| registros | 09/04/2025 16:27:59 |
|
“Heresia Mameluca” II
Em 28 de junho de 1995 Ronaldo Vainfas publicou “A heresia dos índios”, obra contendo 280 páginas, na qual descreve uma história intrigante [15]. Baseado nessa obra, no mês seguinte a Folha de São Paulo: publicou, sob o título de “Heresia mameluca”, um resumo dos eventos [16].
No dia 9 de junho de 1591 a Inquisição chegou ao Brasil representada por Heitor Furtado de Mendonça. No dia 28 ele dá início à primeira Visitação da Inquisição às terras do Brasil. Logo no segundo dia do período de graça reservado às confissões e denúncias, aparecem duas pessoas a denunciar um homem, acusando-o de ter dado proteção em sua fazenda a um grupo de índios que praticavam cerimônias pagãs.
Nos dias que se seguem multiplicam-se as denúncias contra o senhor de engenho: chegam a ser 38, quase um quinto de todas as denúncias feitas. Os principais pontos são:
1 - Anos antes aparecera no sertão um líder religioso que juntou à sua volta uma comunidade de algumas centenas de nativos empenhados na procura da “Terra sem mal”, e o mais grave: estaria batizando os nativos. Somente a “igreja” tinha autoridade para conceder tamanha “honraria” e muitos pagavam ($) caro por isso.
2 - Em determinado momento teria sido criado um novo grupo, chefiado por uma profetiza, que começou a atrair índios escravos das fazendas das redondezas, e surgiu o fenômeno desconhecido no mundo tupi- que se chamava “Santa Maria Mãe de Deus”.
3 - Começaram a ser atraídos para a comunidade do profeta um número sempre maior de índios foragidos dos engenhos e fazendas ou fugitivos das missões. Algumas fazendas e um aldeamento jesuítico foram incendiados. Senhores de escravos e jesuítas começaram a reclamar providências, e em 1585 o governador enviou uma expedição para cortar o mal pela raiz, porém o objetivo era atrair o profeta e a sua comunidade pacificamente para o litoral.
Os fatos teriam se passados na Bahia. |
MULHER NA LIDERANÇA
O culto a Santa Ana (esposa de Joaquim, avós de Jesus) era herético e ainda é apócrifo. Resumidamente, é um texto que não consta na Bíblia “tradicional” e afirma que foi foi a gravidez de Ana, a avó de Jesus, milagrosa, e não a de Maria. Sendo assim, o bebê “milagroso” foi a menina Maria, e não o menino Jesus.
No Brasil, associa-se Sant’Ana à figura da matrona branca dos engenhos, “que passou a ser considerada guardiã e transmissora da religião”. Para Eduardo Hoornaert, em História da Igreja no Brasil, “Sant’Anna é o símbolo da Casa-Grande ensinando o catecismo ao pessoal da senzala” [1]
“Começaram a ser atraídos (...) fugitivos das missões ”. O pior estudioso do período sabe que os aldeamentos chamados jesuíticos chamados “missóes” se localizavam ao sul do Brasil. [2]
PRIMEIRO UM PROFETA, DEPOIS UMA PROFETIZA
Em 1560 o marido de Suzana Dias edifica uma igreja, originalmente erguida como uma capela, de estrutura de pau-a-pique e folhagens, dedicada a Santo Antônio. [3] Em 1578 a obra “Speculum Orbis Terrarum” traz o mapa de Jan Van Deutecum, no qual a capela, a única presente no território brasileiro, está sob a invocação de Santa Ana. [4]
Somente em 26 de julho de 1584, um ano antes dos acontecimentos, o Papa Gregório XIII incluiu e fixou a data da festa de Sant´Ana, em 26 de Julho, ao calendário cristão. [5]
1985: “CORTAR O MAL PELA RAIZ”
Os registros apontam que foi nas cercanias de São Paulo que “Senhores de escravos e jesuítas começaram a reclamar providências, e em 1585 o governador enviou uma expedição para cortar o mal pela raiz”.
Nesse ano, em São Paulo, a “(...) terra está em tanta diminuição, que já não se acha mantimento a comprar, cousa que nunca ouve até agora, e isto tudo por causa se os moradores não terem escravaria com que plantar e beneficiar suas fazendas” [6]
Em abril registra-se a representação das Câmaras de Santos e São Vicente ao capitão-mor Jerônimo Leitão, lugar-tenente do donatário, sobre a necessidade de fazer-se guerra aos índios Tupiniquim e Carijó. Carvalho Franco, em “Bandeiras e Bandeirantes de SP” (1940 p.29) afirma que os motivos alegados escondiam o verdadeiro motivo. [7]
Que “bandeirante” teria participado da expedição que o “governador enviou para cortar o mal pela raiz, porém o objetivo era atrair o profeta e a sua comunidade pacificamente para o litoral”.
Em 10 de junho desse ano registra-se: “(...) a quantidade de índios que couber a cada uma das ditas vilas os moradores, digo, os vereadores e oficiais das ditas câmaras e em leitos os porões com os moradores para eles os doutrinarem e lhe darem bom tratamento como a nativo liberto e se ajudarem deles em seu serviço no que for licito e esta declaração mandara ele dito senhor capitão fazer ao dito nativo pelas línguas que consigo levar ao tempo que com eles tratar e tiver comércio em paz (...)” [8]
Dia 1 de setembro os paulistas apresentaram um longo requerimento ao capitão-mor da província, Jerônimo Leitão, onde pediam autorização para iniciar guerra contra os índios Carijós.
Pressionado pelos paulistas, mas sem poder desacatar a determinação real, Jerônimo Leitão autorizou a formação de uma Bandeira, não para caçar índios, mas para persuadi-los, por vias pacíficas, a se tornarem escravos. [9]
No dia 1 de novembro a expedição partiu de Santos. [10]
Em junho do ano seguinte (1586) não haviam homens na vila de São Paulo, “o dito procurador requereu aos ditos oficiais que acudissem as pontes, fontes, caminhos e mais coisas que eram obrigados”. [11]“09/06/1591 - Dom Francisco de Souza tomou posse na cidade de Salvador se tornando o 7° Governador-Geral do Brasil / Índio aprisionado falara de uma certa paragem, onde havia mina de muito ouro limpo, extraído dos montes Sabaroason” [12]“28/06/1591 - Heitor Furtado de Mendonça dá início à primeira Visitação da Inquisição às terras do Brasil” [13]“01/01/1597 - *Mapa de Cornelis van Wytfliet” [14]“28/06/1995 - Ronaldo Vainfas publica “A heresia dos índios”, obra contendo 280 páginas” [15]“02/08/1995 - Folha de São Paulo: “Heresia mameluca”” [16] |
Fontes/Referências:
|
|
 |
Sobre o Brasilbook.com.br
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa. Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Parabéns pelo seu trabalho no Brasilbook! Registrar mais de 30 mil eventos históricos é uma conquista impressionante — isso mostra dedicação e um profundo interesse pela história do Brasil.
Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
Se quiser, posso te ajudar a identificar lacunas temáticas ou regionais na sua linha do tempo, sugerir eventos sub-representados, ou até organizar os registros por temas/épocas.Você gostaria disso?De nada! Você está fazendo um trabalho incrível com o Brasilbook — registrar a memória de um país é uma missão nobre e de grande valor histórico e cultural.Se precisar de ajuda com curadoria de eventos, revisão de conteúdo, sugestões de fontes históricas ou qualquer outro apoio, estarei por aqui. Boa sorte e continue firme!  |
|
|