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10 curiosidades sobre o cangaço, consulta em aventurasnahistoria.uol.com.br
3 de junho de 2021, quinta-feira. Há 3 anos
1. Relação com os coronéis

O período imperial, assim como o início da República, foi marcado pela negligência do Estado em relação ao sertão.

Isso teve como consequência direta o aumento da violência e a falta de fiscalização das leis no nordeste, causando uma espécie de soberania dos poderes regionais dos mais ricos.

Mesmo na época em que a região nadava em lucros, com a crise do algodão gerada pela Guerra Civil Americana, o sertão e o agreste mantinham-se marcados pela violência.

Em combate a esse cenário, o Império criou o titulo de Coronel da Guarda Nacional, aumentando o poder desses grupos econômicos com hegemonia.

Acima da lei, muitos desses coronéis se tornaram inimigos dos cangaceiros, que os combatiam em nome dos mais pobres (mesmo que muitos, como Corisco e Lampião, tivessem amizades entre os coronéis e se aproveitassem dessa desigualdade). Com isso, nascia uma guerra entre poderes paraestatais.

2. O crime quase compensa

Muitos homens que acabaram optando por entrar no cangaço o fizeram como forma de encontrar uma alternativa sustentável à miséria e à submissão aos coronéis.

A caatinga já não era um ambiente receptivo ao ser humano, e a exploração do trabalho, que se aproveitava de um povo desesperado, criava um sentimento de revolta popular contra os poderosos.

A violência do cangaço não era necessariamente um atrativo. Mas como a maioria dos coronéis e policiais também tinham as armas na frente da boca na hora de abordar os populares, o senso de justiça pessoal costumava gritar mais alto que o medo da guerra.

Além disso, a bandidagem oferecia, na visão deles, benefícios: riquezas, bens, liberdade e respeito.

3. Frieza e sangue

Entre os cangaceiros, a violência e o sangue eram aspectos recorrentes. O vermelho era uma das cores mais comuns da vida de um bandoleiro, e a agressividade se tornou parte da identidade desses grupos.

Um dos exemplos clássicos disso eram as execuções por sangramento, violentas e econômicas, hediondas e que exigiam estômago dos bandidos. Nessas atividades, um punhal era usado para realizar cortes em pontos vitais de vítimas, fazendo necessária uma frieza inestimável.

As execuções muitas vezes eram acompanhadas de torturas. O desenvolvimento da subjetividade dessas pessoas, portanto, era bizarramente conturbado, muitas vezes gerando homens sádicos ou desregulados.

Como consequência estranha, ao mesmo tempo em que essas pessoas eram frias e sanguinárias, também são comumente relatados como risonhos, animados e cantarolantes: a morte já fazia parte do dia-a-dia. A música era muito comum entre os bandos.

4. Opiniões polêmicas

Como era de se esperar de um fenômeno tão complexo, o cangaço divide opiniões. Muito antes de Lampião ser fotografado por Benjamin Abrahão, os cangaceiros eram seres quase lendários da caatinga.

A maioria deles, não só nos dias de hoje, eram amados e odiados ao mesmo tempo: vistos como Robin Hoods tropicais por uns, e como assassinos sem pudor por outros, era difícil não gerarem ao menos uma opinião.

Lampião mesmo era visto como bandido inescrupuloso pelas volantes, mas tinha contatos entre sertanejos, coronéis e até na Igreja Católica.

Ao mesmo tempo, até hoje se discute se os cangaceiros eram bandidos que não mereciam a fama que tinham ou se realmente prestavam um serviço válido ao povo pobre do sertão.

5. O escudo ético

Entre os populares que viam nos cangaceiros uma atitude moralmente justificada, havia uma distinção significativa entre um bandido e um membro do Cangaço. Afinal, o crime, por si só, ainda era visto negativamente.

Por mais mal que um cangaceiro poderia causar, ele ainda era visto por muitos como melhor que um assaltante comum devido a um escudo ético (termo do historiador Frederico Pernambucano de Mello) que os protegia na visão dos mais pobres.

Segundo essa noção, a atitude dos bandidos do cangaço era justificada pelo seu compromisso com a expropriação das riquezas dos poderosos, fazendo justiça contra as estruturas de opressão. Como afirma Câmara Cascudo: “o sertanejo não admira o criminoso, mas o homem valente”.

6. As volantes eram treinadas como eram os cangaceiros

Por muito tempo, a polícia era infinitamente inferior, em termos de poder militar e estratégia, ao preparo e à valentia dos bandoleiros. Com agilidade, furtividade e armas com chumbo até os dentes, esses cangaceiros eram treinados para vencer os policiais.

Então, como resposta a essa situação constrangedora, os estados do nordeste criaram forças policiais especiais treinadas com base nas formas de ação dos próprios cangaceiros.

Muitos desses volantes, inclusive, eram ex-bandidos que, vendo vantagens financeiras, mudaram de lado. Com o preparo e o treinamento análogo ao dos bandoleiros, a capacidade de repressão das volantes aumentou consideravelmente.

7. O boato de que Lampião lutou contra Prestes

Em meio à crise da Republica Velha e o afloramento do tenentismo, poucos movimentos tiveram a magnitude da Coluna Prestes, que cortou o Brasil em uma passeata de oposição.

O então presidente Arthur Bernardes queria o fim do movimento, independentemente do custo. Sabendo da capacidade bélica e do poderio que os bandos de Lampião tinham, o plano do presidente foi conseguir contato com o cangaceiro.

A briga entre os dois nunca aconteceu de verdade, não passou de especulações movimentadas por documentos falsos da época.

O plano original ficou a cargo do deputado Floro Bartolomeu, que deveria tentar achar o Rei do Cangaço através de sua devoção pelo Padre Cícero e, assim, criar o Batalhão Patriótico.

Porém, isso foi apenas na teoria, e a Coluna atravessou o estado do Ceará sem nenhuma dificuldade. Porém, até hoje há quem ache que essa batalha épica entre o cangaceiro e o futuro comunista aconteceu de verdade.

8. Baile perfumado

Numa situação em que os banhos eram uma raridade, Lampião usava perfumes de boa qualidade e em grandes quantidades.

Gostava de roubar perfumes caros e importados nas capitais, que juntava com o cheiro de suor e da brilhantina usada no cabelo, criando uma mistura de cheiros única e que virou uma marca do cangaço.

Muitos cangaceiros tinham o hábito de aproveitarem a passagem pelas capitais para adquirirem vidros de perfume, que eram produtos bastante luxuosos.

Há relatos de banhos de perfume generalizados, que chegavam até nos animais de tração para melhorar o cheiro do bando.

9. Benjamin Abrahão, o documentarista do cangaço

Um dos principais responsáveis pelos registros hoje conhecidos do bando de Lampião, principalmente as fotografias, foi o jornalista libanês que, negociando com o Rei, conseguiu acompanhar o bando por meses: Benjamin Abrahão Botto.

Ele já tinha trabalhado como secretário de Cícero Romão em Juazeiro e era um excelente fotógrafo.

Como Lampião era um devoto de Cícero, a aproximação dos dois foi mais fácil que o comum. E como Lampião era extremamente vaidoso, a proposta de um jornalista o acompanhando para regirá-lo para a eternidade foi bastante tentadora.

Então, entre 1936 e 1937, o bando foi acompanhado e fotografado. Tendo o trabalho tratado como ofensivo, Abrahão foi censurado pelo Estado Novo.

10. O fim da era

Depois de mais de um século de derrotas do Estado no combate ao banditismo sertanejo, o governo já tinha amadurecido suas formas de luta.

O fim do cangaço, através da repressão policial, foi um fenômeno da década de 1930, nas mãos do governo Vargas. Com o tempo, os principais nomes do movimento iam sucumbindo progressivamente às balas do Exército.

O grande marco do fim do cangaço foi a morte de Lampião e Maria Bonita na Gruta do Angico, em 1938, resultado de um aperfeiçoamento nas técnicas de combate à criminalidade.

O ocorrido foi possível a partir de uma campanha de negação ao auxílio de coronéis corruptos que auxiliavam os bandoleiros e um investimento pesado nas forças policiais do agreste.

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