O manuscrito 512, ou documento 512, é a base da maior fábula arqueológica nacional, e um dos mais famosos documentos da Biblioteca Nacional. O acesso ao relato original é extremamente restrito atualmente, embora uma versão digitalizada dele tenha sido disponibilizada recentemente com a atualização digital da Biblioteca Nacional.
O documento que hoje traz o subtítulo de "Relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima sem moradores, que se descobriu no ano de 1753", narra o encontro do grupo de bandeirantes com ruínas de uma cidade perdida e desconhecida até então, no interior da Bahia.
São 10 páginas. Separei 5 trechos que indicam o local nas proximidades de Sorocaba:
1. RIO UNA
Todos os que tentaram localizar a cidade perdida na Bahia falharam. Se baseiam no trecho que diz "após chegarem na região do sertão da Bahia, entre os rios Paraguaçu e Una, os expedicionários enviaram uma carta ao Rio de Janeiro", originando o manuscrito original.
Além da distância absurda entre os Rios Una e Paraguaçu na Bahia, muitos documentos antigos não fazem distinção entre "Bahia" e "baia". Como por exemplo o registro de terras na região de Sorocaba, datado de 1 de dezembro de 1577:
"Concedidas a Antonio Vaz 400 braças ao longo da Bahia (Baía?) e 1000 para dentro do sertão em Sarapohy que foram a Bras Cubas no Porto que foi de Jacotinga". [1]
2. CACHOEIRA BRANCA
Na região de Sorocaba, o rio Uma, nasce na serra de São Francisco. E os expedicionários estão numa Serra ou cordilheira quando avistam uma montanha e descem por uma cachoeira.
"Descobrimos uma cordilheira de montes tão elevados, que pareço chegavam a região eteria, e que serviram de trono aos ventos as mesmas estrelas, o luzimento que, de longe se admirava, principalmente quando o sol fazia impressão ao cristal de que era composta e formando uma vista tão grande e agradável, que ninguém, daqueles reflexos podia afastar os olhos:
Entrou a chover antes de entrarmos a registrar está cristalina maravilha e víamos sobre aquela pedra escalvada precipitando-se dos altos rochedos, parece do-nos como a neve, ferida dos raios do sol, pelas vistas (...)"
O nome “Voturantim”, do conhecido salto do rio Sorocaba, é corruptela do Ybytyra-tin, de que o primeiro vocábulo se alterou para "butura" ou "votura", e o segundo não é senão a forma contrata de "tinga", branco, branca, comum no dialeto guarani, que chegou até São Paulo.
Portanto, "voturantim", significa muito apropriadamente "montanha branca", pois o salto do Sorocaba, naquele lugar, não é mais do que uma encosta alta, coberta de alvo manto de espumas. [5]
3. MONTANHA INACESSÍVEL
"(...) das aguas e tranquilidade do tempo nos resolvemos a investigar aquele admirável prodígio da natureza, chegando-nos aos pés dos montes, sem embaraço, porém, circulando as montanhas, não achamos passagem para executarmos a resolução de acometermos estes Alpes e Pyrineus Brasílicos, resultando-nos deste engano uma inexplicável tristeza".
É exatamente a mesma descrição da Sagrada Montanha do Araçoiaba, como registra o "Jornal Scientifico, Economico, e Litterario, ou collecção de varias peças, memórias, relaccçoens, viagens, poesias, e anecdotas", em 11 de junho de 1826:
"É tão fortemente inclinada que em muitos lugares não se pode subir, em outros só a pé, e pelo vale das Furnas também a cavalo. O cume é variado em outeiros, e planícies, em uma das quais está a Lagoa Dourada, de que os vizinhos contam fabulosas visões como indício de muito ouro (...)"
4. FURNAS E LAGEADO
"Entre estas Furnas vimos uma coberta com uma grande lage, e com as seguintes figuras lavradas na pedra (...)"
O primeiro "homem povoador de Sorocaba", Afonso Sardinha funda a“nova” Usina de Ferro do Vale das Furnas [2] e "lageado" é o local onde o fundador de Sorocaba construiu o seu sobrado.
5. PÓRTICO E RUÍNAS NO ITAVUVU
"Afastado da povoação está um edifício, como casa de campo, de duzentos e cinquenta passos de frente; pelo qual se entra por um grande pórtico, e se sobe uma escada de pedras (...)"
Até 1917 existiam ruínas no bairro Itavuvu! O primeiro brasão de Sorocaba foi adotado em função de estudo do pesquisador Zulmiro de Campos. Segundo ele:
"Por timbre adotamos a coroa mural de prata com quatro torres de ameias e sua porta cada uma, porque existe a justificativa histórica das velhas taipas ou fortificações construídas no antigo São Felippe, primitivo local da povoação sorocabana, no atual bairro do Itavuvú.
Essa edificação data de 1600 ou de 1610, e até hoje a tradição conta que alí existiam construções de muros e cercas de paus grossos afectando a forma de fortalezas ou quartéis, com portaes altos como torres, em número de quatro. Ainda hoje se conhece o local da antiga povoação com o nome de “Quartéis”. [7] |