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Com estilo excêntrico, Muhammad Ali teve carreira de glórias
4 de junho de 2016, sábado. Há 8 anos
Muhammad Ali é venerado nos Estados Unidos não só pelo talento no boxe, mas também pelas suas posições políticas. Mas, nem sempre foi assim.

Muhammad Ali, na juventude, foi um homem controvertido, inquieto, agressivo, irreverente. Teve uma carreira de glórias, mas dizia que a única coisa que importava era ser um bom muçulmano e ajudar os outros. Foi a grande estrela de um esporte violento, mas terminou a vida como um homem de paz.

Ele mesmo dizia que era o maior. "É difícil ser humilde quando se é tão grande quanto eu sou."

O boxeador media 1,90m, fisicamente era imponente, mas tinha uma personalidade ainda maior, que dominou as manchetes desde os anos 1960.

Ainda amador, com seu nome de batismo, Cassius Clay, foi campeão olímpico em Roma, em 1960. De volta para casa, em Louisville, no Kentucky, o boxeador foi xingado por racistas como "O negro olímpico". Irritado com o preconceito, teria jogado a medalha de ouro em um rio. Ele nunca confirmou essa história, e dizia simplesmente que havia perdido a medalha.

No boxe profissional venceu 56 lutas e perdeu apenas cinco. Em 1964, derrotou Sonny Liston e se tornou campeão mundial dos pesos pesados.

"Cassius Clay é um nome de escravo. Não o escolhi, não o quero. Sou Muhammad Ali, um nome livre."

Converteu-se à religião muçulmana e mudou o nome para Muhammad Ali. Mas foi também um gesto político: era seguidor de Malcolm X, o líder mais radical na luta pelos direitos civis dos negros americanos.

"Vou lutar não por mim, mas para erguer meus irmãos que dormem no chão hoje na América. Negros que não têm o que comer, que não têm futuro".

Tinha um estilo excêntrico, inigualável, dançando em torno do adversário, até desferir golpes ultrarrápidos. "Eu algemei o raio e joguei o trovão na cadeia", ele dizia.

Desferia também frases de efeito, em geral rimadas, com a mesma rapidez dos golpes. Um precursor dos rappers. "Voo como borboleta, dou ferroada como abelha".

Três anos depois do primeiro título, foi convocado pelo Exército para a guerra no Vietnã. Mas recusou-se: "Não tenho nada contra os vietcongues", disse.

Foi condenado a cinco anos de prisão e perdeu o título mundial. Recorreu à Suprema Corte e ganhou, alegando motivos religiosos para não servir. Foram três anos fora dos ringues.

Em 1971, enfrentou Joe Frazier, que ali chamava de "O gorila". Com os dois até então invictos, foi à luta do século. Frazier venceu por pontos, depois de 15 rounds de um duelo em que ambos saíram muito machucados. Eles voltaram a se enfrentar duas vezes - duas vitórias de Ali.

Em 1974 Ali recuperou o cinturão de campeão mundial, em outro embate histórico: com George Foreman, no então Zaire, hoje República Democrática do Congo.

A luta foi imortalizada no documentário "Quando éramos reis", que ganhou o Oscar em 1997. Ali usou uma tática quase suicida: deixou Foreman bater até ele se cansar. E então liquidou o duelo no oitavo assalto.

Em 1978, ele perdeu, mas logo recuperou novamente o título mundial. Mas já estava apresentando sinais de declínio. Deixou os ringues em 1981 e logo recebeu o diagnóstico: estava com Parkinson.

"Talvez o Parkinson seja um lembrete de Deus sobre o que é importante. Me fez escutar mais do que falar. Agora prestam mais atenção ao que eu digo porque não falo tanto."

Apesar das limitações físicas, viajou pelo mundo em missões humanitárias. Negociou a libertação de americanos presos por Saddam Hussein no Iraque. Visitou crianças doentes em Cuba e apresentou truques de mágica para Fidel Castro.

Visitou o líder sul-africano Nelson Mandela, que acabava de sair da prisão. Mandela, que chegou a lutar na juventude, considerava Ali um ídolo.

Em 1996, um momento de grande emoção. Não se sabia quem seria o atleta que acenderia a pira olímpica em Atlanta. Quando Ali apareceu, andando com dificuldade, o mundo veio abaixo.

Logo após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, viajou ao Afeganistão como mensageiro da paz das Nações Unidas.

"Me dói ver muçulmanos envolvidos com ódio e violência. Islã significa paz".

Em 2005, Muhammad Ali recebeu do presidente George W. Bush, na Casa Branca a medalha presidencial da liberdade - a mais importante dada a um civil nos Estados Unidos.

O homem que décadas antes tinha desafiado o governo parecia bem à vontade com a homenagem. Muhammad Ali deixou nove filhos, de quatro casamentos. Mas acima de tudo ele deixou um legado de coragem, integridade, compaixão e graça na adversidade.

Fonte: g1.globo.com

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