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Atualização: 25/11/2021 22:05:26

28 de junho de 1591, Heitor Furtado de Mendonça dá início à primeira Visitação da Inquisição às terras do Brasil, que tem como objetivo tornar efetiva a administração inquisitorial da fé (e em particular a perseguição aos judaizantes) nas capitanias do Brasil, desde o início colocadas sob a jurisdição do Tribunal de Lisboa.

Mas logo no segundo dia do período de graça reservado às confissões e denúncias, aparecem duas pessoas a denunciar um, acusando-o de ter dado proteção em sua fazenda a um grupo de índios que praticavam cerimônias pagãs.

Nos dias que se seguem multiplicam-se as denúncias contra o senhor de engenho: chegam a ser 38, quase um quinto de todas as denúncias feitas. Enquanto tenta reconstruir o episódio e desvendar as motivações dos intervenientes, o Visitador dá-se conta, talvez, de que está a lidar com algo que ultrapassa a sua experiência inquisitorial.

Entre seis e dez anos antes, na buscas do "Caminho para a terra sem Mal", conhecido como Caminho de São Tomé, aparecera no sertão um profeta indígena, que juntou à sua volta uma comunidade de algumas centenas de índios empenhados na procura da "Terra sem Mal". Esse grupo teria em sua liderança um "profeta", convertido pelos jesuítas e algo extremamente novo e extremamente herético para a época: uma profetiza.

Senhores de escravos e jesuítas começaram a reclamar providências, e em 1585 e expedições são lançadas para cortar o mal pela raiz. Porém, o inesperado aconteceu, um dos principais organizadores das expedições teria se "convertido".

As tatuagens que o líder convertido teria feito, tinham despertado a desconfiança do Visitador. O mameluco alegou ter aderido à seita por fingimento e ter-se riscado para se parecer valente e facilitar a sua aceitação pelos índios.QUEM SERIA ESTE HOMEM? E ESSA PROFETIZA?

Esse movimento tinha características especificamente híbridas. O próprio profeta tinha sido catequizado pelos jesuítas e o grupo tinha à sua frente uma profetiza, fenômeno desconhecido no mundo tupi, que se chamava Santa Maria Mãe de Deus ou Santa Ana. Hoje podemos facilmente localizar o epicentro dos eventos ocorridos.

A Santa Ana, no Brasil tem o significado da "matrona branca que leciona os ensinamentos de Cristo na senzala". As primeiras senzalas surgiram na Bahia em 1549, porém os porões serviram apenas de abrigo para os escravos recém-libertados, que não tinham morada fixa, que viviam nas ruas de Salvador.

Era uma senzala de acolhimento. Os escravos passavam a noite aqui e de manhã saíam para resolver sua vida lá fora. Ainda não seria alí que a "matrona" branca lecionaria a bíblia. [3]

Por volta de 1585 a vila de São Paulo possuía menos de 200 habitantes. Afinal onde seria essa comunidade com centenas de nativos? O mapa "Speculum Orbis Terrarum" de Jan Van Deutecum, feito em 1578 e comprova a existência da comunidade e da capela herética, abaixo do Trópico de Capricórnio.

Aliás, a única capela existente ao sul. São Paulo ainda não aparece neste mapa, pois, importante lembrar que por volta de 1585 a vila de São Paulo possuía menos de 170 habitantes.

A comunidade que viria a se chamar Santa Ana foi fundada por Suzana Dias, conhecida e poderosa "matrona" dos povoadores da região. As primeiras capelas sob a invocação da Santa foram erigidas pelos seus descendentes. [4]

EXPEDIÇÕES CONTRA SANTA ANA

Em 1585 quando começaram a ser atraídos para a comunidade do profeta um número sempre maior de índios foragidos dos engenhos e fazendas do Recôncavo ou fugitivos das missões, São Paulo é uma cidade fantasma.

O colégio jesuíta fora fechado e menos de 170 habitantes ocupavam a vila. Senhores de escravos e jesuítas começaram a reclamar providências, e em 1585 deflagam as expedições para encontrar e destruir a comunidade herética. [6]

A primeira senzala "convencional" surge em 1580, quando o "primeiro homem branco" na região de Santa Ana e parente de Suzana Dias, adquiri imensas terras na região. [8]

Dia 10 de abril as Câmaras de Santos e São Vicente dirigem uma representação ao capitão-mor Jerônimo Leitão, mostrando a “necessidade da guerra contra os Tupiniquim e os Carijós, por estar a terra pobre e sem escravaria e hostilizada pelos selvagens”. [9]

Em primeiro de setembro a Câmara da vila de São Paulo dirige a mesma representação ao capitão-mor. [10]

Dois mezes após, tomando conhecimento dessa solicitação, o capitão-mór decidiu, em junta reunida na capela de São Jorge, no engenho dos Erasmos, que a ação fosse tomada. Partindo de Santos em meados de novembro de 1585, a expedição velejou para Paranaguá, onde aportou. [11]

A CHEGADA DA INQUISIÇÃO

Os depoimentos evidenciam que "o circo estava armado" contra esse profeta. E em 27 de março de 1591, quando o representante da Inquisição partiu para o Brasil, ele tinha ao seu lado o governador D. Francisco de Sousa. A missão de D. Francisco é conhecida pela historiografia: encontrar as terras pertencentes a região de Santa Ana. [12]

Mapa do Brasil (01/01/1578)

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