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Atualização: 18/11/2021 22:12:23 |
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O Caminho chamado de Peabiru, existente antes da chegada dos europeus, por muitos e muitos anos foi a única via possível para atravessar o continente. Os europeus tentaram controlar esse caminho desde o início.
O mais intrigante é que já existia entre os nativos a lenda de São Tomé ou "Pay Zumé". Sérgio Buarque de Holanda em "A Visão do Paraíso" diz que já no século XVI (1501-1600) o Caminho do Peabiru era comparado ao Caminho de que leva ao sepulcro do apóstolo São Tiago, em Compostela na Espanha. [1]
Em 21 de dezembro de 1501 André Gonçalves e Américo Vespúcio chegam ao que denominam "cabo de São Tomé". [2]
A primeira versão conhecida dessa presença do discípulo de Jesus em terras americanas é impressionante. Encontra-se, com efeito, na chamada Nova Gazeta Alemã, referente, segundo se sabe hoje, à viagem de um dos navios armados por Dom Nuno Manuel em 1514.
“constava a existência naquela costa de uma gente de muito boa e livre condição, gente sem lei, nem rei, a não ser que honram entre si aos velhos. Contudo, até àquelas paragens tinha chegado a pregação evangélica e dela se guardava memória entre os naturais.”
“Eles têm recordação de São Tomé”, diz o texto. E adianta: “Quiseram mostrar aos portugueses as pegadas de São Tomé no interior do país. Indicam também que têm cruzes pela terra adentro. E quando falam de São Tomé, chamam-lhe o Deus pe- queno, mas que havia outro Deus maior”. “No país chamam freqüentemente a seus filhos Tomé.” [4]
Segundo o Frade Bernardo de Armenta, em 1538 boa conta em que era geralmente havido entre catecúmenos e gentios Carijó espelha-se no nome que todos lhe atribuíam de Pay Zumé, como a identificá-lo com figura mítica. [6]
Em 1549 Manoel da Nóbrega registra a lenda repetida entre os nativos, quando o santo deixou aquelas pisadas, ia fugindo dos índios que o queriam flechar, e lá chegando, abriu-se o rio à sua passagem, e ele caminhou por seu leito a pé enxuto, até chegar à outra parte, de onde foi à índia.
Contavam, além disso, que, querendo os gentios flechá-lo, voltavam-se as setas contra eles mesmos, e os matos se abriam, deixando lugar a uma vereda, por onde seguia São Tomé sem estorvo. [7]
Em 1591 Anthony Knivet, tido por herege, registra que em certo lugar chamado Itaoca ouvira dos naturais ter sido ali o lugar onde pregara São Tomé, mostraram perto do mesmo sítio um imenso rochedo, que em vez de se sustentar diretamente sobre o solo, estava apoiado em quatro pedras, pouco maiores, cada uma, do que um dedo.
Disseram- lhe os índios que aquilo fora milagre e que a rocha era, de fato, uma peça de madeira petrificada. Disseram mais, que o apóstolo falava aos peixes e destes era ouvido. Para a parte do mar encontravam-se ainda lajedos, onde o inglês pudera distinguir pessoalmente grande número de marcas de pés humanos, todos de igual tamanho" [9]
Constava que o Arcebispo Dom Toribio Mongrobejo chegara a ir pessoal- mente ao lugar a fim de certificar-se da existência dos famosos sinais e, de joelhos e mãos postas, dera graças ao Senhor por ter podido ver rastros de um santo discípulo de Jesus Cristo. [10]
O venerável Padre Diego Alvarez de Paz, falecido em 1620, afirmava ter visto muitas vezes a sandálias do apóstolo. Além das sandálias ou sapatos de tríplice sola, compreendia a indumentária do São Tomé peruano, segundo variados testemunhos. [11]
Em 1628 Francisco Jarque, além de reproduzir o que diz este das origens e fama do mesmo caminho chamado de São Tomé, refere como, por ele, “el Peabiyu, que es el camino que llaman de San Tomé”. [12]
Em 1639, segundo o Padre Alonso Ramos, outra particularidade da lenda peruana de São Tomé está nisto, que em contraste com o sucedido no Brasil, onde, perse-guido dos índios, procurava muitas vezes fugir às insídias e tira-nias destes, mostrava-se o apóstolo impaciente de qualquer injúria.
Aliás, já se viu como no Paraguai chegara a castigar a insolência dos gentios, dilatando o prazo de amadurecimento da mandioca. Passando-se, porém, ao assento de Cacha, caminho de Collau, manifestara seu alto poder, fazendo com que baixasse o fogo do céu para castigar os desaforos dos que o pretenderam apedrejar. De onde o ficarem abrasadas ali as próprias pedras, testemunho perene de tamanho milagre.
No Titicaca teve a pretensão de querer ver o altar e adoratório mantido pelos Colla, com a intenção de o destruir. Silenciam, porém, os depoimentos conhecidos sobre o resultado desse intento. Além das simples pegadas que deixou por todo o Brasil e o Paraguai, a presença de São Tomé nas terras peruanas ficou assinalada por marcas ainda mais notáveis, como aquelas que se viam junto ao povoado de Santo Antônio, província de Chacha- poias, onde estivera o Padre Montoya. Numa grande laje, a duas léguas do referido po [13]
“Eu e meus companheiros vimos um caminho que tinha oito palmos de largura e naquele espaço nascia uma erva muito miúda... Corria este caminho por toda aquela terra e as pessoas o chamavam de Caminho de São Tomé” [14]
Em 1650 de Assunção corria o caminho até a famosa lagoa do Paititi, sobre uma dis-tância estimada em duzentas léguas, a qual lagoa assim se chamou por uma corruptela da voz “Pay Tomé”, nome dado ao apóstolo santo. [15]
Nicola dei Techo, falecido em 1680, também faz referência a um par de sapatos do santo, achados, estes, não entre as lavas do vulcão de Arequipa, mas no meio das cinzas de uma floresta incendiada, juntamente com uma túnica inconsútil de matéria desconhecida. [16]
Também Nicolas dei Techo, recorrendo ao testemunho de Nóbrega, apoiado pelas razões de Orlandini, o historiador da Companhia, refere, já em fins do século XVII, como os viajantes que saíssem do Brasil para o Guairá ainda podiam avistar a senda de São Tomé, onde andara o apóstolo. [17]
A prova está em que, ainda em 1791, missionários franceses do Cambodge se deixarão impressionar também pela possibilidade da mesma aproximação. Em carta daquela data, escrita por Henri Langenois, um desses missionários, encontra-se, por exemplo, o seguinte trecho, bem ilustrativo: “ [18] |
 Caminho do Peabiru (01/01/1500) |
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Fontes/Referências:
| [1] 01/01/1500 | *Havia indígenas transitando por Sorocaba, por um caminho terrestre-fluvial que ligava o litoral Atlântico, onde seria São Vicente, ao Paraguai | "Memória História de Sorocaba ... | | [2] 21/12/1501 | André Gonçalves e Américo Vespúcio descobrem o cabo de São Tomé | "Historia De Santos" Francisco... | | [3] 01/01/1507 | *Waldseemüller chega a converter em “pagus S. Paulli ”, originando a hipótese de que se acharia ali o mais antigo povoado europeu no Brasil | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [4] 12/11/1514 | A primeira versão conhecida dessa presença do discípulo de Jesus em terras americanas encontra-se, com efeito, na chamada Nova Gazeta Alemã, referente, segundo se sabe hoje, à viagem de um dos navios armados por Dom Nuno Manuel | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [5] 01/01/1516 | *São Thomé | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [6] 01/01/1538 | *Frade Bernardo | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [7] 01/01/1549 | *São Tomé, Nobrega | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [8] 01/02/1557 | O livro “Duas Viagens para o Brasil”, escrito por Hans Staden foi lançado na Alemanha, por Johann Dryander: História verídica e descrição de uma terra de selvagens nus e cruéis, comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecido antes e depois de Jesus Cristo e desconhecido aqui nas terras de Hessen até dois anos atrás, visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, o conheceu por experiência própria e agora publica esse livro com as suas impressões | Patrimônio Natural e Cultural ... | | [9] 01/01/1591 | *Ouro em "Mutinga" | "História Da Civilização Brasi... | | [10] 01/01/1606 | *Falecimento de Toríbio de Mongrovejo | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [11] 17/01/1620 | Falecimento de Diego Alvarez de Paz | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [12] 01/01/1628 | *“el Peabiyu, que es el camino que llaman de San Tomé” | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [13] 01/01/1639 | *Falecimento de Alonso Ramos Gavilán | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [14] 01/01/1639 | *Relato de Antonio Ruiz de Montoya | "A Conquista do Paraíso" Anton... | | [15] 01/01/1650 | *relato do padre Andrea Lopez | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [16] 01/01/1680 | *Falecimento de Nicola del Techo | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [17] 01/01/1699 | *Já em fins do século XVII, como os viajantes que saíssem do Brasil para o Guairá ainda podiam avistar a senda de São Tomé, onde andara o apóstolo | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | | [18] 01/01/1791 | *Missionários franceses do Cambodge se deixarão impressionar também pela possibilidade da mesma aproximação | "Visão Do Paraíso Sérgio Buarq... | |
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