| e disposição para o trabalho, pelas profissões exercidas e constituição familiar. Entre os líderespolíticos fortificava-se, então, a visão de que a imigração estrangeira agiria como um enxerto adar vigor à população nacional, como afirma Paulo Pinheiro Machado (1999). Para ilustrar essefato, nas primeiras décadas do século XIX, quando já se discutia no governo a forma de efetivar aemigração de europeus para o Brasil, José Bonifácio, em 1821, manifestava-se a favor da vindade alemães para substituir a mão-de-obra escrava em São Paulo, “com o objetivo de amalgamálos aos nacionais, para imprimir maior atividade e moralidade à população local” (apudMACHADO, 1999, p. 66).Essa preocupação também foi manifestada por outro líder governamental, o marquês deAbrantes, que foi ministro da Fazenda em 1827 e 1828. Em 1846, já tendo, portanto, uma visãomais objetiva dos alemães trabalhando no Brasil, ele os qualificou como uma gente disciplinada econservadora: “Amor ao trabalho e à família, sobriedade, resignação, respeito às autoridades, sãoas qualidades que distinguem os colonos alemães, em geral, dos colonos de outras origens”7(apud MACHADO, 1999, p. 66).Notemos como essa idéia ficou profundamente enraizada na historiografia sobre aimigração alemã no Rio Grande do Sul, ou seja, fixou-se no registro de todo o processo a visãode que os alemães primam pela ordem, são exemplarmente empenhados no trabalho,empreendem o progresso. Possivelmente, ajudaram a construí-la aqueles que vieram para o Brasildesde o século XVI, como a história registrou. Carlos Henrique Oberacker Jr, em seu livro Acontribuição teuta à formação da nação brasileira (1985, p. 55), informa que há registros dachegada de alemães ainda em 1532, trazidos na companhia de Martim Afonso de Sousa,conforme consta do diário de bordo, cujo fragmento o autor transcreve: “Eu trazia comigoalemães e italianos e homens que estiveram nas Índias e franceses.”Ferdinand Schröder (2003, p. 34-35) faz menção a alguns nomes que ingressaram aqui:
O mais famoso do período colonial é certamente Hans Staden, de Homburg, no Hesse,que esteve 1547/48 e 1549/55 no Brasil Central e descreveu seu próprio destino. Elepróprio deparou-se em São Vicente com conterrâneos alemães, os comerciantes PeterRoessel e Heliodorus Eobanus Hesse. (...). Por volta de 1600 encontra-se no Brasil umafirma Schatz, sendo Paul Werner diretor de sua feitoria. Em São Paulo residem oartesão alemão Joseph Pranta, pai de sete filhos, e diversos engenheiros de minas: JacobCalte (Palte, Walter), Gerhard Betting e Wilhelm Glimmer. Este último escreveu umroteiro sobre o caminho de São Paulo até o rio São Francisco. Também é conhecido o fato de que nas aldeias jesuítas na margem esquerda do Uruguai se encontravamdiversos padres jesuítas alemães: Karl Linges, Schwartelberger, Strobel, JohannHermes, Anton Sepp, Dominicus Meyer, Joh. Ph. Bettendorf e Samuel Fritz.
Também Maurício de Nassau trouxe alemães para aqui trabalhar, quando este eragovernador da Companhia das Índias, de 1637 a 1644, os quais se fixaram em Pernambuco.Dentre os do grupo o autor destaca “Zacharias Wagner, de Dresden, Joh. Georg Oldenburgk, deCoburg, e Georg Markgraff, de Liebstadt na Saxônia, cuja ´Historia naturalis Brasília` foipublicada em 1747, em Amsterdan” (SCHRÖDER, 2003, p. 35). Era o período do domínioholandês no nordeste do Brasil e muitos imigrantes alemães vieram para atuar no exército, comorelata Oberacker (1985, p. 79): “Entre os imigrantes que vieram para Pernambuco, durante odomínio holandês, havia muitos alemães. Unidades militares completas compunham-se demercenários teutos, e também quase toda a oficialidade era alemã. Foi então que se registrou nahistória brasileira pela primeira vez, a chegada no Brasil de germânicos às centenas.”A exemplo desses, até o século XVIII muitos outros alemães para cá vieram, alguns paraexercer papéis importantes nas lutas e organização da Colônia na época. Schröder cita ManuelBeckmann, considerado um mártir no processo de libertação do estado do Maranhão, por terlutado e ter sido levado à forca; também o conde Wilhelm von Schaumburg, organizador doexército português no período de 1761 a 1764, bem como diversos oficiais trazidos por ele paracompor as tropas, um dos quais era o general Heinrich Boehm, que de 1774 a 1778 lutou contraos espanhóis no sul do Brasil. Ainda vieram com o conde , Karl August von Oeynhausen, últimocapitão-geral de São Paulo e embaixador brasileiro junto à corte de Viena; Daniel Pedro Muller,um general; Konrad Jacob Niemeyer, oficial engenheiro e Wilhelm Von Varnhagen e LudwigWilhelm von Eschwege, engenheiros de minas. Ainda, em 1820, muitos mineiros vieram para oBrasil por intermédio de Vernhagen (SCHRÖDER, 2003).Ainda na era colonial, alemães também fizeram parte da Companhia de Jesus, que passoua trabalhar pela religião no Brasil em 1549. Segundo Oberacker, muitos foram os padres deorigem germânica que atuaram nas reduções brasileiras:O primeiro jesuíta alemão no Brasil consta ter sido o irmão Pedro de Gouveia, cujonome alemão é ignorado e que veio da Alta Alemanha para o Brasil. Trabalhouanteriormente a 1598, na aldeia de São Barnabé, perto do Rio de Janeiro e é mencionadoainda em 1607. Em 1609, seguiu-lhe o irmão João Hermes, de Hamburgo. A partir de1616, enviaram as casas das províncias da ordem, na Baixa Renânia, na Alta Alemanhae na Áustria religiosos para a América do Sul (1985, p. 110) [p. 35, 36] |