' O Itinerário da viagem de D. Pedro a Minas Gerais, duzentos anos atrás. Por Ildeu de Castro Moreira, consulta em revistacienciaecultura.org.br - 09/09/2024 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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O Itinerário da viagem de D. Pedro a Minas Gerais, duzentos anos atrás. Por Ildeu de Castro Moreira, consulta em revistacienciaecultura.org.br
9 de setembro de 2024, segunda-feira.
Itinerário da viagem de D. Pedro a Minas Gerais, duzentos anos atrásIldeu de Castro Moreira, presidente de honra da SBPC, registra esta viagem importante, mas raramente mencionada na história do Brasil

Entre 25 de março e 25 de abril, colocarei aqui, dia a dia, o trajeto da viagem de D. Pedro a Minas, entre março e abril de 1822. Tais informações serão baseadas no excelente livro informativo de Eduardo Canabrava, “D Pedro – Jornada a Minas Gerais em 1822”, e no relato de Estevão Ribeiro de Resende (depois Marquês de Valença), que acompanhou D. Pedro e fez o relato de suas atividades nos diversos locais em que passaram. D. Pedro foi a Minas em busca de apoio político contra as Cortes Portuguesas e para debelar uma possível rebelião, que poderia emergir da instalação de uma junta de Governo Provisório em Vila Rica (Ouro Preto), que ocorrera algum tempo antes.

Foi a primeira vez que viajou para o interior do país. Nela, ele agiu com ousadia e com estratégia política e militar: angariou apoios, exonerou comandantes de forças e substituiu o governo de Minas. Recebeu o apoio de grandes fazendeiros, de elites locais e das câmaras de vereadores nas cidades maiores.

Saiu do Rio de Janeiro em 25 de março de 1822, acompanhado de um séquito pequeno de cinco auxiliares diretos, três ajudantes e três soldados, e no dia 25 de abril, depois de um retorno rápido em apenas 5 dias, estava no Teatro Real de São João, no Rio de Janeiro. Segue o trajeto da viagem de D. Pedro a Minas Gerais.

Dia 25 de março

D. Pedro e sua pequena comitiva saem cedo do Palácio de São Cristóvão, no dia 25 de março de 1822, e se dirigem ao cais próximo. Daí, segue de barco até o Porto da Estrela (Mapa 1), onde desembarcam e seguem a cavalo até a Fazenda do Padre Correia (ainda existente em Correias, Petrópolis), passando pela Fazenda da Mandioca de Langsdorff, subindo a serra, cruzando a Fazenda do Córrego Seco (atual Petrópolis) e, também, a Fazenda da Samambaia (Mapa 2). Neste dia devem ter percorrido em torno de 12 léguas (cinco até o Porto da Estrela, duas até a Mandioca.

Na ausência de D. Pedro, cabia a José Bonifácio a chefia do governo
23 de março de 1822, sábado (Há 202 anos)
 Fontes (1)

Dia 26 de março

No dia 26, a comitiva de D. Pedro deixa a Fazenda do Padre Correia (Imagem 2) e percorre cerca de 16 léguas, seguindo em boa parte pelo vale do Piabanha, e depois desviando-se para a esquerda, até cruzar o Paraíba e chegar ao Registro do Paraíba (Mapa 3).

D. Pedro deixa a Fazenda do Padre Correia
26 de março de 1822, terça-feira (Há 202 anos)
 Fontes (1)

Ali pernoitam, depois de passarem por vários logradouros, ranchos, engenhos e fazendas: Ponte do Rio Piabanha, Olaria, Rancho da Fazenda Sumidouro, Sítio do Alferes Caetano, Fazenda do Secretário, Rancho do Fagundes, Rancho da Pampulha, Rancho Boa Vista, Fazenda da Cebola, Rancho da Cruz, Fazenda do Governo, Engenho do Barbosa, Engelho do Silva e Encruzilhada.

Neste dia, D. Pedro enviou uma carta a José Bonifácio, que começava assim: “Meu amigo, nu em pelo, pego da pena para lhe participar que vamos bem”.

Dia 27 de março

D. Pedro e sua comitiva deixam o Registro do Paraíba e percorrem cerca de cinco léguas, em caminho “dificultoso” até o Registro do Paraibuna, onde passarão a noite (Mapa 5). Nesta jornada passam pela Fazenda da Cachoeira e pela Fazenda do Paiol.

Dia 28 de março

A comitiva de D. Pedro sai no dia 28 de março, pela manhã, do Registro do Paraibuna e adentra a província de Minas Gerais, subindo encostas e morros, e percorrem cerca de cinco léguas e meia até o pouso seguinte. Passam por rocinhas, pela Fazenda da Várzea e pela Freguesia de Nossa Senhora da Glória (Simão Pereira) até atingirem o terceiro posto de controle e alfândega do caminho, o Registro de Matias Barbosa, onde pernoitam.

Dia 29 de março

A comitiva de D. Pedro sai do Registro de Matias Barbosa pela manhã e percorre cerca de 10,5 léguas, no dia 29 de março de 1822, até o destino final daquele dia, Chapéu d’Uvas (no atual município de Juiz de Fora, cerca de 40 km). Eles seguem, em boa parte, o trajeto do rio Paraibuna, passam por vários ranchos, fazendas e rocinhas, sobem o Morro dos Arrependidos – onde D. Pedro, seguindo a tradição dos tropeiros, coloca uma cruz de madeira – ultrapassam o Rancho do Marmelo e o do Juiz de Fora, cruzam outras rocinhas, alcançam a Estiva e chegam a Chapéu d’Uvas

Dia 30 de março

A comitiva de D. Pedro percorreu o trajeto mais curto da viagem: cerca de três léguas entre Chapéu d’Uvas e a Rocinha de João Gomes. Passaram por alguns ranchos e rocinhas até atingirem as margens do Rio Palmira e chegarem à Rocinha de João Gomes. que se tornaria a cidade de Palmira em 1890. Em 1932, a cidade receberia o nome de Santos Dumont em homenagem ao ilustre inventor e cientista (Imagem 6), filho da terra nascido em Cabangu, a 16 km de distância do centro da cidade. A casa em que nasceu Santos Dumont foi transformada no Museu de Cabangu (Imagem 7), mas tem passado por muitas dificuldades com a insuficiência de recursos públicos para sua manutenção nos últimos anos, ocasionada pela incúria e a irresponsabilidade governamentais, refletindo o descaso continuado que acomete a maioria dos museus brasileiros.D. Pedro e sua comitiva subiram a Serra da Mantiqueira, depois de deixarem seu pouso na Rocinha de João Gomes. Percorrem cerca de léguas até a Fazenda da Borda do Campo, onde pernoitam. Segundo as pesquisas de Eduardo Canabrava é mais provável que a comitiva de D. Pedro tenha seguido o caminho do meio (que segue pelo vale do ribeirão da Mantiqueira), no mapa abaixo, para subir a Serra da Mantiqueira, cruzando gargantas e cursos d’água e galgando o “paredão matagoso”. Passaram por Pinho Velho, Pinho Novo, Rancho do Engenho, Boa Vista, Batalha e Confisco antes de chegarem à Borda do Campo.A Fazenda da Borda do Campo, que existe até hoje (Imagem 8) e está situada no município de Antônio Carlos, teve um papel importante na história de Minas Gerais. A primeira construção no local foi feita, em 1698, pelos bandeirantes Garcia Rodrigues Paes e seu cunhado Domingos Rodrigues da Fonseca Leme, e foi o núcleo inicial do povoamento na região de Barbacena. Em 1749 passou às mãos de José Aires Gomes, filho de João Gomes; era um rico proprietário que se tornou inconfidente. A fazenda foi palco de reuniões de inconfidentes, como Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que era amigo de José Aires. Este foi deportado para Moçambique, e ali faleceu, depois de condenado pela sua participação na conjuração. Na fazenda existe ainda a capelinha, erguida em 1711, em homenagem a Nossa Senhora da Piedade (Imagem 9) e dois relógios solares que foram talhados em pedra, em 1767 (Imagem 10). Trata-se de um dos conjuntos arquitetônicos mais belos e antigos de Minas Gerais e é propriedade, desde o século XIX, do ramo mineiro da família dos Andradas.Dia 1 de abrilNeste dia, D. Pedro e sua comitiva chegam à Vila de Barbacena após saírem da Fazenda da Borda do Campo e percorrerem cerca de duas léguas e meia (Mapa 11). Ali passam o dia e pernoitam. No caminho passaram pelo Rancho Novo e pela Fazenda do Registro Velho, então propriedade do Padre Manoel Rodrigues da Costa, que tinha sido um dos participantes da Conjuração Mineira. Condenado à morte, em 1789, teve sua pena transformada em degredo em Portugal, onde permaneceu por uns dez anos. Dotado de personalidade dinâmica, tentou vários melhoramentos em sua fazenda e se tornou amigo de D. Pedro I, que se hospedou na sua casa na sua segunda ida a Barbacena (Imagem 11). O desembargador Estêvão Ribeiro de Resende, que acompanhava D. Pedro, relatou a recepção ao Príncipe e as atividades que desenvolveu na Vila de Barbacena (Imagem 12). Padre Manuel, que seria membro da Assembleia Constituinte em 1823, assinou a carta que autoridades, fazendeiros, vereadores e outros membros da elite local entregaram a D. Pedro, no dia 1 de abril de 1822 (Imagem 13), criticando o governo provisório da Província e pedindo a sua substituição. Na imagem 14, se vê a Praça de Barbacena, em 1842, quando da Revolução Liberal, vinte anos após essa passagem de D. Pedro.Dia 2 de abrilD. Pedro e comitiva saem de Barbacena para São João del Rei, mas o caminho escolhido é bem mais longo e tortuoso (Mapa 12) do que os outros dois utilizados na época (o que passa por Barroso, mais ou menos no atual trajeto da estrada de rodagem) e o que passa por Prados. A ida por este caminho se deve ao fato de que D. Pedro queria passar pela Fazenda do Pouso Real (no atual município de Piedade do Rio Grande, e que parece não existir mais) de familiares de seu acompanhante, e braço direito nesta viagem, Eugênio Ribeiro de Resende. A fazenda, onde a comitiva pernoita, pertencia ao casal capitão José dos Reis e Maria Clara de Resende Reis, irmã de Estêvão, e a passagem por ela tinha também interesse estratégica pela importância da família na disputa pelo poder em Minas. Geraldo Ribeiro de Resende, irmão de Estêvão e de Maria Clara, era comandante do regimento de milícias (não confundir com as atuais “milícias”) da Comarca do Rio das Mortes e teria papel importante nas ações de D. Pedro para derrubar o Governo Provisional em Ouro Preto. A comitiva neste dia percorre cerca de oito léguas e meia, depois de chegar à Fazenda da Ponte Nova, cruzar o Rio das Mortes, passar por Ilhéus (hoje, Padre Brito) e pelo local denominado Montevidio. A imagem 15 retrata Estêvão Ribeiro de Resende (1777-1856), que posteriormente teve papel relevante na política brasileira, tendo sido duas vezes ministro do Império, na década de 1820, deputado por Minas Gerais e depois senador entre 1826 e 1856. Recebeu o título da Marquês de Valença, das mãos de D Pedro em 1829.

Dia 3 de abril

D. Pedro e seus acompanhantes deixam a Fazenda do Pouso Real e, depois de uma jornada de cerca de sete léguas, chegam pelas duas da tarde a São João del Rei (Imagem 16). No caminho passam por São Francisco do Onça (atual Emboabas), pelas fazendas da Casa Velha e da Pedra Branca e pelo Morro Grande. No caminho de chegada a comitiva foi recebida por uma guarda de honra e, na vila de São João del Rei, D. Pedro recebeu muitas manifestações das autoridades, elites locais e da população ou, segundo Estêvão Ribeiro de Resende, do “clero, nobreza e povo”. Em São João del Rei irão permanecer até o dia 6 de abril pela manhã.

Carta do príncipe regente a José Bonifácio
3 de abril de 1822, quarta-feira (Há 202 anos)
 Fontes (1)



Dias 4 e 5 de abril

Nos dias 4 e 5 de abril de 1822, D. Pedro permaneceu em São João del Rei (Imagem 17). Quando chegou na vila, foi recepcionado com grandes festas, como relatado por Estêvão Ribeiro. Seis grandes arcos foram colocados do início da cidade por onde D Pedro chegou até a entrada da Matriz de Nossa Senhora do Pilar (Imagem 18) e vivas foram feitas “ao Príncipe, a D João VI, à constituição, à religião e à dinastia dos Bragança”. Um dos arcos, o mais rico deles em “gosto e riqueza” foi oferecido por João Batista Machado, um português e negociante mais rico da vila, que, pelo seu apoio à Santa Casa e à igreja local e por ter sido o mecenas da pintura no teto da Matriz, foi ali retratado, ao lado de um anjo, em 1816 (Imagem 19). Na Imagem 20, o final do relato de Estêvão Ribeiro sobre a recepção a D. Pedro.

A manifestação da Câmara local a D. Pedro foi politicamente bem mais cuidadosa do que a de Barbacena pois de certa forma ´passava pano´ nas decisões da Junta de Governo em Vila Rica (Ouro Preto) e não a condenava, embora reconhecesse D. Pedro como interlocutor privilegiado. A representação de Barbacena, possivelmente articulada pelo padre inconfidente Manoel Rodrigues da Costa, era bem mais dura e pedia a destituição do Governo Provisional.

Com sua liderança reconhecida, e amparado pelas manifestações das autoridades das duas importantes vilas e das animadas recepções da população, além de já ter recebido o apoio dos comandantes dos regimentos de milícias das comarcas do Rio das Mortes e do Rio das Velhas – face a um possível enfrentamento com a Junta de Vila Rica – D. Pedro escreveu confiante, no dia 3 de abril, para José Bonifácio, que estava coordenando as ações do governo no Rio de Janeiro: “Começaram as hostilidades, triunfará o grande Brasil; e os tolos que nele existem tomarão juízo ou perderão o que só Deus lhes pode dar.”

Dia 6 de abril

D. Pedro e sua comitiva deixam São João del Rei, passam e ficam algum tempo em São José del Rei (atual Tiradentes), a cerca de duas léguas de distância, e depois seguem caminho para a Fazenda da Cachoeira, na atual Lagoa Dourada, onde pernoitam. O trajeto todo tem cerca de sete léguas (Mapa 14).Em São José (Tiradentes), D. Pedro também foi recepcionado com festas, como está no relato de Estêvão Ribeiro, reproduzido no livro de Eduardo Canabrava (Imagem 21). Note que o Tenente-Coronel G. ali referido é o irmão de Estevão, Geraldo Ribeiro de Resende ao qual já nos referimos em postagens anteriores.De São José del Rei, D. Pedro e seus acompanhantes passam pelo Arraial do Bichinho, Fazenda do Pinhão, Arraial dos Prados, contornando a Serra de São José, e, depois de cruzarem o rio Carandaí, chegam à fazenda de destino naquele dia. A Fazenda da Cachoeira, cuja sede deve ter sido construída em meados do século XVIII, pelo português Severino Ribeiro, casado com Josefa Maria de Resende, que eram os pais de Estêvão e de Geraldo Ribeiro de Resende. Ele também fora Coronel do Regimento de Milícias de São João del Rei. Na época em que D. Pedro pernoita na Fazenda ela possivelmente era dirigida pelos filhos, já que Severino já havia falecido em 1800. Nos anos seguintes as referências à fazenda apontam que Estêvão passara a ser o proprietário (único?). A Fazenda da Cachoeira, reproduzida na bela foto (Imagem 22), talvez centenária ou quase, não resistiu à destruição do tempo e ao vandalismo dos homens, em especial depois dos anos 1960, e dela talvez restem apenas as ruínas dos alicerces, se tanto.Dia 7 de abrilD. Pedro e seus companheiros de viagem saem da Fazenda da Cachoeira (no atual município de Lagoa Dourada) e cavalgam por cerca de sete léguas até o Arraial de Santo Amaro (atual Queluzito). Havia duas alternativas de caminho e, pelo que apurou Eduardo Canabrava, eles escolhem o trajeto que, a partir da Fazenda do Mendanha, passa pela Fazenda São Francisco, Fazendo do Engenho Grande, Fazenda dos Cataguazes e Fazenda da Pedra (ainda existente, Imagem 23). Pouco depois da Fazenda do Córrego Fundo, o caminho vai na direção norte, cruzando o atual município de Casa Grande, passa pela Fazenda do Pombal e eles, depois de cruzaram o Rio Paraopeba, atingem o Arraial de Santo Amaro, onde pernoitam. Quando estavam na Fazenda dos Cataguazes, segundo o relato de Estêvão Ribeiro, dois membros da Junta de Governo Provisório de Vila Rica, que ele denomina de “o desembargador F. e o Coronel F.” vieram oferecer submissão e obediência a D. Pedro. Em seu estilo impulsivo ele lhes disse: “ á é tarde!”. Mas “S. A. R. consentiu generosamente que eles tivessem a honra de o acompanhar.” Tratava-se do desembargador Manoel Inácio de Melo e do coronel José Ferreira Pacheco. Uma curiosidade: Estêvão Ribeiro, acompanhante e depois transformado em secretário de D Pedro nesta viagem, e que fez o principal relato dela, foi o pai de Geraldo Ribeiro de Sousa de Resende (1846-1907), o Barão Geraldo, grande e rico fazendeiro, dono da Fazenda de Santa Genebra, a maior produtora de café em SP, e cujo nome foi dado ao bairro de Campinas onde se situa a Unicamp.Dia 8 de abrilNeste dia, D. Pedro e sua comitiva se dirigem, a partir de Queluzito, para a Fazenda do Capão do Lana (a três léguas de Vila Rica), passando pela vila de Queluz, atual Lafaiete. O trajeto todo é de aproximadamente nove léguas (Mapas 17 e 18). No primeiro trecho até Queluz (Mapa 17, bem mais curto, passam pela Fazenda Bandeirinha; no segundo trecho, passam por algumas fazendas, pelo Arraial do Ouro Branco, contornam a Serra do Ouro Branco, cruzam por Itatiaia e chegam ao Capão do Lana, onde havia uma famosa hospedaria pela qual passaram muitos viajantes e naturalistas. Hoje da fazenda só restam ruínas (Imagem 24). Em Queluz, D. Pedro teve recepção festiva de autoridades e da população, como descreve Estêvão Ribeiro, e recebe uma representação de apoio e obediência das principais autoridades e da elite local (Imagem 25). No entanto ao tomar conhecimento, logo após o jantar, da situação em Vila Rica (Ouro Preto), onde o Governo Provisional parecia querer resistir, ainda mais que tinham formado um Batalhão de Caçadores, expediu ordens para que os três regimentos de milícias da Comarca de Rio das Mortes partissem para as imediações de Vila Rica. Determinou também a prisão do Tenente Coronel José Maria Pinto Peixoto, que era ali comandante das armas e decidiu deslocar-se, no mesmo dia, para o Capão do Lana, nas proximidades de Vila Rica, onde chegou às dez horas da noite. Na Imagem 26 vê-se a vila de Queluz, vinte anos depois, durante a Revolução Liberal de 1842.Dia 9 de abrilNeste dia, pelas seis horas da tarde, D. Pedro entra triunfalmente em Vila Rica, saindo de Capão do Lana, a cerca de três léguas de distância (Mapa 19). Passou por Água Fria, José Correia, Boa Vista, Fazenda do Chá dos Crioulos, Três Cruzes e Tripui. O dia havia sido agitado. Logo pela manhã, várias pessoas de Vila Rica, inclusive alguns oficiais e soldados, foram a D. Pedro pedindo que ele entrasse logo na vila porque, “à exceção de alguns amotinadores”, a população e a tropa estavam ansiosas no seu aguardo. No mesmo dia, chegou a ele uma manifestação de apoio da Câmara de Sabará, assim como do regimento de milícias da Comarca do Rio das Velhas, liderado por Pedro Gomes Nogueira. Dias antes, o Bispo e a Câmara de Mariana já haviam lhe declarado apoio, o que deixava isoladas as autoridades de Vila Rica. No entanto, D. Pedro, dentro de sua estratégia político-militar, fez uma exigência às autoridades do Governo Provisório antes de entrar em Vila Rica: deveriam primeiro reconhecê-lo como “Príncipe Regente Constitucional do Reino do Brazil, prestando-Lhe a devida submissão e respeito como Centro do Poder Executivo deste Reino do Brazil”. O recado foi claro: ele entraria em paz se recebido com as devidas honras e submissão ou não o faria deste modo; a opção de uma entrada posterior à força estava implícita.D. Pedro encarregou os dois membros da Junta de governo, que haviam ido se encontrar com ele anteriormente, de levarem sua mensagem às autoridades locais (Imagem 27). A Junta respondeu no mesmo dia, reconhecendo “S.A.R, o Senhor D. Pedro de Alcântara, Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, como Regente Constitucional do Brasil (…) expressando mais os votos da sua constante veneração e obediência às determinações do Mesmo Augusto Senho.” O Tenente Coronel Pinto Peixoto foi encaminhado ao Capão do Lana, onde negociou e reviu sua posição, tendo sido garantida a ele sua promoção a Brigadeiro Graduado. Por outro lado, D. Pedro habilmente articulou para que, em uma demonstração de apaziguamento dos espíritos, ele entrasse em Vila Rica escoltado pelo próprio Pinto Peixoto, seu adversário de véspera e que havia liderado, em 1821, o processo de instituição da Junta de Governo. Recorde-se que, no dia anterior, D. Pedro havia decretado a prisão de Pinto Peixoto, mas o encarregado da missão, tenente coronel José da Silva Brandão, relutou em cumpri-la pelas dificuldades operacionais, o que indicava também a possibilidade de resistências. D. Pedro agiu de forma conciliadora, mas firme, tendo a seu lado os regimentos de milícias das comarcas do Rio das Mortes e do Rio das Velhas. Assim, no final do dia 9 de abril, D. Pedro entrou vitoriosa e triunfalmente em Vila Rica, ladeado por Pinto Peixoto, o que simbolicamente transmitiu também a imagem de um príncipe firme, mas defensor da justiça e generoso com os adversários.

Dias 10 a 16 de abril

Depois de terem percorrido cerca de 97,5 léguas, D. Pedro e comitiva chegaram a Vila Rica (Imagem 28), no final da tarde do dia 9 de abril de 1822. Nesse dia, ainda em Capão do Lana, D. Pedro havia assinado o decreto, já elaborado desde 22 de março no Rio de Janeiro, no qual exonerava a junta do Governo Provisional: “… hei por bem cassar o presente governo…”. Segundo Estêvão Ribeiro de Resende: “No dia seguinte, 10 de abril, começou S. A.R. a dar providências para o inteiro restabelecimento da paz, segurança e tranquilidade dos habitantes de Vila Rica; declarou ao governo as atribuições que lhe pertenciam; mandou dissolver o corpo de caçadores, ilegalmente criado, e que tanto mal faz à província…”. D. Pedro fez, em Vila Rica, uma declaração à população local nos seguintes termos: ”Briosos Mineiros, os ferros de Despotismo começados a quebrar no dia 24 de Agosto no Porto rebentaram hoje nesta Província. Sois livres. Sois Constitucionais, uni-Vos comigo e marchareis constitucionalmente. Confio tudo em vós; confiai todos em Mim. Não vos deixeis iludir por essas cabeças que só buscam a ruína da vossa Província, e da nação em geral. Viva El-Rei Constitucional. Via a Religião. Viva a Constituição. Vivam todos os que forem honrados. Vivam os mineiros em geral.” (Imagem 29: D. Pedro em agosto de 1822, por Simplício Rodrigues de Sá.)

Entre os dias 10 e 21 de abril de 1822 D. Pedro permaneceu em Vila Rica e tomou decisões sobre a reestruturação do poder e da administração local, por meio de muitas portarias. Convocou eleições para a definição do novo Governo Provisório, para 20 de maio, estabeleceu as atribuições do novo governo, restringiu seu poder e extinguiu as comissões de Fazenda e Militar, dissolveu o batalhão de caçadores, libertou preso político, substituiu o governador das armas na Província e tomou diversas outras medidas. As portarias eram assinadas por Estêvão Ribeiro em nome de “S.A.R. o Príncipe Regente” e a partir do “Paço de Villa Rica”. No dia 15 de abril D. Pedro foi a Mariana (Imagem 30) tendo sido também recebido com festas e manifestações de apoio. Continuou a fazer contatos e articulações em Vila Rica no sentido de obter o apoio geral das elites de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Enquanto isto, no Rio de Janeiro, o Ministro dos Negócios Exteriores, José Bonifácio, em sintonia com D. Pedro, com o qual trocou várias cartas no período da viagem, tomava medidas para superar dificuldades, e para detectar e prender possíveis adversários.

Dias 17 a 20 de abril

No dia 17 de abril de 1822, estando em Vila Rica, e se preparando para voltar ao Rio de Janeiro, D. Pedro faz uma Proclamação aos Mineiros (Imagem 31), que enviaria posteriormente para seu pai D João VI. Em Carta Régia, enviada à Câmara de Sabará no dia 19 de abril, lamentou não poder ir àquela vila, onde era esperado, por causa de “circunstâncias que urgem Minha Presença no Rio de Janeiro”, mas que “… não podia deixar de vos agradecer, louvar e bem dizer, pelo honrado e heróico comportamento e intrepidez, com que vos haveis mostrado a bem da Nação em geral e do Grande Brasil. (…) O Sabará existirá na minha lembrança, enquanto Vila tiver, e contai que hei de fazer todas as diligências, segundo me permitirem os negócios públicos, para voltar a Província, de quem me aparto saudoso, fazendo caminho para esta capital pela vossa Comarca, a fim de vos mostrar o meu reconhecimento.” Assim como Barbacena (Título: “Nobre e Muito Leal”), Sabará receberia, em 1823, o título de “Fidelíssima”, por decreto de D. Pedro I, pela pronta adesão e apoio à causa da Independência (Imagem 32).

No dia 19 de abril, assinou o Decreto no qual determinava que o ex-Comandante das Armas da Província, José Maria Pinto Peixoto, “que ora parte em outro serviço para a Corte do Rio de Janeiro”. Nomeou em seu lugar o Marechal de Campo Antônio José Dias Coelho (imagem 33). Outro membro do governo provisório anterior, enviado para o Rio de Janeiro, foi o juiz-de-fora Cassiano Espiridião de Melo Matos.

José Bonifácio havia alertado D Pedro, em carta de 31 de março, sobre a importância de punir os principais líderes revoltosos: “Será conveniente que V.A.R., apesar da bondade de seu coração, não tenha piedade do famoso Lopes [João José Lopes Mendes Ribeiro, secretário do governo da Junta], do secretário Juiz-de-Fora de Villa Rica e do Pinto, cabeças dos revoltosos.”

José Bonifácio, em carta, alerta D Pedro sobre a importância de punir...
31 de março de 1822, domingo (Há 202 anos)
 Fontes (1)

Dia 21 de abril

Neste dia, D Pedro, com uma pequena comitiva deixou Vira Rica pela manhã com destino ao Rio de Janeiro. A volta ao Rio foi rápida e sem qualquer interrupção para recepções ou homenagens. Em apenas quatro dias e meio, venceram o longo trajeto de mais de 70 léguas, percorrendo cerca de 100 km por dia. No caminho de volta, D. Pedro não passou por São João del Rei, tendo seguido o trajeto mais curto do Caminho Novo, possivelmente aquele indicado pelos mapas de Eduardo Canabrava (Mapa 20), de Queluz até a Fazenda das Taipas (em Pedra do Sino, Carandaí, e da qual hoje só restam ruínas), e daí até Barbacena (Mapa 21). Dali para frente devem ter seguido o mesmo caminho da vinda a MG. No dia 25 de abril, já no Rio de Janeiro, D. Pedro fez uma aparição impactante no Teatro Real de São João, na atual Praça Tiradentes (Imagem 34). A plateia, que o julgava em MG, o aplaudiu intensamente ao que D. Pedro interrompeu-os com um gesto e anunciou: “Em quatro dias e meio vim de Vila Rica. Lá está tudo tranquilo.” A ovação recrudesceu.

Antes de deixar Vila Rica, D. Pedro havia feito a Proclamação aos Mineiros, que enviou a seu pai D. João VI, logo depois de chegar ao Rio, no dia 26 de abril. Enviou-lhe também uma carta na qual sintetizou o que ocorrera na viagem e suas perspectivas: “Dou parte a Vossa Magestade, que tendo-se o governo de Minas Geraes querido se mostrar superior a mim, e às Cortes, fui lá, e mandei convocar os eleitores para elegerem outro. (…) Antes de lá chegar as villas differentes da estrada me fizeram as representações, que remeto pela secretaria do Reino. Hontem cheguei, em quatro dias e meio. Por cá vai tudo mui bem, se lá formos considerados como irmãos, tanto melhor para um como para outro hemisfério; mas se o não formos ir-nos ha melhor a nós Brasileiros, que aos Europeos malvados, que dizem uma cousa, e tem outra no coração.”

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