Assim se explica que certos fatos da geografia americana, cuja, revelação deveria caber aos espanhóis, foram primeiramente conhecidos pelos bandeirantes de São Paulo e do Belém do Pará.
Caso típico é o do Rio Grande ou Guapaí que, junto ao Mamoré, engrossa, com o Guaporé, o Madeira, afluente por sua vez, do Amazonas. Durante o século XVI, os espanhóis consideraram o Guapaí como terminação do Maranhão (Mearim). Assim figura na carta de Gutierrez (1562) a que nos referimos. Nas várias relações quinhentistas de Santa Cruz de La Sierra e governação respectiva, publicadas por Jimenez de la Espada, continua a identificar-se o Guapaí com o Maranhão português.
Para melhor se compreender o significado deste erro, convém relembrar que Santa Cruz de la Sierra, tendo embora mudado de posição, quedou sempre situada cercas das margens daquele rio e no começo do larguíssimo trecho em que é navegável até às quedas do Madeira.
Por seu turno, em "Carácter do mito da Ilha-Brasil", Cortesão confronta-o com a representação divergente dos vastos circuitos fluviais sul-americanos na cartografia espanhola representada pelo mapa da América de Diego Gutiérrez gravado em 1562 em Amesterdão (lapso por Antuérpia), intuindo daí que portugueses e espanhóis podiam haver recebido dos indígenas as mesmas informações sobre essa geografia interior, «mas uns e outros seleccionaram e adaptaram essas informações às suas tendências e propósitos»55. E a esperada conclusão, que reunia a prova dos textos à dos mapas:
"Hoje sabemos que a Ilha-Brasil, tal como a definiu João Afonso e a representava Bartolomeu Velho, não é geogràficamente exacta. Trata-se de um mito, isto é, de uma criação ideal, em que se fundem crepuscularmente uma realidade geográfica e humana, mal conhecida, e a ambição de lhe dar validade política. A Ilha-Brasil é um mito expansionista, em que se antecipa a solução o problema e do conflito de soberania, entre Portugal e Espanha".