O Sebastianismo na iconografia popular. Pedro Vittorino
13 de fevereiro de 1923, terça-feira. Há 101 anos
Segundo Frei Bernardo da Cruz, o Cardeal D. Henrique teve a certeza da morte do Rei por carta de Belchior do Amaral que trouxe Francisco de Souza. Várias circunstâncias, porém, são dignas de nota:
Encarregado de conduzir a prata que devia acompanhar o cadáver de D. Sebastião, foi mandado à África num moço da capela real, Francisco Vieira, o qual permaneceu em Ceuta quase um ano, aguardando a liquidação do negócio, o que prova as dificuldades que o revestiam, Sousa Vitterbo, que cita este fato, comenta:
"Tamanha demora contribuiu, decerto, para suscitar na imaginação do povo a suspeita de que D. Sebastião tinha desaparecido misteriosamente e não ficara morto na batalha."
Barbosa Machado nas Memórias de El-Rei D. Sebastião refere:
Quando se celebraram as eséquias do monarca (19 de setembro de 1578) ao orador Fr. Miguel dos Santos foi ocultamente dito que reparasse como pregava porque tinha por ouvindo o rei D. Sebastião, de que resultou mandar saber do Cardeal D. Henrique se a oração havia de ser panegirica louvando aquele príncipe como vivo, ou funeral, lamentando-o como morto; e lhe foi respondido que recitasse a oração do modo que a tinha composto.
Este frade, eremita de Santo Agostinho, tendo engendrado no Madrigal, povoação espanhola onde se encontrava, um falso D. Sebastião (o terceiro) em cujo caso envolveu D. Ana da Áustria, originou um drama em que ele foi também sacrificado e levou à prisão perpétua a crédula religiosa (1595).
Nas Lendas Peninsulares, por José de Torres, Tom. II, Lisboa, 1861, a história Rei ou Impostor? romantiza este episódio, baseando-se num manuscrito dos princípios do século XVII, pertencente à biblioteca do Escurial, obra dum jesuíta testemunha da morte do rei fingido.
São curiosas as declarações do eremita incriminado feitas perante o juiz inquiridor, em abono da existência do rei, que se acham expressas no cap. XXI.[p. 11]