O Caminho do Peabiru ou de São Tomé, de São Vicente, via Piçaguera e Cubatão, subia a serra para ir aquietar-se lá no outro oceano. “Com seus oito palmos de largo então era nisso inferior a algumas ruas principais da Lisboa quinhentista”, disse um cronista religioso da época. Afirmação corroborada.
O historiador jesuíta, padre Pedro Lozano, que viu a estrada com os olhos de observador, assim a descreveu: “... teme oito palmos de largura, nele nasce uma erva muito pequena, que se distinque de todas as demais aos redor, que por sua fertilidade cresce pequena e nunca se eleva mais do que isso”.
Tal portanto ocorreria em “em reverência, sem dúvida, às plantas sagradas que a pisotearam e como testemunho do cansaço que o primeiro apóstolo da América sofreria em tais terras.”
“Aquele caminho vai bastante comprido, e caminho de São Tomé chamam-nos as gentes por ali moradoras”, disse outro jesuíta, o acima mencionado Antonio Ruiz de Montoya. Já o nosso Afonso Taunay é preciso: “como quer que seja, esse caminho existia e muito batido, com uma largura de 8 palmos, estendendo-se por mais de 200 léguas (965,6 km)...”.
Quanto aos largos lances do traçado, vigora uma quase unanimidade. Taunay teve em mãos mapas que teriam pertencido a D. Luís Antônio de Sousa, graças os quais pôde esmiuçar o caminho:
“Saindo de São Paulo, passando por Sorocaba, pela fazenda de Botucatu que foi dos Padres da Companhia, dirigindo-se a São Miguel, junto ao Paranapanema, e costeando esse rio pela esquerda, tocando em Encarnácion, Santo Xavier e Santo Inácio, onde em canoa descia o Paranapanema e subia o Ivinheima até quase às suas nascenças, aí seguia, por terra, pela Vacaria, até as cabeceiras do Aguaraí ou Correntes onde, tornando-se de novo fluvial, seguia por esse afluente até o Paraguai, pelo qual subia...”
Alfredo Romário Martins esmiuça: “Era São Vicente, Piratininga, São Paulo, Sorocaba, Botucatu, Tibagi, Ivaí, Piqueri, bifurcava-se o caminho, indo um ramal para o sul, até o Iguaçu, no ponto em que este rio, na sua margem esquerda, recebe o Santo Antônio”.
Não é muito diverso o roteiro referido por Batista Pereira: “uma picada de 200 léguas (965,6 km) que, com duas varas de largura, ia do litoral (São Vicente) até Assunção do Paraguai,passando por São Paulo. Passa na várzea da cidade, bifurcando-se no rumo das futuras Itu e Sorocaba”.
Para Aloísio de Almeida, o Peabiru era mais do que um caminho. Fala de um “sistema viário”, “feixe de comunicações no qual Sorocaba era o ponto de passagem: São Vicente-Piratininga, Cananéa-Itapetininga, Paranaguá-Curitiba, Santa Catarina-Tibagi era descidas do planalto para o mar. Tronco: São Paulo-Tibagi. Ligando-se a este, dois novos ramais, um começando nos Campos Gerais (Paraná), outro em Itapetininha, para alcançarem o Guairá e o Paraguai...” [1]
Dia 29 de março de 1549 as embarcações de Tomé de Sousa chegam na Bahia trazendo cerca de 400 degredados e junto aos primeiros jesuítas estava o padre Leonardo Nunes, apelidado pelos nativos de "Padre Voador", pela velocidade com que se deslocava pelas terras brasileiras. [2]
Leonardo Nunes também era o único jesuíta ferreiro. Já em novembro em parte para São Paulo com mais 10 ou 12 meninos e alguns Carijós (Guaranis). [3]
No ano seguinte João Ramalho funda Santo André da Borda do Campo de Piratininga, num local sugerido pelo Padre Leonardo Nunes. A primeira povoação européia na América Portuguesa a se distanciar do litoral. O local escolhido ficava no caminho do Peabiru, em Maniçoba, entre Sorocaba e Itu. [4]“01/01/1551 - *Conflito entre o Padre Leonardo Nunes e «um homem que havia quarenta annos estava na terra já tinha bisnetos e sempre viveu em peccado mortal e andava excommungado"” [5]
Foram muitos os motivos que levaram Tomé de Sousa a fechar o caminho em junho de 1553. Ele escreve ao Rei D. João III informando a decisão: “nomeei João Ramalho para vigiar e impedir o trânsito de espanhóis e portugueses entre Santos e Assunção e vice-versa; e assegurar a soberania portuguesa no campo de Piratininga e sobre os caminhos de penetração que dali partiam”. [6]
O fechamento do caminho frustra os planos dos jesuítas, como descreve Nóbrega, em carta datada de 15 de agosto deste ano: “O principal motivo de todos os impedimentos foi o fechamento da estrada por causa dos castelhanos, que estão a pouco mais de cem léguas desta capitania. E eles têm terras, e tanto que dizem que há montanhas deles, e muitas notícias de ouro pelo qual fecharam e bloquearam a estrada”. [7]
Não fica claro o que ocorreu primeiro, se o fechamento do caminho ou o conflito com os carijós. Mas é certo que após fechamento, Nóbrega enviou amigos para erigir um Colégio em “São Paulo”. [8]
Dia 24 de dezembro o jovem Anchieta chega ao novo local: “E é por aqui a porta e o caminho mais certo e seguro para entrar nas gerações do sertão”. [9]
Dia 25 de janeiro de 1554 a povoação de muda o Piratininga. A vila de Santo André da Borda do Campo, em Maniçoba seria destruída por ordem do governador-geral. [10] |