Diante das dificuldades, Valdés diz que resolveu voltar a São Vicente, onde
chegou em 15 de abril de 1583, ocasião em que encontrou Higino. Depois de valorizar a
própria decisão de ter mandado as três naus a São Vicente - que resultou na vitória sobre
os ingleses –, o almirante fala sobre a construção do forte da Barra Grande, em São
Vicente, que, segundo ele, teria sido solicitado pelos moradores locais e pelo capitão Jerônimo Leitão. “Y asi el contador lo comenzo a fabricar conforme la traza que para ele dio Bautista Antonelli el inginiero que VM embio para los fuertes de lo estrecho...”.
Ao chegar a São Vicente, resolveu acelerar o término do forte e aparelhá-lo com
artilharia de bronze e “ferro colado” e cem homens de guerra, nomeando por alcaide
Thomas Garri, que ia nesta função para um dos fortes do Estreito, “persona diestra para
aquelo efecto”. Nomeou também por capitão um sujeito chamado Fernando de Miranda,
seu sobrinho, que tinha ordem para acabar a fortaleza. Garri, de 45 anos, fora deão de Cartagena, em Múrcia, e escapou a nado de uma das naus afundadas na baía de Cádiz,
quando, então, foi nomeado alcaide de um dos fortes do Estreito por intervenção do
Duque de Medina Sidonia, já que o primeiro nomeado morrera afogado no mesmo
naufrágio224. Garri teria se integrado bem à região, visto que, alguns anos mais tarde,
ressurge num caso de tentativa de enforcamento. Como capitão da fortaleza, quis
enforcar, em surdina, um tal de Antonio Gonçalves que tentara matar o capitão
Jerônimo Leitão. Segundo testemunhos, o caso não teve desfecho trágico porque
Anchieta interveio no episódio alertando a todos das intenções de Garri.225 Já o sobrinho
de Valdés, Miranda, casou-se com a filha do capitão Jerônimo Leitão por intervenção
do almirante. De acordo com sua missiva, Valdés imaginava que a terra, mesmo pobre,
tendia a aumentar e prosperar. As apostas pareciam mesmo elevadas, já que, até um
cunhado do almirante, chamado Francisco Martins Bonilha, que viera com mulher e
filhos, resolveu ficar na capitania e se instalou na vila de São Paulo.
A aliança de Valdés com o capitão Jerônimo Leitão foi de fato bastante profícua.
Rendeu, à capitania, um forte aparelhado, e um casamento, ao capitão. Vinte anos
depois, um filho de Jerônimo, o mameluco Simão Leitão, lembrava desta ajuda do pai
em seu memorial, no qual pedia mercês ao rei Felipe III, no Maranhão. Dentre o enorme
rol de serviços do pai, constava que:
Ajudou no provimento da armada do estreito de Magalhães de Diego Flores Valdés ambas as vezes que por ali passou e na briga que três navios dela tiveram com dois galeões ingleses lhe acodiu com gente deixando o mesmo Diego Flores encarregado da capitania do forte que na paragem da Paraiba se fez para que
acabasse a obra dele e o sustentou por espaço de sete anos.
Ainda apresentou como prova “seis cartas do dito Diego Flores porque se mostra
que teve com ele boa correspondência nas cousas do serviço de VM”