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Jornal do Brasil
8 de fevereiro de 1930ver ano
  
  
  
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Nos artigos publicados no "Jornal do Commercio", em resposta ao meu livro "Pernambuco e o São Francisco", leio o seguinte:

"O rio de S. Francisco limitava ao norte a Capitania da Bahia, que ao oeste fronteirava com o Piauhy" - dizia ainda em 1802 o professor Luiz dos Santos Vilhena, nas suas Cartas Soteropolitanas. Assim escreve o sr. Pedro Calmon, que acrescenta:

"Não há melhor argumento do que essa vizinhança do Piauhy a corroborar a tese da erronia geográfica sobre a verdadeira orientação do rio, nos séculos 17 e 18, e a confirmar a convicção histórica desse direito, criado pela ocupação, enraizado com a economia, desdobrado com o povoamento e consolidado com a conquista."

O Sr. Pedro Calmon indica o lugar em que encontrou a frase: - "Página 604, vol. II das Cartas Soteropolitanas, edição de Braz do Amaral". Não se acha nessa página a referência, se o autor se reporta à edição de 1921 (Bahia, Imprensa Official do Estado).

Á página 591, porém, Vilhena escreveu:

"Pelo Poente, divide com as capitanias do Piauhy e de Pernambuco pelo grande rio de S. Francisco". Mas é de advertir que se referia a comarca de Jacobina, que naquele ano tinha realmente as suas fronteiras ao Piauhy, pela subordinação em que lhe ficára o termo da vila da Barra, desde 1753.

Mesmo assim, é indubitável que Vilhena não possuía ideias muito precisas a respeito dessas regiões, sem que se possa acompanhar o Sr. Pedro Calmon, que dai conclui uma "erronia geográfica sobre a verdadeira orientação do rio". Seria inacreditável que o autor das "Cartas Soteropolitanas" ignorasse a orientação do São Francisco para o Sul, quando nos dá as latitudes do território mineiro. Se ele indicava a barra do S. Francisco a "10 graus e minutos de latitude" e o apontava em latitudes mais altas, a cerca do 14 grau para a confluência do Carinhanba e dentro território de Minas, como pretender que ignorasse a orientação do S. Francisco para o Sul? Como admitir semelhante desconhecimento depois do período da mineração?

O que Vilhena ignorava não era o traçado do S. Francisco para o Sul e sim o que havia do outro lado do rio, na margem pernambucana. As suas confusões e erros vem dessa causa. Apresenta o rio Grande entrando por leste no S. Francisco: o rio Preto afigura-se-lhe um afluente do rio Verde, na fronteira de Minas Gerais; parece acreditar que o Paramirim e o Carinhanba entravam pela margem esquerda, uma vez que o Rio Grande entrava por leste, o que não o impedia de mostrarmos o Carinhanba como saído das serras dos Montes Altos; não menciona o rio Corrente; sob o nome de "sertões do S. Francisco" não inclui senão a margem direita; indicava do outro lado apenas a freguesia de São Francisco das Chagas, na barra do Rio Grande, com 200 fogos e 2.025 almas, quando estatística anterior e de origem pernambucana lhe dava, em 1782, 592 fogos e 4.873 almas, de acordo com a relação dos párocos. A esse tempo em que Vilhena escrevia já se encontrava ali a freguesia de Campo Largo, com 380 fogos e 1.637 almas, segundo a "Idem da população. Já Capitania de Pernambuco desde 1774". Existia também a freguesia de Pilão Arcado, com 419 fogos, 1.805 almas, 3 igrejas filiais e 35 fazendas.

Não é expressiva a ignorância? Não é prova de que as relações deviam ser muito mais importantes com as autoridades pernambucanas? Três anos depois de incorporada a vila de Barra á comarca de Jacobina, o governo bahiano esquecia a câmara daquela vila na relação dos donativos para a reconstrução de Lisboa;

(...) Vejamos agora se eu fui apressado na indicação do momento em que o São Francisco se tornou conhecido. No meu livro "Pernambuco e o S. Francisco", escrevi, referindo-se á ratificação da carta de Duarte Coelho em 1602 e 1627 que "em 1603 ou 1627 já não se pode alegar existisse ignorância quanto ao curso do S. Francisco". O Sr. Pedro Calmon entende que eu antecipei exageradamente a época do conhecimento do rio.

(...) Não compreendo como um leitor de História possa escrever que até os fins do século XVII "sempre se julgara que o rio S. Francisco corresse em linha reta ao interior para o mar, seguindo o paralelo". Bastava que o Sr. Pedro Calmon se lembrasse dos mapas de Bartholomeu Velho, em 1561, e o de Van Doegt, citado por ele próprio noutra passagem, e de Van Langerer, em 1596, o de Nicolas Sanson d´Abbeville em 1650, para que o advérbio sempre tomasse o sentido de um grave erro de História.

Não me parece mesmo que se tenha feito o uso de apresentar o S. Francisco seguindo em linha reta para Oeste. Preferia-se limitar o traçado do rio á região mais ou menos explorada. Num período de quatro (ilegível), entre 1550 e 1570, fase importante sob esse aspecto, encontraríamos dentro dessa tendência as cartas de Pierre Descellera (1558), Lazaro Luis (1563), Diogo Homem

(...) Em primeiro lugar, havia a expedição de Espinosa, que chegára ao S. Francisco dentro do atual território de Minas Gerais, nas proximidades do Jequitahy, a cerca de 17 graus de latitude meridional; havia também a viagem de André de Leão, em que o roteiro de Glimmer nos permite acreditar que o curso do S. Francisco se apresentara aos sertanistas nas imediações do 20 grau de latitude. E Belchior Dias Moréa? E as informações do gentio? E as entradas que de lugares diferentes se deixaram atrair pelo mistério e pelas riquezas do sertão?

Pode-se considerar como resultado desse conhecimento a preferência pelo litoral do Sul, nas entradas que visavam as minas fabulosas do alto S. Francisco. É o ciclo de Porto Seguro, de Ilhéus e do Espírito Santo, como ponto de partida de entradas. E talvez se pudesse ver também uma inspiração da mesma ordem na ida de D. Francisco de Souza para São Paulo, centro escolhido para a sua atividade exploradora.

Esses fatos autorizavam perfeitamente a minha frase. O que pareceria pueril, entretanto, seria o esforço para recuar o conhecimento dessa orientação do S. Francisco até o século XIX por se não saber precisamente de suas nascentes; como seria ridículo demoral-o até Halfeld pela ausência de observações perfeitas de suas distâncias, ou até os sábios que venham ainda determinar peculiaridades da flora ou da fauna de suas ribeiras.

O que interessava a nosso debate era apenas saber se se encontrara no Sul o traçado do S. Francisco. Para isso, além das circunstâncias mencionadas, teria mesmo o parecer de uma autoridade insuspeita á Bahia, o erudito Sr. Theodoro Sampaio, a quem se deve o respeito que os sábios merecem. No seu estudo sobre a expedição de Knivet, ele proclama que das entradas do tempo "colheu-se para a geografia uma noção mais perfeita do curso superior do rio São Francisco, a linha mais funda das que se atingiram, no sertão, no século XVI".

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