os emboabas o tinham deixado em separadamente em paz, ou ele se retirara temporariamente para São Paulo. Os improvisados campos mineiros em Ouro Preto e Ribeirão do Carmo foram queimados no curso daquelas operações, os primeiros pelos paulistas que recuavam, e os segundos pelos emboabas vitoriosos. Parece não ter havido apenas de vidas em ambas essas ocasiões, e foi coisa fácil a reconstrução das cabanas de taipa, com seu revestimento de barro e sua periclitante estrutura de madeira, pois assim eram as moradias. Ao fim de 1708, portanto, os emboabas tinham completo controle sobre duas das três principais áreas de mineração, e os paulistas, desmoralizados, se haviam retirado para o distrito do Rio das Mortes. Não tinham sofrido muitas baixas, mas haviam perdido muito de sua "vergonha", e rosnavam terríveis, embora inúteis ameaças de vingança.
Na derradeira semana de dezembro de 1708, os chefes emboabas e baianos reuniram-se em Cachoeira do Campo, onde proclamaram formalmente Manuel Nunes Viana como governador interino de toda a região mineira, até a ocasião em que o governo da metrópole pudesse enviar funcionários normalmente constituídos. Viana aceitou o posto exibindo certa relutância (11) mas passou a agir como se fosse o representante legal da Coroa. Organizou seus partidários em três milícia e fez uma séria de nomeações civis e militares para agradar seus principais aderentes. Nesse número incluíam-se alguns homens que tinham o que só se pode chamar registro criminoso notável, mesmo para aquele meio rude e turbulento.
Francisco do Amaral Gurgel organizou o assassinato brutal, à traição, de um dos mais antigos funcionários coloniais, Pedro de Sousa Pereira, próximo do Rio de Janeiro, no dia 20 de setembro de 1687. Fugira, depois, para o remoto sertão de São Paulo e assim pode participar dos primeiros anos da corrida do ouro em Minas Gerais. Ali, não só fez fortuna como se tornou o mais rico entre todos, segundo os cálculos de Antonil (12). Bento do Amaral Coutinho, às vezes apresentado como irmão de Francisco, e outras vezes como seu sobrinho, mas que provavelmente não seria uma coisa nem outra, também se havia refugiado na região mineira depois de cometer um assassínio singularmente per-
(11) "... fez sua repugnância sempre e aceitou o posto", como fez lembrar uns quarenta anos depois, André Gomes Ferreira, que então vivia em Sabará (Códice Costa Matoso, fl. 40).
(12) Ver na pág. 75. Para o assassínio de Pedro de Souza Pereira, Procurador de Fazenda da Coroa no Rio de Janeiro, perpetrado por Amara, ver o relato do tio da vítima Martim Correia Vasques, em Archivo Nobiliarquico Portuguez, de Frazão de Vasconcellos, Série I, no. 6, pp. 15-16 (Lisboa, 1918). [p. 90]