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Poder local entre ora et labora: a casa beneditina nas tramas do Rio de Janeiro seiscentista
12 de setembro de 2011, segunda-feira. Há 13 anos
dos prelados para adquirirem doações importantes, por meio de suas relaçõespessoais. Nos dados de sua administração, temos a informação de que o beneditino “fazia contas com Dona Vitória de Sá”, que, ao que parece possuía negócioscom o mosteiro, mais precisamente com a venda de açúcar.Frei Leão de São Bento era testamenteiro de D. Vitória de Sá. No testamento,feito em 30 de janeiro de 1667, são perceptíveis as relações existentes entre o mosteiro e essa representante dos “conquistadores” do Rio de Janeiro. Vitória de Sáera fi lha de Gonçalo Correia de Sá, irmão de Martim de Sá, ambos fi lhos de Salvador Correia de Sá, “O Velho”, um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro edono de engenhos. Era prima de Salvador Correia de Sá e Benevides, governadordo Rio de Janeiro e importante personagem nas tramas atlânticas. Vitória de Sá,em 1630, casou-se com Luis de Céspedes y Xeria, nomeado governador do Paraguai. Segundo Charles Boxer, a família Sá tinha muito a ganhar aliando-se a um“pobretão”, pois este assumira o governo de uma região comercialmente estratégica.11 A importância da aliança é demonstrada pelo esforço que fez Salvador deSá em acompanhar sua prima até Assunção para que ocorresse o dito enlace.No documento em que dispõe seu legado aos beneditinos como únicos herdeiros, já que não teve fi lhos com o espanhol, podem-se vislumbrar a pujança da“benfeitora” e a extensão dos bens que seus familiares transmitiram. Dona Vitória deixou aos religiosos quatro casas de pedra e cal, coladas às dos governadores,um engenho em Camorim, com igreja, vivenda de sobrado e todos os materiaisnecessários para a fabricação de açúcar, assim como escravos da Guiné, crioulos e“gente da terra”. Deixou, também, três currais de gado com 100 cabeças e algumasovelhas, além de “terras desde o rio Pavuna até o mar e correndo a costa até juntoda Guanabara com seus montes, campos, restingas, lagoas e rios”, que dizia terherdado dos pais e dos avós.12O ato de “bem morrer” era uma preocupação constante na América portuguesa e contribuía para o aumento dos bens das instituições eclesiásticas. Testar [Página 74]

do candidato. Jacinto da Trindade, natural do Rio de Janeiro e falecido em 1721,era fi lho do capitão João Correa da Silva e de Elena da Silva Cabral, “ambos ricos,nobres e dos mais distintos desta terra”.44 Outro candidato, João de Azevedo, também natural do Rio e professo em 1689, tinha “pais ricos e distintos”.45 CaetanoCésar Leite era de uma das “principais famílias” da Vila de Santos.46Frei João de Sant’Ana de Sousa, nascido no Rio de Janeiro em 1644, era fi lhodos “principais da terra” Pedro de Sousa Pereira e Ana Correia, aparentada com aimportante família Correia de Sá. A estratégia familiar do monge foi a mesma deboa parte das “pessoas de qualidade” da sociedade de então. O irmão mais velho,que “fi cou por cabeça do casal”, possuía o mesmo nome de seu pai e ocupou omesmo cargo – provedor da Fazenda Real. As irmãs foram enviadas para o convento de Santa Clara.

Ao entrar para o mosteiro do Rio de Janeiro em 3 de junho de 1659, freiJoão contou com alguns membros dos “melhores da terra” entre suas testemunhas, asseverando que as relações de sua família eram de muito prestígio. Nesse dia, foram ao mosteiro: o padre Pedro Homem Albernaz, prelado administrador da diocese, com 86 anos; o capitão Aleixo Manuel, filho do fundador da antiga ermida onde o mosteiro foi construído, com 84 anos; Constantino Cardoso, dequem não foi possível apurar informações; e Pedro de Souza Brito, capitão-morde Cabo Frio, com então 50 anos.47 Eram pessoas “antigas e qualifi cadas” queajudaram em sua entrada na Ordem. Frei João tornou-se abade do mosteiro daBahia em 1676 e procurador da Ordem em Roma em 1679.

A estratégia de manter um filho como “cabeça do casal” na expectativa de perpetuação da família e de seu prestígio não funcionou para o núcleo familiar de frei João de Sant’Ana. Seu irmão, Pedro de Sousa Pereira, comprou dos beneditinos parte do cabedal que seus pais deixaram. Era homem de grande prestígio e influência na capitania, dono de engenhos de três moendas. Não se casou e nem teve filhos. A perpetuação do núcleo de sua família anulou-se, quando foi assassinado em maio de 1688. O restante da família, ao menos em tese, por conta dos votos religiosos, não poderia produzir rebentos. 9 AHU-RJ. Doc. 367. 22 de maio de 1688. Carta do ouvidor-geral do Rio de Janeiro, Thomé de Almeida e Oliveira, em que participa o assassinato de Pedro de Sousa Pereira e as diligências que empregara para prender os criminosos.

Os noviços são distinguidos como pertencentes ao topo da hierarquia social.A “existência de um conjunto de instituições eclesiásticas indispensáveis aosmodelos de reprodução das casas nobiliárquicas” é destacada pelo historiadorNuno Gonçalo Monteiro como uma das características do Antigo Regime emPortugal.50 Ao que parece, buscou-se manter a tradição na América portuguesa,mesmo quando os pretendentes não eram descendentes dos Grandes do Reino.Apesar da impossibilidade de uma análise seriada das origens sociais dos noviços, é perceptível a “qualidade” dos membros da ordem beneditina. Tal condiçãoera ressaltada nas disputas com outros vassalos e instituições.Senhores daqueles camposEm um período em que predominava a indiferenciação entre o público eo privado, com a circulação de documentos por vezes forjados, as alianças de“bandos” facilitavam a posse da terra. Doações, vendas e trocas de terras forammotivos de contestações e de disputas acirradas. Talvez o caso mais controversona capitania do Rio de Janeiro tenha sido o mito fundador da região dos Camposdos Goytacazes, em que os beneditinos, assim como os jesuítas, estiveram envolvidos.51 O caso dos “sete capitães” é, até os dias atuais, descrito como a injustiçaque os primeiros exploradores da atual região norte fl uminense sofreram nasmãos do governador Salvador Correia de Sá e Benevides. [Páginas 84 e 85]

Os “sete capitães”, Miguel Aires Maldonado,52 João de Castilho Pinto,53 Antonio Pinto Pereira,54 Miguel Vaz Riscado,55 Duarte Correia Vasqueanes,56 ManuelCorreia57 e Gonçalo Correia de Sá58 pediram ao governador, em 1627, um enormetrecho de terras cobrindo parte de Cabo Frio até o extremo de Campos dosGoytacazes. O pedido coletivo buscava mercês por serviços prestados à Coroa,principalmente o extermínio/a expulsão de índios e a defesa contra os “invasoresestrangeiros”. Os solicitantes alegaram que tinham mais de 20 anos de prestaçãode serviços. Por determinação do governador Martim de Sá, os sete foram remunerados com as terras solicitadas em 19 de agosto de 1627.Apesar de terem alcançado uma mercê, a posse dos “sete capitães” foi contestada por Salvador Correia de Sá e Benevides.59 Como salientou Charles Boxer,“não padece dúvida que a redistribuição efetuada em 9 de março de 1648 trouxe grandes vantagens não só para Salvador, como também para os seus amigos eprotegidos, tais como os jesuítas, os beneditinos e Pedro de Sousa Pereira”.

A partir dessa data, os beneditinos aumentaram seu patrimônio na região dosCampos dos Goytacazes, fomentando a criação de gado. Suas terras, por conta da“escritura diabólica”, como fi cou conhecido o documento elaborado por SalvadorCorreia de Sá, sempre foram alvo de litígios.No Livro de Acórdãos da Câmara Municipal, no dia 3 de abril de 1653,61fi cou registrado que frei Fernando de São Bento, como procurador da Ordem,fez requerimento aos ofi ciais da Câmara conclamando a “ajudar a defender osditos seus currais e fazendas e a sustentar os ditos religiosos em sua posse”.62 FreiFernando, natural de Pernambuco e professo na Bahia, cuidava das fazendas daOrdem na região de Campos dos Goytacazes, “a qual administrou com tanto zeloque Salvador Correia de Sá o constituiu também procurador e administrador dassuas fazendas na mesma capitania”.63 Um beneditino a serviço de um dos homensmais poderosos do Brasil demonstra o quanto os monges estavam estreitadoscom as “elites locais”. Entretanto, o vínculo dos beneditinos com Salvador Correiade Sá oscilou muito, pois de aliado esse membro da elite tornou-se oponente dosmonges em várias disputas por terras.Além do pedido de proteção, frei Fernando informava que os beneditinosreceberam a igreja de São Salvador de uma doação de Salvador Correia de Sá.O religioso se dizia vigário da dita igreja e ouvidor eclesiástico escolhido peloprelado Antonio de Mariz Loureiro. Porém, havia sido mandado um novo vigário para a vila, pretendendo apossar-se da referida igreja. O beneditino, então,“requeria e pedia aos ditos ofi ciais da câmara que sustentassem a posse da ditaigreja aos ditos religiosos, e que não consentissem que outro nenhum sacerdote,exceto padres de S. Bento dissessem missas na dita igreja”. A disputa não era poruma igreja periférica, mas, sim, pela igreja mais importante da vila, a matriz. Ocontrole da matriz garantia maior visibilidade e mais acesso ao domínio de umbom número de fi éis. Requerimentos como os feitos pelo procurador dos mon [Páginas 86 e 87]

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