Diálogos das Grandezas do Brasil. Edições do Senado Federal – Vol. 134. Ambrósio Fernandes Brandão
2010. Há 14 anos
providenciava sobre a matéria, ouvida a Mesa da Consciência e Ordem. Aoadministrador se ordenava entregasse ao bispo cópias autênticas do breve emais provisões que trouxera, pertencentes a seu cargo; o bispo era advertido sobre o tratamento que dava ao administrador, a quem não devia falarpor senhoria; as bênçãos competia ao administrador dá-las aos pregadorese ao diácono; o administrador devia residir na Paraíba. – Anais de MuseuPaulista, III, 2ª parte, pp. 40-41, 48-49. As dúvidas continuaram, porquea carta régia de 5 de janeiro de 1618 providenciava para que cessassem oescândalo e desconsolação que recebia o povo com tantas excomunhões ediferenças, ibidem, pp. 53-54. Pensou-se depois em extinguir a administração eclesiástica da Paraíba e Pernambuco. Houve consulta da Mesa daConsciência nesse sentido, mas, em carta régia de 9 de fevereiro de 1622,o rei declarou que sobre a matéria se não fizesse novidade, que se tratasseantes de criar um novo bispado na conquista do Maranhão que tinha necessidade de cabeça eclesiástica para crescer e povoar-se, e em cujo distritopoderia entrar parte do que pertencia ao administrador de Pernambuco,vendo-se quanto ao restante se devia tornar ao bispo da Bahia, de ondesaiu. – J. J. de Andrade e Silva, Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa, III, pp. 65-66. A administração tinha seus dias contados. Nomeadobispo do Brasil D. Marcos Teixeira, partia para seu bispado em novembrode 1622, já trazendo debaixo de sua jurisdição a Capitania de Pernambuco.– Severim de Faria, História Portuguesa, p. 23, Fortaleza, 1903, embora talresolução só fosse tomada pela carta régia de 8 de fevereiro de 1623 – J. J.de Andrade e Silva, coleção citada, III, p. 83. Outra carta régia, de 27 desetembro de 1624, anunciava que o breve por que S. S. o Papa tornava aunir ao bispado do Brasil a administração de Pernambuco se recebeu noúltimo correio da Itália, e era enviada ao governador-geral para que lhedesse execução, ibidem, p. 126.– Conf., Varnhagen, História geral do Brasil, II, pp. 221-222, 3ªed., nota de G [p. 100]
NOTA (25)Era o recolhimento da Conceição, que Maria Rosa, dona viúva,mulher que foi de Pedro Leitão, com outras senhoras, a despesas suas oumais certo dela só, fundou em Olinda, em 1595. Nele estiveram recolhidas D. Isabel, D. Cosma e D. Luísa de Albuquerque, “irmãs por natureza,hábito, profissão e virtudes, e todas de boa fama; além de outras mais, dequem o tempo ocultou a notícia de seus nomes, e serviu de túmulo à suamemória”. – Jaboatão, Novo Orbe Serafico, II, p. 386, Rio, 1858.De Maria Rosa escreveu o Padre Antônio Pires, em carta de Pernambuco, 5 de junho de 1552, Cartas Avulsas, p. 124, Rio, 1931: “Depoisque lhes digo missas [aos índios] à tarde, ensino-lhes doutrina, e às vezeslhes prego. O intérprete é uma mulher casada, das mais honradas da terrae das mais ricas, e não vos espanteis, irmãos, em vos dizer as condiçõespor que em ser tal parece andar bêbada daquele mosto de que os Apóstolos se embebedaram, pois faz o que muitas línguas se não atreveram fazerpela mortificação que nisso sentiam... Com essa mulher confesso algumasíndias cristãs, e creio que é melhor confessora do que eu, porque é muitovirtuosa. Encomendai-a muito a Nosso Senhor.”Seu marido, cerca de 1563, foi nomeado mamposteiro dos cativos da Capitania de Itamaracá. – Varnhagen, História geral do Brasil I; p.189, 4ª edição.
Por carta régia de Filipe III, de 2 de setembro de 1603, tendo emconsideração ao muito que importava a seu serviço e acrescentamento doEstado do Brasil povoar-se de gente principal e honrada, que foi o intentocom que, do princípio do seu descobrimento se enviavam a ele cada anodonzelas órfãs de bons pais para se casarem – não houve por convenienteque se fizessem aqui mosteiros de freiras, e sim casas de recolhimento paramoças naquelas condições ou que, por ausência de seus pais nelas, se recolhessem para poderem casar com mais comodidade – J. J. de Andrade eSilva, Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa, I, p. 22.
NOTA (26)Foi Diogo Botelho o primeiro governador-geral que aportou aPernambuco, o que Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, p. 383, ed.de 1918, atribui a dois motivos: tê-lo induzido a isso Antônio da Rocha,escrivão da fazenda, que ali era casado e vinha com ele do reino, onde foracom um agravo contra o Capitão-Mor Manuel Mascaranhas, o qual lhediria das larguezas da terra, e que podia dela tirar muito interesse; ou, o queparece mais certo, para ver a capitania e as fortalezas de que havia tomado [p. 101]homenagem, e cuja defensão e governo estavam por sua conta. Ali chegoua 1º de abril de 1602, assumindo o governo em Olinda – Revista do Instituto Histórico, LXXIII, parte 1ª, p. 25. De mais de ano e meio foi sua estadaem Pernambuco; em 9 de setembro de 1603 estava prestes a embarcar paraa Bahia – ibidem, 69.
Seu sucessor, D. Diogo de Meneses, tomou posse do governoem Olinda a 7 de janeiro de 1608, e demorou-se em Pernambuco até ofim do ano. Entretanto, desde abril, diz ele: “... tendo meu fato entrouxadopara me embarcar, me veio a Câmara desta Vila pedir e requerer, e o mesmo fez o Desembargador Sebastião de Carvalho, e mais povo, que eu menão fosse por nenhum caso, pelas razões que me apontavam, as quais nãopude deixar de diferir, de que mandei fazer um auto em que todos assinaram e o escreveram a V. Majestade”. – Carta de D. Diogo de Meneses, de 4de dezembro de 1608, Anais da Biblioteca Nacional, LVII, p. 44.
D. Francisco de Sousa, nomeado governador da repartição doSul, aportou a Pernambuco em 19 de fevereiro de 1609, apesar da ordemque trazia em contrário, do que se queixou ao Rei D. Diogo de Menesesem lamurienta carta de 22 de abril, Anais citados, pp. 55-59. Não se sabequanto tempo ficou em Pernambuco, senão que a 26 de abril já estava noRio – Atas da Câmara da Vila de São Paulo, II, p. 243.
Gaspar de Sousa, recebendo a nomeação de governador em 1ºde março de 1612, reunidas de novo ao governo-geral as três capitanias doSul por alvará de 9 de abril, chegou a Pernambuco dia de Nossa Senhorado Ó, 18 de dezembro do mesmo ano – Documentos para a História daConquista e Colonização da Costa Leste-Oeste, p. 33.
Trazia a incumbência de fazer ocupar o Maranhão, de que osfranceses se haviam apoderado, e para melhor desempenha-lá fixou residência em Olinda, onde permaneceu todo o tempo de sua proveitosa administração.
Seguiu-se D. Luís de Sousa, Conde do Prado, senhor de Beringel, que os historiadores confundem com D. Luís de Sousa Henriques, filho de D. Francisco de Sousa e governador efêmero, por morte deste, das capitanias do Sul. Aquele D. Luís de Sousa tomou posse do governo a 1º de janeiro de 1617, e só passou a residir na cidade do Salvador depois que as cartas régias de 30 de maio e 6 de novembro de 1618 o ordenaram expressamente – Anais do Museu Paulista, III, 2ª parte, pp. 69 e 78.
De 21 de fevereiro de 1620 é o alvará que ordena aos governadores residirem pessoalmente na Bahia de Todos os Santos – J. J. de Andrade e Silva, Coleção Cronológica da Legislação Portuguesa, III, p. 5. Devem-seatribuir tais providências à intervenção de Duarte de Albuquerque Coelho,donatário de Pernambuco, muito chegado à Corte, o qual, com a residência dos governadores na capitania, via diminuída sua jurisdição.– Conf. Varnhagen, História geral do Brasil, II, p. 191, nota da3ª edição.
NOTA (27)O autor do livro Resão do Estado do Brasil, Mss. do InstitutoHistórico informa que na própria cidade do Salvador se tinha “a Relaçãopor cousa pesada, e não muito conveniente; assim pela natureza dos pleitos, pelo pouco que havia que fazer neles, como pela quantidade de letrasque se ficaram anhidindo aos muitos estudantes, clérigos e frades”, que jáhavia.A relação foi criada por lei de 7 de março de 1609, que alude àoutra relação, ordenada em 1587, a qual não houve efeito pelos sucessosdo mar.– Conf. Varnhagen, História geral do Brasil, II, pp. 126-129 enotas, da 3ª edição.NOTA (28)A pesca das baleias na Bahia teve início no Governo Diogo Botelho pelo biscainho Pedro de Urecha, que veio em companhia do governador e trouxe dois barcos apropriados e gente de Biscaia práticos no ofício.Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, pp. 396-399, ed. de 1918, fazinteressante descrição da pescaria. Urecha teve como recompensa levar osdois barcos carregados de azeite, que apurou, sem pagar direito.A indústria teve rápido desenvolvimento, de tal modo que daía poucos anos a arrematação do seu contrato rendia de seiscentos a sete- [p. 102, 103]
O projeto de governação de Gregorio de Pesquera deve ser considerado como uma réplica espanhola à divisão da costa do Brasil em capitanias, que D. João III acabava de estabelecer; mas o projeto mangroupor causas desconhecidas, e os diplomas expedidos foram mandados rasgarpela rainha, como consta de nota à margem dos mesmos, que os tornounulos e de nenhum efeito.NOTA (30)Francisco de Aguiar Coutinho foi o terceiro donatário da Capitania do Espírito Santo. Em 8 de fevereiro de 1609, o licenciado AntônioMaia, letrado de confiança do Governador-Geral D. Diogo de Meneses, iatirar devassa de culpa do donatário, da qual fora descarregar-se diante domarquês vice-rei. Em sua ausência foi provido no cargo de capitão do Espírito Santo pelo mesmo governador o Capitão Constantino de Menelau– carta de D. Diogo de Meneses, da Bahia, 8 de fevereiro de 1609, Anaisda Biblioteca Nacional, LVII, p. 49.Mas Constantino de Menelau estava provido no governador daCapitania do Rio de Janeiro e, se exerceu o cargo no Espírito Santo foipor pouco tempo, porque antes de 1612 já o tinha o Capitão Miguel deAzeredo, que só o entregou a Aguiar Coutinho em 1620. Em março de1625 este ainda governava. Foi quando a esquadra holandesa de Piet Heynatacou sem sucesso a vila da Vitória. A ele escreveu o chefe holandês estacarta, que Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, p. 566, ed. 1918,estampou: “Vossa Senhoria estará tão contente do sucesso passado, quantoeu estou sentido, mas são sucessos da guerra; se me quiser mandar os meus,que lá tem cativos, resgatá-los-ei; quando não, caber-nos-á mais mantimentos aos que cá estamos.– Conf. Varnhagen, História geral do Brasil, II, p. 240, nota da3ª edição.
NOTA (31)
D. Francisco de Sousa foi nomeado capitão-general e governador do distrito das três Capitanias de São Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro e da conquista e administração das minas descobertas e por descobrir nas ditas capitanias, por alvará de 2 de janeiro de 1608, mas só depois de um ano veio tomar conta de seus cargos. Trazia elementos para bem desempenhar-se de sua missão, a que deu promissor início; a morte colheu-o, porém, a 11 de junho de 1611, na ausência do filho mandado à Espanha com as amostras do ouro das minas, e tomado por corsário na viagem.
– Conf. Varnhagen, História geral do Brasil I, II pp. 149-164, 3ªed. Nota de G.NOTA (32)Lopo de Sousa era neto de Martim Afonso de Sousa; faleceu a 16de outubro de 1610; sem sucessão legítima, deixou apenas um filho bastardo, seu homônimo que, por escritura pública, cedeu o direito que podia terà capitania de São Vicente em sua tia D. Mariana de Sousa da Guerra, Condessa de Vimieiro, por seu marido D. Francisco de Faro, Conde de Vimieiro.Houve pleito e a capitania de São Vicente, com a de Itamaracá, foi afinaladjudicada ao Conde de Monsanto, D. Álvaro Pires de Castro e Sousa.– Conf. Pedro Taques de Almeida Pais Leme, História da Capitania de S. Vicente, pp. 74-75, ed. Taunay. Veja a nota (22).NOTA (33)Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, p. 107, Rio,1925, informa:“No Rio de Janeiro, e São Vicente, e no campo de Piratininga sedão muitos marmelos, e dão quatro camadas uma após outra, e há homensque em poucos marmeleiros colhe dez, e doze mil marmelos, e aqui se fazem muitas marmeladas, e cedo se escusarão as da ilha Madeira”.No século XVII maior se tornou a cultura do marmeleiro emSão Paulo. Alcântara Machado, Vida de morte do bandeirante, p. 47, SãoPaulo, 1930, assegura ter encontrado em inventários da época repetidasreferências à conserva de marmelos, que era o artigo principal da exportação paulista. “Mil e seiscentas caixetas de marmelada manda a viúva einventariante de Pedro Vaz de Barros à cidade da Bahia; duas mil e duzentas avultam no espólio de Catarina Dorca. A avaliação, que é a princípiode trezentos e vinte a quatrocentos réis, baixa afinal a cem réis no séculoXVIII.” [p. 107, 108]