| 1613, o Pe. Araujo teria escrito em começos de 1621 ou de 1622; e admitindo-se o outro extremo, o da partida no fim de 1613, a relação teria sido redigida no fim de 1622 ou, quando muito, no de 1622.
II. - O título das informações e do roteiro da viagem ao S. Francisco, a que nos referimos no texto, é o seguinte:
"Relação dada pelo mesmo (Pero Domingues) sobre a viagem que de São Paulo fez ao Rio de S. Francisco, chamado também Pará".
O Padre Antônio de Araújo também não datou esse documento, que, ao contrário do outro, não contém nenhuma indicação a respeito da época d viagem daquele bandeirante. Ambos os documentos estão no arquivo geral da Companhia de Jesus, em Roma, e no mesmo códice, um a seguir do outro, vindo em primeiro lugar o referente à excursão pelo Tocantis, conforme se vê das cotas, na cit. obra do Padre Serafim Leite.
É de crer que a segunda relação fosse escrita na mesma época que a primeira, isto é, em 1621 ou 1622. Com esta restrição é que se deve, pois, entender o sub-título dado pelo Padre Serafim Leite à segunda relação: "Roteiro inédito da 3o. década do século XVII".
III - Não conseguimos apurar se a viagem de Pero Domingues ao vale do S. Francisco foi anterior à de 1613, ao braço do rio Amazonas conhecido pelo nome de "Pará". Quanto a esta, existem outros dados, que permitem identificar o informante do Padre Antônio de Araújo. Não citaremos todos os documentos examinados. O assunto é bastante complexo, e se o fôssemos desenvolver, iríamos muito longe.
IV - A expedição devia ter saído de São Paulo em fins do ano de 1613. No dia 22 de fevereiro de 1615, achava-se no "rio Paraupava", onde foi aberto, por ordem do capitão André Fernandes, o inventário conjunto de Manuel Requeixo e de outros bandeirantes, inventário em que um Pero Domingues serviu de escrivão.O citado inventário, que corre no sul do Estado do Pará, tem hoje a denominação de Paraupeba, ou Paraopeba.
Cumpre, todavia, advertir que existe controvérsia a peito da identificação daquele “Paraupava”, nome que também aparece no testamento de Pero de Araujo, redigido a 25 de abril de 1616, e no termo inicial do inventário do citado bandeirante, aberto, por ordem do capitão Antônio Pedroso, a 29 de dezembro do mesmo ano, e não do ano de 1617, como disse o escrivão, o qual, por já ter passado o Natal de 1616, designou o ano seguinte (como então se costumava fazer), esquecendo-se, porém, de mencionar tal circunstância. Num termo de arrematação, no citado inventário, vê-se a data de 1o. de janeiro de 1617, e numa declaração do curador (que foi o próprio capitão Pedroso), a data de 4 de abril do mesmo ano.
Há quem julgue que a gente de André Fernandes fizesse parte da expedição de Antônio Pedroso. Chegamos, todavia, à conclusão de que se tratava de duas bandeiras distintas. A primeira, que, segundo informa o Padre Antônio de Araújo, esteve ausente de São Paulo durante 19 meses, teria regressado em meados de 1615.
V - No título "Domingues", de sua Genealogia Paulistana, Silva Leme designa como tronco da família desse nome, na Capitania de São Vicente, Pedro Domingues (ou Pero Domingues, o que é indiferente), que casou com Clara Fernandes e teve os seguintes filhos:
Pedro Domingues II; Amaro Domingues, que foi casado com Catarina Ribeiro e teve, entre outros filhos, um de nome Pedro Domingues III, Leonor Esteves, que casou com Diogo de Sousa.
VI - O Pero Domingues a que se refere o Padre Antônio de Araújo não poderia ser o 3o., que, quando faleceu Amaro Domingues, seu pau (1636), tinha 15 anos, e portanto, na época da partida da expedição do Tocantins (1613), ainda não tinha nascido.
Também não podia ser o 1o. Pero Domingues, que falecera muitos anos antes da referida época. A viúva, Clara Fernandes, casara com Antônio Gonçalves (Pires), como se verifica examinando bem o inventário deste, aberto a 13 de junho de 1628. Embora, em seu testamento (14 de maio do mesmo ano), Antônio Gonçalves desse o título de filhos a Leonor Esteves e a Pero Domingues, o certo é que o fez por afeição, pois que Leonor e Pero eram apenas seus enteados. Quanto à primeira, consta do inventário que era viúva de Diogo de Sousa. Era, portanto, a filha de Clara Fernandes e de seu primeiro marico, Pero Domingues. Quanto ao Pero Domingues designado no testamento como filho, e que foi nomeado testamenteiro, vê-se, no termo de prestação de contas, que o defunto era "seu padrasto". Tratava-se, pois, do 2o. Pero Domingues.
O mais velho dos filhos de Antônio Gonçalves e de Clara Fernandes, Paulo Gonçalves, tinha então 25 anos de idade, o que demonstra que Clara Fernandes já no começo do século XVII enviuvara do 1o. Pero Domingues.
VII - Diogo de Sousa, marido de Leonor Esteves, filha desse 1o. Pero Domingues e irmã do 2o., faleceu em 1628, e não em 1621, como diz Silva Leme. O 2o. Pero Domingues assinou, em nome de sua irmã Leonor, o termo de abertura do inventário do citado Diogo de Sousa, lavrado a 13 de maio de 1628.
Assinou também, a 25 de janeiro de 1636, o testamento de seu irmão Amaro Domingues e o respectivo instrumento de aprovação. Sua assinatura aparece ainda em vários termos do inventário de Amaro, em que foi curador dos órfãos.
VIII - Ora, comparando as firmas do 2o. Pero Domingues, nos mencionados inventários de Antônio Gonçalves, Diogo de Sousa e Amaro Domingues, com as do Pero Domingues, escrivão da leva de André Fernandes, no inventário do "Paraupava", verifica-se facilmente que se trata da mesma pessoa. Está, portanto, identificado o Pero Domingues informante do Padre Araújo.
IX - Em 1638, um Pero Domingues obteve uma sesmaria, por carta datada de 24 de setembro. Embora a redação do documento seja falha e confusa, vê-se que esse Pero Domingues requereu em seu nome e no de Catarina Ribeiro, que vem designada como viúva de Amaro Domingues. Tratava-se, pois, ainda aqui, do 2o. Pero Domingues. Na petição alegou ser "homem de sessenta anos". Assim, em 1613, quando partiu para a viagem pelo Tocantins, teria 35 anos.
X - Quanto à viagem ao S. Francisco, descrita no outro documento do Padre Araújo, talvez ainda apareça uma prova de que Pero Domingues a empreendeu em 1602 (já teria 24 anos de idade), como componente da bandeira de Nicolau Barreto.
XI - Refere-se Rocha Pombo à "relação de um dos companheiros de Barreto", e passa a descrever o itinerário dessa relação, segundo a qual a bandeira teria passado por São Miguel, demandado o vale do Parahyba e entrando no território hoje mineiro, chegando talvez às nascentes do rio S. Francisco. A propósito da existência de minas de ouro nos "montes Guarimumis", o historiador cita Glimmer. Embora o resto do itinerário coincida com o deste, poder-se-á ficar em dúvida: se também teria sido descrito pelo "companheiro de Barreto", ou se este companheiro seria o próprio Glimmer. Na edição Jackson foram suprimidas as numerosas notas da 1a. edição, em 10 volumes. Ora, no volume 3o. desta edição, encontramos a chave do problema: o suposto companheiro de Nicolau Barreto seria o referido mineralogista holandês, que, no dizer de Rocha Pombo, "acompanhou a expedição". Mas, a leitura do resto daquela nota demonstra que, como Orville Derby, o historiador brasileiro julgou que o itinerário indicado por Guilherme Glimmer fosse o da expedição de Nicolau Barreto, quando é o da bandeira de André de Leão, anterior àquela. Vimos, porém, que Derby reconheceu o engano. .[p. 179, 180, 181, 182]
Século XIX – Avizinham -se enfim melhores tempos para a indústria da fabricação do ferro. Antes de entrarmos na exposição dos fatos do século XIX, façamos uma breve recapitulação e tentemos uma crítica de resultados. Nos três séculos até aquí considerados assinalam- se três ensaios: o de Afonso Sardinha em 1589, o de Martim Lumbria, quase um século mais tarde ( 1682 ) e o de Domingos Ferreira em 1768: todos os três fracassaram. Qual o motivo do mau êxito? Há mais de um motivo a assinalar.O primeiro é, sem a menor dúvida,a falta de capitais. Já admitimos isto no comentário doautor do Quadro Histórico a propósito do ofício de agradecimentos dirigido pelo governo a Martim Lumbria. Aironia que Machado de Oliveira vislumbrou nas entrelinhas dêsse ofício pode ser explicada, como vimos, comoresultante desta convicção dos homens da governança :uma empresa de tal envergadura não cabia na esfera dosrecursos forçosamente exiguos de simples particulares.Mas havia, ao lado dessa, outra causa de insucesso : osencabeçadores não dispunham de pessoal tecnicamentepreparados para conduzir proficientemente a fabricaçãodo ferro . [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP. Secretaria da Educação. Vol. 9. Apontamentos para história da Fábrica de Ferro do Ipanema (1959) Prof. João Lourenço Rodrigues. Página 29]
No precedente capítulo deixamos bem assinalado o rumo que ia tomando à exploração do ferro na região do Ipanema. Êsse rumo novo indicava o advento de um estadista de larga visão nos Conselhos do Rei de Portugal : tratava -se de D. Rodrigo de Souza Coutinho, ulterior mente Conde de Linhares.
Em 1797 entrava ele êle para o Ministério Português, na qualidade de Ministro da Guerra. No trono sentava- se então D. Maria I, mas, dada a demência da Soberana, era seu filho, o Príncipe D. João, herdeiro presuntivo da corôa, quem governava de fato, embora com o título de regente.
D. Rodrigo foi encontrar na sua pasta, à espera de solução, a proposta dos Capitães-mores de Sorocaba e Itú para a restauração da fábrica de ferro do morro Araçoiaba, e não repugna admitir que tal proposta fosse o ponto de partida das suas cogitações sôbre aquele negócio.
A proposta continuou sem solução, pois o Ministro, enfronhando - se cuidadosamente do assunto, chegou à convicção de que aos proponentes faltariam recursos para uma tentativa mais viável do que as anteriores; e no seu espírito se esboçou desde logo um plano de exploração encabeçado pelo governo da Metrópole.
O influxo benéfico do novo ministro não tardou a se fazer sentir; temos uma prova disso nas providências que assinalaram o governo do Capitão General Antonio Manoel de Melo Castro e Mendonça, providências já sumariadas no precedente capítulo. D. Rodrigo procurou a colaboração de alguns brasileiros de mérito, ouvindo- os de bom grado e facilitando- lhes a imprensa.
A história do Brasil, diz o Visconde de Porto Seguro, não pode evocar o nome de Linhares sem reconhecimento sem ver nele um grande patriota, pois do próprio Brasil descendia ele pelo lado materno. Um dos brasileiros por ele distinguido foi José Bonifácio de Andrada e Silva , o futuro Patriarca da Independência. D. Rodrigo fez dele o Intendente Geral das minas de Portugal, onde José Bonifácio então residia.
Em 1803 o Coronel Martim Francisco Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio, era inspetor das minas e matas da província de São Paulo e, nas viagens ao Morro do Ferro (10), examinou cuidadosamente as suas jazida.
Tomando conhecimento dos trabalhos do Coronel Cândido Xavier e João Manso, concordou com eles relativamente à nova localização do açude e da usina; foram, pois abandonados de todo os locais antigos e tudo estava encaminhado para o surto d Fábrica de Ferro de Ipanema. Releva notar que a nova escolha era criticável num ponto importante: o local ficava quase a uma légua de distância das jazidas.
Estudando a história da mineração do ferro no morro da Fábrica reconhece-se que tal história se desenvolveu através de uma pugna pacífica entre agricultores e mineiros. Quando os trabalhos da mineração decaíam, os agricultores tomavam conta das matas; a selva virgem era atacada e devastada; as plantações prosperavam por algum tempo.
Anos depois levavam a melhor os mineiros; os terrenos abandonados cobriam-se de capoeiras, as quais por sua vez iam abaixo, em novas investidas dos agricultores. Felizmente, ao que parece, a competência não ficou assinalada por nenhuma tragédia sangrente. Se as houve não deixaram vestígios na história.
A localização da nova fábrica de ferro foi um dos pontos alvejados pela crítica do Dr. Pandiá Calógeras, em seu relatório confidencial para o Conselheiro Rodrigues Alves. No seu entender, o estabelecimento ficou mal situado, não só em relação às jazidas do minério, mas especialmente em relação aos centros consumidores do produto. Não há de negar: - O Ipanema dista 3 léguas de Sorocaba, mais de 20 da Capital e perto de 30 de Santos, seu principal porto de exportação. Tal crítica, porém, não parece-nos descabida. A má situação da Fábrica não é senão consequência da má situação da mina, e por esta não podem ser evidentemente responsabilizados os autores do estabelecimento, uma vez que não se conheciam na época outras jazidas mais bem localizadas.
Em sua monografia sobre Rafael Tobias (pág . 120), diz o Cônego Luís Castanho de Almeida (1904-1981) que Martim Francisco, em sua viagem de 1803, ficou conhecendo o reizinho (apelido familiar de Tobias). Ao mesmo deu aulas de francês, latim e filosofia , quando fundou um curso gratuito em 1805. O primeiro encontro é plausível, porque Tobias, tendo nascido em 1794, não estava longe dos 10 anos quando o Andrada passou por Sorocaba. Pode- se mesmo conjeturar que ele fosse hóspede de seus progenitores. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP. Secretaria da Educação. Vol. 9. Apontamentos para história da Fábrica de Ferro do Ipanema (1959) Prof. João Lourenço Rodrigues. Páginas 32, 33 e 34]
Artigo de primeira necessidade no país, o ferro vinha de fora. Ao governo cabia, pois, o dever de fomentar a exploração da primeira encontrada, onde quer que se achasse. E disto exsurge o desarrazoado desse primeiro item da crítica de Calógeras.
Mas já é tempo de voltarmos aos atos da gestão do Conde de Linhares, atinentes ao Ipanema. Homem de larga visão, ele não podia abandonar, na execução dos seus planos siderúrgicos, o lado técnico. Ora, é fácil de optar por um deste três povos - os suecos, os alemães ou os biscainhos. Estes últimos, através dos ensaios historiados, já tinham feito as suas provas, com resultados negativos: estavam atrasados na sua evolução. Linhares propendeu a princípio para os alemães, e essa preferência ressalta nitidamente destas providências por ele tomadas: ordenou que se contratassem na Prússia três engenheiros especializados em metalurgia e, logo que eles chegaram a Portugal, mandou-os trabalhar nos estabelecimentos do reino, para fazerem o necessário tirocínio. Um desses engenheiros chamava-se Frederico Luiz Guilherme Varnhagen; foi ele designado para trabalhar na Fábrica de Figueiró dos Vinhos, sob a fiscalização de José Bonifácio.
Em 1803 iniciou Varnhagen o seu estágio e, três anos mais tarde, constituía família, casando-se com D. Maria Flávia de Sá Magalhães, dama portuguesa pertencente a uma família de destaque.
Sobrevem infelizmente a invasão das forças napoleônicas em Portugal, sob o comando de Junot. Varnhagen alista-se como voluntário e no fim da campanha tinha conquistado galões de capitão.
Em 1808, como é sabido, a família real já havia transmigrado para o Brasil, e esse fato ensanchou o Conde de Linhares feliz oportunidade para levar avante os seus planos relativos à siderugia em nosso país.
Terminada que foi a faina da instalação da real comitiva, o Ministro Linhares chamou ao Brasil o Capitão Varnhagen, o qual chegou ao Rio de Janeiro em meados de setembro de 1809, trazendo as melhores recomendações.[Página 35]
Enquanto na Europa se recrutavam os artífices suecos, para a futura Fábrica de Ferro do Ipanema, o Conde de Linhares dava providências para que eles viessem encontrar desbravado o terreno. E assim , logo no começo do ano seguinte ( 1810) por ordem do ministro, o Capitão Varnhagen seguia para Sorocaba, em companhia de Martim Francisco, Inspetor das Minas de São Paulo. Fizeram a viagem por mar até Santos, e dali subiram a São Paulo , onde se apresentaram ao Governador Horta . Este os recebeu com tanto ugrado que os acompanhou ao Ipanema, disposto a fazer tudo para o bom êxito, da expedição.
Passemos por alto os incidentes da viagem ; notemos apenas que Varnhagen e Martim Francisco ficaram nomorro do Ferro nada menos de 3 semanas em estudos. Varnhagen levava instruções para examinar cuidadosamente as jazidas do metal e apresentar minucioso relatório do que alí encontrasse. Deveria, outrossim [Página 36]
Em aviso de 17 de julho do mesmo ano, dirigido ao Governador Horta, informa o Conde de Linhares que prevalecera a ideia de uma Companhia em que entrasse S.M., como parte; o número das ações seria de 128, e estas poderiam ser tomadas no Rio de Janeiro. Entendia, porém, o Ministro que deveriam ter preferência os paulistas (...) [Página 37]
forno antigo do refino. Daí duas vantagens:: economiade combustivel e aumento de produção, que seria duplioficina ficou em condições de ser inaugurada. A cerimônia efetuou -se a 7 de agosto de 1886, aproveitando -separa isso a feliz circunstância da quarta e última visitade D. Pedro II .A construção da nova oficina reresenta , no ativo doDiretor Mursa, uma parcela de vulto . Mas há outro fatodigno de registro, e que não pode ser expresso em algarismos. É a preparação técnica ministrada a certosmoços que, com o nome de aprendizes, fizeram o seu tirocínio profissional no Ipanema, ao tempo da gestão do Dr.Mursa. Um dêses aprendizes metalúrgicos, de origemalemã é João Conrado Engeberg. Trabalhou no Ipanemano tempo da industrialização da Fábrica e dali veio paraCampinas. Aquí requereu privilégio para uma máquina de beneficiar café de sua invenção, máquina que tevemuita saída e deu ao inventor lucros muito reais. Segundome informa o Dr. Celso Rezende, a quem devo a gentilezadesta comunicação, o invento do ex-aprendiz do Ipanemafoi mais tarde adquirido pela casa Mac-Hardi & Cia. ( 42 )Ainda um indice expressivo do progresso da Fábricana época que estamos apreciando: graças ao aumento da produção nos anos anteriores, a renda do estabelecimentoem 1888 atingiu a cifra de 211 contos, sendo a despesade 210 contos. Foi a primeira vez que, na história doIpanema, se conseguiu equilíbrio orçamentário. E destecapítulo se colhe que o Dr. Mursa foi, entre os diretoresdo Ipanema , não só o de mais tempo de serviços, mas omais competente de todos. Recebeu o estabelecimento num estado de ruína quase completa e o deixou emsituação de prosperidade jamais atingida e muito menossuperada.( 42) Ao Sr. João Conrado Engeberg, podemos acrescentar o Sr. José Sommerhauzer, que foi mestre da oficina me cânica da Fábrica Santa Cruz, em Tatuí, durante mais de 30 anos, e os Srs . Nieble e Benedito Grazzia, que se estabeleceram na mesma cidade como ferreiros . ( A. F. Azevedo – Art . cit . - C. P. de 24-10-1950) . (página 88)
do Ipanema, ao tempo em que seu pai dirigia a respectivaFábrica de Ferro, sucedendo, na administração, a Carlos Augusto Hedberg. Quiz Porto Seguro fazer a apologia de seu genitor, resguardando - lhe a memória contra ainjustiça de certas acusações. Eu não nasci no Ipanema,como o segundo Varnhagen, mas no município de Tatuí.Releva, porém , notar que Tatuí é um rebento do Ipanema,tanto como Sorocaba e Campo Largo. O Ipanema nasceu para a História no tempo do domínio espanhol e foi acélula mater donde surgiram sucessivamente os três municípios em aprêço Sorocaba, Campo Largo e Tatuí. (página 16)
Obcecado pela ambição, Afonso Sardinha parece não ter feito o menor cabedal da sua incipiente fábrica de ferro . Retirando-se do Morro do Ferro para prossegir nas suas explorações sertanejas, diz Cassiano Ricardo em seu livro “Marcha para Oeste" , deixou o embrionário estabelecimento entregue a um pessoal reduzido, formado em boa parte de escravos. (página 24)
No tempo em que a estrada de ferro só chegava até Sorocaba, esta cidade era o empório comercial de tôda a zona sul paulista (...) Meu saudoso avô tinha por costume, ao escurecer, ir sentar - se à porta da sua vivenda de Campo Largo. O céu ali era de uma limpidez maravilhosa e José dos Santos dava -me noções encantadoras sôbre astros e constelações; e daí sem dúvida o meu pendor para os estudos uranográficos.
Ora, uma dessas noites sucedeu que o nosso colóquio viesse a ser interrompido pela passagem de um esplêndido bólide, cujo clarão alumiou tôda a paisagem. O brilhante meteoro tinha uma côr esverdeada e, no seu trajeto de sul para o norte, ia lançando fagulhas e deixando ouvir um fragor longinquo, como aquele que anuncia a aproximação de uma das chamadas chuvas de pedras ou granizos. A tal fragor, seguiu - se um estampido surdo, de curta duração.
- Foi cair no morro da Fábrica, exclamou meu avô.O que é aquilo, padrinho ? perguntei cheio de curiosidade.É uma Mãe de Ouro . No tempo de dantes ela já morou alí no morro : havia lá então uma lagôa dourada e, à roda dela, ouro em tal abundância que era só ajuntar no chão. Mas eram muito raros os homens que a isso se animavam , porque essas riquezas da Mãe de Ouro eram defendidas por uns fantasmas que infundiam pavor. Outras pessoas sedentas de novidade, entre as quais alguns tropeiros, foram - se aproximando de nós, e meu avô, animando - se mais e mais, fez -nos uma preleção em regra.Houve contudo, continuou ele, um canhembora mais animoso do que os caipiras da vizinhança. Era um negro da Costa já bastante idoso, um escravo fugido de qualquer fazenda distante. Quando fazia bom tempo, o tal canhembora saía lá do seu esconderijo , e andava à cata das pedrinhas que lhe parecia conterem ouro. Punha - as num canudo feito de um gômo de taquarussú ; mas à proporção que o canudo se ia enchendo, minguava sua provisão de mantimentos. Que fazia então o negro canhembora?Tratava de vender sua colheita a um ourives de Sorocaba, seu freguês e protetor, o qual fazia com isso magnífico negócio. O negro chegava à cidade alta noite e se dirigia à casa do ourives onde ficava escondido enquanto o seu hospedeiro se encarregava de fazer-lhe, durante o dia, a compra de comestíveis. Chegada a noite, o pobre preto, tendo as malas cheias de mantimentos, regressava para a sua paragem da Lagoa Dourada, onde recomeçava a sua faina, escapando à vigilância solerte dos capitães de mato.Parece, porém, que o tal ourives de Sorocaba deu com a língua nos dentes, a propósito da mina de ouro do morro Araçoiaba.A notícia correu célere e sucedeu o que era de esperar : os bravos aventureiros surgiram um dia lá no morro , à procura da mina da Lagôa Dourada. O canhembora abandonou aquelas bibocas, procurando novo refúgio, e os aventureiros levaram um lôgro. Por que, padrinho ? perguntei. Porque a Mãe de Ouro também se mudou para outro ponto, onde ocultou de novo os seus tesouros. Agora ei-la de volta , e hão de vêr que a Lagôa Dourada, sêca por longos anos, vai encher - se de novo. E quem nos dizque ouro não vai abundar de novo no serro azul do Araçoiaba ? !— Então vovô, quando os buavas vieram ao morro não encontraram mais ouro ? perguntei.Nem sinal! Puzeram -se então a procurar prata, efoi novo trabalho perdido. Só encontraram pedras deferro, fáceis de reconhecer porque atraem agulhas.Pedras de ferro, sim, havia - as em abundância, e por issoos intrusos mudaram o nome do morro, o qual ficou sendoconhecido por Morro do Ferro .E que fizeram eles depois ?- Levantaram nas fraldas do morro um pequeno forno para derreter as pedras. Foi assim que surgiu nomorro Araçoiaba a primeira fábrica de ferro. Eis porque êle se chama tambem Morro da Fábrica.Nesse relato , algumas inexatidões existem a pedir correção. Há, em primeiro lugar, um anacronismo. Éfato histórico bem averiguado que a povoação de Sorocaba foi fundada no correr dos trabalhos de mineraçãono Morro do Ferro. Ora se o canhembora citado por meu avô alí estacionou antes da irrupção dos portuguesesno local, é obvio que nesse tempo Sorocaba ainda não existia; e assim sendo a história do ourives fica reduzida a uma lenda. Mas não só nesse ponto se achava equi vocado o narrador : vê- lo- emos através da resenha que vamos fazer, dos ensaios siderúrgicos do morro Araçoiaba. Seguiremos nela a ordem cronológica. (Páginas 19, 20, 21 e 22) |