História do Brasil, Frei Vicente do Salvador. Edições do Senado Federal, vol. 131 (2010)
2010. Há 14 anos
na R. T., 73, 1, 1/258, precedidos de douta introdução por Vieira Fazenda.O documento não está completo (cf. ib. 219); mesmo assim é considerável suaimportância e apura pontos relevantes.Diogo Botelho foi o primeiro governador-geral que aportou a Pernambuco, aonde assumiu o governo a 1º de abril de 1602 e demorou mais deano e meio, enquanto na Bahia continuava Álvaro de Carvalho, deixado porD. Francisco de Sousa.A sua demora proveio de diversos casos urgentes a resolver: extinguiras despesas desnecessárias; sanar abusos decorrentes do regime donatarial, atéentão quase absoluto; atender à expansão para além do cabo de S. Roque, vasto território inçado ainda de franceses, a que mandou Pero Coelho de Sousa,cunhado de Frutuoso Barbosa; reprimir os negros dos Palmares, contra os quaismarchou Bartolomeu Bezerra (ib, 86, 151).Concorreu para alongar sua demora o receio de que Manuel deMascarenhas, capitão-mor de Pernambuco, muito mailquistado com a população, aproveitasse os restos do governo para cevar ódios e exercer vinganças;aguardou, pois, a chegada do novo capitão-mor, Alexandre de Moura, a quemempossou no cargo antes de partir.Nas certidões, depoimentos e mais papéis procedentes de Pernambuco, Diogo Botelho é abonado pela melhor gente. O próprio Manuel de Mascarenhas Homem, antes de com ele romper, exprimiu-se nos melhores e maisfavoráveis conceitos (ib., 36/39). Entretanto, Belchior do Amaral, que foi aPernambuco abrir devassa da permanência do governador, em ligeiro resumodo trabalho maior, que não se conhece, acusa-o de concussão, venalidade e atélibidinagem.O papel, guardado na Coleção Pombalina, Inventário, 249, f. 204,aonde se lê Bento, mas conforme carta de Lino de Assumpção, que examinou ooriginal (cópia na Bibl. Nac.), deve ler-se Belchior, pode não merecer grandefé, mas os atestados e depoimentos favoráveis e até encomiásticos colhidos emPernambuco deixam a mais de um respeito impressão penosa. Enjoa o alarde depeitas oferecidas a Botelho e por ele naturalmente repelidas. Incomoda o silêncioguardado a respeito de João Soromenho, a quem mandou que a câmara de Olinda, segundo esta afirmava em carta de 10 de dezembro de 1608, cópia na Bibl.Nac., entregasse mil cruzados para ir ao Jaguaribe. Tais fez João Soromenho quefoi processado perante o corregedor da corte (R.T., ib., 20) e expirou no Limoei- [p. 263]
der Does de 1599. O silêncio de frei Vicente poderá ser invocado em favor detal asserção; mas as palavras de Diogo de Campos Moreno, testemunha previdencial e figura obrigada do sucesso, bastariam para excluir desde o princípioqualquer dúvida. Novos elementos indestrutíveis a favor dos historiadores decuriados (régentés) pelo austero censor argentino pululam nos papéis de DiogoBotelho. Mesmo da parte contrária há testemunho autêntico, referido pelo malogrado Alfredo de Carvalho “O corsário Paulus van Carden na Bahia 1604”,Rev. do Inst. Geogr. e Hist. da Bahia, 16, 41/60, Bahia, 1910.Também sobre seu governo na Bahia, Diogo Botelho documentouse muito solidamente: atestados, juramento de testemunhas, etc. Não faltaramtentativas de peita e suborno. Com o bispo D. Constantino de Barradas e oelemento eclesiástico não fez boa liga.O melhor serviço do governador na Bahia foi a redução dos aimorés, cujas devastações avultaram desde que, com suas guerras de Paraguaçu,Mem de Sá destruiu a marca ou comarca de língua geral que servia de anteparo contra eles. A respeito da pacificação, em que colaborou eficaamenteÁlvaro Rodrigues, de Cachoeira, cf. Fernão Guerreiro em Almeida, Memóriasdo Maranhão, 2; cf. An. da Bibl. Nacional, 26, 346.Belchior do Amaral, escrevendo em Lisboa a 26 de julho de 1604,considerava urgente a retirada de Botelho, mas D. Diogo de Meneses e Sequeira, nomeado seu sucessor em 22 de agosto de 1606, arribou depois da partidae só chegou ao Brasil em 1608.Assumiu o governo em Olinda a 7 de janeiro, quando Botelho completava cinco anos, nove meses e sete dias. Pretendia ficar ali só até abril, masas instâncias da população detiveram-no e só em 18 de dezembro, dia de NossaSenhora do Ó, desembarcou na Bahia. Foram dias muito pouco agradáveis osde Pernambuco, porque o bipso D. Constantino de Barradas não lhe poupouvexames e humilhações. O mesmo fadário perseguiu-o na Bahia com o clero eaté com o governo da metrópole.
Botelho trouxera consigo dois mineiros, João Munhoz de Puertos eFrancisco Vilhalva, que por sua ordem se apresentaram na câmara de S. Pauloem 22 de agosto de 1603 “para fazerem suas deligências e ensaios e fundiçõesacerca do ouro e prata e mais metais que nesta capitania eram descobertos, porque no conselho real houve certas contradições ao ouro que o Sr. D. Francisco de Sousa mandou por Diogo de Quadros e outras pessoas desta capitania”, Atas,2, 134.
D. Francisco deixou-se fascinar pelos mineiros e permaneceu em SãoPaulo, ainda depois de a 18 de junho de 1602 ter passado procuração paraserem recebidos seus vencimentos na Bahia. A 9 de agosto de 1603 chegava dointerior com sua gente, Atas, 2, 132/133. Em dezembro os mineiros foram aMonserrate, ib., 139, e D. Francisco naturalmente foi com eles.
A vinda de D. Francisco e seu séquito em 1599 e em 1603 mostroua necessidade de uma casa de pasto na vila de S. Paulo. Da primeira vez encarregaram a Marcos Lopes, que teria de dez réis ou na carne, nos beijus, nafarinha, ib., 57. Da segunda foi encarregada o cigana Francisca Ruiz que teria10 réis em cada tostão, ib., 133: cf. 263.
Quando uma ordem régia transmitida por via de Diogo Botelho em 19 de março de 1605, R.T., l. c., 6, decidiu D. Francisco transpor o oceano, levou consigo os mineiros, impediu que comunicassem a quem quer que fosse o resultado das pesquisas, de “indústria e prudência” seguiu para Madri diretamente e achegou-se ao Duque de Lerme para os planos que arquitetara.
A Bibl. Nacional possui um códice comprado no leilão do Conde de Castelo Melhor com parte do expediente das negociações: basta citar o trechoseguinte:
“Enquanto a mercedes pide el titulo de Marques para sy e sus descendientes ‘de la primera tierra que poblare’ y esta merced hizo su Magd. que esta en gloria [Filipe II] a Gabriel Soares persona de la calidad que se sabe y siendo dudossa la empreza que tomaua y no teniendo hecho en ella seruº alguno a S. Magd. y que quando Francisco Barreto fue al Monomotopa se entiende que lleuo el titulo del primer lugar que poblasse concedido por el rei D. Sebastian”.
D. Francisco foi bem sucedido em suas pretensões; em 22 de janeiro de 1609 fez-se de vela, si como se lê abaixo p. 418, gastou vinte e oito dias para alcançar Pernambuco, aonde aportou a C.R.a D.Diogo de Meneses separandoem governo independente as capitanias de Espírito Santo, Rio e S. Paulo, Reg.Geral de São Paulo, 1, 196/198. Do mesmo Registro constam os poderes quelhe foram concedidos, também enumerados na Informação já citada, de PedroTaques, impressos textualmente por Melo Morais no Brasil Histórico, segundoos An. do Rio de Janeiro, inédito em grande parte, de Silva Lisboa [Páginas 265 e 266]