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Ubaldino do Amaral e os escravizados
Lendo um relatório sobre a situação dos escravizados na fábrica em Ipanema, elaborado em 1864, lembrei de Ubaldino do Amaral Fontoura, uma das pessoas que mais admiro, e também uma das mais importantes da História, sorocabana e brasileira.
Antes do relatório sobre a fábrica, um pouco de Ubaldino! Do jovem, não do experiente homem que participou da eleição presidencial vencida por Campos Sales em 1898. [5]
Em 13 de maio de 1888, após assinatura da Lei Áurea, o Barão de Cotejipe disse a Isabel: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”. [4]
75 anos depois, em 25 de agosto de 1963, um manifesto foi divulgado em Sorocaba:
“Como Comandante Chefe da Coluna Senador Vergueiro, Coluna esta, integrada por descendentes diretos ou indiretos, parentes, afins e cultuadores da memória do grande Estadista que integrou a Regência Provisória, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, venho à público, declarar o seguinte:
Que me dite bem o Governo, antes de pretender retalhar a propriedade rural dos paulistas, lembrando-se de que foi também um assalto ao patrimônio privado, que deitou por terra a Monarquia.
Com a patriótica e espontânea colaboração dos valorosos Sargentos de nossa briosa Força Pública, a Coluna Senador Vergueiro não vacilará em sair (sic) à rua para defender o patrimônio privado que, através de quatro séculos, foram acumulados pelos intrépidos Bandeirantes que bradaram bem alto "No duco, ducor". [6]
Origem da ideia
Onde, quando ou de quem surgiu a ideia e consequentemente leis em favor dos escravizados? Confesso que ainda estou procurando-os. Poderia ter "nascido" em Sorocaba?
Anos antes da abolição existiu em Sorocaba um grupo de homens, cujos integrantes deixaram suas heranças aos escravizados que os serviram.
Liderando este grupo estava o jovem advogado Ubaldino do Amaral Fontoura. Com apenas 26 anos, em 7 de agosto de 1869, 24 dos homens mais poderosos de Sorocaba se reuniram na atual Rua da Penha e ouviram dele uma proposta, redigida por ele e Antonio Leite Penteado:
“Libertar e educar os filhos dos escravizados”, na qual destacam-se os seguintes itens:
- Banquetes, ceias e copos d´água estão absolutamente proibidos. Devemos destinar o dinheiro à Caixa de Emancipação. Assim como o valor da iniciação e da mensalidade.
- O valor acumulado nessa "caixa" será exclusivamente destinado à libertação de crianças do sexo feminino de 2 a 5 anos de idade.
- As crianças assim libertadas ficarão sob nossa proteção. Serão criadas escolas para adultos e menores. As escolas serão noturnas; mantidas pela oficina para o ensino gratuito das primeiras letras.
A proposta foi aprovada por unanimidade! [3]
Me esforcei para entender Ubaldino do Amaral! Sei que já na faculdade ele escolhia defender casos "escravizados x proprietário", como quando conseguiu absolver o escravizado Antonio por ter ferido gravemente seu dono em 10 de maio de 1867. [2]
Faz pouco tempo que me interessei pela História de Sorocaba. De imediato senti a necessidade de organizar ou catalogar os registros.
Minha área de estudos sempre foi relacionada á Informática, então criei um software (aplicativo) com a finalidade principal de organizar os registros.
Por exemplo, comecei cadastrando os nomes dos personagens, por exemplo, "Ubaldino do Amaral", e cada um deles recebe automaticamente número. Até o momento foram 3593 nomes catalogados. Afonso Sardinha, por exemplo, recebeu o número 340, Balthazar Fernandes 1127, etc.
Essa a ordem numérica (1, 2, 3..) é aleatória, na verdade sigo meu coração. Quando vejo algo que me interessa, vou as pesquisas e insiro as informações no sistema.
Eu não me lembrava, mas o n° 1 se refere a Ubaldino (https://brasilbook.com.br/b.asp?b=1). Assim, talvez foi em Ubaldino que nasceu minha paixão pela História!
Os escravizados na fazenda Ipanema
Voltando as páginas do relatório que lembrou Ubaldino...“O estado dos escravizados que hoje existem na fábrica não é dos mais lisonjeiros. São em número de 63, destes 27 são maiores de 60 anos, 17 menores de 12 anos, e 3 inválidos, aí vão 47 ou 74% do total inutilizados para o serviço.
Africanos livres existem 15, dos quais 3 inválidos e uma de 69 anos.Temos portanto, sobre 68 escravizados e africanos, 27 capazes de serviço; neste número estão incluídos 3 meninos de 12 e 13 anos, que servem para campear gado. E o único oficial de ofício, o pedreiro, é ele aleijado de ambas as pernas.
Ocupa-se toda a gente aproveitável na roça em cultivar mantimentos para sua subsistência. É claro que a fábrica de Ypanema, com suas riquezas tão preciosas, em vez de cuidar da produção de matas durante a sua inação, para então em remoto futuro levantar de novo a cabeça com recursos que se deveriam tornar perpétuos, é hoje um triste asilo de inválidos.
E, ainda mais, um asilo pouco digno do Estado, porque é lastimosa a condição dos negros, muitos dos quais já serviram a nação para cima de 60 anos. Dá-se-lhes uma ração, que é insuficiente para o sustento de um homem robusto, e consta do seguinte:
Toucinho, meia libra Feijão, dois décimo de quarta Fubá de milho, seis décimos de quarta
Um boi ou novilho, tenha ele 5 ou 10 arrobas, para todos os 78, tudo isto é por semana; e note-se que o fubá é como sai do moinho com farelo, o que reduz a matéria alimentícia á menos de meia quarta; feijão não chega a um selamim. O arroz, farinha, canjica e algum fumo é coisa que só aos doentes de concede.
Quando sobra dinheiro da consignação, compra-se roupa para os escravizados; porém, parece não chegar para todos, porque alguns andam literalmente nus, cobertos com andrajos que não os protegem, nem ao menos contra o frio; parece que de longa data se dava isso, pois pela cópia de um ofício dirigido ao governo pelo atual administrador, vejo que pelo espaço de seis anos não receberam roupa esses entes, dos quais alguns trabalham para o Estado, mal nutridos e sem um real de gratificação!
Ainda não é tudo! Para esses 78 homens, mulheres e crianças, não ha um capelão, e não há um médico! Queixa-se o administrador de que a tesouraria lhe recambiara a conta de um médico chamado para tratar de alguns doentes, por não haver verba no orçamento para se salvar a vida de um homem!
Antigamente se pagava uma gratificação mensal a um médico de Sorocaba, que tinha de acudir aos chamados, e na fábrica havia enfermeiro e botica; haver-se cortado essa despesa foi falta prejudicial ao estabelecimento.
Quanto á botica, tenho a lembrar a conveniência de ser ela sortida com drogas enviadas d´aqui, porque um boticário, Rosa, de Sorocaba, excede de muito os limites do que o decoro permite levar em contas exageradas; como exemplo citarei o clorofórmio, do qual me vendeu, impuro, a onça por 8$000 rs., quando em qualquer parte da Europa custa 2$000 rs. a libra! E a fábrica hoje está sujeita á estes preços exorbitantes.
É pois, medida urgente cuidar do melhoramento do estado moral e físico de toda essa gente que representa o resíduo de 303 escravizados e africanos, cujo assentamento existe na fábrica...” [1] |
Fontes/Referências:
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Sobre o Brasilbook.com.br
Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.  |
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