Dom Francisco proibiu quem quer que fosse, exceto os Sardinha, de bulir nas minas, enquanto os mineiros que haviam sido solicitados não chegassem para avaliar as descobertas
A 19 de julho estava em São Paulo, aonde deu um regimento a Diogo Gonçalves Laços, proibindo a mineração, exceto a Afonso Sardinha pai e filho, até chegarem os mineiros esperados do Reino, Registro, ib, I, 128/126. Da mesma data, segundo Taques, I, c, 8, é o regimento de André de Leão, mandado com uma tropa à procura de metais no sertão.
(...) e não consentireis que pessoa alguma possa por ora ir ás minas já descobertas nem tratem de descobrir outras salvo Afonso Sardinha e seu filho aos quais deixo ordem do que neste particular poderão fazer que vos mostrarão por serem os ditos descobridores e pessoas que bem o entendem (...)
disto corre em principio e a causa de não consentir irem outras nenhumas pessoas assim ás minas descobertas como ás por descobrir e entre outras porque como cada dia estou esperando com o favor de Deus por mineiros e ordem que sua magestade ha de mandar a beneficio destas minas e bem que nas que (...)
descobristes se não bula até a vinda dos ditos mineiros e mais oficiais e as achem intactas e vejam que se falou a verdade a sua magestade e toda a pessoa que o contrário fizer o que dele não espero me mandareis emprezado (...) preso e a bom recado (...)
(...) e os mais oficiais da milícia que cada mês farão resenha da gente que se alistará em um livro que para isso haverá para que andem exercitados e como convém para guarda e defesa da terra e ter-vos-á mandado com brevidade alguns mosquetes e arcabuzes, pelouros e chumbo e nisto fareis com que não haja descuido antes muito cuidado como de vós e de todos confio e seguir-se-á neste particular a ordem da dita lei das ordenações como sua magestade nosso senhor manda se faça.
Sendo caso que com o favor de Deus e da Virgem do Monserrate venha recado de serem achadas as minas de prata que André de Leão com a mais companhia foi buscar logo ordenardes de me avizardes com o recado e cartas que trouxerem (...)
(...) mando ao capitão Roque Barreto e ao provedor Pedro Cubas vos dêm (...) embarcação no porto da vila de (...) por conta da fazenda de sua magestade e todo o mais aviamento necessário que lhe pedirdes e requererdes vos dêm para efeito de se mandar este aviso entretanto (...) não for do caso sabedor não o consentireis a ninguém que vá ás ditas minas de prata até eu com o favor de Deus vir pelo perigo que correrão os que assim forem dos inimidos que há no caminho além de outros inconvenientes que podem suceder.
Sucedendo que André de Leão ou pesoa que em seu lugar servir vos peça algum favor a ajuda para bem das ditas minas a que o mando ou por lhes ser necessário por causa dos nativos (...) que lá achar logo procurareis de o socorrer com o nativo desta capitania (...) como também pedireis ajuda e (...) ao dito capitão Roque Barreto vilas de Santos, São Vicente (...) como confio (...) como para tudo o mais que suceder (...)
(...) descobrindo os ditos Afonso Sardinha e seu filho alguma coisa de novo que seja da importância e querendo se me avisar ordenareis que me vá o dito aviso maneira atrás dita e em tudo o dito e no mais que se oferecer vos encomendo o cuidado vigilância que de vós espero e bem assim de todos os moradores desta vila a qual com o divino favor ha de ser cidade antes de muito tempo e hão de ter grandes privilégios e mercês que lhe eu hei de procurar com sua magestade porque foi a primeira e a principal parte donde mediante o favor de Deus descobri estas minas e este regimento mando se registre no livro da Câmara desta vila para que a todos seja notório dado em São Paulo. (Registro Geral da Câmara Municipal de São Paulo, 1583-1636, 1917. Páginas 123 à 126) [0]
A capacidade de D. Francisco de “cariciar” os cidadãos, como dizia Frei
Vicente, nos parece evidente. Quando partiu de São Paulo, com destino incerto, em julho de 1601, Souza deixou expressa a vontade - transcrita no Registro Geral – de que a então vila:
Com o divino favor há de ser cidade antes de muito tempo e (seus moradores) hão de ter grandes privilégios e mercês que lhe eu hei de procurar com sua majestade porque foi a primeira e principal parte donde mediante o favor de Deus descobri estas minas [RGCSP, 19/07/1601]
Com seu filho Pedro Sardinha, também grande sertanista, desenvolveu os trabalhos de mineração no Jaraguá, minas que ainda em 1636 eram exploradas com proveito pelo seu neto Gaspar Sardinha. Em 1601, como consta do regimento dado ao administrador Diogo Gonçalves Laço, o velho, d. Francisco de Sousa ordenava-lhe particularmente que numa expedição a se realizar, caso descobrisse "alguma cousa de novo, que fosse de importância", o avisasse imediatamente, mandando o próprio para esse fim.
De São Vicente, mais ou menos por essa época, saíra, à procura da região doo São Francisco, uma importante expedição, cujo comando se atribui a André de Leão. Não está perfeitamente apurado se se refere a essa entrada, ou a alguma outra um pouco posterior, o roteiro deixado por Wilhelm Glimmer e divulgado na obra de Piso e Markgraf.
O ponto de referência, para a fixação de sua data, é a chegada de D. Francisco de Sousa a São Vicente, como governador. O fato se repetiu em momentos diversos, em 1599 e em 1609, dentro das mesmas circunstâncias referidas no roteiro de Glimmer. Dai depreendeu Capistrano de Abreu a conclusão de que o itinerário se poderia referir à viagem de André de Leão, em 1601, como a alguma outra exploração de 1611. [O devassamento do Piauí, 1946. Barbosa Lima Sobrinho. Páginas 37 e 38]
Em 1601, como se constata do regimento dado a Diogo Gonçalves Laço, o velho, d. Francisco de Sousa ordenava particularmente aos dois Afonso Sardinha que, numa expedição a se realizar, caso descobrissem "alguma coisa de novo, que seja de alguma importância, e querendo se me avisar, ordenareis que vá o dito aviso pela maneira já dita." Essa diligência foi chefiada por Nicolau Barreto, saída no ano seguinte, com o fito declarado da descoberta de minas de ouro, prata e mais metais. Ela se intentou pelas terras do Guairá e cuidou apenas do apresamento de índios temiminós. Afonso Sardinha, o velho, não tomou parte na mesma, seguindo porém o seu filho que nela faleceu, quando já de regresso, tendo feito testamento em 1604, no sertão, escrito pelo padre João Álvares, que era um dos capelães, juntamento com o padre Diogo Moreira, dessa expedição, como se comprova com uma declaração inserta no inventário de Manuel de Chaves, praça dessa bandeira e falecido nas margens do rio Paracatu. [p. 359]
A 19 de julho de 1601 no regimento dado a Diogo Gonçalves Lasso determinou-lhe “que não consentisse que pessoa alguma possa por ora ir às minas descobertas nem tratem de descobrir outras, salvo Afonso Sardinha, o velho, e Afonso Sardinha, o moço, aos quais deixo ordem do que neste particular poderão fazer, que vos mostrarão, por serem os ditos descobridores pessoas que bem o entendem” (Reg. Geral, vol. 1º, fls. 123 a 125).
Em 1601 o representante do rei absoluto – Governador Geral do Brasil – proibiu a ida de qualquer pessoa às minas descobertas e as por descobrir. E, se permitiu a ida aos dois Sardinhas, deve-se concluir que também a eles podia proibir. Permitiu a ida dos Sardinhas às minas, não porque fossem eles delas proprietárias, mas porque eram descobridores e entendiam de minas.
Pelo direito, então em vigor, e pela aplicação que dele fazia o Governador Geral do Brasil, nos regimentos expedidos, há que concluir que os dois Sardinhas não podiam ser proprietários das minas do Jaraguá ou de quaisquer outras na capitania de S. Vicente. Também não possuíram datas ou sesmarias que lhes dessem a propriedade de terras no Jaraguá. Pelo menos nada consta a esse respeito nos arquivos locais, que consultei e estão publicados, encontrando-se, porém, documentos que os fazem proprietários de terras em outros lugares. [Páginas 189, 190, 191 e 192]
Não pode ser posto em dúvida que D. Francisco de Sousa mandou ao sertão André de Leão e mais companhia descobrir minas. Ele transportou-se da Bahia a S. Paulo com o intuito de partindo do sul, descobrir os metais preciosos que os irmãos João Coelho de Sousa e Gabriel Soares de Sousa não tinham conseguido achar partindo do norte.
Chegando a S. Paulo, com todo o seu aparato de Governador-geral do Brasil, tomou todas as providências para tal descobrimento promovendo a entrada com os elementos paulistas. A prova está no regimento, que em S. Paulo deu a Diogo Gonçalves Lasso, a 19 de julho de 1601, publicado no Registro Geral da Câmara da vila de S. Paulo no volume 1º, págs. 123 a 126, no qual por duas vezes o Governador-geral expressamente se refere a uma entrada, confiada a André de Leão, nos seguintes termos:
... “Sendo caso com o favor de Deus e da Virgem Nossa Senhora de Monserrate venha recado de serem achadas as minas de prata, que “André de Leão” com mais companhia foi buscar, logo ordenareis de me avisardes com recado e cartas que trouxerem”... “mando ao Capitão Roque Barreto e ao Provedor Pedro Cubas vos dêem... embarcação no porto de Santos por conta da fazenda de sua majestade e todo o mais aviamento necessário que se lhes pedir e requerer para o efeito de se mandar este aviso e entretanto”... “sucedendo que “André de Leão”, ou pessoa que em seu lugar servir, vos peça algum favor para bem das ditas minas a que o mando, por lhe ser necessário, por causa do gentio inimigo quelá se achar, logo procurareis de o socorrer com a gente desta capitania... como também pedireis ajuda e ... ao dito Capitão Roque Barreto (e) vilas de Santos e S. Vicente...”
Esse “regimento” está muito estragado pelas traças, mas conserva frases suficientes para se concluir que D. Francisco de Sousa mandou André de Leão e mais companhia descobrir e buscar determinadas minas, as minas de prata. Estava ele tão seguro de as achar que determinava ao seu Capitão Gonçalves Lasso e às autoridades locais todas as providências necessárias, mesmo por conta de Sua Majestade, para que a notícia do descobrimento lhe fosse levada onde ele estivesse.No tempo em que, vindo da Bahia, D. Francisco de Sousa, esteve pela primeira vez em S. Paulo, aí vivia Guilherme Glymmer, flamengo, que tomou parte em uma expedição ao sertão e que dela fez uma descrição, que encontrou abrigo na obra de P. Maregrave – históriaBotânica do Brasil – nos termos seguintes:
“Julgo a propósito inserir aqui o roteiro que recebi de Wilhelm Glymmer, nosso compatriota. Conta ele que, na época em que vivia na Capitania deS. Vicente, chegara àquelas paragens, vindo da Capitania da Bahia, Francisco de Sousa; pois recebera de um brasileiro um certo metal, extraído, segundo dizia, dos montes Sabaroason, de cor azul-escura ou celeste, salpicado de uns grânulos cor de ouro. Tendo sido examinado pelos entendidos em mineração, reconheceu-se que esse metal continha, em um quintal, trinta marcos de prata pura. Fascinado por essa amostra, o governador, julgando conveniente explorar mais cuidadosamente esses montes e as minas que eles encerravam, resolveu mandar para lá setenta ou oitenta homens, entre portugueses e brasileiros. Fez parte dessa expedição o nosso Glimmer, que dela faz a seguinte descrição: [Páginas 289 e 290]
Não se sabem os nomes de outros moradores, mas havia-os. Em julho de 1601 ainda estavam nas Furnas os mineiros, e Dom Francisco tinha esperanças, proibindo os moradores de entrar nas minas, menos os dois Afonso Sardinha. Nunca se corporificou na vila o símbolo de pelourinho. Sabe-se que o pelourinho foi mudado concretamente (ou se erigiu outro, sendo simbólica a mudança), para o Itavuvú e por ordem de Dom Francisco de Souza, com certeza histórica indireta.
Em 19 de julho de 1601, D. Francisco de Souza suspendia a franquia para mineração, excetuando dêsse impedimento os dois Sardinha, em 1601, fazia seguir, terra adentro, a bandeira de Nicolau Barreto, levando, entre seus integrantes, o intrépido Afonso Sardinha, o moço, que morreu em 1604, em pleno sertão, quando a bandeira já estava de regresso, após mais de 2 anos de internação, trazendo 3.000 nativos preados. Em testamento feito ás portas da morte, ditado ao padre João Alvares, declarou possuir mais de 80 mil cruzados (32:000$000) de ouro que extraiu das minas de Santa Fé e Jaraguá.
D. Francisco entregou-se às pesquisas de metais na região. Até julho de 1601 a comitiva governamental desceu à costa por três vezes, indo aos rios "Araçoiaba, Jaraguá, Ibituruna e a outros". "Acompanhou-o Geraldo Beting, esse fidalgo português em todas as expedições que partiram de São Paulo".
Também conhecido como Gerhart Bettinck ou Geraldo Betting. Natural de Doesburg, Geldrie, Holanda. Engenheiro, veio para o Brasil, na companhia do governador D. Francisco de Souza, posteriormente a 1591, para trabalhar em pesquisas minerais, vivendo na Bahia até o ano de 1600 e passando para São Paulo após essa data. Acompanhou o governador em suas incursões à costa, aos rios Araçoiaba, Jaraguá e Ibituruna, acontecidas até julho de 1601.
Desta segunda viagem voltou ele para São Paulo antes de junho, pois em 19 de julho já nesta vila ele expedia instruções a André de Leão que ia fazer uma expedição pelo sertão á procura da prata. Registrada a doação do engenho de ferro de Afonso Sardinha a El-Rei no primeiro livro de regimentos de 1600, no Archivo da Câmara de São Paulo, como afirmam as Notas Genealógicas citadas por Vergueiro, parece razoável supor ter se dado a transferência no ano anterior. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1998. Página 31]
Foi justamente na experiência mineral desta família que D. Francisco se apoiou, reconhecendo, inclusive, sua precedência nas pesquisas minerais. Em 1601, o governador proibiu quem quer que fosse, exceto os Sardinha, de bulir nas minas, enquanto os mineiros que haviam sido solicitados não chegassem para avaliar as descobertas.