O desbarato da pequena armada de João Dias de Solis, na região do Atlantiéo meridional, teve como consequencia a fixação de varios de seus extraviados no litoral por alguns denominado do ouro e da prata e que tinha por extremos, ao norte, a ilha de São Vicente e, ao sul, o rio da Prata.
De muitos poucos delles se guardam os nomes e dentre esses, Aleixo Garcia, Henrique Montes e Belchior Ramires, unidos a mais seis, demoravam no porto de Santa Catharina, segundo dava noticia uma carta do embaixador João de Zuninga, em 1524.
Um decimo fôra encontrado e recolhido no rio Paraná, pelo piloto Diogo Garcia, em 1527. Aleixo Garcia foi incontestavelmente o iniciador do movimento sertanista nessa costa, por onde se estendia a ainda imprecisa capitania vicentina.
Escapando a varias vicissitudes, permaneceu algum tempo em Laguna - e ahi, a lenda seductora do Rei Branco, junto á uma serra de prata, nas mesmas paragens do grande rio, que remontára em parte com Solis, o attrahiu irresistivelmente com quatro companheiros, sertão a dentro, buscando alcançar a sua miragem, atravez do continente,
Foi desse modo que cruzou Santa Catharina, passou ao Paraná e por essa via internou-se no Paragua}r. Uma vez nessa região, língua da terra como se tornára., induziu centenas de guaranys a que o acompanhassem e, entrando pelo baixo Matto-Grosso, cortou a planicie dos. guayctirús e continuou sempre em direcção ao occidente,
buscando a região dos Charcas.
O término da sua caminhada, dizem alguns, teria sido Chuquisaca. Dahi desandou a jornada, com muitos despojos de prata e -quando attingia novamente as terras paraguayas, foi morto, com alguns dos seus companheiros, pelos guaranys revoltados, em 1526. [Página 11]
Nos primórdios do século VXI, a faixa litorânea que se estende de Cananeia para o sul era conhecida pelos navegantes portugueses e castelhanos como a "costa do ouro e da prata". Repercutiram entre eles, transmitidas por náufragos que aí viviam e marinheiros das naus que frequentavam o Atlântico Sul, as muitas lendas da existência da misteriosa serra da Prata no interior do continente, que não era senão o Alto Peru, e do "Rei branco" rodeado de fabulosas riquezas.
Um náufrago português da armada de Solis, Aleixo Garcia, realizou uma expedição por volta de 1524, confirmando a existência da serra lendária, demonstrando a possibilidade de chegar-se por terra até o Peru. Foi ele o iniciador do movimento sertanista nessa costa.
Embora malograsse a sua jornada ao regressar, pôde ainda, enviar notícias ao litoral, com amostras do precioso metal. As notícias chegaram até Henrique Montes, outro naufrago da mesma expedição.
As lendas da prata e a aventura de Garcia refletiram profundamente na Península Ibérica. Uma das consequências que provocaram foi a expedição de Martim Afonso de Sousa, e a colonização do litoral sul do Brasil. De onde partiam, então, caminhos que conduziam ao interior, à cobiçada Prata.
Uma antiga picada de nativos comunicava as nações guaranis do Paraguai e as da costa atlântica. Partindo das margens do rio Paraná, seguia pelos campos ao norte do rio Iguaçu até as nascentes do Tibaji, onde se ramificava: um galho demandava o sul, atravessando os campos de Curitiba em direção ao litoral de Santa Catatina; outro penetrava nas matas de Açungui, dando em Cananéia; o terceiro, rumo ao nordeste atravessava os campos que levavam a Piratininga, atingindo o litoral na altura
de São Vicente, pela trilha conhecida como a dos Tupiniquins. Os três pontos iniciais desses caminhos que se articulavam com o sertão foram com isso ocupados por castelhanos e portugueses anteriormente à colonização efetiva do Brasil: o litoral catarinense, Cananéia e o povoado que precedeu a vila de São Vicente. [p. 316]
Desde a demarcação de Tordesilhas para o oeste, em direção ao Pacífico, a Espanha reivindica ser dona dessas terras que incluíam o que hoje corresponde aos estados do Paraná e Santa Catarina. Em 1516, foram os espanhóis, da expedição de Solís, os que chegaram ali primeiro, e também foram os espanhóis, da expedição de Aleixo Garcia em 1524, os primeiros a atravessá-las
Garcia naufragou no litoral de Santa Catarina no ano de 1516, depois do fracasso de uma missão espanhola que pretendia navegar pelo Rio da Prata. Ele e meia dúzia de outros navegadores foram acolhidos pelos receptivos indígenas guaranis. Oito anos mais tarde, depois de ouvir as histórias sobre um caminho que levava até um império nas montanhas, rico em ouro e prata, Garcia viajou com 2 mil guerreiros guaranis até os Andes, a cerca de 3 mil quilômetros de distância. A pesquisadora brasileira Rosana Bond, no livro A Saga de Aleixo Garcia: o Descobridor do Império Inca, afirma que Garcia foi o primeiro europeu conhecido a visitar o império inca em 1524 — cerca de uma década antes da chegada do conquistador espanhol Francisco Pizarro, amplamente conhecido como "descobridor" do povo originário dos Andes peruanos. As trilhas que vinham do Brasil conectavam-se à rede de estradas incas e pré-incas através dos Andes, que hoje recebem muitos visitantes, mas o Caminho de Peabiru propriamente dito deixou poucos vestígios. Essa falta de evidências físicas não só levou a teorias divergentes nos círculos acadêmicos sobre quem o criou e quando, mas também gerou amplas especulações sobre sua possível criação pelos vikings ou pelos sumérios — ou mesmo pelo apóstolo Tomé, supostamente vindo de uma missão evangelizadora na Índia.
Pesquisando sobre o Império Inca, a jornalista e escritora Rosana Bond leu em um antigo livro espanhol que um tal de Aleixo Garcia fora o primeiro europeu avistado pelos indígenas dos Andes. E anotou aquela informação despretensiosamente. À medida em que os anos passavam e ela estudava a história da América Latina, mais aquele personagem aparecia em textos e documentos.
Até que viu uma citação ao seu nome em uma obra sobre Desterro, atual Florianópolis. "Mas o que é que esse sujeito está fazendo aqui num livro de história de Santa Catarina?", perguntou-se.
Bond tinha duas pontas de uma história: um europeu que esteve em Santa Catarina e nos Andes antes que os espanhóis chegassem ao Império Inca. Como se montasse um quebra-cabeças, a escritora foi juntando informações espalhadas em livros e documentos, além de entrevistar e conviver com indígenas. E escreveu, em 1998, o livro A Saga de Aleixo Garcia – o descobridor do Império Inca, ajudando a tornar um pouco mais conhecida a história do marinheiro português e dos guaranis.
Após naufragar em Florianópolis, Garcia foi salvo e passou a viver com os carijós – como eram chamados os guaranis que habitavam a região. Viveu cerca de sete anos entre eles, teve um filho e ouviu histórias de um reino rico em ouro e prata comandado por um rei branco. Com um grupo de indígenas, percorreu o Caminho de Peabiru, um conjunto de trilhas e caminhos indígenas, chegando ao Império Inca, nas proximidades de Potosí.
Os 500 anos da saga pelo Caminho de Peabiru
Em 1524, expedição de Aleixo Garcia e de cerca de 2 mil indígenas chegaram ao Império Inca partindo de Santa Catarina
Teve início nas proximidades de Florianópolis, provavelmente na atual cidade de Palhoça, por volta de 1524. Em San Pedro de Ycuamandiyú, no Paraguai, após cerca de três mil quilômetros de percurso, Aleixo Garcia foi assassinado, provavelmente por indígenas paiaguás.
Caminho percorrido (ida e volta)
Retornou com substantivas riquezas, mas foi morto no atual Paraguai. Sua história motivou outros exploradores a tentarem seguir seus passos, embora ninguém tenha ido tão longe. "Garcia era uma pessoa desimportante. O que o tornou importante foi a amizade com os guaranis. Eles o adotaram e o tornaram índio", avaliou Bond, ao refletir sobre a saga que completa 500 anos neste 2024.
O naufrágio em Florianópolis
O português Aleixo Garcia era marinheiro em uma expedição espanhola comandada por Juan Diaz de Solís, cujo objetivo era encontrar um caminho para o Oriente através do sul da América do Sul. No Rio da Prata, Solís desembarcou de sua caravela para negociar com indígenas, mas foi morto e devorado por eles. No retorno à Espanha, um dos três navios do grupo naufragou ao entrar na baía sul da Ilha de Santa Catarina – Florianópolis é formada pela ilha e mais uma pequena parte do continente.
Garcia era um dos náufragos, que, segundo Bond, sobreviveram graças aos guaranis. Segundo diversos historiadores, o português destacou-se, aprendendo, inclusive, a língua dos indígenas. É provável que tenha tido um filho ainda em Santa Catarina, embora alguns autores acreditem que o menino tenha nascido no Paraguai.
"O que se sabe é que, num certo dia, os índios cariós [a autora usa essa grafia para se referir aos indígenas] revelaram ao português seu maior e mais precioso segredo: conheciam um caminho sagrado que levava a uma terra longínqua, a oeste, com montanhas altas, onde havia muitos objetos que brilhavam, onde o povo usava roupas (ao contrário deles, cariós, que andavam seminus) e havia um rei de pele mais clara que a deles", descreveu Bond no livro. E, além de mostrar peças de prata e ouro, disseram ao náufrago que sabiam chegar até lá por meio do Caminho de Peabiru.
A expedição e o Peabiru
A arqueóloga Claudia Inês Parellada, coordenadora do núcleo de arqueologia do Museu Paranaense, descreveu em um artigo o Peabiru "como um grande conjunto de trilhas indígenas, algumas iniciando na costa Atlântica, entre as atuais São Vicente e Laguna, com ramais que acessavam o interior da América do Sul". O caminho conectava aldeias aliadas e, até por isso, o sistema alternava-se com o tempo.
Peabiru é, provavelmente, um termo de origem tupi-guarani, que significaria "grama amassada". Os indígenas plantavam gramíneas que cobriam o solo, impedindo que árvores e arbustos brotassem novamente. Essa rede, segundo Parellada, encontrava-se com um sistema de caminhos andinos incas, chamado de Qhapaq Ñan. Era possível, portanto, sair do Oceano Atlântico e chegar ao Oceano Pacífico.
Foi por esse caminho que a expedição catarinense seguiu. Teve início nas proximidades de Florianópolis, provavelmente na atual cidade de Palhoça, por volta de 1524 – a data correta não é conhecida. Partiram Garcia, outros três náufragos e os indígenas guaranis, com mulheres e crianças. Dirigiram-se ao norte pelo litoral, penetrando o Peabiru pelo rio Itapocu. Passaram pelo Paraná, entraram no Paraguai e, depois, chegaram à Bolívia. No caminho, foram recrutados outros indígenas: estima-se em dois mil o número de pessoas que formaram a legião.
Andaram a pé e usaram barcos. O paraguaio Ruy Díaz de Guzmán, de pai espanhol e mãe indigena, conheceu remanescentes da expedição – inclusive o filho de Garcia – escreveu que "caminhando na planície daquelas terras encontraram muitos povoados de índios de diversas línguas e nações, com quem tiveram grandes encontros e lutas, ganhando de alguns e perdendo de outros".
Passaram nas proximidades da atual Cochabamba e seguiram ao sul até Sucre, Presto e Tarabuco, cerca de 150 km antes da montanha de prata de Potosí, na época chamada de Alto Peru e pertencente ao Império Inca. Hoje, a região pertence à Bolívia. As comunidades mobilizaram-se contra a tropa e alertaram o rei Huayna Cápac. "O Inca enviou exércitos contra eles, que conseguiram rechaçá-los em alguns pontos, e fez construir fortificações para evitar novos assaltos", narrou o historiador argentino Enrique de Gandia.
A morte
Mesmo tendo que fugir, a expedição retornou com roupas finas, taças, vasilhas e coroas de prata, ouro e outros metais. O grupo chegou até a atual cidade de San Pedro de Ycuamandiyú, no Paraguai, completando cerca de três mil quilômetros de percurso. Alguns emissários foram enviados até o litoral de Santa Catarina – a hipótese é de que o objetivo era retornar ao Andes.
No entanto, Garcia foi assassinado, provavelmente por indígenas paiaguás. A localidade onde ele morreu, segundo Bond, ficou conhecida como Garcia-Cué, algo como "o lugar onde cambaleou Garcia" ou "o lugar que foi de Garcia".
"Esse final trágico de uma das mais fantásticas epopéias americanas não impediu que Aleixo Garcia viesse a ser reconhecido pela história do Paraguai, Bolívia, Argentina e Peru como o primeiro e mais impetuoso explorador de todo o continente sul-americano – ao contrário do que sucede no Brasil, onde é quase um desconhecido", descreveu Bond no livro de 1998. Para a escritora, Garcia continua um quase desconhecido.