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“A língua geral em São Paulo: instrumentalidade e fins ideológicos”. João Batista de Castro Junior, Universidade Federal da Bahia - Instituto de Letras - Programas de Pós-graduação em Letras e Lingüística
Romper uma longa herança atávica de simbologia mística era, por si, só um desafio inquietante que somente a extraordinária paciência dos primeiros missionários podia facear. A isso se somavam outros inimigos ideológicos. Um deles, lembra Boxer(1977:89), era “o mau exemplo dado por muitos dos moradores ou colonos”.
Estes, acrescenta ele, “tentaram, deliberadamente, muitas vezes, sabotar o trabalho que estava a ser feito pelos jesuítas entre os ameríndios, a quem viam, antes de mais nada, como força de trabalho explorável e a aproveitar”. Nóbrega (2000:158), a esse respeito, escreve de São Vicente, a 10 de março de 1553:
“
Ainda que com tanta contradição dos brancos não se pode fazer nada mais que desacreditar cada vez o nosso ministério”.
Anchieta em carta escrita de Piratininga em 1554 também registra esse reiterado propósito por parte dos ramalhenses de Santo André da Borda do Campo. Em Informação do Brasil... (1988:342) igualmente assinala:...
A consequência dessa limitação lingüística é que os índios jamais conseguiram penetrar na intimidade dos mistérios docristianismo católico, como Encarnação, Ressurreição, Salvação etc, embora lhe fossem introduzidas tais noções através de elementoslexicais do português, mas a verdade é que nunca lhes apreenderam o sentido.Por outro lado, a ressignificação de suas próprias crenças era motivada pela perspectiva de uma nova crença mais vantajosapara um povo guerreiro e nômade. Por isso Nóbrega reconhece, em carta escrita de São Vicente a 10 de março de 1553, que os índios“crêem-nos como crêem aos seus feiticeiros”, apud Serafim Leite (1953b:22-3). Em vários trechos dos escritos de Anchieta se vê como oimediatismo das novas concepções religiosas era automaticamente transplantado para as adversidades da labuta cotidiana – o que, decerta forma, ainda é muito usual hoje em dia: tendo caído na simpatia de Pindobuçu, um dos principais dos Tamoio em Iperoig, Anchietadeparou com as manobras pérfidas de alguns desses índios do Rio de Janeiro tentando abortar o plano de pacificação conhecido comoArmistício de Iperoig. Estava na iminência de sofrer um ataque deles, mas – registra (1988:233) – surgiu Pindobuçu, que os advertiu edesafiou, tendo depois se voltado ao jesuíta dizendo: “Bem vês como sempre te defendo e falo por ti, por isso olhe Deus por mim e dê-melonga vida”.
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