Dom Francisco de Souza tomou posse na cidade de Salvador se tornando o 7° Governador-Geral do Brasil
9 de junho de 1591, domingo Atualizado em 24/10/2025 04:07:19
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No tempo em que, vindo da Bahia, D. Francisco de Sousa, esteve pela primeira vez em S. Paulo, aí vivia Guilherme Glymmer, flamengo, que tomou parte em uma expedição ao sertão e que dela fez uma descrição, que encontrou abrigo na obra de P. Maregrave – história Botânica do Brasil – nos termos seguintes:
“Julgo a propósito inserir aqui o roteiro que recebi de Wilhelm Glymmer, nosso compatriota. Conta ele que, na época em que vivia na Capitania de S. Vicente, chegara àquelas paragens, vindo da Capitania da Bahia, Francisco de Sousa; pois recebera de um brasileiro um certo metal, extraído, segundo dizia, dos montes Sabaroason, de cor azul-escura ou celeste, salpicado de uns grânulos cor de ouro. Tendo sido examinado pelos entendidos em mineração, reconheceu-se que esse metal continha, em um quintal, trinta marcos de prata pura. Fascinado por essaamostra, o governador, julgando conveniente explorar mais cuidadosamente esses montes e as minas que eles encerravam, resolveu mandar para lá setenta ou oitenta homens, entre portugueses e brasileiros. Fez parte dessa expedição o nosso Glimmer, que dela faz a seguinte descrição:
“Partindo da cidade de S. Paulo, na Capitania de S. Vicente, chegamos, primeiro à povoação de S. Miguel (distante de S. Paulo cinco ou seis léguaspara o Nascente), à margem do rio Anhembi, e nesse lugar achamos preparadasas provisões, que os selvagens tinham de carregar nos ombros. Atravessamos, depois, aquele rio e, com uma marcha de quatro ou cinco dias a pé, através de densas matas, seguimos rumo de Norte, até um riacho que nasce nos montes Guarimumis, ou Marumiminis, onde há minas de ouro. Aqui, aparelhadas algumascanoas de cascas de árvores, continuámos rio abaixo, durante cinco ou seis dias, efomos ter a um rio maior que corria da região ocidental. Aquele primeiro riachodeslisa por sobre campos baixos e úmidos, notáveis por sua amenidade. Tendodescido este rio maior, em dois dias, encontramos outro ainda muito maior, quenasce no lado septentrional da serra de Paranapiacaba (assim como o Anhembinasce no lado austral da mesma Serra), e correndo, a princípio, para o Ocidente,na mesma direção dos montes, depois, formando um cotovelo, se encaminha poralgum tempo para o Norte, e, afinal, como geralmente se crê, se lança no Oceanoentre o Cabo Frio e a Capitania de Espírito Santo; chama rio de Sorobis e éabundantíssimo em peixes, tanto grandes como pequenos. Descendo também esterio, durante quinze ou dezeseis dias, chegamos a uma catarata, onde o rio, apertado entre montanhas alcantiladas, se despenha para o Nascente. Por isso, abicamos neste ponto as nossas canoas e marchamos outra vez a pé, ao longo de outrorio que desce do lado ocidental e não se presta a navegação. Com cinco ou seisdias de marcha, chegamos à raiz de um monte altíssimo, e, transpondo-o descemos a uns campos mui descortinados e aqui e acolá sombreados de bosques sevêem lindíssimos pinheiros, que dão frutos do tamanho de uma cabeça humana;as nozes desses frutos têm a grossura de um dedo médio e são protegidas por umacasca como as castanhas, e são mui agradáveis ao paladar e nutritivas, (Presumoque Glimmer se refere aqui à árvore da Sapucaia). Por muitas milhas no interiorse encontram árvores desta espécie.“Três dias depois, chegamos a um rio, que deriva do Nascente, e,atravessando-o, durante quatorze dias, tomamos a direção de Noroeste, atravésde campos abertos e outeiros despidos de árvores, até outro rio, que era navegávele corria da banda do Norte. Atravessamo-lo em umas embarcações chamadasjangadas, e, quatro ou cinco léguas mais adiante, topamos outro rio que corriaquase de norte e era navegável. Creio, porém, que estes três rios, afinal, confluemnum só leito e vão desaguar no Paraguai, em razão de que o curso deles é para osul, ou para o Ocidente. Em toda a viagem até aqui descrita nada vimos que de notasse cultura, não encontramos homem algum, apenas aqui e ali aldeias em ruínas, nada que servisse para alimentação, além de hervas e algumas frutas silvestres; todavia, observávamos às vezes fumaça, que se erguia no ar, pois por aquelassolidões vagueavam com suas mulheres e filhos alguns selvagens, que não tinhamdomicílio certo e não curavam de semear a terra. Junto a este último rio, encontramos, finalmente, numa aldeia de indígenas, víveres em abundância, que vinham muito a propósito, visto que já estavam consumidos os que conosco tínhamostrazido, e já a fome nos obrigava a comer frutos silvestres e hervas do campo.“Tendo-nos demorado aqui quase um mês, abastecidos de vitualhas, proseguimosa nossa viagem em rumo de noroeste e, decorrido um mês, sem encontrar rio algum, chegamos a uma estrada larga e trilhada e a dois rios de grandeza diversa,que, correndo do sul, entre as serras Sabaraasu, rompem para o Norte; e é minha opinião que esses dois Rios são as fontes ou cabeceiras do rio S. Francisco.Da aldeia sobredita até estes rios não vimos pessoa alguma, mas soubemos quealém das montanhas vivia uma tribu de selvagens assás numerosa. Estes, informados (não sei como) da presença de europeus naqueles sítios, despacharam umdos seus para nos espreitar. Caindo este em nosso poder, demo-nos pressa em arripiar carreira, de medo desses bárbaros e por nos escassearem os viveres, ficandopor explorar o metal por cuja causa haviamos sido mandados; e, quasi mortos defome, voltamos aquela aldeia de selvagens.“Daí, recuperadas as forças e aparelhados os víveres, pelo mesmo caminho por onde viéramos regressamos àquele rio, onde havíamos deixado as canoas, e,revigorados, saltamos nela e subimos o rio até as suas fontes; e assim gastos novemeses nesta expedição, voltámos primeiro a Mogomimin, depois, à cidade de S.Paulo.”Por sugestão de Capistrano de Abreu, Orville Derby fez umestudo sobre o roteiro descrito por Guilherme Glymmer, inserido naobra de Margraff, a fim de identificá-lo no terreno.As sugestões de Capistrano de Abreu foram felizes, comoem regra as suas soluções, pois que Orville Derby era o homem capazde fazer bom trabalho, não só pelo seu saber e competência, comopela sua experiência e prática que havia adquirido em estudar e explorar as terras e rios percorridos pela expedição de que Glymnier fez parte. [Páginas 290, 291 e 292]
Os piratas, franceses e ingleses, corriam os mares não policiados para saquear, se apoderar dos galeões carregados de ouro que vinham da América para os reinos de D. Carlos I.
D. Francisco de Sousa, mesmo em Lisboa e em Madri, ouvira falar dessas minas e nas pretensões de Robério Dias, e sem dúvida, a esses boatos dera crédito; no Brasil, depois de sua vinda essa crença mais se confirmou.
Frei Vicente do Salvador, contemporâneo de D. Francisco de Sousa, recolhe, nas páginas de sua História do Brasil (Livro 1º, Cap. V), e dá curso à notícia de que um soldado de crédito lhe contara que um índio aprisionado falara de uma certa paragem, onde havia mina de muito ouro limpo, de onde se poderia tirar o metal precioso aos pedaços. [“História do Brasil” Livro 1º, Cap. V. Frei Vicente do Salvador] [1]
* Nota de Adriano Koboyama: teria sido alí que ele encontrou ou ficou sabendo de glymmer? [3]
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