular da faculdade de medicina. Aprovado, seguiu uma carreira profissional brilhante em cidades como Itaporanga e Itapetininga, tornando-se um médico admirado por sua competência e dedicação à saúde pública.
Antônio Marques Flores, de tradicional família portuguesa e sorocabana, um dos expoentes do comércio varejista da cidade, teve a sua vida registrada nos anais históricos da rua Miranda Azevedo. Ele nasceu em Portugal, mas a casa de número 167, durante anos, foi o abrigo de seus descendentes. Quantas vezes, na sua infância, o comerciante José Flores Arruda Filho, diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Sorocaba, brincou na enorme jabuticabeira, carregada de frutos, que embelezava ainda mais a residência de seus pais e avós.Uma das primeiras gráficas de Sorocaba esteve instalada na rua Miranda Azevedo. Tinha o nome de “Modelo” e, nos anos de 1974 a 1980, foi a primeira da cidade a imprimir, em offset, os jornais da Metalúrgica Nossa Senhora Aparecida, que eram distribuídos aos quase três mil funcionários. Uma novidade, naquela época, uma gráfica familiar dos Veloso, conseguir adquirir e funcionar essa máquina impressora.
E o córrego Supiriri, famoso por suas enchentes na avenida Afonso Vergueiro e baixada da rua Miranda Azevedo, apesar de já canalizado, ainda está com um canal de água “a céu aberto”, passando nas laterais de imóveis que resistem ao tempo, apesar das infiltrações em seus alicerces. A imprensa sorocabana divulgou, em 2021, o acidente de um carro que caiu no Supiriri. No fundo, são fatos de um período que deixou reminiscências de um passado, como no caso desse córrego na rua Miranda Azevedo.
A família de Jorge Moisés Betti Filho, advogado, vereador e de saudosa memória, teve na rua Miranda Azevedo os melhores anos de sua história. Ao recordar que a família Betti era ligada, afetivamente, ao clero da arquidiocese, volto no tempo e destaco a biografia do patriarca Jorge Moisés.
Jorge Moysés Betti nasceu em 27 de dezembro de 1897, em Sorocaba. Foi casado com Maria Proença Flores Betti, com quem teve cinco filhos. Comerciante atacadista e varejista de alimentos, utensílios domésticos e combustíveis, foi também professor e advogado. Lecionou nas escolas “Beneditina”, “Normal Livre” e “Normal Getúlio Vargas”. Também foi prefeito de Sorocaba de 1927 a 1929, e vereador por três mandatos, de 1948 a 1959, presidindo a Câmara em 1927 e 1952. Fundador da Associação Sorocabana de Imprensa (ASI), presidiu a entidade no biênio 1941-1942. Foi técnico da Seleção Sorocabana de Futebol em 1941. Morreu em 9 de fevereiro de 1961, com 63 anos de idade.Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul