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1 de janeiro de 1551ver ano
  
  
  
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Quando já estava no quinto mez da minha estada entreelles, chegou outra vez um navio da ilha de S. Vincente. Os _ 7 6 -portuguezes tem o costume de ir a terra dos seus inimigos,porem bem armados, para negociar com elles. Dão-lhes laçase anzóes, por farinha de mandioca que os selvagens tem emmuitos logares, e que os portuguezes, que tem muitos escravos para as plantações de canna, precisam para o sustento dosmesmos. Chegado o navio, vão os selvagens reunidos ou adous nas canoas e entregam a mercadoria na maior distanciapossível. Depois, dizem o preço que querem por ella, o queos portuguezes lhes dão; mas emquanto os dous estão ao pédo navio esperam ao longe canoas cheias de homens, e quando acabam os negócios avançam muitas vezes e combatemcom os portuguezes, arremessando flechas sobre elles; depoisdo que voltam. __ 7 7 _O referido navio disparou um tiro de peça, para que osselvagens soubessem que um navio estava lá. Foram para elle.Ali perguntaram por mim e si eu ainda estava vivo. Responderam que sim. Então pediram os portuguezes para me verporque tinham um caixão cheio de mercadorias que meu irmão, também francez, tinha mandado e que estava com ellesno navio.No navio, com os portuguezes, estava um francez, de nome Cláudio Mirando, que antes tinha sido meu camarada; aeste chamei meu irmão, porque pensava que talvez estivesse -7Ô -a bordo e perguntasse por mim, visto já ter feito essaviagem.Voltaram do navio para a terra e disseram-me que meuirmão tinha vindo mais uma vez com um caixão cheio de mercadorias, e queria muito me ver. Eu lhes disse: «Levae-me para lá mas de longe porque quero fallar com meu irmão; osportuguezes não nos entendem; quero lhe pedir que conte aonosso pai, quando chegar a casa, e peça que volte com muitasmercadorias para me buscar.» Acharam que era bom assim,mas tinham medo de que os portuguezes nos entendessem,porque estavam preparando uma grande guerra que queriamdeclarar para o mez de Agosto, na visinhança de Brickioka,onde eu fui capturado. Eu sabia bem de todos os seus planos epor isso tinham medo de que eu falhasse sósinho com elles(os portuguezes). Mas eu disse que não havia perigo porqueos portuguezes não comprehendiam a lingua do meu irmão ea minha. Levaram-me então a cerca de um tiro de funda donavio e tão nú como eu sempre andava entre elles. Chameientão os do navio e disse: «Deus e Senhor esteja comvosco,queridos irmãos. Que um só falle commigo e não deixe perceber que eu não sou francez,» Então um chamado Joham Senchez, Boschkeyer (Biscayo), que eu bem conhecia, me disse:
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Meu querido irmão, por vossa causa viemos aqui com o navio, não sabendo si estáveis vivo ou morto, porque o primeiro navio não trouxe noticias vossas. Agora o Capitão Bras cupas (Braz Cubas) em Sanctus (Santos) ordenou que investigassemos si ainda estáveis vivo, e quando soubéssemos que ainda vivieis deviamos ver si elles vos queriam vender; sinão devíamos ver si capturávamos alguns para trocar por vós.»

Respondi então: «Que Deus vos recompense eternamente, porque estava com muita afflicção e não sabia quaes eram osseus planos; já me teriam devorado, si Deus não tivesse impedido singularmente.» Continuei, dizendo que elles não me venderiam; peço que não deixeis perceber que não sou francez e por amor de Deus dai-me algumas mercadorias, facas e anzóes.^Isto fizeram e um indio foi ao navio em canoa buscal-os.

- 75 -Vendo que os selvagens não queriam me deixar fallarcom elles por mais tempo, disse eu aos portuguezes que se acautellassem bem, porque se preparavam para armar guerra denovo contra Brickioka. Responderam-me que seus aliiados selvagens também se preparavam e queriam atacar a aldeia, exactamente onde eu estava, e que eu estivesse animado porqueDeus havia de levar tudo pelo melhor, e como eu via, ellesnão podiam me auxiliar. «Sim, disse eu; porque e melhor queDeus me castigue nesta vida do que na outra e rogae a Deuscpie me ajude a sahir desta miséria.»Com isso me recommendei a Deus, o Senhor. Queriamfallar ainda commigo, mas os selvagens não queriam mais deixar-me ter conversa com elles e tornaram a voltar commigopara as cabanas.Tomei então as facas e os anzóes e distribui entre elles edisse: «Tudo isto meu irmão o francez me deu. Perguntaramme o que meu irmão tinha conversado commigo. Respondique tinha recommendado ao meu irmão que procurasse escapar dos portuguezes e voltar para nossa terra, e de lá trouxessenavios com muitas mercadorias para me trazer, porque vóssois bons e me tratais bem; isto quero recompensar quandovoltar o navio.» Assim tinha sempre (pie pretextar, o que muito os agradou.Depois disseram entre si: «Elle de certo é francez, vamosagora tratal-o melhor. Eu continuei com elles dizendo sempre:«Logo ha de vir um navio me

Encontro com Bras Cubas
1551, segunda-feira (Há 474 anos)
  
  
  

, para que me tratassembem. Depois disso levaram-me as vezes ao matto, onde tinham que fazer e me obrigaram a ajudal-os. • 1° fonte: 01/01/1938
Efemérides Brasileiras, José Maria da Silva Paranhos Jr. (1845-1912)

Hans Staden e seus companheiros viveram naquela ilha por espaço de dois anos. Em 1551, ele partiu em uma pequena embarcação, que naufragou na costa de Itanhaém. Foi bem acolhido em São Vicente, e Brás Cubas confiou-lhe a defesa de um fortim levantado então na barra de Bertioga, sobre a ilha de Santo Amaro, em frente ao forte de Santiago, que ficava na terra firme. O governador-geral Tomé de Sousa, visitando a capitania (1553), fez construir nesse mesmo lugar(ponta da Armação) o forte de São Filipe, do qual Staden ficou sendo comandante. Em dezembro, tendo-se este aventurado a sair só em busca de caça foi assaltado pelos Tamoio e levado prisioneiro. Em muitos capítulos do seu livro, refere ele os transes por que passou durante..




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