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OCIOSOS E SEDICIONÁRIOS Populações indígenas e os tempos do trabalho nos Campos de Piratininga (século XVII)
201608/04/2024 14:02:09

de trigo (cuja construção seria atividade reservada fundamentalmente a carpinteiros, embora os serviços de ferreiro também fossem importantes) em área próxima a um córrego localizado na região do Mandaqui208.Transcorrida a primeira década do século XVII, mais especificamente durante o ano de 1612, o morador Martim Rodrigues, às vésperas da sua morte, imbuiu o genro flamengo Cornélio de Arzão da tarefa de ensinar o ofício de carpinteiro ao seu filho bastardo Pedro Rodrigues Tenório (nascido de uma índia) no prazo de quatro anos, “para que no cabo do dito tempo o dito moço possa ganhar a vida por seu ofício de maneira que possa trabalhar e ganhar sua vida sem empacho de nada”209. No mesmo ano, Arzão, que, como veremos, servia comofundidor de ferro, concluiu as obras da igreja Matriz da vila com a ajuda de quatro índios emprestados a ele pela Câmara, tendo ele próprio se oferecido ao serviço dois anos antes210. Ocaso demonstra a proximidade e a convergência que havia entre os vários ofícios (entre carpintaria e alvenaria, especialmente), podendo dois ou mais deles serem desempenhados por um único oficial, ou artesão211. Ao falecer, em 1638, Arzão deixou em sua fazenda de M’Boy um fole de ferreiro, junto a um conjunto de variadas ferramentas de carpintaria: serras, martelos, compasso, enxós, trados, verrumas, escopros, cantil, garlopas, junteiras e cepilhos212.É bem verdade que se, por um lado, o ofício de carpinteiro poderia representar uma possibilidade de sustento para homens livres e forros do começo do século XVII (especialmenteos órfãos213), como o herdeiro ilegítimo de Martim Rodrigues, após 1650 a carpintaria tornouse um serviço reservado sobretudo a escravos indígenas. Assim, entre os 232 escravos indígenas de Paschoal Leite Paes (que também era senhor de 4 “negros da Guiné”) em 1664, havia Aleixo Tiro, um carpinteiro casado214. Outrossim em 1683, dos 79 índios administrados de Maria de [Página 88]

Numerosas em vários espólios, podendo ser encontradas em conjuntos superiores acinquenta ou setenta unidades364, as enxadas (“de cavar”, “de olho redondo”365) por vezes estavam quantitativamente relacionadas, ao mesmo tempo, à dimensão das terras que eram por elas trabalhadas e ao número de escravos que as utilizavam. Por exemplo, na década de 1660, Maria Bicudo era proprietária de 80 escravos e de dois sítios, os quais mediam 150 braças x 750 braças e 250 braças x 1 légua, respectivamente; constava ainda no seu inventário 32 enxadas366. Por sua vez, Paschoal Leite Paes era dono de 236 escravos, um sítio de 1 légua x 1 légua e mais 1000 braças em “Cayocautinga”; possuía 50 enxadas367. Já na década de 1680, declarou-se que Maria de Borba e Anna da Silva tinham, respectivamente, 23 e 24 escravos; a primeira com um sítio de 150 braças x 0,5 légua e a segunda com um de 300 braças x 700 braças; de cada uma delas, porém, foram encontradas apenas 6 enxadas368.Embora seja impossível, na maior parte dos casos estudados, precisar a extensão das parcelas desses sítios que eram reservados para a produção de cada gênero, pela inexistência de informações aprofundadas sobre isso nos documentos, pode-se concluir, também a despeito das grandes variações que são verificadas entre grandes e pequenas propriedades, que a cada índio deveria corresponder alguns milhares de metros quadrados para serem trabalhados. Considerando, além do mais, que nem todos deveriam ser empregados em uma única atividade, e que os meses mais propícios à semeadura não passavam de seis, pode-se imaginar, ainda que de maneira genérica, a violência e o grau da pressão recaída sobre os trabalhadores nativos, do caráter repetido do esforço de batida com a enxada sobre o solo, da extensão das durações diárias de serviço no período e da intensidade dos ritmos de trabalho cobrados pelos [Página 126]

Fugas em pares e/ou de famílias nucleares (de casais com seus filhos), se por um lado não podem ser considerados atos individuais, tampouco possuíam efetivamente um caráter coletivo. De terras localizadas no termo da vila Santana de Parnaíba, o índio Duarte havia deixado sua esposa Andreza, em 1628, e desaparecido com os dois filhos do casal (sendo que no mesmo registro documental uma outra índia, Suzana, constava ser também fugida, não se sabe se junto ou separadamente de Duarte)676. Em 1641, estavam sumidas outras duas “peças” do sítio de Daniel Justo: Domingas e Ambrósio “corcovado”677. Vinte e três anos depois, os indígenas Francisco e João também estavam fugidos das terras de Paschoal Leite Paes678. Do termo e das paragens pertencentes à vila de Piratininga, em 1613, Branca fugiu com seu filho e Francisco (eram todos Maromomi)679. Já em 1632, dois “negros novos” escaparam da pequena propriedade de Maria Lucas680. E, em 1653, Policena e o índio velho Manoel (este juntamente a sua mulher Lourença e seus dois filhos Silvestre e Zacarias), foram considerados fugitivos681.Alguns desses atos devem conduzir a uma reflexão sobre a complexidade das práticas indígenas frente à sociedade colonial. Se, por um lado, a fuga por si mesma sugere o deslocamento daqueles sujeitos em relação ao lugar que lhes havia sido reservado no seio das relações coloniais de produção (isto é, o do trabalho compulsório), por outro lado as fugas de casais (com ou sem filhos) poderiam a princípio apontar para o sucesso da incorporação colonial ao fazê-los carregar, mesmo após o ato da fuga, elementos próprios daquela sociedade que visavam abandonar, como o matrimônio monogâmico e a consequente organização de nuclear das famílias. Todavia, para além de não sabermos se de fato se tratava de uma absorção cultural desse tipo, casos como o do índio Duarte impedem que transformemos essa possibilidade em conclusão, ao expressar que, na verdade, ainda durante o século XVII, também nessa esfera dos costumes, o enquadramento das populações indígenas na ocupação europeia gerou dificuldades e tensões. No inventário de Ana de Siqueira, datado de 1646, oito índios foram registrados como “fugidos”: dois eram solteiros, um casal com seu filho, uma índia “solta” e Merencia, [Página 219]
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