titulo:A jovem Odila, a noiva que morreu no dia do casamento (53)
A jovem Odila, a noiva que morreu no dia do casamento (1 de Julho de 1949) Wildcard SSL Certificates

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A jovem Odila, a noiva que morreu no dia do casamento
1 de julho de 1949, sexta-feira
Ver ano (1949)
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Estão lá há 66 anos, arquivadas em ordem cronológica numa pasta descorada pelo tempo. Nas nove calorosas cartas que escreveu à filha morta, Aureliano Mendonça exprimiu sua paternal maneira de sofrer a dor de enterrar um filho. A pasta tem o timbre da Superintendência de Política Agrária – Delegacia Estadual de São Paulo. Abaixo do timbre, escrito à mão em letras maiúsculas, cheias de sentimento, "Cartas para o Céu". A história é lindamente triste. Odila Bovolenta Mendonça, professora primária de 22 anos, estava às vésperas do casamento. Animada como todas as noivas. Bonita, dócil, amada por todos. Era julho de 1949, e ela se casaria com o comerciante Ramiro Cesário em dezembro. Enxoval prontinho, algumas peças feitas por ela própria porque as moças daquele tempo eram muito prendadas) o vestido de noiva no cabide, a alegria na casa reavivada pelo riso dela e pelos acordes do piano da mãe. E eis que uma dor de garganta que sentiu de manhã virou septicemia, apesar de medicada, e dois dias depois, em 15 de julho de 1949, Odila morreu. Foi enterrada vestida de noiva, no jazigo da família, no Cemitério da Ressurreição. Velório em casa, com os moradores da cidade em peso, pois dr. Aureliano era muito popular. Os sinos da Catedral antiga repicaram o toque fúnebre desde que o caixão saiu da casa paterna, a um quarteirão dali, até a chegada na igreja. O bispo dom Lafayette Libânio rezou missa de corpo presente para a noiva quase menina. Odilon, irmão, com 17 anos na época, estava de férias em São João da Boa Vista com seu irmão Orlando quando veio a notícia, sem porém contarem o desfecho. “Arrumamos um táxi e chegamos a Rio Preto às 11 da manhã. Quando cheguei na rua Tiradentes, vi uma multidão na calçada e na minha casa, aí fiquei sabendo da morte. Meu pai e minha mãe estavam arrasados. Foi muito violento, ” diz Odilon. Uma profunda infelicidade silenciou o sobrado onde moravam, na rua Tiradentes, entre Bernardino e General Glicério. O piano da mãe, Gina Bovolenta, calou- se. Neste casarão, dr. Aureliano tinha instalado escritório de advocacia na sala da frente. E na sala de jantar, dona Gina ensinava exercícios a dezenas de alunos no piano alemão Ritmüller. A vida corria alegre na casa, cinco filhos adoráveis, Onaldo, Odila, Odete, Orlando e Odilon. Até que a morte sorrateira golpeou o lar.
diariohistoria_ OdilaBovolenta Mendonca Odila Bovolenta Mendonça
Então Aureliano começou a escrever para o Céu. “A nossa vida era uma sinfonia do afeto. Quebrou- se uma corda. Como eram lindas as melodias, portentosos acordes! O instrumento perdeu a unidade, diminuiu sua vibração. Minha querida filha, escreverei outras vezes. Termino dizendo que morro de saudade. ” Foi essa a saída que ele encontrou para driblar os sentimentos. Postava- se no seu escritório de advogado, horas a fio, empenhado em escrever para matar a saudade de Odila. O caçula Odilon via o pai escrever as cartas no escritório, solitário na sua dor, datilografando com precisão. Não há nos textos uma rasura, nem correção. Todos impecáveis. Em 1950, fundado o Diário, Aureliano se ofereceu como colaborador e então levou as preciosas cartinhas, que iam sendo publicadas com o título Cartas para o Céu. Na terceira, a saudade apertando, ele escreve: “Estamos no sétimo dia de sua viagem. Lágrimas, só lágrimas. Continuarei a te enviar minhas cartas sem resposta. Talvez o meu próprio coração responderá. ”A professora Dinorath do Valle, contemporânea dos fatos, escreveu: “Rio Preto inteira lia, comovida, as delicadas recordações daquele pai sofredor, capaz de passar os mais profundos sentimentos e pesares, sem resvalar na mínima pieguice. Sentimentos legítimos, verdadeiros, às vezes lições profundas de elevada espiritualidade e surpreendente exemplo de força interior. O dr. Aureliano, advogado, professor, jornalista, poeta, colaborador assíduo de todas as publicações da cidade, a começar pela revista A Phalena, dos anos 20, era lido e respeitado por seus dotes literários e opiniões equilibradas. ”( 2/6/1996) diario historia_Odilon Mendonca_familia A família: Odilon, Odete, Onaldo, Odila, Orlando e os pais Aureliano e GinaUm soneto respostaDe fato, os leitores compartilharam a tristeza de Aureliano. Tanto que um deles, Jorge de Carvalho, publicou poesia de sua autoria como se fosse resposta de Odila, que transcrevemos na íntegra: "Cheguei ao Céu nas asas que o destino/teceu para a mudança inesperada/encetei o meu voo peregrino/ terminei a diáfana jornada. Agora que cheguei eu descortino/a eternidade como madrugada/onde palpita a luz do Deus Menino/a nova vida límpida encantada. Os meus sonhos de noiva desfolharam/e eu deixei a minha mocidade/e o meu pranto no seio dos mortais. Lembro as lágrimas puras que ficaram/ pendentes como gotas de saudade/nos olhos sacrossantos de meus pais. "Dr. Aureliano era poeta, emotivo, sentimental, letrista sutil. A dor foi pesada. Dona Gina desenvolveu diabete que a acompanhou até a morte, aos 83 anos. "Ela perdeu a alegria de viver", disse a neta Regina. Aureliano morreu quatro anos depois de Odila, aos 62 anos. Não se sabe se a tristeza acelerou sua partida. A família tinha se mudado para São Paulo para os filhos fazerem faculdade. Orlando e Odilon se formaram na PUCCAMP, em Campinas. O primeiro em Odontologia, o segundo em Direito. Odilon veio advogar em Rio Preto e é o guardião das Cartas para o Céu. Em tom emocionado, Odilon Mendonça lembrou o luto da família, ele jovem, e remexeu lembranças. Ainda se recorda das lições de música da mãe, que ensinou as posições do piano e as tonalidades. Para finalizar, tocou no piano centenário da mãe e muito bem tocadas) as músicas Fascinação e Gente Humilde. O piano de teclas pálidas, tantas vezes manuseado pela mãe e por Odila, tem lugar de honra na sala do apartamento. QUEM É QUEM: Aureliano Mendonça – nascido em Araraquara, lecionava em escola rural aos 17 anos enquanto estudava para ingressar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco da Universidade de São Paulo. Foi advogado militante, professor, participou de grupo de teatro, aprovado em dois concursos para a magistratura e um para o Ministério Público. Foi promotor dois anos em Rio Preto, advogado da Prefeitura e prefeito. É nome de escola em Rio Preto. Gina Bovolenta filha do maestro italiano Giuseppe Bovolenta, casou- se com Aureliano em 1923. Consta ter sido a primeira e muito respeitada) professora de piano de Rio Preto. Adorava tocar Rêve dAmour. Seu piano Ritmüller continua guardado com o filho Odilon. Em 30 de outubro de 1974, participou da cerimônia de entronização do retrato do marido na escola do Parque Estoril, da qual ele é patrono. Odila Bovolenta Mendonça – nascida em Rio Preto, formou- se professora pela Escola Normal do Colégio Santo André. Lecionou em escola isolada, depois no grupo escolar de Adolfo. Em 1953, a escola recebeu seu nome, mais tarde transformando- se em Escola Estadual de Primeiro Grau Odila Bovolenta Mendonça. Ramiro Cesário – comerciante, era dono de uma empresa de produtos odontológicos e noivo apaixonado de Odila. Depois de algum tempo, casou- se e teve filhos. É falecido. Odilon José Bovolenta Mendonça – nascido em Rio Preto, filho de Aureliano e Gina, irmão de Odila. Aprendeu a tocar piano de ouvido e com ajuda da mãe. Advogado, músico do grupo Orlando e sua Orquestra tocava nas matinês da Associação Bancária de Esportes) foi jogador de futebol, basquete e vôlei. Atuou nos times de futebol do América FC, Ponte Preta e Rigesa, de Valinhos. Jogou basquete no Palestra Rio Preto) e Palmeiras SP) É casado há 55 anos com Maria do Carmo Pinto César e tem as filhas Lígia, Nilza e Regina, além dos netos Felipe, Fernanda, Rafaela e Letícia.

Essa parte inferior que era "coisa", porque escrava, ou que era tratada como bicho, como nós tratamos gente camponesa, a gente que está por baixo, a gente miserável, essa gente que estava por baixo, foi despossuída da capacidade de ver, de entender o mundo. Porque se criou uma cultura erudita dos sábios, e se passou a chamar cultura vulgar a cultura que há nessa massa de gente.


Darcy Ribeiro
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