A geopolítica nos mapas dos Reinéis, Lopo Homem e Diogo Ribeiro: a América do Sul e o Brasil na cartografia ibérica entre os tratados de Tordesilhas e Saragoça (data da consulta) - 27/10/2024 de ( registros)
A geopolítica nos mapas dos Reinéis, Lopo Homem e Diogo Ribeiro: a América do Sul e o Brasil na cartografia ibérica entre os tratados de Tordesilhas e Saragoça (data da consulta)
representação do território, podendo ser mais ou menos preciso, mas tal como menciona Harley (2009) “osmapas são um meio de imaginar, articular e estruturar o mundo dos homens”. A partir desses elementosserão analisados os mapas de Lopo Homem, dos Reineis e de Diogo Ribeiro2, com destaque arepresentação do Brasil, nas três primeiras décadas após a chegada de Pedro Álvares Cabral. Trataremos,portanto, da primeira fase de colonização das terras americanas pelos europeus.32. Análise cartográfica: proposta de abordagem a partir da geopolíticaA seleção de mapas aqui apresentada, nos ajuda a compreender a colonização da América do Sul sob doisprismas: 1) a divisão proposta pelo Tratado de Tordesilhas. Sobre isso, nos atentando apenas sobre osplanisférios por enquanto, devemos destacar a) a disposição do meridiano correspondente às possessõesdas duas coroas ibéricas em cada um dos mapas e b) o posicionamento do meridiano em relação aoterritório brasileiro. O segundo prisma corresponde 2) aos interesses comerciais de colonização defranceses na costa brasileira.Sobre o primeiro aspecto é notável que o meridiano de Tordesilhas esteja projetado na área central dosplanisférios, pois releva em primeiro lugar a importância atribuída pelos cartógrafos ao Tratado. Nosatenhamos a isso por enquanto. O contexto histórico deste acordo remonta ao início das explorações noAtlântico por Portugal e Castela e, principalmente, após a chegada de Cristovão Colombo, em 1492, a umespaço até então desconhecido aos europeus que trouxe novos interesses aos atores políticos e econômicosdas principais potências que se lançavam ao Atlântico.
Seguiram-se, assim, de imediato uma série de negociações entre Portugal e Castela, arbitradas pelo PapaAlexandre VI, o Espanhol, que levariam à assinatura, um ano após a primeira viagem de Colombo, de umasérie de bulas papais: Inter cætera I (de 3 de maio de 1493); Inter cætera II (4 de maio de 1493); Eximiaedevotionis (3 de maio de 1493); Piis fidelium (25 de junho de 1493). No ano seguinte, os direitos denavegação e exploração no eixo atlântico foram renegociadas diretamente entre Portugal e Castela, sendofinalmente definido o Tratado de Tordesilhas, ratificado pelo Papa Julio II, apenas em 1506. Este acordosó será modificado pelo Tratado de Saragoça, em 1529, o qual estabelece o contrameridiano à oriente. [Página 2 do pdf]
a presença portuguesa no território brasileiro, diante o aumento da presença francesa e da nova disputapelos limites ao sul da América Meridional. Na ocasião, Cristovão Jaques encontrou três naus bretoas asquais duas causou o naufrágio e a outra capturou. Isso evidencia o interesse na manutenção do monopóliocomercial, mediante a ameaça estrangeira. Sobre isso é particularmente interessante a presença dascaravelas representadas no mapa do Brasil, marcadas pela Cruz de Cristo. Ao observar o conjunto demapas do Atlas esse fator torna-se particularmente importante, pois apenas três tipos de embarcações sãonele observados, as caravelas marcadas com a Curz de Cristo nas velas, navios marcados com a Lua,símbolo do islamismo e do império otomano, e aquelas sem nenhum marcação. Mostrando um cenáriohegemônico no Atlântico Sul e de disputa no Índico, sendo, portanto, um ótimo exemplo de demonstraçãode poder marítimo.Neste período, observa-se uma importante mudança geopolítica. Por um lado, a ascenção de Carlos Vimpõe novos desafios que dizem respeito ao próprio território continental português, forçando Portugal eFrança a adotarem uma regime diplomático mais moderado entre si. No entanto, o tráfico mercantil doAtlântico tornava-se uma fonte fundamental de renda aos mercadores franceses e, consequentemente, dacorte diante aos altos custos das guerras na Itália. Por outro lado, a conquista otomana no norte da África ea mudança na política alfândegária deste império revive as rotas comerciais terrestres do oriente, tornandoa empreitada marítima mais custosa. O regime de D. João III decide, então, concentrar esforços nos eixosoriental (África) e ocidental (Brasil) do Atlântico Sul. A disputa com o império de Carlos V, todavia,restringia a ação contra os franceses que só poderá tomar forma a partir de 1529, resolvida a questão dasMolucas, após o Tratado de Saragoça. Não é aleatório, portanto, que em 1530 têm início a ocupaçãoefetiva do Brasil, por meio da política de Capitanias.3. Considerações finaisNeste artigo apresentamos uma forma de abordagem da cartografia histórica à luz do campo de estudos dageopolítica. As cartas atuam como elementos representativos dos atores políticos e, por isso, podem nosrevelar aspectos significativos sobre o passado. Mencionamos aqui o empreendimento de caráter privado ecomercial que dá início à ocupação, ainda que insipiente, e ao próprio processo de reconhecimento edelimitação de fronteiras. Processo esse que envolveu para além das cortes e dos acordos entre os reis ointeresse comercial de navegadores e companias privadas, tal como nos informa Moares (2011: 133)E, aí, assiste-se a uma formidável associação de aspirações que unificou os distintossegmentos das classes dominantes no projeto expansionista. Magalhães Godinho observaque a perspectiva de “dilatação territorial” une Coroa, nobreza, clero e burguesia – cadauma tendo sua ótica própria ante a empresa: os setores burgueses (nacionais ou [Página 6 do pdf]