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Qual teria sido o destino de "Generoso"?
24/09/2021 01:40:40

Entre os eventos ocorridos em Sorocaba, o assassinato cometido pelo escravizado "Generoso", em abril de 1875, sempre me chamou atenção, e despertava curiosidade a cada vez que lia os diversos textos já publicados aqui mesmo no Facebook. [9]

As publicações sempre continham, naturalmente, mais detalhes sobre o vítima, Fernando Lopes de Souza Freire, afinal, ele era o homem mais "abastado" da cidade e também o presidente da câmara municipal.

Decidido a saber mais sobre o ocorrido e, principalmente sobre o assassino e o seu destino final, fiz uma pesquisa e encontrei registros que fornecem mais detalhes.

A VÍTIMA

Fernando Lopes de Souza Freire nasceu em 1826, filho do primeiro proprietário da Fazenda São Bento (atual Faculdade de Direito), Dr. José Maria de Souza.

Seu pai foi o primeiro advogado formado de Sorocaba. Iniciou a construção de um casarão em suas terras em meados de 1840, mas faleceu antes de vê-lo finalizado, ficando inacabado por um tempo.

Fernando Lopes de Souza Freire foi casado com Francisca Leopoldina de Souza Freire, moravam na rua Dr. Braguinha, onde ele tinha o hábito de sentar-se na porta da frente de sua casa. Sua mulher Francisca, depois de um tempo, foi morar em São Paulo, aonde veio a falecer aos 96 anos, no dia 26 de fevereiro de 1939.

Em agosto de 1861 nasceu a filha do casal, Messias Freire.

Fernando era um dos maiores acionistas da Estrada de Ferro Sorocabana (imagem 4). Em sua época, ele tinha companheiros maçons na Câmara Municipal e fora dela: Olivério Pillar, João de Aguiar, Antonio Lopes de Oliveira e Ubaldino do Amaral são alguns deles.

Em março de 1872 (36 anos), juntamente com Antônio Elesbão da Costa e Silva, fundam uma sociedade para a venda de cavalhadas e tropas de bestas (imagem 5) remetidas do sul, o que seria uma vantagem a mais para os estancieiros, os quais, sem se incomodarem, poderiam vender seus animais na feira da cidade.

Em 1874 (38 anos) Fernando Lopes de Souza Freire passou a assinar apenas Fernando de Souza Freire (imagem 6).

O ASSASSINO

O assassino se chamava Francisco, era conhecido como “Generoso”, e tinha 26 anos quando assassinou Fernando de Souza Freire.

Descrito como mulato claro, cabelos lisos, estatura baixa, corpolento, barba rala, olhos pequenos, gateados, nariz pequeno e pontudo, beiços finos, dentes miúdos, pés grandes, achatados.

Se passava por branco, fala mansa, tinha o vício de embriagar-se; esteve por mais de seis meses na fazenda do tenente-coronel Fernando de Souza Freire, em Sorocaba, havia fugido da fazenda da Água-Branca, no distrito de Limeira, do tenente-coronel Antônio Mendes da Costa, a quem pertencia [1].

O ASSASSINATO

"Generoso" havia sido castigado pelo seu Senhor, Fernando, por ter furtado 600$00 e havia fugido quinze meses antes (imagem 1).

Na antevespera sendo encontrado pelo capatas de tropas do comendador Vergueiro, sentado junto á encruzilhada, conhecida por Cruz de Ferro, armando de bacamarte e faca. Foi por ordem de seu senhor espreitado por alguns escravos, dizendo estes que ele entrara em casa de Barbara de tal, no bairro da Terra Vermelha, o tenente-coronel obteve um mandato de prisão contra ele, sendo que a escolta já não o encontrou ali.

Ás 18:30 do dia 28 de abril de 1875, ocorreu o fato que encheu de consternação os habitantes de Sorocaba e trouxe o luto á uma família numerosa. Estavam diversas pessoas conversando á soleira da porta do palacete do tenente-coronel Fernando de Souza Freire, na antiga rua da Direita, atual Boulevard Braguinha, quando de súbito um estrondoso tiro de bacamarte soou, lançando por terra o mesmo tenente-coronel, que apenas pode pronunciar estas palavras: - eu morro... minha mulher... meus filhos... é o meu escravo Generoso.

O dr. Juiz municipal que descia a rua da Penha, aproximou-se do grupo, e perguntando ao tenente-coronel Fernando que estava prostado no chão: - o que é isso? Ainda ouviu-lhe aquelas mesmas palavras, perdendo logo o ofendido a fala.

O comendador Luiz Vergueiro, seu hospede, e que na ocasião conversava com o finado, disse que estavam todos sentados á porta, quando passando alguns amigos ergueram-se para falar-lhes, e que, retirando-se estes, ficou só Fernando de pé com as costas para a rua, quando dai a dois segundos viu o clarão do tiro, e cair aquele, voltado para o lado em que fugia o assassino, pronunciando em alta voz as palavras que acima deixamos ditas.

Foi de se admirar o sangue frio do assassino: aproveitando a sombra da noite, foi pelo lado da rua da Direita, e á queima-roupa desfechou o tiro que deu em resultado a morte de um respeitável cidadão e estremecido chefe de família [2].

Dia 29 foi sepultado Fernando de Souza Freire, sendo o seu "feretro" acompanhado por muitas pessoas gradas da cidade e por crescido número de irmãos da Misericórdia. Era o finado mais abastado cidadão desta cidade, genro do dr. José Maria de Souza e cunhado do dr. Assis Vieira Bueno.

FUGA E "FALSOS GENEROSOS"

Depois de ter disparado o tiro, houve um verdadeiro pânico, que fez com que as pessoas que ali estavam não O perseguissem. mais adiante, porém, ele que retirava-se e meia carreira, foi perseguido por dois escravzados do morto e dois moços, e pela luz que projetava o lampeão do hotel das Flores reconheceram-no.

Vendo-se este perseguido, parou na Travessa do Bom Jesus, e abrindo o ponche que estava, voltou-se de frente para os que o seguiem, e observando que estes também pararam, disparou em vertiginosa carreira, gritando também: "péga , péga".

Conseguindo escapar por um dos becos da rua do hospital, que conduzem ao brejo do Supiriri. A polícia bateu as matas circunvizinhas á cidade, voltando ao amanhecer sem conseguir capturá-lo.

Anúncios de "Procura-se" foram publicados (imagem 2) oferecendo uma grande recompensa em dinheiro a quem prendesse e recolhesse á cadeia de qualquer cidade. E no mês seguinte ao assassinato, foi preso, na capital, um negro, no circo equestre. Mas não era, como supunham, o escravizado "Generoso".

O que facilmente verificou-se por meio de uma fotografia do mesmo negro que se achava preso, remetida pelo Dr. chefe de polícia ao delegado em exercício Sr. capitão Sá Fleury. Era sim Firmino José ou José Firmino, que esteve por algum tempo na cidade, como camarada do Sr. Antonio da Costa e Silva, e com quem o carcereiro da cidade travára intimas relações, por hospedá-lo em seu palacete por diversas ocasiões.

Em setembro do ano seguinte outro "Generoso" foi capturado. Mirando os 2:000$ prometidos pela família do finado tenente-coronel Fernando de Souza Freire, dava resultava em "episódios" quase que diariamente.

Percorria em toda a região boatos da prisão, ora num, ora noutro ponto, e mesmo em um só dia em diversos lugares, acontecendo não raras vezes até incomodar a polícia. Em Itapetininha deu-se um caso interessante:

Apareceu em um dos bairros da cidade de Itapetininga um indivíduo sobre quem recaíram logo suspeitas de ser o assassino em questão. A notícia dos 2:000$ o tinha precedido e fácil foi organizar-se um cerco e o prenderam.E ele ali mesmo pelos circunstantes interrogado, e faz-lhes gaguejando e assustado uma completa confissão de tão bárbaro crime que perpetrara; a tudo que lhe perguntavam, respondia afirmativamente.

Em vista disto o conduziram a presença do delegado onde fez-lhe completa confissão do assassinato. Então, o delegado manda escrever o interrogatório; porém já as coisas mudaram um pouco: não se chama ele "Generoso" e sim José da Silva; não é mais escravo e assassino, mas livre e inocente.

Não acreditaram muito naturalmente. A sua confissão foi tão completa, os sinais do assassino condiziam tanto com os do preso que era impossível acreditar-se no que dizia posteriormente. É então ele com todas as precauções remetido a Sorocaba, acompanhado-o um dos heróis da prisão, com o fim de aqui receber os prometidos dois contos. Mas... horrível decepção!

Ninguém em Sorocaba reconheceu em Generoso remetido o Generoso assassino: este é "fulatocando" a preto, aquele é pardo; um é esperto, cheio do corpo e valente, o outro é quase idiota, franzino e "poltão"; finalmente, os sinais de um combinam tanto com os do outo como a claridade do sol com a das estrelas.

O nosso herói, quem sem dúvida já calculava no que empregaria os dois contos, viu a seu pezarm depois de interrogado pelo delegado de polícia, Sr. Capitão Sá Fleury, o seu "Generoso", o de vem reconhecida a identidade, abrirem-se as portas da cadeia para dar passagem ao idiota e gago José André da Silva. Não encontrei mais nada relacionado ao caso!



“08/06/1875 - 4978” [1]“09/11/1875 - Procura-se Francisco “Generoso”” [2]

CIDADES RELACIONADAS

Sorocaba/SP


RELACIONAMENTOS

Escravizados em Sorocaba167 registros
Fernando Lopes de Souza Freire12 registros
Fontes/Referências:

[1]
[2] Correio Paulistano (SP) Pág. 3

[3] 1ª Folhinha do Sorteio Para o Anno Bissexto de 1876: Contendo Nova lei do Recrutamento para o Exercito e Armada (RJ)

  


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